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segunda-feira, 22 de agosto de 2022

Retornar, o eterno retorno

Foto Porto Velho na Rua Riachuelo em Rio Grande/RS

 

Retornar faz parte de nossa vida, retornamos diariamente para nossa casa após um dia de trabalho, no dia seguinte a repetição, retornamos para início de mais um dia de trabalho, e assim é a vida de todos nós. Retornamos a nossa cidade natal para rememorar muito do que já foi vivido por lá e revivido a cada vez que lembramos de nossas passagens, relembramos de muita coisa arquivada em nossa memória emocional, a medida que o tempo vai passando a memória vai ficando mais fraca, lacunas vão aparecendo e vamos preenchendo os espaços com pensamentos novos.

 

Neste final de semana assim foi, retornei a passeio e a visitar meus parentes que vivem na cidade de Rio Grande, é pouco tempo para visitar todos, andar pela cidade é um de meus hábitos preferidos, andar por lugares onde deixei pegadas que ainda estão por lá somente em meu arquivo da memória emocional com suas lacunas ora preenchidas com novo olhar.

 

Percebe-se que no que se vê, pouca coisa mudou, assim é nosso olhar que utilizam as lentes para olhar com mais atenção os lugares que nos dizem alguma coisa a mais, tem coisas que é melhor não mudar, como os sorrisos e os acolhimentos que são imensos mesmo decorridas décadas, espero retornar e reencontrar aquelas pessoas que apreciam nossa companhia.

 

Temos nossos lugares preferidos, temos nossas pessoas preferidas, são como pontos de partida e serão sempre pontos de partida, retornar para fazer alguma coisa diferente, porém sem deixar desintegrar a memória afetiva que nos faz ir e vir até onde nossa mente e nossas pernas permitam.

 

A medida que vamos envelhecendo vamos dando importância a coisas que quando éramos jovens ainda não tínhamos condições psicológicas de enxergar, quando jovens éramos como automóveis velozes que andam muito rápido e perdem de vista muitas paisagens e oportunidades de conhecer pessoas, não que isto queira dizer haver dificuldade de relacionamento dos jovens, ao contrário, penso que o jovem tem muita facilidade de iniciar novos relacionamentos. Agora mais velhos parece que a vida passa muito rápido, então procuramos focar nas paisagens e nas pessoas com maior atenção, por isto mesmo penso que somos seres em constante aprendizado, correr quando podemos e andar quando ainda podemos andar, voltar ao início é retornar as origens, é um eterno retorno com coloridos e sons diferentes.

 

Nietzsche já nos falava a respeito do retorno, especificamente em suas palavras sobre o eterno retorno”, que seria como uma ferramenta para enfrentar o niilismo, ou seja, a negação da vida, considera que se espalha como uma sombra pelo corpo da humanidade, toma de assalto o homem e o leva à decadência. Podemos aprender bastante com suas reflexões, há pessoas que não aceitam o retorno as dores e sofrimentos, também penso que ninguém quer retornar a viver coisas desgradaveis, no entanto estão lá ainda povoando as lembranças, porem como filósofo disse, o eterno retorno é capaz de liberar as forças e diferenciar. Este é o papel do pensamento seletivo, acelerar a decadência nos permite ver quais forças devem se salvar e quais devem ser aniquiladas de nossos bancos de memória afetivos, aniquiladas as ilusões e utopias romantizadas pelo passar do tempo. 

O processo nietzschiano ocorre eternamente e a golpes de martelo, serão muitas tentativas que nós seres humanos faremos, dentre estas tentativas Nietzsche orienta a começar por abandonar as muletas metafísicas, a chamada morte dos ídolos. O filósofo se opunha aos dogmas da sociedade, principalmente ao defender que a verdade era uma ilusão, a busca constante pela verdade não tem fim, nem sempre o que é legal é justo, nem sempre o que parece certo ou verdadeiro é certo e verdadeiro, no máximo uma aproximação que abastece a ilusão, retornar ao inicio e as origens na tentativa de entender o mundo passado e o porvir, retornar é bom e pedagógico.

sexta-feira, 5 de agosto de 2022

Músicas Blue internacional antigas

Blues o maravilhoso tom negro que se enraizou

 

Como o Blue impressionou e impressiona por suas mensagens de protesto, amor e muito sentimento as gerações que se seguiram desde o horror da escravidão, em nossos dias temos diante de nós a realidade na musicalidade o extravasar de sentimentos que se renovam e contam as histórias do tempo.

