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segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

A Lógica contra a Moral do Espertinho

 
Pensar em educação é necessária reflexão, a reflexão necessita de conhecimento que é adquirido a partir de muita pesquisa, leitura e estudo, a partir deste método a formação de idéias próprias podem surgir com maior consistência e coerência. Nesta construção de idéias inspiradas na inspiração e pensamento de filósofos que já fizeram o mesmo processo. Outros encontram dentro de si mesmos idéias originais, no entanto originalidade também surge a partir do pensamento de outros, dando inicio a uma maneira diferente de entender ou resolver algum problema, não invalidando a originalidade, ou seja, tão original quanto.
Em muitas de minhas reflexões lembro imediatamente de pensadores como Aristóteles, pela familiaridade com muitos de seus pensamentos entranhados na educação, construídos pelo primeiro pensador lógico, que é claro: ARISTOTELES. Este filósofo faz parte da grande vertente realista, foi ele o fundador da ciência que hoje é chamada de lógica, e realidade e lógica são amigas contemporâneas desde a antiguidade.
A lógica esta presente e entranhada em nosso cotidiano, e fundamentalmente na educação, nossos professores mesmo sem conhecer os filósofos trabalham sob influencia deste e de muitos outros pensadores, na forma como suas idéias foram incorporadas na pratica pedagógica.
O primeiro lógico via na educação escolar o caminho para vida publica e o exercício da ética.
As principais obras de Aristóteles de onde se pode extrair informações pedagógicas são as que tratam de política e ética, que em ambos os casos, o objetivo final era obter a virtude.
Para Aristóteles, o propósito da vida humana é a obtenção do que ele chamava de vida boa, isso significava aos mesmo tempo vida “do bem” e vida “harmoniosa.” Ou seja, par Aristóteles, ser feliz e ser útil a comunidade eram dois objetivos sobrepostos, e ambos estavam presentes na atividade publica.
Ele afirmava que o melhor governo seria “aquele em que cada um melhor encontra o que necessita para ser feliz”, e a educação é um caminho para a vida publica, cabendo a educação a formação do caráter do aluno.
Perseguir a virtude significava, em todas as atitudes, buscar o “justo meio”.
A prudência e a sensatez se encontrariam no meio termo, ou medida justa – “o que não é demais nem muito pouco”.
Na lógica aristotélica, significa pensar que duas proposições contraditórias não podem ser verdadeiras e que não é possível afirmar e negar simultaneamente a mesma coisa.
A partir desta maneira de pensar me fez recordar de uma de minhas aulas, numa de minhas conversas iniciais de sondagem junto aos jovens alunos da 8ª serie do ensino fundamental, na faixa etária de 14 anos.
Durante a aula fiz a seguinte pergunta para a turma:
Imaginem a situação que vocês ao irem ao cinema tenham pago o ingresso, quando o caixa por um engano lhes deu troco a maior, tendo vocês verificado o equivoco no ato, o que fariam?; Devolveriam o valor a maior para o caixa?; 
A resposta não me surpreendeu, apenas um aluno na turma disse que devolveria, os demais “disseram que não devolveriam, seria um problema do funcionário do caixa ser um boca aberta”.
Argumentei junto aos alunos dizendo que o caixa é um trabalhador assalariado, e que toda importância que faltasse no caixa seria descontada de seu salário. Mesmo assim os alunos permaneceram irredutíveis, cada um expressando a sua maneira.
Resolvi colocá-los na posição inversa, sendo ele o caixa, que por sua vez eles teriam se enganado dando troco a maior e a importância lhes seria descontada do salário. Óbviamente todos se manifestaram contrários alegando que isto não estava certo, pois no caso deles era diferente.
Neste momento, Aristóteles me falou ao ouvido, sussurrando cadê a ética?, aqui há uma contradição, e Aristóteles precisa entrar em ação e fazer com que a lei da afirmação e negação ao mesmo tempo não era lógico, resolvi provocar uma discussão apresentando um texto, e este texto seria representado em forma de peça. O texto de Weber é chamado “Usando a Lógica Contra a Moral do Espertinho”. Solicitei a manifestação de alguns alunos voluntários para representarem na próxima aula o dito texto com viés ético.  
A peça foi centrada no seguinte texto:

