Pesquisar este blog

sábado, 14 de abril de 2018

DE 1970 PARA CÁ MUITA COISA MUDOU, OUTRAS NÃO!



Do que se trata?

          Como se diz, algumas “fichas caem” e fazem mais barulho, quando caem perto demais, ouvimos e prestamos mais atenção levando-nos a algumas reflexões.

          A ficha que caiu: De algum tempo para cá tenho ouvido com maior frequência afirmação de meu filho mais novo em fazer intercambio fora do pais, inclusive está aperfeiçoando o inglês como preparativo de futuro no exterior, está focado nas várias oportunidades acadêmicas apresentadas pela universidade, em países como Alemanha, Portugal, Estados Unidos, Inglaterra, enfim com vários focos conforme os vieses voltados para a especificidade do curso universitário. E claro, sou a favor e dou incentivos!

          Tal fato me fez lembrar de um livro que li, “As Veias Abertas da América Latina” escrito por Eduardo Galeano em 1970, pois vejamos, decorreram-se quase 50 anos desde a obra foi entregue ao mundo, e de lá para cá, muitas coisas mudaram e outras não! Por exemplo, o que não mudou foi a vontade de nossos jovens quererem buscar fora o que nós brasileiros ainda não temos com qualidade, quais sejam investimentos com relevância em pesquisas.

          Um breve resumo do quinto capitulo da obra de Galeano:

          A partir do final da I Guerra Mundial houve na América Latina um recuo dos interesses europeus, em benefício dos estadunidenses. Consequentemente houve uma diminuição nos gastos com o serviço público e a mineração e um aumento com relação ao petróleo e a indústria manufatureira.
          O capital estadunidense tomou os setores chaves das indústrias locais, para daí, comandar todo o resto e ditar as regras.
          Nota o autor que os capitalistas dos Estados Unidos se concentraram, na América Latina, mais agudamente que no próprio país e estão desvinculados de qualquer ideia ou sentimento de nacionalismo.
          O fator prejudicial nisso tudo foi o fato do crescimento industrial na América Latina ter sido, de modo geral, trazido de fora, e não desenvolvido internamente.
          Houveram alguns governos nacionalistas que tentaram fazer um contrapeso a isto, mas de uma forma ou de outra, acabaram liquidados.
         Eram poucas as empresas que não estavam ligadas ao capital estadunidense e mesmo assim, muitas dessas que não tinham vínculos com o capital estadunidense acabaram sendo engolidas por empresas estrangeiras, as quais desfrutavam de maiores benefícios pelo tratamento que lhes davam o Estado, em nome do desenvolvimento, e isto ficou claro no Brasil.
          Observa Galeano que veio a incrementar o controle capitalista sobre a América Latina, o Fundo Monetário Internacional (FMI), instituição controlada pelos Estados Unidos, que prometeu e promete milagres e veio, na realidade, a institucionalizar um controle financeiro sobre o mundo; na América Latina determina políticas financeiras a serem adotadas pelos governos, determinando quais as áreas e o quanto investir.
          Um outro modo de subtrair dinheiro da América Latina tem sido a instalação de bancos estadunidenses nesses países; consequentemente esses bancos acabam exercendo real influência sobre os mercados internos.
          Assim, a detenção dos recursos financeiros, se mostra a mais eficaz forma de dominação por meio da qual se instala e se derrubam governos, ditaduras, por meio de que se destrói a indústria nacional em detrimento da estrangeira, por meio de que se institui salários de fome, para que os países latinos americanos vendam os produtos baratos para o exterior, mas comprem caros os de que necessitam, exportem o melhor produto e fique com o de pior qualidade. Enfim, desta maneira os países imperialistas, principalmente os Estados Unidos, vêm comandando setores estratégicos e decisões políticas na América Latina.
          Por fim, conclui o autor, que o principal fator que permite essa exploração é a falta de unidade entre os latino-americanos, principalmente no campo econômico, visto que esses países comercializam mais com os Estados Unidos e Europa, do que entre si. (http://www.ebah.com.br/content/ABAAAA1U0AA/as-veias-abertas-america-latina-resumo)
          Num pais como o nosso riquíssimo e com dimensão continental, poderiamos estar proporcionando a nossa população condições melhores de trabalho e consequentemente de mais conforto e dignidade.

