Do que se trata?
Como se diz, algumas “fichas
caem” e fazem mais barulho, quando caem perto demais, ouvimos e prestamos mais
atenção levando-nos a algumas reflexões.
A ficha que caiu: De algum
tempo para cá tenho ouvido com maior frequência afirmação de meu filho mais
novo em fazer intercambio fora do pais, inclusive está aperfeiçoando o inglês como
preparativo de futuro no exterior, está focado nas várias oportunidades acadêmicas
apresentadas pela universidade, em países como Alemanha, Portugal, Estados
Unidos, Inglaterra, enfim com vários focos conforme os vieses voltados para a
especificidade do curso universitário. E claro, sou a favor e dou incentivos!
Tal fato me fez lembrar de um
livro que li, “As Veias Abertas da América Latina” escrito por Eduardo Galeano em
1970, pois vejamos, decorreram-se quase 50 anos desde a obra foi entregue ao
mundo, e de lá para cá, muitas coisas mudaram e outras não! Por exemplo, o que
não mudou foi a vontade de nossos jovens quererem buscar fora o que nós
brasileiros ainda não temos com qualidade, quais sejam investimentos com
relevância em pesquisas.
Um breve resumo do quinto
capitulo da obra de Galeano:
A partir
do final da I Guerra Mundial houve na América Latina um recuo dos interesses
europeus, em benefício dos estadunidenses. Consequentemente houve uma
diminuição nos gastos com o serviço público e a mineração e um aumento com
relação ao petróleo e a indústria manufatureira.
O capital estadunidense tomou
os setores chaves das indústrias locais, para daí, comandar todo o resto e
ditar as regras.
Nota o autor que os
capitalistas dos Estados Unidos se concentraram, na América Latina, mais
agudamente que no próprio país e estão desvinculados de qualquer ideia ou
sentimento de nacionalismo.
O fator prejudicial nisso
tudo foi o fato do crescimento industrial na América Latina ter sido, de modo
geral, trazido de fora, e não desenvolvido internamente.
Houveram alguns governos
nacionalistas que tentaram fazer um contrapeso a isto, mas de uma forma ou de
outra, acabaram liquidados.
Eram poucas as empresas que
não estavam ligadas ao capital estadunidense e mesmo assim, muitas dessas que
não tinham vínculos com o capital estadunidense acabaram sendo engolidas por
empresas estrangeiras, as quais desfrutavam de maiores benefícios pelo
tratamento que lhes davam o Estado, em nome do desenvolvimento, e isto ficou
claro no Brasil.
Observa Galeano que veio a
incrementar o controle capitalista sobre a América Latina, o Fundo Monetário
Internacional (FMI), instituição controlada pelos Estados Unidos, que prometeu
e promete milagres e veio, na realidade, a institucionalizar um controle
financeiro sobre o mundo; na América Latina determina políticas financeiras a
serem adotadas pelos governos, determinando quais as áreas e o quanto investir.
Um outro modo de subtrair
dinheiro da América Latina tem sido a instalação de bancos estadunidenses
nesses países; consequentemente esses bancos acabam exercendo real influência
sobre os mercados internos.
Assim, a detenção dos
recursos financeiros, se mostra a mais eficaz forma de dominação por meio da
qual se instala e se derrubam governos, ditaduras, por meio de que se destrói a
indústria nacional em detrimento da estrangeira, por meio de que se institui
salários de fome, para que os países latinos americanos vendam os produtos
baratos para o exterior, mas comprem caros os de que necessitam, exportem o
melhor produto e fique com o de pior qualidade. Enfim, desta maneira os países
imperialistas, principalmente os Estados Unidos, vêm comandando setores
estratégicos e decisões políticas na América Latina.
Por fim, conclui o autor, que
o principal fator que permite essa exploração é a falta de unidade entre os
latino-americanos, principalmente no campo econômico, visto que esses países
comercializam mais com os Estados Unidos e Europa, do que entre si. (http://www.ebah.com.br/content/ABAAAA1U0AA/as-veias-abertas-america-latina-resumo)
Num pais como o nosso riquíssimo
e com dimensão continental, poderiamos estar proporcionando a nossa população
condições melhores de trabalho e consequentemente de mais conforto e dignidade.
