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terça-feira, 14 de maio de 2019

A Filosofia contribui para o desenvolvimento das habilidades cognitivas?




O político e 16º presidente estadunidense Abraham Lincoln (1809-1865), afirmou que, “os dogmas do passado tranquilo são inadequados para o turbulento presente. Devemos renovar nossas ideias”.  De fato, precisamos desenvolver em nossos estudantes não apenas uma nova mentalidade, mas também desenvolver habilidades cognitivas que conduzam ao melhor raciocínio e ao desenvolvimento do nosso pensamento de forma organizada.
Contrariando ao senso comum que pensam e supõem que a Filosofia serve para ensinar a pensar, acredito que não se ensine a pensar, pois pensar seja um atributo atávico da nossa espécie, logo pensar, não é ensinado, no entanto entendo que o ensino de Filosofia por suas peculiaridades estimula a curiosidade e a personalidade a ser questionadora, a personalidade por ser questionadora aumenta o repertório e sua capacidade de raciocínio e analise. A Filosofia é a “atitude metódica, disciplinada, estruturada e intencional de indagação” acerca das razões de ser das coisas e fatos, de maneira a produzir consciência e inovação.
Sendo a curiosidade o estimulo para o olhar além do muro da ignorância, a curiosidade encontra na Filosofia o caminho e campo fértil na mente humana, principalmente dos jovens para o desenvolvimento das habilidades cognitivas que poderão ser adequadamente trabalhadas. Através da pratica do raciocínio de forma estruturada e disciplinada teremos mais êxito na utilização, aquisição do conhecimento, será possível sair da acomodação, afinal o mundo passa por mudanças velozes; acomodar-se é perecer ou ficar ultrapassados, como dito por Abraham Lincoln, precisamos renovar nossas ideias.
Com intuito de responder à questão formulada inicialmente, inclusive questão que é objeto de questionamentos da importância da Filosofia no currículo de disciplinas do ensino médio, será realizada breve análise crítica de cada uma das unidades estudadas na disciplina de Filosofia e Outras Áreas de Conhecimento do curso de Pós-Graduação do Ensino de Filosofia da UFPEL, o conteúdo apresentado pela disciplina contribuiu significativamente para a argumentação da resposta ao problema título do presente ensaio.

Vejamos:

Educação para o século XXI: Foi realizada abordagem do conflito de gerações e a exigência dos jovens das novas gerações que estão cada vez mais demandando das escolas, novas posturas e metodologias de ensino. O modelo de ensino tradicional não dá conta de suprir as necessidades de um aluno, os professores devem incitar e estimular os estudantes a buscarem sua própria criatividade. A criatividade e a aprendizagem dependem do trabalhar com emoção; a emoção por sua vez libera a dopamina que estimula o aprendizado. São realizadas críticas ao modelo tradicional de ensino, onde verificou-se um esvaziamento das salas de aulas e um notório declínio da eficácia de aprendizagem. É preciso rever como a escola precisa se preparar para entender e se adaptar a esta nova realidade, trazendo para discussão a intensidade do impacto que a tecnologia está gerando sobre o ensino e a ideia de convergência do fluxo de conteúdos e informações por meio de múltiplas plataformas. Há um novo comportamento migratório de estudantes da lousa para o mundo virtual, onde os professores precisarão se adaptar e criar a mágica do encantamento, despertando o interesse dos alunos neste mundo tecnológico já vivenciados neste século XXI.

O que são habilidades e competências? Afinal o que são habilidades cognitivas e competências?; são um conjunto de habilidades que são aprendidas em diferentes graus, conforme um indivíduo cresce e se desenvolve mentalmente, são habilidades usadas ​​para aprender, compreender e integrar as informações de uma forma significativa. Mayer e Salovey (1998) fazem uma distinção importante entre habilidade (referindo-as como aptidões) e competência. Os autores argumentam que habilidade representa o potencial que se expressa, concretamente, em realizações ou desempenhos, envolvendo a apresentação de respostas corretas para problemas e conhecimento de determinado conteúdo etc. A competência, nesta concepção, indicaria um nível padronizado de realização, o que implicaria em dizer que a realização atingiu um determinado nível. Penso que tal distinção esteja melhor formulada, por ser abrangente, pois relaciona os conceitos: habilidade, conteúdo e nível de realização. Na unidade 3 - BNCC, observaremos a proposta do MEC das 10 competências gerais norteadoras para o ensino fundamental e médio.

