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sábado, 19 de março de 2022

As Flores do Mal de Charles Baudelaire

Charles Baudelaire (1821-1867) foi um dos mais influentes poetas franceses do século XIX, é considerado um dos precursores do movimento simbolista, ele inaugurou a modernidade da poesia que só foi reconhecida depois de sua morte.

Em 1857, ao lançar uma coletânea com os seus mais belos poemas, intitulada “As Flores do Mal”, foi acusado pela lei francesa de atentar contra a moral, a censura era moldada por padrões éticos e culturais pertinentes à época, o que torna a obra pelo menos curiosa, no entanto os poemas surpreendem pela beleza.

Ele utilizava temas análogos em busca da beleza, a expressão da melancolia, muitas vezes movido por um sentimento de destruição, como sendo um ato de revolta, estava constantemente presente a dualidade paradoxal do ser humano, o homem duplo, o homem projetado sobre o mundo como senhor e ao mesmo tempo um pequeno grão de areia.

O simbolismo foi uma tendência literária que nasceu na França, com as teorias estéticas de Charles Baudelaire, e floresceu principalmente na poesia, em diversas partes do mundo ocidental, no final do século XIX. É o último movimento antes do surgimento do modernismo na literatura, por isso é também considerado pré-moderno.

Como o nome aponta, a poesia simbolista propunha um resgate dos símbolos, isto é, de uma linguagem que compreendesse uma universalidade. O poeta é, aqui, um decifrador dos símbolos que compõem a natureza ao seu redor. Contra a superficialidade material do corpo, a objetividade do realismo e as descrições animalescas do naturalismo, o simbolismo quer mergulhar no espírito, que se relaciona a algo maior, a uma instância coletiva universal, a uma transcendência.

Em seu arcabouço Baudelaire navega pelos mares do idealismo romântico, ele também explora o lado mundano e humano destes seres que a todo o dia dão um passo em direção a humanização, ele trabalha e explora temas sombrios e eróticos, como sexo, a sensualidade, a morte, a melancolia, a tristeza, o tédio, o diabo, as doenças, solidão, a dualidade do ser e não ser.

Baudelaire destacou-se como tradutor das obras do estadunidense Edgar Allan Poe, entre elas, “Histórias Extraordinárias, 1873” e “O Princípio Poético, 1876”, Poe e Baudelaire tem muitos pontos de contato no que tange a poesia e forma de pensamentos, Poe foi inspiração para Baudelaire, muito porque Baudelaire já tinha em mente e teoria o que Poe produzia.


 

Alguns poemas trazidos do livro As Flores do Mal:

 

O Homem e o Mar

Homem livre, hás de ser sempre amigo do mar,

O mar é teu espelho e contemplas a mágoa

Da alma no desdobrar infindo de sua água,

E nem ela abismo é menos de amargurar.

 

Apraz-te mergulhar em tua própria imagem;

O olhar o beija e o braço o abraça, e o coração

No seu próprio rumor e contra distração,

Ao ruído desta queixa indômita e selvagem.

 

Mas ambos sempre soias tenebrosos e quedos:

Homem, ninguém sondou teu fundo sorvedouro,

Mar, ninguém viu jamais teu intimo tesouro,

Porque muito sabeis guardar vossos segredos!

 

Porém passados são evos inumeráveis

Sem que remorso ou pena a vossa luta corte,

De tal modo quereis a carnagem e a morte,

Ó eternos rivais, ó irmãos implacáveis!

 

O Albatroz

 Às vezes no alto mar, distrai-se a marinhagem 
Na caça do albatroz, ave enorme e voraz, 
Que segue pelo azul a embarcação em viagem, 
Num vôo triunfal, numa carreira audaz.

Mas quando o albatroz se vê preso, estendido 
Nas tábuas do convés, — pobre rei destronado! 
Que pena que ele faz, humilde e constrangido, 
As asas imperiais caídas para o lado!

Dominador do espaço, eis perdido o seu nimbo! 
Era grande e gentil, ei-lo o grotesco verme!… 
Chega-lhe um ao bico o fogo do cachimbo, 
Mutila um outro a pata ao voador inerme.

O Poeta é semelhante a essa águia marinha 
Que desdenha da seta, e afronta os vendavais; 
Exilado na terra, entre a plebe escarninha, 
Não o deixam andar as asas colossais!

 

A Musa Venal

musa de minha alma, amante dos palácios,
Terás, quando janeiro desatar seus ventos,
No tédio negro dos crepúsculos nevoentos,
Uma brasa que esquente os teus dois pés violáceos?

Aquecerás teus níveos ombros sonolentos
Na luz noturna que os postigos deixam coar?
Sem um níquel na bolsa e seco o paladar,
Colherás o ouro dos cerúleos firmamentos?

Tens que, para ganhar o pão de cada dia,
Esse turíbulo agitar na sacristia,
Entoar esses Te Deum que nada têm de novo,

Ou, bufão em jejum, exibir teus encantos
E teu riso molhado de invisíveis prantos
Para desopilar o fígado do povo.

 

Vídeos de A Dança das Ondas por Ava Inferi:

https://www.youtube.com/watch?v=I8auLKJkuN4

https://www.youtube.com/watch?v=mExYLyNYJ1c

 

Fonte:

Baudelaire Charles. As Flores do Mal. Tradução de Jamil Almansur Haddad. 2ª. Ed. 1964 Difusão Europeia do Livro São Paulo/SP

 

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