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quinta-feira, 26 de maio de 2022

Resenha do livro A expulsão do outro – sociedade, percepção e comunicação hoje, do escritor Byung-Chul Han


O autor, Byung-Chul Han, nasceu na Coreia, mas fixou-se na Alemanha, onde estudou Filosofia na Universidade de Friburgo e Literatura Alemã e Teologia na Universidade de Munique. Em 1994, doutorou-se em Friburgo com uma tese sobre Martin Heidegger. É professor de Filosofia e Estudos Culturais na Universidade de Berlim e autor de inúmeros livros sobre a sociedade atual tais como: Sociedade do Cansaço; Agonia do Eros; Sociedade da Transparência; No Enxame -  perspectivas do digital; Filosofia do Zen-budismo; Favor Fechar os Olhos – em busca de outro tempo, entre outros belíssimos livros.

Capa:

A proliferação do igual é uma "plenitude na qual transluz ainda apenas o vazio”. A expulsão do outro traz um vazio adiposo da plenitude. Obscenos são a hipervisibilidade, a hipercomunicação, a hiperprodução, o hiperconsumo, que levam a uma rápida estagnação do igual. Obscena é a "ligação do igual com o igual". A sedução é, em contrapartida, a "capacidade de arrancar o igual do igual", deixá-lo fugir de si mesmo. O sujeito da sedução é o outro.

 

O tempo no qual havia o outro passou. Desaparece o outro como mistério, o outro como sedução, o outro como eros, o outro como desejo, o outro como inferno, o outro como dor. A negatividade do outro dá lugar, hoje, à positividade do igual. A proliferação do igual constitui as transformações patológicas que afligem o corpo social. Não privação e proibição, mas sobrecomunicação e sobreconsumo, não repressão e negação, mas permissividade e afirmação o adoecem. Não a repressão, mas a depressão é o patológico sinal dos tempos de hoje. A depressão destrutiva não vem do outro, mas de dentro.

 

Em A Expulsão do Outro – sociedade, percepção e comunicação hoje, Byung Chul-Han realiza analises do ser humano no interior da cultura digital na atual contingência social, em sua maneira perceptiva de entender a si mesmo e o outro. É um livro pequeno com apenas 135 páginas, escrita simples com suas frases curtas, porem de grande profundidade, fazendo-nos pensar a respeito de nosso olhar cada vez mais digital e cego aos acontecimentos. O livro divide-se em 12 textos onde são analisados diversos aspectos: Terror do igual; Violência do global e terrorismo; Terror da autenticidade; Angústia; Limiares; Alienação; Contracorpo; Olhar; Voz; Linguagem do outro; O pensamento do outro; e Escutar.

 

“O tempo no qual havia o outro passou”, esta é a primeira frase do livro, esta frase como muitas outras são provocações geniais pensadas para tirar o leitor do pensamento acomodado, seus livros instigam o pensamento, na frase inicial provoca-nos a ideia de que o outro desaparece como como mistério, sedução, inferno e dor, a negatividade do outro hoje dá lugar a figura do igual, a hipercomunicação criou uma espécie de overdose informacional.

 

Há muita informação e pouca apreensão do conhecimento do real, esta hipercomunicação e cultura digital buscam o igual e não mais o outro, temos muitos amigos virtuais, e poucos ou nenhum amigo real, temos muitos conhecidos virtuais, apenas figuras espalhadas nas telas do celular, do notebook, viajamos e fazemos turismo, mas não conhecemos de fato, estamos vazios e retornamos vazios, somos informados, mas desconhecemos o outro, aquele que não sou eu.

 

A informação é instantânea, não temos intenção ou interesse no conhecimento longo e lento, o vazio é imenso e precisamos preencher, pelo tentar preencher com imagens e muita comunicação, levando-nos a exaustão e ao cansaço, portanto descartáveis, criamos um mundo de iguais, estamos na telas, porem distantes, estamos igualmente presos no paradoxal próximos e distantes, este mundo conduz ao vazio, este é o mundo de anomaliza de Kaufman, em seu filme de animação para adultos Kaufamnn apresenta nos faz mergulhar na mediocridade humana, onde todos os personagens tem o mesmo rosto e a mesma voz, todos os personagens são marionetes, fato que atualmente a hipercomunicação se encarregou de nos analisar e enxerga-nos como marionetes, consumidores, de vídeos, filmes, ideias, jogos, narrativas, séries sem nenhuma limitação temporal, que correspondem aos seus gostos, que eles, portanto curtem, somos como gado de consumo, engordados com o sempre novo igual.