BNCC e as habilidades e competências: O que é o BNCC?, O BNCC - Base Nacional Comum Curricular é um documento de caráter normativo que define o conjunto orgânico e progressivo de aprendizagens essenciais que todos os alunos devem desenvolver ao longo das etapas e modalidades da Educação Básica. Conforme definido na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB, Lei nº 9.394/1996), a Base deve nortear os currículos dos sistemas e redes de ensino das Unidades Federativas, como também as propostas pedagógicas de todas as escolas públicas e privadas de Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio, em todo o Brasil.
A Base estabelece conhecimentos, competências e habilidades que se espera que todos os estudantes desenvolvam ao longo da escolaridade básica. Orientada pelos princípios éticos, políticos e estéticos traçados pelas Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Básica, a Base soma-se aos propósitos que direcionam a educação brasileira para a formação humana integral e para a construção de uma sociedade justa, democrática e inclusiva.
Elas definem a base educacional, norteando os caminhos pedagógicos a se seguir. Segundo o MEC, as 10 competências gerais são mobilizações de conhecimentos de acordo com os princípios éticos, estéticos e políticos, que visam a formação humana em suas múltiplas dimensões. O objetivo é perpetuar no ensino uma comunicação integral, mobilização de conhecimentos, atitudes, valores e habilidades para suprir as demandas do cotidiano, a fim de garantir o crescimento do aluno como cidadão e qualificá-lo para o mercado de trabalho. São elas: 1. Conhecimento, 2. Pensamento científico, crítico e criativo, 3. Repertório cultural, 4. Comunicação, 5. Cultura Digital, 6. Trabalho e Projeto de Vida, 7. Argumentação, 8. Autoconhecimento e autocuidado, 9. Empatia e cooperação
10. Responsabilidade e cidadania.
As competências gerais deverão ser trabalhadas em cada uma das áreas de conhecimento – Linguagens, Matemática, Ciências Humanas, Ciências da Natureza e Ensino religioso – e construídas por habilidades desenvolvidas a partir de atividades em sala de aula. A mudança na filosofia trará o foco para o desenvolvimento humano, profissional e educacional.
A Filosofia que é disciplina integrante das Ciências Humanas, muito tem a colaborar com todas as áreas do conhecimento, ela é a origem das reflexões sobre relação entre o homem e a natureza, que se traduziram em fórmulas matemáticas e físicas, são antes de tudo, questionamentos filosóficos, sendo a Filosofia a grande estrutura basilar de todas as ciências, afinal é na Filosofia que se estudam os valores éticos, estéticos e políticos, são temas muitos caros e preciosos.

Trabalhando as habilidades e competências: Analisando as metodologias de aprendizagem, conforme Profª Rosa Malena, deveriam levar em conta itens como princípio da aprendizagem de adultos, autonomia dos estudantes, contexto do aprendizado e trabalho em equipe. Para trabalhar as habilidades e competências é preciso despertar o interesse dos estudantes pelo conhecimento o qual é o papel dos educadores e educadoras e muitas são as formas de incentivá-los ao aprendizado, de maneira que eles se sintam proprietários do conteúdo. Estratégias para inovar em sala, como dinâmicas, aulas práticas levando em conta o contexto do aprendizado, podem reduzir nos estudantes a sensação de estranhamento à disciplina, o que desenvolve uma maior autonomia, compreensão e um gosto pelo conteúdo da matéria, apreciando também o trabalho em equipe, aqui vislumbramos a integração das diversas áreas do conhecimento.
As habilidades cognitivas são informações que são devidamente entendidas, assimiladas e compreendidas. Essas habilidades são aprendidas conforme o crescimento e o desenvolvimento mental do ser humano, devendo ser ensinadas já na educação infantil. Além disso, elas ocorrem em diferentes graus, o que significa que podem ser treinadas e melhoradas. 