Investimentos em educação e
pesquisa são claramente, investimentos num futuro que todos queremos, “Conhecimento
é poder”, conforme Galeano:
O primeiro sistema de patentes para
proteger a propriedade das invenções foi criado, há quase quatro séculos, por sir Francis Bacon. E Bacon gostava de
dizer: “Conhecimento é poder”, e sempre se soube que tinha razão. A ciência universal
pouco tem de universal; esta objetivamente confinada nos limites das nações
avançadas.
Numa análise feita em 1970, lá
já havíamos concluído que o mero transplante de tecnologia não resolve, como
não resolveu o problema do subdesenvolvimento, continuamos um pais
subdesenvolvido, alguns afirmam que estamos em desenvolvimento, no entanto
vejamos, ainda como em 1970 o investimento da América Latina em tecnologia era
200 vezes menor que o investido pelos Estados Unidos em seu pais. Naquela década
na América Latina haviam 1.000 computadores e nos Estados Unidos 50.000
computadores, e é de lá que saem os desenhos dos novos computadores e onde são
criadas as novas linguagens de programação que a América Latina importa.
Como afirma Galeano:
Nossas universidades Latino-americanas
formam, em pequena escala, matemáticos, engenheiros e programadores que, no
entanto, não encontram trabalho a não ser no exilio: nós nos damos ao luxo de
proporcionar aos países desenvolvidos nossos melhores técnicos e os cientistas
mais capazes, que emigram atraídos pelos altos salários e pelas grandes
possibilidades, que no norte, abrem-se para as pesquisas.
Nestes quase 50 anos, permanecemos
transplantando tecnologias, dito transplante de tecnologia superadas,
simbolizando a dependência e jamais a libertação que seria o resultado de investimentos
em pesquisa, sabemos que são raros os investimentos na América Latina pelo Latino-americanos.
Recebe-se a tecnologia moderna
(?) como no século passado se receberam as ferrovias, a serviço dos interesses
estrangeiros que modelam e remodelam o estatuto colonial destes países.
“Ocorre conosco o mesmo que a
um relógio que se atrasa e não é acertado”, diz Sadosky, “embora seus ponteiros
sigam caminhando para frente, a diferença entre a hora que marca e a hora certa
será crescente.”
Conforme pesquisa realizada em
14/04/2018, junto ao site do senado brasileiro, encontramos o que segue:
Ao se comparar a proporção, em relação
ao PIB, do investimento em pesquisa e desenvolvimento no Brasil com os números
de nações da OCDE e de outros países da América Latina e do Brics,
percebe-se que o país só está acima de México, Argentina, Chile, África do Sul
e Rússia, ficando muito distante de China e Coreia do Sul, por exemplo, nações
que iniciaram muito recentemente o salto de desenvolvimento industrial. A China
tornou-se, em 2011, o segundo maior investidor mundial em P&D.
Brics
Grupo
formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul com o objetivo de usar
o crescente poder econômico para obter maior influência geopolítica
A
grande diferença entre o Brasil e os outros países desses grupos é o volume de
investimento em pesquisa e desenvolvimento feito pela iniciativa privada. O
0,55% do PIB aplicado pelas empresas brasileiras está longe dos 2,68%
investidos pelo setor privado da Coreia do Sul ou dos 1,22% da China, por
exemplo. Quando se comparam os investimentos públicos, no entanto, os gastos do
Brasil estão na média das nações mais desenvolvidas: o 0,61% do PIB brasileiro
está próximo do percentual investido pelo conjunto dos países da OCDE (0,69%).
Nossos governos ao longo destes quase 50 anos, afirmam que a formação de pesquisadores avança, pelo menos é isto que se ouve e
vê, seja na mídia, seja nos mecanismos de comunicação do governo, afinal avançam
para o que?, para onde?, presumo que seja a ignorância de nossos governantes que
avançam como um câncer que avança pelo corpo evoluindo para a morte, é o que se
espera de alguém que trata o câncer com fitoterápicos.
“A gente não quer só
comida” _ disseram os Titãs. “A gente quer comida, diversão e arte”, a gente
quer investimentos sérios em educação, em saúde, e em segurança. A gente quer
que nossos filhos encontrem oportunidades de crescimento dentro de nosso pais,
sem precisar sair para buscar fora quando dentro temos todas as possibilidades
em potência.
Enfim, ainda se
repetem as mesmas aspirações, vamos longe e fora, para um dia retornar, se
retornar, para nossas raízes, algumas coisas mudaram, outras não!
Bibliografia: GALEANO, Eduardo. As veias abertas da
América Latina. Rio de Janeiro: Paz e Terra, julho de 2012.
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