 

A negatividade do outro dá figura e medida ao mesmo, sem ela, se chega a proliferação do igual, o mesmo não é idêntico ao igual, o mesmo sempre surge pareado com o outro, ao igual em contrapartida, falta a contraparte dialética que o limitaria e o daria forma.

 

No livro ele expõe um problema sério da sociedade organizado, um mundo de iguais, autômatos, sem sentido de vida, parece pessimista, mas o livro estimula e liberta, a leitura provocante nos leva a pensar no assunto, caso tenhamos um espirito filosófico ele poderá nos empurrar e embrenhar-nos na selva em busca do eu e do outro, não mais do mesmo e não mais de iguais pelo consumo, como gado ou rebanho manipulado.

 

O pacote da hipercomunicação nos apresentam tecnologias com produções voltadas para o consumo das massas, ao eliminar distâncias e ao aproximar pessoas com os mesmos gostos e tendências acabam por anular o diferente que gosta de coisas diferentes, que consome coisas diferentes, que vive experiências diferentes. Esta “expulsão do outro”, acaba por destruir tanto o “outro” como o “eu”, encetando assim um processo de autodestruição.

 

O olhar de Byung-Chul Han sobre a contemporaneidade não poderia ser mais autêntico, sua visão faz um bom diagnóstico, em sua análise apresenta o terror da autenticidade, o medo e a alienação antes de analisar a linguagem e o pensamento do Outro, o pensamento moderno não é outra coisa como consequência do “esquecimento do ser”, da separação de sujeito e objeto, a expulsão do Outro, como dito anteriormente, estamos rumando a autodestruição da autenticidade em virtude da cegueira no qual estamos nos deixando envolver.

Han explora as complexidades das relações humanas na sociedade contemporânea, analisando os efeitos do individualismo, da competição e do poder na forma como interagimos uns com os outros.

 

O autor argumenta que vivemos em uma época em que o "outro" está sendo gradualmente expulso de nossas vidas, substituído pelo "mesmo". Han examina como a sociedade atual está obcecada pela ideia de sucesso individual e produtividade, o que leva à exclusão e à marginalização dos que não se encaixam nesses padrões. Ele critica a cultura do desempenho excessivo e a pressão constante por realização, que muitas vezes resultam em ansiedade, solidão e depressão.

 

Ao longo do livro, Han também aborda temas como a crescente digitalização e virtualização das relações humanas, destacando como as mídias sociais e as tecnologias digitais podem aprofundar o isolamento e a falta de empatia. Ele argumenta que, ao substituir o encontro físico e a interação face a face pelo contato superficial e mediado por dispositivos eletrônicos, estamos perdendo a capacidade de nos relacionar verdadeiramente com os outros.

 

"A Expulsão do Outro" é uma crítica incisiva à cultura contemporânea e oferece uma reflexão profunda sobre os efeitos psicológicos e sociais do individualismo extremo. Byung-Chul Han nos convida a repensar nossos valores e a considerar a importância do encontro autêntico, da compaixão e da solidariedade para construir uma sociedade mais saudável e harmoniosa.

 

Fonte:

 

Han, Byung-Chul. A expulsão do outro: sociedade, percepção e comunicação hoje. Tradução de Lucas Machado – Petrópolis, RJ; Vozes, 2022.

quarta-feira, 11 de maio de 2022

Resenha do Livro “Luz do Caminho” de Mabel Collins

Este pequeno livro para ser entendido e decifrado deve ser lido e relido com intuição, através da intuição poderemos ter acesso a sabedoria astral, os véus serão retirados a medida que superamos nossos aprisionamentos terrenos externos e artificiais, é preciso cortar as amarras que nos prendem a ilusão daquilo que entendemos por realidade, o olho que irá retirar os véus, um a um, é olho da intuição, a luz do caminho são as regras internas reveladas pela intuição e inspiração para a sabedoria da vida real.

