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sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018

Palacios da Memoria, Saudades do Meu Rio Grande





          Quando falo de memória, vem de rompante registros fixados por minha amada filosofia, formatos escritos por nossos grandes pensadores e referenciais, dentre eles penso e lembro que, na concepção agostiniana do tempo como distensio animi ou duração de consciência, vê na memória a conservação integral do espirito por parte de si próprio; ou em Leibiniz, que concebia a memória como conservação integral em forma de virtualidade ou de “pequenas percepções” das ideias que não tem mais forma de pensamentos ou de “apercepções”; ou por Hobbes, por exemplo definiu a memória como a “sensação de já ter sentido”; ou por Hegel que interpretou a memória como inteligência ou pensamento (sempre em seu aspecto de recordação), vendo nela “o modo extrínseco, o momento unilateral da existência do pensamento”; ou por Nietzsche: “Fiz isto – diz-me a memória. Não posso ter feito – sustenta meu orgulho, que é inexorável, finalmente, quem cede é a memória”.


          Sei que, quando brindo meus filhos com beijos, essas cenas vão ficar para sempre em nossas memórias, porem sei que não irão desaparecer sem deixar vestígios, irão permanecer pelo “menos no atacado” como sentimentos e laços emocionais agradáveis. Momentos podem ser esquecidos para sempre, ou vislumbrados através de uma lente embaçada ou distorcida, mas mesmo assim, algo deles sobrevive dentro de nós, permeando nosso inconsciente.

          
          Sei que, porque, lembro de já ter escrito algo sobre o Palácio da Memória descrito brilhantemente, por meu caro mestre Professor José Luiz Novaes, soube transmitir com eloquência e competência, registrando com a emoção em meu Palácio da Memória, parte da obra escrita por Santo Agostinho, tal prazer (que é uma das mais almejadas emoções, como bom epicurista, sem deixar de ser estoico) me faz trazer à baila novamente, como um dejá vu, eis seu pensamento:

Quando lá entro, mando comparecer diante de mim todas as imagens que quero. Umas apresentam-se imediatamente, outras fazem-me esperar por mais tempo, até serem extraídas, por assim dizer, de certos receptáculos ainda mais recônditos. Outras inrrompem aos turbilhões e, enquanto se pede e se procura uma outra, saltam para o meio como que a dizerem: «Não seremos nós?». Eu, então, com a mão do espírito, afasto-as do rosto da memória, até que se desanuvie o que quero e do seu esconderijo a imagem apareça à vista. Outras imagens ocorrem-me com facilidade em série ordenada, à medida que as chamo. Então as precedentes cedem lugar às seguintes e, ao cedê-lo, escondem-se para de novo avançarem. É o que acontece quando digo alguma coisa decorada.
(...)

Tudo isto realizo no imenso palácio da memória. Aí estão presentes o céu, a terra e o mar com todos os pormenores que neles pude perceber pelos sentidos, excepto os que já esqueci. É lá que me encontro a mim mesmo, se recordo as acções que fiz, o seu tempo, lugar e até sentimentos que me dominavam ao praticá-las. É lá que estão também todos os conhecimentos que recordo, aprendidos ou pela experiência própria ou pela crença no testemunho de alguém." Confissões Santo Agostinho

          Quando registramos momentos de nossas vidas, através da lente da máquina fotográfica, de certa forma registramos emoções, para alguém sim, para outros não, que para os últimos seriam apenas curiosidades, no entanto, os registros experimentados e registrados em nosso Palácio da Memória estão lá arquivados, o resgate destas memórias, são acionados por emoções, sem emoção não acessamos o departamento do inconsciente, muito bem instalado no Palácio da Memória. 


          As fotografias funcionam como uma provocação emocional, uma vez provocada, a emoção aflora e abre a porta do Palácio da Memória, como dito por Santo Agostinho:

(...)
Do mesmo modo, conforme me agrada, recordo as restantes percepções que foram reunidas e acumuladas pelos outros sentidos. Assim, sem cheirar nada, distingo o perfume dos lírios do das violetas, ou então, sem provar nem apalpar, apenas pela lembrança, prefiro o mel ao arrobe e o macio ao áspero. (Confissões, Santo Agostinho, Os Pensadores, Ed.Abril Cultural, 1973 São Paulo)

          Reuni algumas fotografias como uma provocação emocional, são antigas fotografias, que para alguém poderá resgatar alguma emoção no seu exclusivo Palácio da Memória, feito isto, já por si só, validou meu objetivo nesta postagem. 
          Saudades do meu Rio Grande, as fotografias resgatam momentos que estão continuamente desaparecendo, através das fotografias resgatamos um pouco da historia de cada um.
          Eis alguns resgates de mais de 50 anos passados, porem não muito distantes de nossa memória.