 

Neste artigo de Liane Carvalho Oleques podemos vislumbrar e resgatar um pouco da história deste ritmo musical maravilhoso.

 

Por Liane Carvalho Oleques

Mestre em Artes Visuais (UDESC, 2010)

Graduada em Licenciatura em Desenho e Plástica (UFSM, 2008)

Ouça este artigo:

Ainda em meados do século XVII enquanto milhares de pessoas na África eram arrancadas de suas propriedades e obrigadas a cruzarem o Atlântico e trabalharem como escravas nas Américas, a música se tornou um canto de fuga afim de faze-las “escapar” daquela realidade. A realidade desses grupos humilhados e oprimidos eram os vastos campos de algodão do Sul dos Estados Unidos e as constantes chibatadas. Por meio dos Spirituals (cantos de lamentos) eles extravasavam seus sentimentos em raros momentos de prazer. As letras geralmente passavam uma mensagem de protesto contra aquela situação, além de entoar a saudade e as raízes de sua terra natal. Enquanto um vocal lançava um verso, um coro de outras vozes o seguiam repetindo aquele verso. Não raro, esses cantos eram acompanhados por instrumentos musicais de precursão rudimentares fabricados pelos próprios escravos. Episódios como estes podem ser observados em cenas do filme “Doze anos de escravidão” lançado em 2014 pelo diretor Steve McQueen.



Foto: optimarc / Shutterstock.com

Esses cantos abriram caminho para um estilo musical denominado Blues que pode ser definido como um estilo baseado no uso de notas baixas que mantem uma estrutura musical repetitiva, em geral com letras expressivas. W.C.Handly, considerado o pai do Blues, ao esperar um trem na cidade de Tutwiler, Mississipi ouviu o dedilhar de um homem negro num velho violão. Inspirado por aquelas notas, W.C.Handly compôs a canção “Memphis Blues”, o primeiro Blues registrado da história, datado de 1912. Anos mais tarde W.C.Handly registrou outro Blues “St. Louis Blues” que os dias atuais se desdobra em várias releituras.

Com o passar dos anos este estilo musical foi ganhando força e adentrando na cultura da elite norte americana. Um dos primeiros artistas a fazer sucesso foi Charley Patton na década de 1920. Outros nomes surgiram nas décadas seguintes como Son House, Willie Brown, Leroy Carr, Bo Carter, Muddy Waters e B.B. King. Os instrumentos musicais também acompanharam essa caminhada. À medida que iam se modernizando, permitiam que os artistas explorassem esse gênero musical de diferentes formas criando novas possibilidades.

Bandas como The Beatles, Rolling Stone e Led Zeppelin surgem manifestando forte influência do Blues. Artistas como Elvis Presley, também, tem sua origem enraizada neste estilo.

No final do século XX, o Blues tem uma recaída na cena musical, mas com o auxílio do guitarrista americano Stevie Ray Vaughan, o Blues ressurge com suas forças renovadas. Stevie começou a regravar grandes clássicos combinando elementos e criando sua própria marca.

No Brasil o Blues, também, possui certa popularidade influenciando artistas como Raul Seixas, Barão Vermelho e Velhas Virgens.