A Filosofia é expert na apresentação de problemas, problemas onde podem ser tratados assuntos pertinentes a cada grau de maturidade, cientes que as crianças são um campo fértil para o desenvolvimento do pensamento filosófico, pois estão livres de preconceitos e o porquê de as “coisas serem assim” e não sejam questionadas a razão de “serem assim”.
Aliás, características como solução de problemas, a inibição e a flexibilidade fazem parte das funções executivas, que são muito importantes para o aprendizado e também para desenvolver outras habilidades. Entre as principais habilidades cognitivas que podem ser treinadas pela Filosofia, a fim de deixar o cérebro mais saudável, estão: o foco; a inibição; a divisão da atenção; o planejamento; o reconhecimento; a percepção auditiva; a memória (contextual, auditiva ou visual de curto prazo); o tempo necessário para responder a um estímulo; a velocidade de processamento daquilo que é fácil ou já foi aprendido.
As competências cognitivas possuem, em suas estruturas, as habilidades cognitivas, ou seja: para ser competente em algo é necessário ter um conjunto de habilidades. Entretanto, vale mencionar que nem todo mundo que tem habilidades é competente. Como exemplo, lembre-se da faculdade ou da escola. Há diversos estudantes brilhantes que ficam completamente deslocados no mercado de trabalho. Eles possuem habilidades, mas não conseguem agrupar os conhecimentos para atingir a competência. Assim, o primeiro passo dado pela Filosofia para se tornar mais eficiente no que se faz, é treinar as habilidades cognitivas necessárias, inclusive de formas e em situações não usuais.
Penso que não podemos desenvolver apenas uma ou outra habilidade e competência, mas todas as habilidades e competências juntas, pois ao pensarmos, fazemos uso de todas as habilidades e competências para formularmos bem o nosso raciocínio, ou seja, todas habilidades ficam muito interligadas no momento em que pensamos.
A Filosofia por si só tem por princípio básico a formulação de questionamentos que levam a reflexão em busca da solução de problemas da vida real, e a partir da articulação de tarefas cognitivas, justamente dando sentido do porquê estudar. A metodologia das aulas de Filosofia são meios de contribuição ao desenvolvimento das habilidades cognitivas, com o domínio das habilidades cognitivas e o uso competente do “melhor pensar”, entendo que seja a melhor forma de vencer a irracionalidade ou até de prevenir as crianças e adultos disso. Podemos dizer que as habilidades de pensamento são trabalhadas de uma forma humanista em que há a valorização do educando.
Como exemplo de um método que sai do método tradicional e contribui para o desenvolvimento das habilidades e competências, através do método de filosofar proposto por Matthew Lipman, é possível trabalhar os valores éticos, a arte, a história, a linguagem, a estética, a politica, onde através de diálogos e exercícios de raciocínio desenvolvidos entre alunos e professores, mostram a diferença de uma educação tradicional e da educação proposta pelo programa tradicional, deixando claro que é possível filosofar com simples questões da vida real na sala de aula, também colaborando de forma efetiva no desenvolvimento de um processo de consciência crítica nos educadores de que a filosofia pode ser usada desde a educação fundamental. Aqui os estudantes do ensino fundamental podem filosofar abrindo a mente para propor uma solução aos problemas, afinal o pensamento é um processo cognitivo que ocorre quando um indivíduo utiliza o seu raciocínio (ver/pensar/perguntar), geralmente para a resolução de um problema, seja no mundo real ou no mundo digital.
Devemos também levar em conta que os estudantes de hoje são a primeira geração a crescer com essa nova, abundante, opulenta e farta tecnologia digital. As gerações Y e Z, são os ocupantes dos bancos das instituições de ensino e por sua vez são alunos da geração X, (que são os nascidos entre 1960 e 1983 - geração baby boomer), isso significa que os professores emigrantes do mundo não digital estão se esforçando para ensinar estudantes que utilizam linguagens completamente novas e uma comunicação com ênfase no digital. Sabemos também, que as novidades tecnológicas são objetos de testes entre nós, e que ainda não atingiu às gerações por inteiro, havendo um visível conflito de expectativas. O conflito é importante, pois é uma divergência de ideias, e a intenção do conflito é a geração do consenso onde sabemos que a Filosofia é exigida com muita intensidade.
A Filosofia desde os gregos se fez a partir das praças, dos encontros, das conversas, de conflitos de ideias, novas descobertas e novos paradigmas, a ágora passou para outro tipo de praça, criando o que, agora, chamamos de “redes sociais”. A influência que as redes sociais digitais exercem sobre os indivíduos é imensa, com impactos na sociedade e educação decorrentes dessa nova expressão da sociedade contemporânea.
As ferramentas de comunicação das redes sociais representam no âmbito educacional a maneira como se dão as políticas educacionais em voga, que buscam cada vez mais permear os espaços escolares com as tecnologias de informação e comunicação, que somado à presença dessas materialidades na vida cotidiana da maior parte da população, configura uma nova problemática que os profissionais da educação precisam se debruçar, se dela quiserem extrair bons êxitos. Nos dias atuais, é notório que as redes digitais, possibilitadas pelos diversos objetos comunicacionais (computadores, celulares com acesso à internet etc.), permite às pessoas criar em novos espaços sociais de relacionamento, e desenvolvam habilidades cognitivas muito voltadas para imagens com velocidade gigantesca no fornecimento de informações.

