Foto Porto Velho na Rua Riachuelo em Rio Grande/RS
Retornar faz parte de nossa vida, retornamos diariamente para nossa casa após um dia de trabalho, no dia seguinte a repetição, retornamos para início de mais um dia de trabalho, e assim é a vida de todos nós. Retornamos a nossa cidade natal para rememorar muito do que já foi vivido por lá e revivido a cada vez que lembramos de nossas passagens, relembramos de muita coisa arquivada em nossa memória emocional, a medida que o tempo vai passando a memória vai ficando mais fraca, lacunas vão aparecendo e vamos preenchendo os espaços com pensamentos novos.
Neste final de semana assim foi, retornei a passeio e a visitar meus parentes que vivem na cidade de Rio Grande, é pouco tempo para visitar todos, andar pela cidade é um de meus hábitos preferidos, andar por lugares onde deixei pegadas que ainda estão por lá somente em meu arquivo da memória emocional com suas lacunas ora preenchidas com novo olhar.
Percebe-se que no que se vê, pouca coisa mudou, assim é nosso olhar que utilizam as lentes para olhar com mais atenção os lugares que nos dizem alguma coisa a mais, tem coisas que é melhor não mudar, como os sorrisos e os acolhimentos que são imensos mesmo decorridas décadas, espero retornar e reencontrar aquelas pessoas que apreciam nossa companhia.
Temos nossos lugares preferidos, temos nossas pessoas preferidas, são como pontos de partida e serão sempre pontos de partida, retornar para fazer alguma coisa diferente, porém sem deixar desintegrar a memória afetiva que nos faz ir e vir até onde nossa mente e nossas pernas permitam.
A medida que vamos envelhecendo vamos dando importância a coisas que quando éramos jovens ainda não tínhamos condições psicológicas de enxergar, quando jovens éramos como automóveis velozes que andam muito rápido e perdem de vista muitas paisagens e oportunidades de conhecer pessoas, não que isto queira dizer haver dificuldade de relacionamento dos jovens, ao contrário, penso que o jovem tem muita facilidade de iniciar novos relacionamentos. Agora mais velhos parece que a vida passa muito rápido, então procuramos focar nas paisagens e nas pessoas com maior atenção, por isto mesmo penso que somos seres em constante aprendizado, correr quando podemos e andar quando ainda podemos andar, voltar ao início é retornar as origens, é um eterno retorno com coloridos e sons diferentes.
Nietzsche já nos falava a respeito do retorno, especificamente em suas palavras sobre o “eterno retorno”, que seria como uma ferramenta para enfrentar o niilismo, ou seja, a negação da vida, considera que se espalha como uma sombra pelo corpo da humanidade, toma de assalto o homem e o leva à decadência. Podemos aprender bastante com suas reflexões, há pessoas que não aceitam o retorno as dores e sofrimentos, também penso que ninguém quer retornar a viver coisas desgradaveis, no entanto estão lá ainda povoando as lembranças, porem como filósofo disse, o eterno retorno é capaz de liberar as forças e diferenciar. Este é o papel do pensamento seletivo, acelerar a decadência nos permite ver quais forças devem se salvar e quais devem ser aniquiladas de nossos bancos de memória afetivos, aniquiladas as ilusões e utopias romantizadas pelo passar do tempo.
O processo nietzschiano ocorre eternamente e a golpes de martelo, serão
muitas tentativas que nós seres humanos faremos, dentre estas tentativas
Nietzsche orienta a começar por abandonar as muletas metafísicas, a chamada
morte dos ídolos. O filósofo se opunha aos dogmas da sociedade, principalmente
ao defender que a verdade era uma ilusão, a busca constante pela verdade não
tem fim, nem sempre o que é legal é justo, nem sempre o que parece certo ou
verdadeiro é certo e verdadeiro, no máximo uma aproximação que abastece a
ilusão, retornar ao inicio e as origens na tentativa de entender o mundo
passado e o porvir, retornar é bom e pedagógico.