          Investimentos em educação e pesquisa são claramente, investimentos num futuro que todos queremos, “Conhecimento é poder”, conforme Galeano:

O primeiro sistema de patentes para proteger a propriedade das invenções foi criado, há quase quatro séculos, por sir Francis Bacon. E Bacon gostava de dizer: “Conhecimento é poder”, e sempre se soube que tinha razão. A ciência universal pouco tem de universal; esta objetivamente confinada nos limites das nações avançadas.

          Numa análise feita em 1970, lá já havíamos concluído que o mero transplante de tecnologia não resolve, como não resolveu o problema do subdesenvolvimento, continuamos um pais subdesenvolvido, alguns afirmam que estamos em desenvolvimento, no entanto vejamos, ainda como em 1970 o investimento da América Latina em tecnologia era 200 vezes menor que o investido pelos Estados Unidos em seu pais. Naquela década na América Latina haviam 1.000 computadores e nos Estados Unidos 50.000 computadores, e é de lá que saem os desenhos dos novos computadores e onde são criadas as novas linguagens de programação que a América Latina importa.
Como afirma Galeano:

Nossas universidades Latino-americanas formam, em pequena escala, matemáticos, engenheiros e programadores que, no entanto, não encontram trabalho a não ser no exilio: nós nos damos ao luxo de proporcionar aos países desenvolvidos nossos melhores técnicos e os cientistas mais capazes, que emigram atraídos pelos altos salários e pelas grandes possibilidades, que no norte, abrem-se para as pesquisas.

          Nestes quase 50 anos, permanecemos transplantando tecnologias, dito transplante de tecnologia superadas, simbolizando a dependência e jamais a libertação que seria o resultado de investimentos em pesquisa, sabemos que são raros os investimentos na América Latina pelo Latino-americanos.



          Recebe-se a tecnologia moderna (?) como no século passado se receberam as ferrovias, a serviço dos interesses estrangeiros que modelam e remodelam o estatuto colonial destes países.

          “Ocorre conosco o mesmo que a um relógio que se atrasa e não é acertado”, diz Sadosky, “embora seus ponteiros sigam caminhando para frente, a diferença entre a hora que marca e a hora certa será crescente.”




          Conforme pesquisa realizada em 14/04/2018, junto ao site do senado brasileiro, encontramos o que segue:

Ao se comparar a proporção, em relação ao PIB, do investimento em pesquisa e desenvolvimento no Brasil com os números de nações da OCDE e de outros países da América Latina e do Brics, percebe-se que o país só está acima de México, Argentina, Chile, África do Sul e Rússia, ficando muito distante de China e Coreia do Sul, por exemplo, nações que iniciaram muito recentemente o salto de desenvolvimento industrial. A China tornou-se, em 2011, o segundo maior investidor mundial em P&D.


Brics
Grupo formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul com o objetivo de usar o crescente poder econômico para obter maior influência geopolítica


A grande diferença entre o Brasil e os outros países desses grupos é o volume de investimento em pesquisa e desenvolvimento feito pela iniciativa privada. O 0,55% do PIB aplicado pelas empresas brasileiras está longe dos 2,68% investidos pelo setor privado da Coreia do Sul ou dos 1,22% da China, por exemplo. Quando se comparam os investimentos públicos, no entanto, os gastos do Brasil estão na média das nações mais desenvolvidas: o 0,61% do PIB brasileiro está próximo do percentual investido pelo conjunto dos países da OCDE (0,69%).





          Nossos governos ao longo destes quase 50 anos, afirmam que a formação de pesquisadores avança, pelo menos é isto que se ouve e vê, seja na mídia, seja nos mecanismos de comunicação do governo, afinal avançam para o que?, para onde?, presumo que seja a ignorância de nossos governantes que avançam como um câncer que avança pelo corpo evoluindo para a morte, é o que se espera de alguém que trata o câncer com fitoterápicos.



          “A gente não quer só comida” _ disseram os Titãs. “A gente quer comida, diversão e arte”, a gente quer investimentos sérios em educação, em saúde, e em segurança. A gente quer que nossos filhos encontrem oportunidades de crescimento dentro de nosso pais, sem precisar sair para buscar fora quando dentro temos todas as possibilidades em potência.

          Enfim, ainda se repetem as mesmas aspirações, vamos longe e fora, para um dia retornar, se retornar, para nossas raízes, algumas coisas mudaram, outras não!

Bibliografia: GALEANO, Eduardo. As veias abertas da América Latina. Rio de Janeiro: Paz e Terra, julho de 2012.

Nenhum comentário:

Postar um comentário