Resumo
O belo e ambicioso Julien Sorel está determinado a superar sua origem provinciana assim que percebe que o sucesso só pode ser alcançado se adotar o sutil código da hipocrisia, pelo qual a sociedade é regida. A carreira triunfante de Julien o leva ao coração da glamorosa sociedade parisiense, mas ele acaba traído pelas próprias paixões. O vermelho e o negro é um retrato vivo e satírico da sociedade francesa depois da Batalha de Waterloo, crivado de corrupção, ganância e tédio, com um dos personagens mais intrigantes da literatura europeia.
Sobre o autor: Henri-Marie Beyle, mais conhecido como Stendhal foi um escritor francês. Seus romances de formação O Vermelho e o Negro, A Cartuxa de Parma e Lucien Leuwen fizeram dele, ao lado de Flaubert, Victor Hugo, Balzac e Zola, um dos grandes romancistas franceses do século XIX. Wikipédia
É um livro maravilhoso escrito por Stendhal que era um liberal, a edição que li é a 1ª edição da Penguin Classics, o livro foi publicado em 1830, trata-se de um romance histórico e psicológico que se passa na França num período de restauração, no ano da chamada revolução dos liberais.
Trata-se de um romance de ação, uma narração em ordem cronológica de acontecimentos interligados como causas e seus efeitos, movidos pela ambição de nosso protagonista, nem tudo saindo a seu contento devido a reação da lei social da hierarquia de classes, sendo esta ultima a ambição de Julien em alcançar nível superior ao da sua casta de trabalhador.
É um romance que trata das lutas de classes no período pós 1815, antes da revolução de 1830, pelo menos penso que seja o primeiro romance deste tipo, nosso personagem principal Julien Sorel, é um rapaz bonito, franzino, delicado, filho de um carpinteiro bruto, a figura do filho destoava daquele mundo que viviam, não era pobre nem rico, tinham uma certa condição financeira melhorada, ele se destaca do pai e dos irmãos por seu interesse pelos estudos e pela leitura, por esta característica o padre local vê em Julien um jovem promissor, o padre lhe ensina latim, história da religião dentre outros conhecimentos, a oferta do padre para lhe ensinar é uma forma de escapismo daquela situação que vivia, dentro de Julien havia uma ambição por conhecimento e reconhecimento pelas classes sócias mais elevadas.
Atualmente, assim como no século XIX, a luta de classes ainda é uma luta presente, a medida que o tempo passou e passa vai transformando as pessoas e o espirito, a luta de classes é anterior a Marx, o romance retrata justamente este fato que é anterior ao pensamento do filosofo e pensador, a luta de classe foi criada pelos liberais franceses do século XIX. Atualmente percebemos que a luta de classes é bem conceituada como uma dilatação dos conflitos de classes, por aquilo que Nicos Polantzas sintetizou como uma dinâmica de alianças entre vários grupos sociais que, de um lado, dominam e dirigem a vida econômica e social, de outro, aqueles que são subordinados e dirigidos, no entanto Marx sabiamente conseguiu dar vida ao pensamento das necessárias mudanças sociais, a relevância do pensamento de Marx são extremamente importantes para a leitura de infinitos temas que ainda hoje estão presentes na política e economia mundiais.
O livro também é uma visualização do pensamento de Julien, o pensamento dele é de muita ironia, esta ironia é fruto deste sentimento de baixa estima e carência, muito disto transparece quando ao receber algum gesto de acolhimento, sente-se valorizado sensibilizando-se esquecendo seu orgulho chegando a se ajoelhar e ira as lagrimas, Julien é um personagem surpreendente.
A crítica do social está muito presente, Stendhal não perdoa ninguém, fala abertamente, ele critica, burguesia, classe média, trabalhadores braçais, clero, os ricos e endinheirados, ninguém escapa.
Deixa evidente nos diálogos dos personagens, o medo que a nobreza tem de uma nova revolução, porque o sentimento geral governo não representa a fachada que não mais ilude as expectativas da revolução.
A estória flui e os acontecimentos vão moldando as reações e o pensamento dos personagens frente a cada nova situação, as complexidades psicológicas dos personagens trazem uma vestimenta própria como reações individuais com vistas as normas e regras culturais.
Como dito anteriormente nosso personagem principal não tem ambições de riqueza, mas de conquistar a moldes militares, conquistar e dominar, usando suas artimanhas para externalizar através de sua força interior, manipular para obter acolhimento e reconhecimento de classe social que percebe ser superior a sua, há decepção no convívio nesta dita superior classe social, o que encontra na nobreza são conversas vazias que o decepcionam, sua mente mais acurada superava e surpreendia as pessoas por terem pensamentos limitados.
Julien consegue ser admirado por sua inteligência, conhecimento e sua bela aparência, conquista uma belas mulheres, inteligentes, idealistas e ricas, através destas conquistas ele obtém títulos, o que atrapalha sua trajetória é um envolvimento teve com uma mulher casada, seu final é trágico, ele é preso ao tentar matar esta mulher que ele amou e foi amado, muito da estória rola dentro das paredes da prisão, o romance continua mesmo preso, encontra resignadamente sua sentença de morte, acabando por perder a cabeça literalmente.
Julien não tem um final feliz, ou uma morte heroica, sequer consegue conquistar seu objetivo, no entanto ele ao final dá-se conta que o importante em viver é o amor, a vida ideal, isto não fazia parte de seu projeto original mesmo tendo ao seu alcance, esta verdade é simples, porem para chegar até ela a vida se torna complexa devido as escolhas, ações e reações do processo de amadurecimento.
O final é ainda mais trágico quando Matilde recolhe a cabeça de Julien e a enterra numa gruta onde Julien gostava de meditar, a gruta é ornamentada e é transformada num lugar de visitação.
O livro é longo, são 649 páginas, passou a ser um de meus favoritos, os personagens são interessantes por sua complexidade e movimentos que fazem diante dos acontecimentos, muitas vezes surpreendentes, foi muito bem escrito valendo a pena ler mais de uma vez.
Fontes:
Stendhal, 1783-1842 O Vermelho e o negro: crônica de 1830/Stendhal; tradução de Raquel de Almeida Prado; posfácio de Leyla Perrone – Moisés e Henrich Mann – 1ª ed. – São Paulo: Penguin Classics Companhia das Letras, 2018
https://www.unicamp.br/cemarx/anais_v_coloquio_arquivos/arquivos/comunicacoes/gt7/sessao1/Angela_Lazagna.pdf