Quando falo de
memória, vem de rompante registros fixados por minha amada filosofia, formatos
escritos por nossos grandes pensadores e referenciais, dentre eles penso e
lembro que, na concepção agostiniana do tempo como distensio animi ou duração de
consciência, vê na memória a conservação integral do espirito por parte de si
próprio; ou em Leibiniz, que concebia a memória como conservação integral em
forma de virtualidade ou de “pequenas percepções” das ideias que não tem mais
forma de pensamentos ou de “apercepções”; ou por Hobbes, por exemplo
definiu a memória como a “sensação de já ter sentido”; ou por Hegel
que interpretou a memória como inteligência ou pensamento (sempre em seu
aspecto de recordação), vendo nela “o modo extrínseco, o momento unilateral da existência
do pensamento”; ou por Nietzsche: “Fiz isto – diz-me a
memória. Não posso ter feito – sustenta meu orgulho, que é inexorável,
finalmente, quem cede é a memória”.
Sei que, quando
brindo meus filhos com beijos, essas cenas não ficar para sempre em nossas
memorias, porem sei que não irão desaparecer sem deixar vestígios, irão
permanecer pelo “menos no atacado” como sentimentos e laços emocionais
agradáveis. Momentos podem ser esquecidos para sempre, ou vislumbrados através
de uma lente embaçada ou distorcida, mas mesmo assim, algo deles sobrevive
dentro de nós, permeando nosso inconsciente.
Sei que, porque,
lembro de já ter escrito algo sobre o Palácio da Memória descrito brilhantemente,
por meu caro mestre Professor José Luiz Novaes, soube transmitir com eloquência
e competência, registrando com a emoção em meu Palácio da Memória, parte da
obra escrita por Santo Agostinho, tal prazer (que é uma das mais almejadas
emoções, como bom epicurista, sem deixar de ser estoico) me faz trazer à baila
novamente, como um dejá vu, eis seu
pensamento:
Quando lá entro, mando comparecer
diante de mim todas as imagens que quero. Umas apresentam-se imediatamente,
outras fazem-me esperar por mais tempo, até serem extraídas, por assim dizer,
de certos receptáculos ainda mais recônditos. Outras inrrompem aos turbilhões
e, enquanto se pede e se procura uma outra, saltam para o meio como que a
dizerem: «Não seremos nós?». Eu, então, com a mão do espírito, afasto-as do
rosto da memória, até que se desanuvie o que quero e do seu esconderijo a
imagem apareça à vista. Outras imagens ocorrem-me com facilidade em série
ordenada, à medida que as chamo. Então as precedentes cedem lugar às seguintes
e, ao cedê-lo, escondem-se para de novo avançarem. É o que acontece quando digo
alguma coisa decorada.
(...)
Tudo isto realizo no imenso palácio da memória. Aí estão presentes o céu, a terra e o mar com todos os pormenores que neles pude perceber pelos sentidos, excepto os que já esqueci. É lá que me encontro a mim mesmo, se recordo as acções que fiz, o seu tempo, lugar e até sentimentos que me dominavam ao praticá-las. É lá que estão também todos os conhecimentos que recordo, aprendidos ou pela experiência própria ou pela crença no testemunho de alguém." Confissões Santo Agostinho
Tudo isto realizo no imenso palácio da memória. Aí estão presentes o céu, a terra e o mar com todos os pormenores que neles pude perceber pelos sentidos, excepto os que já esqueci. É lá que me encontro a mim mesmo, se recordo as acções que fiz, o seu tempo, lugar e até sentimentos que me dominavam ao praticá-las. É lá que estão também todos os conhecimentos que recordo, aprendidos ou pela experiência própria ou pela crença no testemunho de alguém." Confissões Santo Agostinho
Quando registramos
momentos de nossas vidas, através da lente da máquina fotográfica, de certa
forma registramos emoções, para alguém sim, para outros não, que para os
últimos seriam apenas curiosidades, no entanto, os registros experimentados e
registrados em nosso Palácio da Memória estão lá arquivados, o resgate destas
memórias, são acionados por emoções, sem emoção não acessamos o departamento do
inconsciente, muito bem instalado no Palácio da Memória.
As fotografias
funcionam como uma provocação emocional, uma vez provocada, a emoção aflora e
abre a porta do Palácio da Memória, como dito por Santo Agostinho:
(...)
Do mesmo modo, conforme me agrada, recordo as
restantes percepções que foram reunidas e acumuladas pelos outros sentidos.
Assim, sem cheirar nada, distingo o perfume dos lírios do das violetas, ou
então, sem provar nem apalpar, apenas pela lembrança, prefiro o mel ao arrobe e
o macio ao áspero.
Reuni algumas
fotografias como uma provocação emocional, são antigas fotografias, que para
alguém poderá resgatar alguma emoção no seu exclusivo Palácio da Memória, feito
isto, já por si só, validou meu objetivo nesta postagem.
Igreja Nossa Senhora das Dores em Porto Alegre
Prefeitura de Porto Alegre
Viaduto da Borges de Medeiros em Porto Alegre
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