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sexta-feira, 5 de março de 2021

As lentes de Anthony Giddens - Uma visão sociológica dos problemas ambientais

 


Em novembro de 2011 escrevi vários artigos tratando do tema meio ambiente e os problemas ambientais, e os publiquei neste blog, na ocasião trouxe dentre outras a notícia publicada no site: http://correiodobrasil.com.br/presidente-da-chevron-pede-desculpas-pelo-vazamento-de-petroleo/332347/ndo que o vazamento de petróleo não deve chegar ao litoral.

 

O presidente da Chevron pediu desculpas públicas: empresa já recebeu multa de R$ 50 milhões pelo vazamento – Beto Oliveira/Câmara

O presidente da Chevron Brasil Ltda, George Buck, empresa responsável pelo vazamento de petróleo no Campo de Frade, no Rio de Janeiro, pediu desculpas à “população e ao governo brasileiro” pelo acidente. Em audiência pública na Câmara que ocorre na tarde desta quarta-feira (23), o norte-americano disse ter “profundo respeito pelo Brasil”. O vazamento começou em 8 de novembro e já rendeu uma multa de R$ 50 milhões à empresa. O acidente na bacia de Campos ocorre pelo menos desde o dia 8 deste mês. O auge do vazamento se deu no dia 11 de novembro, quando até 600 barris de petróleo vazavam diariamente na região. Depois, esse percentual foi diminuindo, segundo a Agência Nacional de Petróleo (ANP).

 

O desastre causado pelo vazamento de óleo causado pela empresa “chevron”, deverá trazer consequências por muito tempo, e ainda é muito cedo para dimensionar o tamanho do dano ao ambiente aquático.

 

Por maior que seja a multa, jamais conseguirão recuperar as vidas dos animais que foram e serão interrompidas, a contaminação do oceano, prejuízos a vida das comunidades litorâneas e o quanto afetarão a economia. Diga-se que a causa não é o derramamento de óleo, a causa está nas nos abusos, descumprimento da legislação ambiental, adulterações sobre as informações, falha na fiscalização, e principalmente descomprometimento com as próximas gerações.

 

De lá para cá, decorreram-se dez anos desde minhas publicações no blog mencionando o desastre causado pela “Chevron” e o que vemos atualmente é o resultado de mais problemas ambientais causados pela exploração e degradação da natureza, como por exemplo o derramamento de óleo no ano de 2019 contaminando nove estados brasileiros, neste último incidente ainda não ficou esclarecido. Um ano depois do maior desastre de vazamento de óleo do país, a Marinha do Brasil finalizou a primeira parte das investigações sem apontar culpados e sem revelar a origem exata do derramamento que atingiu o litoral de nove estados do Nordeste e dois do Sudeste, totalizando 130 municípios.  (fonte: https://g1.globo.com/pe/pernambuco/noticia/2020/08/27/oleo-no-litoral-um-ano-depois-marinha-conclui-investigacao-sem-apontar-culpados-ou-origem-do-desastre.ghtml)

Atualmente a raça humana está lutando contra uma pandemia que provavelmente tenha suas origens na exploração sem limites da natureza, não é à toa que estamos enfrentando uma epidemia global que paralisou o mundo dando um potente golpe atingindo o planeta como um todo, independentemente do grau de desenvolvimento dos países, riquezas e distância geográfica, todos foram afetados, muitas pessoas morreram, estão morrendo e ainda morrerão. Pensamos que com a vacina possamos retomar nossas vidas de onde paramos, no entanto, esta premissa está se mostrando falsa, embora a eficácia das vacinas se mostrem promissoras contra a doença que assola o mundo, ela não sozinha não será suficiente para a retomada de uma vida quase “normal” sem uma mudança no paradigma de exploração.