O livro é pequeno, porem de grande profundidade, exige do leitor muita atenção e desapego a conceitos materialistas, o leitor a medida que lê e procura interpretar as regras, vai se aprofundando e ao final da leitura, mesmo sendo a primeira vez, sairá do outro lado diferente ou pelo menos intrigado, na releitura passará novamente por uma imersão proporcionando uma nova leitura de significados e intuição mais apurados, por estas razões a leitura e releituras fazem com que os portais vão se abrindo um a um, a evolução do entendimento dependerá obviamente da maturidade, crescimento e expansão da consciência de cada um, o caminho vai se tornando mais nítido e os véus vão se desvanecendo, porem os desafios são maiores, pois a sabedoria cobra um preço proporcional a evolução, como vencer hábitos, paixões, desejos, destes muito será cobrado a quem muito foi conquistando, a cobrança é nossa a nós mesmos, somos aprendizes trabalhando para descobrir o mestre dentro de nós.

Estas regras são para TODOS os que seguem o Caminho, para estes foram escritas e não há melhores.

Elas nos foram dadas por aqueles que SABEM.

 

“Antes que os olhos possam ver, devem ser incapazes de lágrimas”.

“Antes que o ouvido possa ouvir, deve ter perdido a sensibilidade”.

“Antes que a voz possa falar em presença dos Mestres, deve ter perdido a possibilidade de ferir”.

“Antes que a alma possa erguer-se na presença dos Mestres, é necessário que seus pés tenham sido lavados no sangue do coração”.

 

Os sentidos de que se fala nestas quatro declarações são os sentidos astrais ou interiores.

Todas as obras realmente espirituais são veladas. Os Adeptos fazem isso sistematicamente e dando a sua mais profunda sabedoria, ocultam o verdadeiro mistério nas próprias palavras que o constituem.

Há uma lei na natureza que exige que o homem decifre por si mesmo seus significados.

 

“O homem que quer viver e agir na vida superior não pode ser alimentado tal qual uma criança, é preciso alimentar-se por si mesmo”.

 

As quatro verdades acima escritas referem-se à prova de iniciação do aspirante a ocultista. Enquanto não as houver passado por estas etapas, galgado os degraus, não poderá nem sequer chegar ao guardião da Porta que dá entrada ao conhecimento.

A autora, Mabel Collins (1851 – 1927), escritora mística inglesa, nasceu em um lar onde seus pais não tinham uma vida feliz, sua infância foi de altos e baixos, sua vida com muitas fases de altos e baixos, é uma autora misteriosa e controversa, teve uma vida cheia de mistérios e contradições, escreveu 46 livros, em 1885 ela redige a Luz do Caminho sendo esta obra a mais importante, escrito no momento em que ela fazia parte da Sociedade Teosófica de Londres o qual ela foi grande colaboradora. (1881/1885).

Esta pequena obra, provavelmente tenha mesma origem da Voz do Silencio de H. Blavatsky, Collins afirmou que a obra não seria de sua autoria, a obra trazida para o ocidente foi ditada para a autora por algum mestre oriental, como uma forma de comunicar estas ideias orientais para o ocidente, teria sido ditada por um mestre oriental.

Este livro relata o caminho do homem em sua iluminação, o próprio nome indica ser a sabedoria na expansão de nossa consciência em direção ao desconhecido, pelo simples fato do ser humano esta constante construção, cada ser humano tem sua própria caminhada. A luz é a sabedoria e o caminho é a consciência o caminho é a ida em direção ao desconhecido, primeiro precisamos perceber o caminho e depois caminhar, pisar no caminho e trilhar é algo bastante difícil, pois a vida exige que experimentemos e vivamos o presente intensamente.

É uma obra que nos revela mistérios diferentemente a cada momento que lemos em nossa vida, até parece um livro diferente a cada vez que lemos, os significados são outros a cada momento, isto quer dizer que nossa maturidade faz toda a diferença, os paradoxos expressos na literatura são importantes e serão entendidos como um bem maior, não é mal e nem ruim, foram pensados para demonstrar como a vida nos ensina de muitas maneiras que aparentemente são conflitantes.

É um livro extremamente simbólico, um livro que todos deveriam ler por sua importância para o autoconhecimento, a medida que se lê refletimos acerca de nós mesmos.

