Pesquisar este blog

segunda-feira, 1 de maio de 2017

APRECIAÇÃO DA CONTRADIÇÃO NA FILOSOFIA DIALÉTICA DE HEGEL





Como seres humanos percebemos que uma das maiores falhas e causas da infelicidade que sentimos provem de considerarmos difícil perceber o que sempre está ao nosso redor, negamos o que está à vista. Sofremos porque não enxergamos, vemos, mas não enxergamos o valor do que está diante de nós e suspiramos, muitas vezes injustamente, pelas atrações imaginarias de outro lugar, culminando numa sensação insatisfação, vivemos na contradição.



Num desses momentos de reflexão me perguntei, porque não buscar sentido através de um esforço na construção de modelo diferente de pensar?, que enriqueça a compreensão da realidade, e vejam que não é um pensamento tão novo assim, afinal Hegel já havia se aventurado e obtido imenso sucesso nesse modo dialético de pensar, tendo como princípio básico de compreensão do real e do conhecimento que dele temos, que é a sua contradição de radical historicidade.
A felicidade, assim como a infelicidade são na verdade parte de uma dialética de um processo histórico resultante, a cada momento, de múltiplas determinações e esse movimento de constituição, decorre de forças contraditórias que atuam no interior dessa própria realidade.
Num exercício de raciocínio é fácil estabelecer uma grande ligação entre o pensamento de Heráclito e Hegel, pois tudo está em continua transformação, num total processo de mudança incessante.



Dito por Heráclito, nosso pensamento é como um rio: a imagem do rio nos mostra a ideia, nunca podemos nos banhar duas vezes no mesmo rio, pois quando mergulhamos na segunda vez já não é o mesmo rio. Para Heráclito o verdadeiro princípio da realidade é o movimento.
Lembro que os Gregos não apreciavam muito o movimento, a mudança, a história e o tempo, e Heráclito foi marginalizado na filosofia ocidental, por cerca de dois mil anos. E é exatamente Hegel que vai resgata-lo nos começos do século XIX.


Georg Wilhelm Friedrich Hegel

Hegel, vai questionar o princípio da identidade pela lógica da dialética que admite a possibilidade de um objeto ser ao mesmo tempo e sob o mesmo aspecto, igual e diferente de si mesmo. Surge então um novo princípio logico: o princípio da contradição.
Pensando nesta possibilidade Hegel concebeu sua filosofia e com a ajuda de seu pensamento entendemos que ele valoriza a história, a evolução, a transformação. Para ele o real no seu conjunto e todas as coisas em particular e, o que é mais importante, trata-se de uma evolução por contradição: esse é o processo dialético. As coisas vão evoluindo, porque no seu interior elas contém sua própria negação, cada coisa sendo, portanto, ao mesmo tempo, igual a si mesma e ao seu contrário! Por isso, todas elas atravessadas por um conflito interno, a luta dos contrários (felicidade x infelicidade), que os obriga a mudar passando sempre por um momento de afirmação, por um momento de negação e por um momento, de superação, cada um deles se posicionando em relação ao seu interior. É a famosa concepção da tríade dialética: a tese, a antítese e a síntese.
Conforme Severino, para Hegel, a contradição é o próprio motor do processo de evolução do real: toda afirmação aparece no momento provisório que deve ser necessariamente negado para ser ultrapassado. Cada estágio fenomenal, cada estado individual ou coletivo, cada figura do real não vai permanecer idêntico a si mesmo o tempo todo: necessariamente, pela força do conflito interno, é impelido para se transformar no seu contrário. Mas também não fica ai muito tempo, pois é de novo lançado rumo a sua própria negação que envolve a recuperação dos aspectos positivos do primeiro momento e a criação de uma nova configuração.
Ainda conforme Severino, podemos tomar como exemplo, a título de uma ilustração bem simplificada, o caso da formação do ser humano individual. Essa formação começa no estágio da infância: é o momento da vida infantil. A criança é um organismo vivo que mal se desprega do mundo natural, como que prolongando sua vida uterina, confundindo-se com o mundo que o envolve, não se distinguindo dos objetos. Faz corpo com seu ambiente, não tem consciência da própria autonomia. Este é o momento da tese.
Mas, na vida do ser humano, esse estágio é logo negado pelo estagio da adolescência. É o estágio em que o indivíduo se nega como criança, recusa a condição infantil e se representa absolutamente autônomo quer viver como se não dependesse de ninguém. Daí os famosos conflitos. Nega tudo que representa questionamento dessa sua autonomia, rebela-s3e contra toda autoridade. Nega para se firmar num outro patamar. Este é o momento da antítese.
Mas eis que chega a idade adulta: o que é de fato amadurecer, ser adulto? É dar-se se conta de que não se é mais nem tão dependente do outro (como vivenciava a criança) nem tão independente em relação ao outro (como extrapolava o adolescente): o adulto é um ser autônomo dentro de limites objetivos que condicionam todo indivíduo humano. Este é o momento da antítese.
Esse movimento de evolução e transformação por contradição é o processo dialético que permite assim vencer as próprias contradições. E para Hegel este era um movimento presente tanto no real como no pensamento. É que, como filosofo e metafísico idealista, Hegel fundia ser e pensar numa unidade. Com efeito, entendia que a substancia da realidade era o próprio espírito, a Razão, a ideia. Tudo o que existe é uma manifestação da ideia que está evoluindo rumo ao espírito. Por isso, a natureza física assim como a sociedade humana são apenas figuras de espírito. É que a totalidade do real, num primeiro momento, é a ideia (tese); num segundo momento, é a natureza (antítese), negação da ideia; num terceiro momento, é o espírito (síntese), negação/retomada/superação da Ideia da Natureza.
Portanto, Hegel inverte as posições: é o ideal que explica o real e não o contrário. Para Hegel, não há mais distinção entre o real e o racional, entre ser e pensamento, entre sujeitos e objeto. Ele pratica, quanto ao conteúdo de seu pensamento, uma metafísica absoluta.

BIBLIOGRAFIA:

Severino, Antônio Joaquim; Filosofia, Série Formação Geral; Editora Cortez – 2. Ed. – São Paulo: Cortez, 2007.

Hegel, Georg Wilhelm Friedrich, Fenomenologia do Espírito; 4. Ed. – Petrópolis, RJ:> Vozes 2007.

Nenhum comentário:

Postar um comentário