O avanço tecnológico fruto do progresso e da industrialização produzem a química que salvará vidas, porem este mesmo progresso que é o resultado do capitalismo selvagem não poderá prosseguir com o mesmo ímpeto sob pena de destruir a natureza e a nós que estamos nela inseridos, pois somos parte do problema e da solução. Com a busca incessante pelo progresso e industrialização derrubamos fronteiras e fomos “globalizados”, com a globalização passamos a estar intensamente conectados e relacionados espacial e socialmente. Diante da intensificação das relações sociais em nível mundial com as conexões para diferentes lugares do globo, conforme as lentes de de Giddens, os acontecimentos locais passaram a sofrer forte influência do que acontece em outros locais, levando ao encadeamento das consequências das atitudes individuais, ou seja, o que acontece num vilarejo pode influenciar o mundo, através do contato físico e virtual.

Falar de progresso é também falar de natureza e meio ambiente, o progresso na maioria das vezes está focado na exploração da natureza, o meio ambiente que também fazemos parte é obviamente atingido, e nós inevitavelmente sofremos, pelo observar dos acontecimentos a situação irá só piorar, vamos ouvir um pouco do que alguns sociólogos trataram do tema progresso.

Até recentemente, as Ciências Sociais, apregoavam a forte crença no progresso e na racionalidade humana como potências simultâneas e até concomitantes oferecendo possibilidades, problemas e soluções, ora trata-se do paradigma do progresso e da razão, como se ambos andassem lado a lado, o primeiro avançando de maneira racional gerando e resolvendo os problemas causados, na prática poderemos observar que não é bem assim, são mais ações corretivas do que ações preventivas. Em linhas gerais, os teóricos clássicos dessas ciências, afirmaram o seguinte: Marx, ele acreditava que o progresso do capitalismo iria criar a sua própria superação, transformando as relações e os meios de produção. Durkheim afirmava que a sociedade moderna propiciaria o avanço da solidariedade orgânica entre os indivíduos, criando laços de interdependência benéficos para a coesão social. E, Weber, mais descrente, apontava que a era moderna seria o desencantamento do mundo, com a expansão da burocracia e o esmagamento da criatividade e autonomia. (GIDDENS, 1991)

De longa data as Ciências Sociais já tratam e escrevem sobre o relacionamento entre as sociedades humanas e o meio ambiente, esta é uma área antiga, Marx e Engels (1961), Weber e Durkheim (1954,1982), todos escreveram sobre o tema. A partir dos anos 70 surgiu o termo "Sociologia do Meio Ambiente", de uma forma próxima ao compreendido atualmente. Em 1976, A Sociedade Americana de Sociologia designou uma seção para a área. Em 1978, Catton e Dunlop foram os precursores quando publicaram a primeira tentativa de proporcionar uma definição explícita da área de sociologia do meio ambiente, eles entendiam que o estudo das interações entre a sociedade e o meio ambiente constitui do núcleo central da sociologia do meio ambiente.

Giddens me parece atual, moderno e coerente, em sua Sociologia ele trata do tema Meio Ambiente, em meu entendimento ele consegue interpretar e compreender os problemas de nosso tempo construindo com habilidade o que seja Sociologia do Meio Ambiente, ele busca integrar a explicação das origens e efeitos da degradação do ambiente numa interpretação mais ampla do desenvolvimento e da dinâmica das sociedades modernas, centralizando sua explicação da degradação do ambiente, na interação entre o capitalismo e o industrialismo, prestando a devida atenção à dimensão espacial dos processos sociais e dos métodos da geografia, o que lhe facultou investigar a natureza sociológica do urbanismo e da globalização e o modo como esta contribui para os problemas ambientais, a explicação esta nas origens e efeitos da degradação do ambiente nas sociedades modernas, em uma questão socioambiental, uma vez que a relação sociedade-natureza é de interação em tempo real.

Quando entendermos realmente que tudo o que está ao nosso redor advém da natureza, sendo ela a condição fundamental para a sobrevivência humana, quem sabe possamos perceber que sem ela não poderemos existir, e se dela somos parte obviamente esta afirmação é real e não uma apenas uma possibilidade. Transformamos a natureza numa segunda natureza, transformamos em nosso supermercado e de lá extraímos tudo aquilo que bem entendemos, a exploração se dá estimulada pelo consumo e progresso, quem não ouviu a frase: "é preciso incentivar o consumo, se quisermos superar a crise?", é claro que o consumo é necessário e inevitável, porem a que preço e sob quais condições? A relação sociedade-natureza é uma balança onde as necessidades da segunda natureza pesam mais que a natureza primordial, tais necessidades são hábitos milenares transmitidos sem muita preocupação, estão enraizados em suas culturas e é muito difícil de serem mudados, pois vejamos onde a população atualmente é de milhões repetindo hábitos de consumo o peso desta balança penderá para qual lado?

