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quinta-feira, 26 de maio de 2022

Resenha do livro A expulsão do outro – sociedade, percepção e comunicação hoje, do escritor Byung-Chul Han


O autor, Byung-Chul Han, nasceu na Coreia, mas fixou-se na Alemanha, onde estudou Filosofia na Universidade de Friburgo e Literatura Alemã e Teologia na Universidade de Munique. Em 1994, doutorou-se em Friburgo com uma tese sobre Martin Heidegger. É professor de Filosofia e Estudos Culturais na Universidade de Berlim e autor de inúmeros livros sobre a sociedade atual tais como: Sociedade do Cansaço; Agonia do Eros; Sociedade da Transparência; No Enxame -  perspectivas do digital; Filosofia do Zen-budismo; Favor Fechar os Olhos – em busca de outro tempo, entre outros belíssimos livros.

Capa:

A proliferação do igual é uma "plenitude na qual transluz ainda apenas o vazio”. A expulsão do outro traz um vazio adiposo da plenitude. Obscenos são a hipervisibilidade, a hipercomunicação, a hiperprodução, o hiperconsumo, que levam a uma rápida estagnação do igual. Obscena é a "ligação do igual com o igual". A sedução é, em contrapartida, a "capacidade de arrancar o igual do igual", deixá-lo fugir de si mesmo. O sujeito da sedução é o outro.

 

O tempo no qual havia o outro passou. Desaparece o outro como mistério, o outro como sedução, o outro como eros, o outro como desejo, o outro como inferno, o outro como dor. A negatividade do outro dá lugar, hoje, à positividade do igual. A proliferação do igual constitui as transformações patológicas que afligem o corpo social. Não privação e proibição, mas sobrecomunicação e sobreconsumo, não repressão e negação, mas permissividade e afirmação o adoecem. Não a repressão, mas a depressão é o patológico sinal dos tempos de hoje. A depressão destrutiva não vem do outro, mas de dentro.

 

Em A Expulsão do Outro – sociedade, percepção e comunicação hoje, Byung Chul-Han realiza analises do ser humano no interior da cultura digital na atual contingência social, em sua maneira perceptiva de entender a si mesmo e o outro. É um livro pequeno com apenas 135 páginas, escrita simples com suas frases curtas, porem de grande profundidade, fazendo-nos pensar a respeito de nosso olhar cada vez mais digital e cego aos acontecimentos. O livro divide-se em 12 textos onde são analisados diversos aspectos: Terror do igual; Violência do global e terrorismo; Terror da autenticidade; Angústia; Limiares; Alienação; Contracorpo; Olhar; Voz; Linguagem do outro; O pensamento do outro; e Escutar.

 

“O tempo no qual havia o outro passou”, esta é a primeira frase do livro, esta frase como muitas outras são provocações geniais pensadas para tirar o leitor do pensamento acomodado, seus livros instigam o pensamento, na frase inicial provoca-nos a ideia de que o outro desaparece como como mistério, sedução, inferno e dor, a negatividade do outro hoje dá lugar a figura do igual, a hipercomunicação criou uma espécie de overdose informacional.

 

Há muita informação e pouca apreensão do conhecimento do real, esta hipercomunicação e cultura digital buscam o igual e não mais o outro, temos muitos amigos virtuais, e poucos ou nenhum amigo real, temos muitos conhecidos virtuais, apenas figuras espalhadas nas telas do celular, do notebook, viajamos e fazemos turismo, mas não conhecemos de fato, estamos vazios e retornamos vazios, somos informados, mas desconhecemos o outro, aquele que não sou eu.