USANDO A LÓGICA CONTRA A MORAL DO ESPERTINHO (Cínara Nahra e Ivan Hingo Weber – Livro: Através da Lógica – Ed. Vozes)

    Pedro e Maria são colegas na Escola. Pedro é um excelente aluno, presta atenção as aulas, matem seu caderno em dia, é esforçado e, principalmente, é uma pessoa de ótimo caráter. Maria, ao contrário, além de não querer saber nada do estudo, acha que pode ser dar bem, bancando a “espertinha”. Para a prova final, Maria, mais uma vez, não estudou e tenta apelar aos bons sentimentos de seu amigo Pedro para que ele lhe dê “cola”.
    Pedro, entretanto, é um garoto que sabe o que é certo. E sabe, portanto, que não é justo que ele, aplicado e estudioso, entre em férias no mesmo dia em que Maria entrará em férias. Pedro sabe que, se ele estudou ao longo do ano, deve passar por média e Maria deve fazer exames e entrar em férias mais tarde. Isto é o certo.
    Maria, porém não quer saber o que é o certo. Ela quer passar de ano e para isso é capaz de fazer qualquer chantagem e usar qualquer argumento. Pedro, no entanto, estudou lógica e assim tornou-se capaz de descobrir todas as falácias dos argumentos de Maria. Vejamos o diálogo que eles travam:

M – Eu tenho que passar para o primeiro ano.

P – Mas você acha que estudou para isso?

M – Claro que não. Eu não sou “trouxa”.

P – Então você acha que quem estuda é “trouxa”?

M – Acho.

P – E como você pretende passar sem estudar?

M – Ora! Você vai me ajudar, não? Vai me dar cola, não é, Pedro?

P – Claro que não!

M – Mas, Pedro, você é meu amigo!

P – Sou seu amigo, mas não vou lhe dar cola.

M - Mas se você é meu amigo, então você tem que me dar cola.

P – Essa premissa não é boa.

M – Como?

P – Eu quis dizer que posso ser seu amigo e, no entanto, não lhe dar cola, exatamente porque sou seu amigo. Eu acho que a premissa boa é: “Se eu sou seu amigo, então devo lhe aconselhar a fazer sempre o certo”.

M – Eu não estou entendendo, Pedro.

P – Claro! Você não estudou Lógica! Aliás, não estudou nada.

M – Pára de me incomodar, Pedro! Estou só lhe pedindo cola. Você é meu amigo...

P – Já lhe disse que esta sua condição de que “Se você é meu amigo, então você deve me dar cola” não é boa. Sei disso, não porque estudei Lógica, mas porque minha família me deu uma boa educação.

M – Pedro, você esta se tornando muito “chato”.

P – Pode me chamar de “chato”, mas sei que o argumento bom é: “Se sou seu amigo, então devo lhe mostrar o certo. Se eu fizer o que você quer, ou seja, não lhe mostrar o certo, segue-se que eu não seria seu amigo”.

M – Está querendo me enrolar...

P – Absolutamente. Só estou querendo lhe mostrar o que é certo. E o certo é que quem não estuda não pode e não deve passar de ano.

M – Mas isso é egoísmo seu. Se você sabe tudo, o que custa me ajudar?

P – Eu teria o maior prazer em lhe ajudar, mas ajudar a aprender a matéria. Se eu lhe der cola, Maria, eu não lhe ajudo em nada. Eu quero lhe ajudar; logo, não posso lhe dar cola.

M – Mas estou desesperada, Pedro!

P - Schiii! Este é o típico argumentum ad misericordiam (apelo à piedade). É a falácia que se comete quando se apela para piedade ou compaixão para conseguir que determinada conclusão seja aceita.

M – Idiota! Trouxa!

P – Tudo o que não sou é idiota e trouxa. Você disse no começo que “quem estuda é trouxa”, não? Pois eu estudo. E, se assim é, completando seu argumento, se todos os que estudam são “trouxas”, e eu estudo, então sou trouxa, não?