O consumo de animais silvestres é habito em muitos lugares do mundo, a caça é corriqueira, logo o consumo de carne de animais selvagens é influenciado por questões culturais, havendo uma ligação entre o consumo de certas espécies e a região específica do país. Assim como ocorre na China, país em que presumivelmente surgiu a nova doença que assola o mundo atualmente, o hábito do consumo de animais silvestres está enraizado na cultura, servindo tanto para a alimentação como também para a medicina tradicional e para vestimentas, esta é a realidade de muitos lugares e está acontecendo neste mesmo momento.

Um relatório da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) indicou que ao menos 70% das enfermidades que apareceram após a década de 1940 têm origem animal. Segundo a pasta da ONU, a expansão agrícola e a interatividade entre homens e animais fizeram com que novas doenças surgissem e se disseminassem rapidamente. Entre as doenças divulgadas no estudo estão: HIV-1, encefalopatia espongiforme bovina, síndrome respiratória aguda grave (Sars) e diversos vírus da gripe. Em comunicado para a imprensa, o diretor-geral adjunto de Agricultura e Defesa do Consumidor, Ren Wang, ressaltou que essas enfermidades são resultados das crescentes relações de animais silvestres com o gado e deste com os seres humanos. O estudo da FAO aponta que um terço do território mundial é utilizado para o pasto de ruminantes, e um terço da terra arável do planeta é designado à plantação de sementes para a prática da pecuária. De acordo com o documento, devido ao comércio globalizado, às mudanças climáticas causadas pelo impacto do homem na natureza e ao aumento mundial no consumo de carne, essas doenças acabam atingindo diferentes regiões do planeta em um curto espaço de tempo. https://summitsaude.estadao.com.br/desafios-no-brasil/70-das-doencas-modernas-sao-de-origem-animal-alerta-fao/

A Sociologia Ambiental, está muito bem analisada pelas lentes de Giddens, em seu estudo da vida social humana e sua interação com o meio ambiente, ele utiliza teorias e conceitos provenientes da própria Sociologia moderna para examinar essa relação que nem sempre é amistosa, pois dado a sua intensidade nem sempre é equilibrada, as consequências são o resultado de poluição e a destruição de muitas formas de vida, cujos efeitos a curto e longos prazos estão causando profundas modificações na biosfera, logo percebe-se aqui no que consiste a relação entre sociedade e natureza.

 

Nestas relações entre sociedade e a natureza, as ações humanas transformam o meio natural, produzindo transformações no contexto do espaço geográfico, na luta incessante  para o seu desenvolvimento e principalmente sua subsistência, lançam mão sobre os recursos naturais próximos e distantes, a busca é constante pelo atendimento de suas necessidades, a exploração ambiental é a forma encontrada para alavancar a sobrevivência local e seu desenvolvimento que estão diretamente relacionados a fatores políticos e econômicos obviamente implicando diretamente na apropriação e ocupação do espaço, agindo em nome da sobrevivência, do progresso e da fomentação industrial, por vontade própria modificamos a natureza conforme o objetivo e interesse.

 

A atual leitura da realidade social implica em considerar indissociáveis os problemas sociais e os problemas ambientais, uma vez que as relações entre sociedade e o meio ambiente é o resultado de decisões e ações sociais, permeado, portanto, por processos socioculturais, físicos e biológicos passíveis de mudanças, neste ponto em especial, a “comunidade” cientifica mundial entendeu que a pandemia é mortal e a realidade social de cada pais dependerá de mudanças, mudanças tais como o compartilhamento do conhecimento cientifico por parte dos mais desenvolvidos, aliado a ações sociais em prol da sobrevivência da raça humana, incluindo mudanças dos estilos e hábitos de cada um, a interação social é um fenômeno humano mundial.