Trata-se de um clássico da filosofia esotérica oriental, ele mexe com a cabeça das pessoas, exigindo dedicação para leitura, sua proposta é simples, funciona com um guia para despertar nossa consciência, quando foi publicado tentou aproximar as tradições ocidentais e orientais, trouxe ensinamentos para a plenitude interna, traz os mistérios do ocultismo, traz preceitos positivos, o oculto é uma crença interna por ser um estudo do eu, oculto porque está em nosso interior, é preciso entender a teosofia que é a sabedoria de Deus.

É um entendimento entre religião com filosofia, por esta razão se torna ainda mais interessante, com o uso da razão conversamos com Deus, quem conversa é nosso Eu profundo e despido das amarras do tempo e das coisas.

O livro é divido em partes, inicialmente são regras para os discípulos devem seguir, atitudes altruístas, a segunda parte fala das regras do que se espera que se faça do que se espera aqui, o discípulo para a autora é o leitor, que vê na leitura a luz do caminho.

São duas series de leis apresentada em duas partes, na primeira parte são apresentadas 21 leis voltadas para o exotérico (externo) serve para conquistar como premissa para pisar no caminho como um portal e na segunda parte outras 21 leis esotéricas (Interno) voltadas para interno como trilhar e se deslocar neste caminho e chegar a sabedoria.

As 21 leis ou degraus da etapa exotérica (externo), são regras que funcionam como um portal para acessar o caminho, degraus são a luz preparatórios para a busca da sabedoria, a caminhada que vamos desenvolver na medida que o homem vai se construindo ele também vai construindo o caminho, nunca é tarde para dar início a caminhada em direção a sabedoria, a luz que ilumina nossa consciência e nossa melhor forma de viver depende apenas do começar.

O primeiro degrau trata em matar a ambição, ele afirma que se vivemos no uno não tem como querer parte daquilo que eu também faço parte, assim seguem as leis ou degraus:

1. Mata a ambição.

A ambição a ser morta, é aquela emoção que incita o homem a agir por motivos de vaidade e egoísmo, impele-o a esmagar tudo que encontra no seu caminho. O homem ambicioso torna-se insano pelo sucesso, porque o instinto original foi pervertido e fez-se anormal. Ele imagina que as coisas pelas quais luta lhe trarão felicidade, mas se engana, elas se convertem em cinzas. Ele se torna escravo delas.

 

2. Mata o desejo de viver

É necessário que o homem cresça até que sinta que viverá sempre, seja no corpo ou fora dele, e que esta particular vida física é apenas uma coisa de que faz uso o Eu Real, que não pode morrer.

Mate esse desejo de viver que te causa o medo da morte e que faz com que dê importância indevida à existência corporal.

 

3. Mata o desejo de conforto (o desejo é mal, porem o conforto não o é)

4. Trabalha como trabalham os que são ambiciosos. Respeite a vida como fazem os que a desejam. Sê tão feliz como os que vivem para a felicidade.

 

5. Mata todo sentimento de separatividade.

 

6. Mata o desejo de sensação.

Os prazeres dos sentidos pertencem ao plano relativo. Começamos sentindo prazer no que agrada aos sentidos grosseiros, e gradualmente passamos aos prazeres que vêm pelos sentidos mais altos.

Passamos da sensualidade à sensibilidade. As coisas de que nos agradavam ontem, hoje não agradam mais. Prazeres mais sutis aguardam a alma.

 

7. Mata a sede de crescimento.

A distinção entre o "desejo de crescer" e o desenvolvimento que vem à alma adiantada, está no motivo.

Desejo ou sede de crescimento para glorificação própria é uma sutil forma de vaidade.

E este desejo aplicado ao espiritual, leva à "magia negra", que consiste em desejo de poder espiritual para usá-lo em fins egoístas ou para a mera sensação de poder que tal desenvolvimento traz.

 

8. - Entretanto, mantém-te só e isolado, porque nada de quanto tem consciência da separação, nada de quanto não seja eterno, pode vir em teu auxílio. Estuda a sensação e observa-a, porque unicamente, assim podes começara ciência do conhecimento próprio e colocar o pé no primeiro degrau da escada.

 

9. Deseja unicamente o que está em ti.

10. Deseja unicamente o que está fora de teu alcance.

11. Deseja unicamente o que é inatingível.

12. Porque em ti está a luz do mundo, a única luz que pode der projetada sobre o caminho. Se és incapaz de percebê-la dentro de ti, é inútil que a procures noutra parte. Está fora do teu alcance, porque, quando chegares a ela, já não te encontrarás a ti mesmo. É inatingível, porque retrocede sempre. Estarás no seio da luz, mas nunca tocarás a chama.

