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sexta-feira, 1 de outubro de 2021

Resenha do O Livro do Chá


Foi escrito em 1906, O livro do chá promove uma reflexão, a partir da história e da descrição desse cerimonial, sobre o antagonismo entre tradição e modernidade. Escrita propositalmente em inglês, a obra tem como um dos objetivos tornar a tradição oriental conhecida e respeitada no Ocidente. O poder contido na simplicidade, a potência oculta nos pequenos gestos quando executados com perfeição, a influência do taoismo e do zen no cerimonial do chá - são esses alguns motes desenvolvidos no livro, de modo poético e conciso.

O autor Kakuzo Okakura (1863 – 1913), foi um pintor, escritor, intelectual e estudioso japonês das artes, incentivador contribuindo muito para o conhecimento e desenvolvimento da arte e cultura japonesa, um dos primeiros estudantes da universidade de Tóquio, coletou muitos objetos de arte japoneses que foram levados para museus.

O Livro do Chá fala sobre a cultura e a sociedade japonesa e é claro fala sobre a cultura oriental, traz um debate entre a modernização e a tradição, publicado em inglês no final da era Meiji, escrito como uma forma de ultrapassar as fronteiras orientais, exaltando a cultura japonesa neste caso através da cerimônia do chá, também faz uma crítica, sobre a ocidentalização sem limites, a obra tem o objetivo de mostrar ao mundo valores e tradições pouco conhecidas da cultura japonesa, que vai muito além de seu potencial guerreiro como é conhecido no ocidente por seus samurais.

A ideia da época em que foi escrito, era do Japão se ocidentalizar para consequentemente assim se modernizar, este pensamento era fundamental para os governantes japoneses, para assim conseguir encarar as outras potências estrangeiras e até quem sabe supera-las, com o contato os hábitos ocidentais passaram a fazer parte do mundo japonês, tais como até os cortes de cabelo ocidentais para os carteiros e até cerimoniais, com a crescente ocidentalização os japoneses foram deixando de lado sua cultura e passaram a ignorar e desprezar elementos mais tradicionais criando uma crise de identidade cultural no pais, e é nisto que o livro do chá entra como um tipo de contraponto e resgate do amor cultural.

Fala sobre a pratica e origem da cerimônia do chá, apresentando sete capítulos: A xícara da humanidade; As escolas do chá; O taoismo e o zen; O aposento da cerimônia do chá; A apreciação da arte; Flores; Os mestres do chá.

Fala sobre uma filosofia de vida, o caminho e beleza do Chanoyu, mostrando seus vários ritos, gestos de humildade, admiração do belo, atenção as coisas simples, a beleza da natureza.

Fala da filosofia do chá que é o chaismo, nos mostra a influência desta cerimônia na cultura japonesa e seu cotidiano, da veneração do belo em meio ao caos, uma veneração do imperfeito e sua preferência democrática a todo tipo de gente, não sendo um hábito exclusivo das pessoas abastadas, veneração do imperfeito, preferência do simples ao invés do caro, sem excessos, da valor as coisas simples, ver a grandeza nas menores coisas da vida, dando importância ao vazio, por exemplo numa jarra o que importa é o espaço vazio dentro da jarra e não sua forma, criticando a superficialidade das pessoas.

Critica a postura dos orientais e ocidentais, como cada um vê o outro de forma equivocada, sendo o chá um ponto de contato e que une estes dois pontos, pois o chá é admirado tanto por ocidentais e orientais.

Num dos capítulos é muito interessante como o japonês fala da natureza, por exemplo no trato das flores, como a colheita das flores do seu jardim são colhidas com muito respeito, levadas ao ambiente interno de suas casas, as flores mostram as mudanças das estações da natureza, demonstrando seu cuidado quanto a decoração minimalista e simples.

O prefacio e o posfácio foram escritos por Hounsai Genshitsu Sen, japonês muito respeitado de uma linhagem muito importante, um descendente de grandes mestres do chá.

No posfácio fala do caminho do Chanoyu fala de quatro princípios: harmonia, pureza, tranquilidade e respeito.

Trecho do posfácio:

Esse “chá” se desenvolveu como um modo de vida – um meio de adestramento na busca de uma satisfação espiritual. Esse “chá” era a chanoyu. Baseado na ideia de que nunca poderemos obter paz intima sem um esforço deliberado no sentido de nos libertarmos dos cuidados e dos desejos mundanos, chanoyu ofereceu-nos a chance de ir além dos apegos do cotidiano e de sondar nossas raízes humanas. Ao assim proceder, chanoyu abraçou uma preocupação universal.  Pg.118

É um livro sensível de beleza inigualável, mostrando um pouco da cultura japonesa, mostrando sua sensibilidade que vai além da fama de seus samurais e guerreiros voltados somente para a guerra.

Fonte: Okakura, Kakuzo. O Livro do Chá; tradução Leiko Gotoda; prefácio e posfácio, Hounsai Genshitsu Sen – São Paulo: Estação Liberdade, 2017 6ª. edição

 

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