M – Não foi isso o que eu quis dizer, Pedro.

P – Mas foi isso o que a Lógica me ajudou a concluir. Você não disse isto, mas certamente é isso que pensa, mesmo que não tenha se dado conta. Eu penso diferente, Maria. Eu penso que quem estuda está fazendo o que deve ser feito e quem faz o que deve ser feito está construindo uma vida melhor para si e para o mundo. Eu estudo e, assim, estou construindo uma vida melhor para mim e para os outros. Tchau, Maria. Bons exames. Ano que vem a gente se vê, porque, como eu já passei por média, só aparecerei por aqui no ano que vem.

A apresentação teatral obteve atenção, interesse, participação, discussões  e também disputas para quem iria representar, em resumo foi uma ótima aula.
Acredito que a maneira Aristotélica “ninguém nasce virtuoso”, e que a virtude é uma pratica e não um dado da natureza de cada um, tampouco o mero conhecimento do que é virtuoso como para Platão.
A virtude deve ser praticada diariamente desde a tenra idade, deve ser constante, precisa se tornar um habito, devendo a escola também ser o formador do caráter, e é neste mundo que vivemos e temos a oportunidade de melhorarmos a cada dia.
Para o grupo, é necessário que a sociedade seja formada a partir de verdades lógicas, como determinar uma verdade comum a todos os componentes, sendo a lei reguladora daquilo que é bom, justo e melhor para a sociedade.
Como Aristóteles acredito que o núcleo inicial da organização das cidades, e claro a primeira instancia da educação da criança seja na família.
Atualmente o estado tenta regular e vigiar o funcionamento das famílias, saúde e educação.
O que a sociedade esta precisando são de bons exemplos, pelo exemplo e imitação que os demais se inspiram para agir, porem o que esta em demonstração são políticos corruptos e cidadãos querendo levar vantagem em tudo sobre todos, é um por um e nenhum por todos.
A lógica aristotélica é negada e aplicada diariamente por seus cidadãos, há contradição em oferecer o mal e esperar o bem em troca.
Vivemos numa sociedade competitiva, ser melhor que o outro é o pensamento que prima, é necessário mudar os valores e procurar o outro como semelhante.
Há muitos que primeiro negam a filosofia e pensamento dos antigos, assim negam a utilidade do pensamento de pensadores como Aristóteles, negam a aplicação deste conhecimento no entendimento dos problemas contemporâneos, alegando que o pensamento deles aplicava-se apenas a problemas da época e momento deles.
Entendo que pensar desta forma é apenas a forma de banalizar o que no pais da bananas a banalização é muito comum e normal.
Banalizamos e rimos com todo humor brasileiro de atos cruéis que contrariam séculos de pensamentos entranhados em nossa educação, a pergunta é: Por que mesmo assim insistimos em contrariar a educação, ou será que estamos contrariando o conhecimento, ou ainda contrariamos apenas dados e não o conhecimento e a educação?
O que é o conhecimento senão um amontoado de dados, compilados e entendidos, contrariar o conhecimento é negar a coerência lógica da realidade, quando banalizamos acontecimentos estamos sendo cruéis conosco, banalizar a educação e o conhecimento é desconstruir séculos de conhecimento.
Sabemos que o caminho da ética e da moral, tem lógica existencial, e sair deste caminho é muito arriscado, que ao menor movimento demonstra a instabilidade das instituições e principalmente da família. O equilíbrio esta presente no justo meio de viver, e viver nos extremos é querer se perder.
Numa aparente inocente pergunta, a resposta serve como indicador de que as coisas não estão indo bem, a formação do caráter que inicia no seio familiar reflete e refletirá no tipo de sociedade que temos e teremos.
Neguem ou não a aplicabilidade das idéias de Aristóteles, pelo que ele escreveu ainda são assunto, e assunto dos mais atuais e importantes.
Conclusão: A Lógica muitas vezes cede lugar para a ética, que é a ciência que estuda o dever ser, é ela que terá autoridade para nos dizer se é certo ou errado agir de certa maneira.

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