 

A informação é instantânea, não temos intenção ou interesse no conhecimento longo e lento, o vazio é imenso e precisamos preencher, pelo tentar preencher com imagens e muita comunicação, levando-nos a exaustão e ao cansaço, portanto descartáveis, criamos um mundo de iguais, estamos na telas, porem distantes, estamos igualmente presos no paradoxal próximos e distantes, este mundo conduz ao vazio, este é o mundo de anomaliza de Kaufman, em seu filme de animação para adultos Kaufamnn apresenta nos faz mergulhar na mediocridade humana, onde todos os personagens tem o mesmo rosto e a mesma voz, todos os personagens são marionetes, fato que atualmente a hipercomunicação se encarregou de nos analisar e enxerga-nos como marionetes, consumidores, de vídeos, filmes, ideias, jogos, narrativas, séries sem nenhuma limitação temporal, que correspondem aos seus gostos, que eles, portanto curtem, somos como gado de consumo, engordados com o sempre novo igual.

 

A negatividade do outro dá figura e medida ao mesmo, sem ela, se chega a proliferação do igual, o mesmo não é idêntico ao igual, o mesmo sempre surge pareado com o outro, ao igual em contrapartida, falta a contraparte dialética que o limitaria e o daria forma.

 

No livro ele expõe um problema sério da sociedade organizado, um mundo de iguais, autômatos, sem sentido de vida, parece pessimista, mas o livro estimula e liberta, a leitura provocante nos leva a pensar no assunto, caso tenhamos um espirito filosófico ele poderá nos empurrar e embrenhar-nos na selva em busca do eu e do outro, não mais do mesmo e não mais de iguais pelo consumo, como gado ou rebanho manipulado.

 

O pacote da hipercomunicação nos apresentam tecnologias com produções voltadas para o consumo das massas, ao eliminar distâncias e ao aproximar pessoas com os mesmos gostos e tendências acabam por anular o diferente que gosta de coisas diferentes, que consome coisas diferentes, que vive experiências diferentes. Esta “expulsão do outro”, acaba por destruir tanto o “outro” como o “eu”, encetando assim um processo de autodestruição.

 

O olhar de Byung-Chul Han sobre a contemporaneidade não poderia ser mais autêntico, sua visão faz um bom diagnóstico, em sua análise apresenta o terror da autenticidade, o medo e a alienação antes de analisar a linguagem e o pensamento do Outro, o pensamento moderno não é outra coisa como consequência do “esquecimento do ser”, da separação de sujeito e objeto, a expulsão do Outro, como dito anteriormente, estamos rumando a autodestruição da autenticidade em virtude da cegueira no qual estamos nos deixando envolver.

Han explora as complexidades das relações humanas na sociedade contemporânea, analisando os efeitos do individualismo, da competição e do poder na forma como interagimos uns com os outros.

 

O autor argumenta que vivemos em uma época em que o "outro" está sendo gradualmente expulso de nossas vidas, substituído pelo "mesmo". Han examina como a sociedade atual está obcecada pela ideia de sucesso individual e produtividade, o que leva à exclusão e à marginalização dos que não se encaixam nesses padrões. Ele critica a cultura do desempenho excessivo e a pressão constante por realização, que muitas vezes resultam em ansiedade, solidão e depressão.

 

Ao longo do livro, Han também aborda temas como a crescente digitalização e virtualização das relações humanas, destacando como as mídias sociais e as tecnologias digitais podem aprofundar o isolamento e a falta de empatia. Ele argumenta que, ao substituir o encontro físico e a interação face a face pelo contato superficial e mediado por dispositivos eletrônicos, estamos perdendo a capacidade de nos relacionar verdadeiramente com os outros.

 

"A Expulsão do Outro" é uma crítica incisiva à cultura contemporânea e oferece uma reflexão profunda sobre os efeitos psicológicos e sociais do individualismo extremo. Byung-Chul Han nos convida a repensar nossos valores e a considerar a importância do encontro autêntico, da compaixão e da solidariedade para construir uma sociedade mais saudável e harmoniosa.

 

Fonte:

 

Han, Byung-Chul. A expulsão do outro: sociedade, percepção e comunicação hoje. Tradução de Lucas Machado – Petrópolis, RJ; Vozes, 2022.