 

A relação entre o mundo social moderno e a natureza tem imbricações fortes no capitalismo e no desenvolvimento da ciência e da tecnologia, Giddens tem uma leitura clara nestes agentes, são agentes que proporcionam mudanças, desde o nível mais íntimo ao mais público, retratam quebras e rupturas com modos e estilos de vida que pareciam imutáveis e locais. O resultado de práticas sociais é a criação de um novo ambiente, onde a natureza passa a ser socializada. A pratica do consumo de animais silvestres e sua aproximação dos ambientes são os fios condutores de tudo o que um tem a oferecer ao outro, o desrespeito e a falta de limites causam seguidos curtos-circuitos em ambos os lados, com a degradação todos acabam perdendo, e a extensão dos estragos se alastra do micro ao macro, colocando em risco a sobrevivência da sociedade “moderna” em qualquer lugar do planeta.

 

A sobrevivência da raça humana depende de como haverão as interações sociais daqui para frente (me refiro aos hábitos adquiridos durante a pandemia), dependeremos mais do que nunca das tomadas de decisões individuais as quais poderão ter múltiplas implicações globais, seja social ou ambiental. As ações cotidianas não somente afetam a sobrevivência de alguém que vive do outro lado do mundo, mas podem contribuir para o processo de deterioração ecológica que em si tem consequências potenciais para toda a humanidade. (GIDDENS,1997). Ainda de acordo com Giddens:

 

Poucas pessoas, em qualquer lugar do mundo, podem continuar sem consciência do fato de que suas atividades locais são influenciadas, e às vezes até determinadas, por acontecimentos ou organismos distantes [...] Hoje, as ações cotidianas de um indivíduo produzem consequências globais [...] (GIDDENS, 1997, p. 23).

 

Os desastres naturais ainda ocorrem, mas a socialização da natureza, nos dias atuais, significa que muitos sistemas naturais primitivos são agora produtos da tomada de decisão humana2. Giddens expõe como exemplo a preocupação com o aquecimento global, afirmando que ele decorre do fato do clima da terra não seguir mais uma ordem natural. (GIDDENS, 2001). Ele ressalta que as questões ecológicas marcam outros problemas que a humanidade enfrenta na atualidade. Enquanto a tradição controla o espaço mediante seu controle do tempo, com a globalização o que acontece é, essencialmente, a “ação à distância”; a ausência predomina sobre a presença, graças à reestruturação do espaço. (GIDDENS, 2001, p. 79).

 

Acima de tudo, percebe-se que demonstra como as pessoas se adaptam às novas realidades construídas pelo capitalismo e industrialismo face a dinâmica da vida, a qual é imposta pela sociedade pós-tradicional, com o desenvolvimento progressivo da ciência e da tecnologia, materializado na produção e no consumo como fontes de prazer individual e coletivas na modernidade reflexiva, transformando, também, a relação entre conhecimento e experiência, com a sobreposição dos sistemas peritos sobre a experiência, criando, dessa forma, um afastamento crescente entre a sociedade-natureza e uma crescente adaptação das pessoas à natureza socializada.

 

Alguns dos hábitos aparentemente imutáveis poderiam ser um precursor do CORONAVIRUS, acredita-se que o novo coronavírus tenha surgido a partir do comércio ilegal de animais selvagens em um mercado de frutos do mar em Wuhan na China. Apesar de os morcegos terem sido citados em pesquisa chinesa recente como possível origem do vírus, a sopa de morcego não é particularmente comum no país e a mídia e fake news se encarregaram de propagandear mundo afora sem a certeza cientifica sua suposta origem, no entanto foi pregada a dúvida. Existem muitas teorias de conspiração e fake news, a falta de transparência deixa as pessoas a mercê de palpites e com isto por mais absurda que a teoria ou a notícia seja, a maioria das pessoas acredita haver a possibilidade de que seja verdade, afinal ninguém sabe a verdade, só se sabe que as investigações sobre a origem real da doença continuam, e algumas hipóteses cientificas são formuladas sem conclusão e algumas até discordantes.