Juntamente com o Jazz, o Blues é considerado o pai do Rock, do Hip-Hop, da música latina entre outras. Entre a vasta lista de canções e artistas é possível citar: “Crossroad Blues” de Robert Johnson; “Manish Boy” de Muddy Waters; “Spoonful” de Howlin Wolf; “Baby please don’t go” de John Lee Hooker; “Keep it to yourself” de Sonny Boy Williamson; “Pearline” de Son House; “They Thrill is gone” de B.B.King; entre outros grandes clássicos de peso que fazem sucesso até os dias atuais.

Texto originalmente publicado em https://www.infoescola.com/musica/blues/

Arquivado em: Música

quinta-feira, 4 de agosto de 2022

Resenha do livro A Noite da Borboleta Dourada


O autor Tariq Ali, é um escritor, jornalista, historiador, realizador e ativista britânico, de origem paquistanesa. Escreve periodicamente para o jornal britânico The Guardian, para a revista New Left Review, CounterPunch, a London Review of Books e SinPermiso. Ele também é autor dos livros Sombras da Romãzeira e O livro de Saladino, mas quem ler somente A Noite da Borboleta Dourada já consegue entender um bocado da obra deste autor, até porque esta obra não perde nada para as outras obras, isto é, conforme as críticas literárias a respeito das obras.

O título é criativo, porém não tem nada a ver com a história, inicialmente parece ser uma estória com viés romântico, no entanto é um livro político, crítico sobre o Paquistão, é um choque cultural por nos trazer informações do Paquistão de há 40 anos atrás, naquela época era um pais brilhante, uma cultura mulçumana desenvolvida cultural e intelectual, mas por conta de questões religiosas acabou abafando e retrocedendo o pais. É um livro que vale a pena ser lido, a figura de Platão (codinome) que abraçou a causa de defender o Paquistão ideal com seu espirito nacionalista, ele nos desperta o interesse em conhecer melhor a cultura paquistanesa, é interessantíssimo.

RESUMO:

O paquistanês Dara apaixonou-se perdidamente por Jindié quando jovem, mas os dois acabaram se afastando e ela casou-se com um ex-amigo dele, um homem repudiado por aparentemente ter cometido uma traição política. Agora, décadas depois, um amigo em comum a todo o grupo da época pede-lhe que escreva um romance sobre sua vida, o que incluirá escrever também sobre aqueles anos de juventude.

Iniciada com Sombras da romãzeira a série de intrincados romances históricos traça um panorama épico do universo muçulmano: dos mouros na Espanha, passando pelo Império Otomano e, ainda, os cartógrafos medievais em Palermo. Os cinco livros consumiram quase 20 anos da vida de Tariq, um dos intelectuais mais atuantes contra o imperialismo norte-americano. Autor também de livros polêmicos como Confronto de fundamentalismos e Bush na Babilônia. Escritor, cineasta e um dos editores da New Left Review. o paquistanês é referência nos debates sobre os rumos da globalização e política internacional. Em A noite da borboleta da dourada, ele mais uma vez lança mão de sua habilidade para transgredir de forma sutil.figuras e instituições tradicionais do Paquistão. Logo no início do romance o narrador é lembrado de uma dívida de honra. O credor é Mohammed Aflatun conhecido como Platão. Um irascível, mas talentoso pintor que vive num Paquistão onde a dignidade humana é artigo escasso. Depois de anos evitando os holofotes Platão quer que sua trajetória de vida seja contada. Assim somos apresentados à Alice Stepford sua amiga londrina, agora uma crítica musical radicada em Nova York: à senhora Latif, dona de casa de Islamabad, cuja predileção por generais a leva até Paris: e à Jindie, a borboleta, seu primeiro amor. Tariq revela fragmentos do islã contemporâneo o cotidiano dos paquistaneses, tudo isso entremeado à vida da família de Jindie — um de seus antepassados. Dù Wènxiú liderou uma rebelião muçulmana no século XIX e governou a região por quase uma década como sultão Suleiman. Suas ações despóticas servem de espelho para a situação atual do país.

Fonte:

Ali, Tariq. A noite da borboleta dourada. Tradução de Roberto Muggiati. Rio de Janeiro. Record, 2011.