 

13. Deseja ardentemente o poder.

O poder egoísta é a maior maldição do homem que o possui. O poder do Espírito, (o poder a que deve aspirar o discípulo), pode fazê-lo aparecer como nada aos olhos dos homens que lutam pelo poder material.

Porque é o poder consciente do qual o homem ordinário nada sabe, e é muito propenso a considerar como um louco o homem que possui esse poder ou quem procura alcançá-lo.

 

14. Deseja ardentemente a paz.

 

15. Deseja as possessões acima de tudo.

Estas possessões devem pertencer à alma pura e devem ser possuídas igualmente por todas as almas puras, sendo assim a propriedade especial do todo que unidas o constituem.

Deseje as possessões próprias da alma pura, a fim de que possa acumular riquezas para aquele espírito comum de vida, que é o teu único ser verdadeiro.

 

16. Mas estas possessões devem pertencer à alma pura e, consequentemente, devem ser

possuídas igualmente por todas as almas puras sendo, assim, a propriedade especial do todo que, unidas o constituem. Anela as possessões próprias da alma pura, a fim de que possas acumular riquezas para aquele espírito comum de vida, que é o teu único ser verdadeiro. A paz que deves desejar é aquela paz sagrada que nada pode perturbar, e no seio da qual a alma cresce como a flor santa no seio das lagoas imóveis. É esse o poder que devem aspirar o discípulo, o poder que o fará aparecer como nada aos olhos do homem comum.

17. Procura o caminho.

18. Busca o caminho, retirando-te para o interior.

19. Busca o caminho, avançando resolutamente para o exterior.

20. Busca-o, mas não em uma direção única. Para cada temperamento existe uma via que parece a mais desejável. Porém, só pela devoção não se encontra o caminho, nem pela mera contemplação religiosa, nem pelo ardor de progresso, nem pelo laborioso sacrifício de si mesmo, nem pela estudiosa observação da vida.

21. Busca a flor que desabrocha durante o silêncio que segue à tormenta, e não antes.A planta crescerá e se desenvolverá, lançará ramos e folhas, e formará botões enquanto prossegue a tempestade e perdura a batalha.

 

Há Três Verdades que são absolutas e não podem ficar perdidas, mas podem permanecer em silêncio por falta de quem as proclame:

1. A alma do homem é imortal e o seu futuro é o de algo cujo crescimento e esplendor não têm limites.

2. O princípio que dá a vida mora em nós e fora de nós, é imortal e eternamente benéfico, não é ouvido, nem visto, nem apreendido pelo olfato, mas pode ser percebido pelo homem desejoso de percebê-lo.

3. Cada homem é o seu absoluto legislador, o dispensador da glória ou das trevas para si próprio, é o decretador de sua vida, recompensa e punição.

Estas Verdades, grandes como a própria vida, são simples como a mente do mais simples dos homens. Alimentai com elas os famintos.

 

A segunda parte da Luz no Caminho começa assim:

 

Do seio do Silêncio, que é a paz, uma voz ressoante se elevará. E esta voz dirá: Faz falta alguma coisa mais, tu colheste, agora tens que semear. E sabendo que esta voz é o silêncio mesmo, obedecerás.

Tu que és agora um discípulo capaz de manter-te firme, capaz de ouvir, capaz de ver, capaz de falar, que venceste o desejo e obteve o conhecimento de si mesmo, tu que viste a tua alma em sua flor e a reconheceste e que ouviste a voz do silêncio, encaminha-te ao Templo do Saber e lê o que ali está escrito para ti.

 

1.Mantém-te alheio à batalha que começa, e ainda que combatas, não seja o guerreiro.

2. Procura o guerreiro e deixa-o combater em ti.

3. Recebe as suas ordens para a batalha, e obedece-as.

4. Obedece-o não como se ele fosse um general, porém como se ele fosse tu mesmo, e como se suas palavras fossem a expressão de teus secretos desejos, pois ele é tu mesmo, ainda que infinitamente mais sábio e forte do que tu.