 

A obra de Giddens é tão atual que também pode ser aplicada ao conceito das fake news, pois o autor insere na discussão o que ele chama de “sistema sem autoridades definitivas”, se referindo ao cenário contemporâneo, onde especialistas das mais diversas áreas do conhecimento estão em constante desacordo sobre suas pesquisas e trabalhos. Esse contexto instável e complexo de argumentos, segundo Giddens, é responsável pela ausência dessas “autoridades definitivas”, como a própria mídia tradicional, por exemplo, e permite ao indivíduo escolher e decidir em que acreditar. Como os peritos discordam com tanta frequência, mesmo profissionais no centro de um determinado campo de conhecimento podem se encontrar em posição muito semelhante à do leigo diante de decisão análoga.

 

Num sistema sem autoridades definitivas, mesmo as crenças mais acalentadas subjacentes aos sistemas especializados estão abertas à revisão, e muito comumente são alteradas de maneira regular. O empoderamento está disponível rotineiramente para o leigo como parte da reflexividade da modernidade, mas muitas vezes há problemas sobre como esse empoderamento se traduz em convicções e em ação. Um certo elemento de fortuna, ou de fatalismo, permite assim que a pessoa chegue a uma decisão que só pode ser parcialmente garantida à luz da informação local e especializada disponível.

 

A partir do momento em que o indivíduo leigo passar a escolher e decidir em que acreditar é um fator que reforça o surgimento e crescimento das fake news, uma vez que o critério de verificação das fontes da notícia já não tem a mesma importância. Temos, nesse contexto, o sujeito reflexivo que, se por um lado está cada vez mais ávido por informação, por outro parece estar cada vez menos exigente - não quanto ao conteúdo - mas quanto à fonte, que por sua vez reflete diretamente na consistência e credibilidade desse conteúdo, a sociedade ainda está aprendendo a fazer leituras neste sentido, no entanto há muito em jogo, ainda há o receio do quanto as notícias estão impregnadas por intenções subliminares de qual seja o interesse e intenções da fonte.

 

Há muita informação em torno da pandemia que assola o mundo, o novo Coronavirus se transformou numa pandemia, é um novo fenômeno ecológico global, e conforme o esperado há muita informação e desinformação circulando mundo afora, este momento é oportuno para o exercício dos fundamentos da sociologia clássica e da sua velha e nova área da sociologia do meio ambiente, é um momento revelador da sociologia e seus conceitos são relevantes para a compreensão da pandemia e orientação das condutas sociais que ainda percebem através de seu senso comum, a natureza como substrato ilimitado a disposição das necessidades da raça humana.

 

A rápida disseminação entre populações humanas deu a volta ao mundo em dias, abrangendo o ambiente urbano e cosmopolita, de uma virose provavelmente originária, como tantas, de animais, leva-nos a retomar algumas noções fundantes da sociologia, tais como as de fato social, totalidade social, consciência coletiva, representações coletivas e sensíveis, simbólico e imaginário, dualidade humana, fato social total, indistinção entre natureza e cultura, preconizantes das relações humana e meio ambiente, a um esforço constante da sociologia por demonstrar que não é a natureza a origem da sociedade, mas sim, o sistema social construído e constituído pelo é que hierarquiza e classifica como natureza a aparência da cultura.

 

Os estudos das relações entre seres humanos e meio ambiente no momento atual abriram um diálogo interdisciplinar com outras ciências e formas de conhecimento, estão sendo apontados os efeitos nocivos à saúde física e mental da espécie humana, das técnicas de exploração animal que acompanham a exploração do trabalho, e das tradições supostamente imutáveis não problematizadas. Os olhares discriminatórios vasculharam o mundo na busca pela origem do vírus mortal, encontraram as origens na exploração alienada do meio ambiente, seja pelo fomento do suposto progresso, pela sobrevivência das comunidades locais, por hábitos exóticos aparentemente imutáveis, desigualdade econômica, sofrimento de outras espécies e a destruição ambiental, enquanto não entendermos que o nosso social interfere no meio ambiente, a desigualdade permanecerá criando outros males, e outras pandemias.

 

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Fonte: http://www.ppgs.ufscar.br/boletim-coletividades-sociologia-na-pandemia/

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