A Filosofia está atenta as exigências do século XXI, ciente que as pessoas desenvolveram o habito de ao clicar quase inconscientemente na busca de informações, obtém todo o tipo de informação, muitas vezes sequer sabem o que fazer com isto ou aquilo, uma coisa leva a outra, ficando horas fissurado na tela brilhante, aparentemente voltando a caverna de Platão.
Sempre atual, a Filosofia colabora com a reflexão do uso adequado das novas tecnologias de comunicação, e ao uso competente das fontes de informação em prol da construção de um pensamento mais bem elaborado sugerindo saídas do uso inconsciente nas redes sociais, na direção de formas de pensamento conscientes com objetivos voltados para o mundo real.
As formas de pensamento por serem atributos dos seres humanos, estão inseridas no inconsciente, consciente ou subconsciente, o autoconhecimento buscado através do ensino de Filosofia, faz despertar e faz agir em nossa mente o antivírus contra o uso alienado automatizado pelo deslumbramento deste novo mundo virtual, onde algumas de nossas habilidades cognitivas são mais trabalhadas em detrimento de outras.
O autoconhecimento ocorre ao longo do estudo da diversidade de temas propostos nas obras de pensadores, a leitura, analise e reflexão de tais obras traz um novo olhar de você sobre si mesmo e sobre o mundo, permitindo analisar um único cenário com mais de um ponto de vista.
De maneira a entender melhor como os atributos agem em nossa mente é necessário entender melhor o que sejam:
a)      O Inconsciente, conforme o filósofo e psicanalista alemão Friedrich Schelling (1775-1854), por exemplo, criou o termo “mente inconsciente” em 1815. Segundo ele, essa parte do indivíduo era uma fonte de criatividade e poderia servir até como uma ponte entre a natureza e o espírito.
b)      O Consciente: conforme o filósofo inglês Manfred Frank (nascido em 1945) afirma que a consciência representa a autoconsciência, pois é preciso compreender que se está ciente de algo. E a autoconsciência é anterior à reflexão. Já o autoconhecimento, segundo ele, funciona como uma consciência reflexiva.
c)      E finalmente o Subconsciente: A palavra subconsciente é usada no ramo da psicologia para definir o que está fora da consciência. O conceito de subconsciente é famoso nas palavras de Freud, mas saiba que alguns dos conceitos usados pelo austríaco foram primeiro pensados pelo psiquiatra francês Pierre Janet (1859-1947) em uma tese de 1889. O estudioso francês ainda desenvolveu pensamentos a respeito do trauma subconsciente, que é quando alguns eventos são tão estressantes que podem causar dissociação, uma desconexão com a realidade.

Nossa mente é complexa, muitas vezes não entendemos porque agimos de um jeito e não de outro, surpreendemo-nos com nossas próprias atitudes, lembranças ressurgem como um gatilho pronto a ser apertado, a medida que trabalhamos o autoconhecimento as respostas vão surgindo, e isto ocorre através do exercício e uso competente de nossas habilidades cognitivas, o exercício constante em ver/pensar/perguntar é a formula proposta pela Filosofia desde os Gregos ao mundo virtual, utilizando a razão e a inteligência emocional na construção da história humana.
A Filosofia pode SIM, contribuir como já vem contribuindo no desenvolvimento de habilidades cognitivas e no uso competente de tais habilidades, a construção na diversidade do acervo magnifico de obras de Filosofia presentes em todas as áreas do conhecimento são milhares de respostas consistentes presentes ao longo da trajetória humana, lá estão presentes as evidencias do uso competente das habilidades humanas.

Bibliografia:

CORTELLA, Mario Sergio. Filosofia: e nós com isso? – Petrópolis, RJ: Vozes, 2019

DOIDGE, Norman. O cérebro que se transforma. Tradução Ryta Vinagre. – 9ª ed. – Rio de Jandiro: Record, 2017.

FAVA, Rui. Educação 3.0 – 1 ed. – São Paulo: Saraiva, 2014

LIPMAN, M. Natasha: diálogos Vygotskianos. Porto Alegre: Artes médicas, 2002.
LIPMAN, M. O Pensar na Educação. Petrópolis, Rio de Janeiro: Vozes, 1995.
LIPMAN, M.; SHARP, A. M.; OSCANYAN, F.S.A filosofia na sala de aula. Tradução de Ana Luiza FERNANDES Marcondes. São Paulo: Nova Alexandria, 2001

Mayer, J. D., Salovey, P., & Caruso, D. R. Inteligência Emocional como zeitgeist, comopersonalidade e como aptidão mental. In R.,Bar-On, J. D., & Parker. (Org.). Manual deinteligência emocional: Teoria e aplicação em casa, na escola e no trabalho. Porto Alegre: Artmed, 1998.

Veen, Wim. Homo Zappiens: educando na era digital/ Wim Veen, Bem Vrakking; tradução Vinícius Figueira. - Porto Alegre: Arrmed,2009.

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