5. Escuta o canto da vida.

6. Conserva em tua memória a melodia que ouvires.

7. Aprende dela a lição de harmonia.

8. Tu podes então manter-te firme como uma rocha no meio do tumulto, obedecendo ao guerreiro que é tu mesmo e teu rei. Indiferente ao combate e sem preocupar-te com o resultado da batalha, porque uma coisa única é importante, que o guerreiro vença.

9. Observa atentamente toda a vida que te rodeia.

Refere-se ao saber que o homem adquire, observando a natureza pela luz do Espírito.

10. Aprende a perscrutar de maneira inteligente o coração dos homens.

A fim de poder conhecer o que é o mundo humano, que é uma parte do grande mundo. Conhecendo os homens, serás capaz de ajudá-los e também aprenderás muitas lições que te ajudarão em vossa viagem pelo Caminho.

11. Considera ansiosamente o teu próprio coração.

12. Porque através do teu próprio coração vem a única luz que pode iluminar a vida e torná-la clara a teus olhos.

Estuda o coração dos homens, a fim de poderes conhecer o que é o mundo em que vives e do qual queres ser parte.

Observa a vida que te rodeia em transformação incessante, pois é formada pelos corações dos homens, e, à proporção que forem aprendendo a conhecer a sua significação, irás sendo capaz de ler a palavra maior da vida.

13. A palavra só vem com o conhecimento.

Alcança o conhecimento e alcançarás a palavra. É impossível que ajude os outros enquanto não tiveres adquirido a certeza de ti mesmo.

14. Tendo adquirido o uso dos sentidos internos, tendo dominado os desejos dos sentidos

externos, havendo subjugado os desejos da alma individual e tendo obtido o conhecimento, prepara-te para entrar realmente no caminho. O caminho foi encontrado, apressa-te para percorrê-lo.

15. Peça a terra, ao ar e à água, os segredos que guardam para ti. O desenvolvimento dos teus sentidos internos te permitirá fazê-lo.

16. Pede aos santos da terra os segredos que guardam para ti. O domínio dos desejos de teus sentidos externos te dará direito a fazê-lo.

17. Indaga do mais íntimo, do Uno, o segredo final que Ele guarda para ti, no decorrer das idades.

A grande e difícil vitória, o domínio dos desejos da alma individual, é obra de idades, por tanto, não esperes receber a recompensa antes que idades e idades de experiências se hajam acumulado.

Quando tiver soado a hora de aprender esta regra 17, o homem estará próximo de se tornar mais que um homem.

18. O conhecimento que agora possuis, só é teu porque a tua alma se tornou una com todas as almas puras e com o mais íntimo. É um depósito que o Altíssimo te confiou. Abusa dele, emprega mal o teu conhecimento ou descuida-o, e ainda é possível que caias do estado elevado a que chegaste.

Há almas grandes que retrocedem, achando-se já nos umbrais, por não poderem suster o peso da sua responsabilidade, por serem incapazes de seguir adiante. Portanto, considera sempre esse momento do futuro com temeroso respeito, e prepara-te para a batalha.

19. Está escrito que, para aquele que se acha nos umbrais da divindade, não se pode idear lei alguma, nem tampouco pode existir guia.

Contudo, para que o discípulo compreenda a luta final, pode-se expressá-la nestes termos:

Aferra-te ao que não tem substância nem existência.

20. Não ouças senão a voz que é insonora.

21. Não olhes senão o que é invisível, tanto ao sentido interno como ao externo.


Estas regras são para TODOS os que seguem o Caminho, para estes foram escritas e não há melhores. Elas nos foram dadas por aqueles que SABEM. Antes que os olhos possam ver, devem ser incapazes de lágrimas. Antes que o ouvido possa ouvir, deve ter perdido a sensibilidade. Antes que a voz possa falar em presença dos Mestres, deve ter perdido a possibilidade de ferir. Antes que a alma possa erguer-se na presença dos Mestres, é necessário que seus pés tenham sido lavados no sangue do coração.

Quando o coração conhece a paz, a verdade é percebida com poucas palavras fundamentais. É por isso que Luz no Caminho, um dos clássicos mais importantes da literatura teosófica, parece resumir toda a sabedoria esotérica em cada uma de suas frases. “Dentro de ti está a luz do mundo” – diz o texto – “a única luz que pode ser projetada sobre o Caminho”. Um livro para quem deseja compreender a vida.

 

Fonte:

Collins, Mabel. A Luz do Caminho. Ed. Teosófica, Brasília-DF, 2000