Para
Immanuel Kant, filósofo alemão do séc. XIX, mesmo as chamadas
propriedades objetivas da física pendem de projeções humanas subjetivas,
e embora exista uma realidade que, de alguma forma, exerça uma função na
constituição das aparências e no fenômeno da experiência, essa dita
realidade não pode ser encontrada no reino das aparências sensatas, pois
o mundo que vemos e sentimos a nossa volta envolve as projeções da
consciência humana, cada um tem sua própria experiência da realidade.
Ela não é a realidade independente que aparenta, e
os responsáveis em criar estas aparências ilusórias da experiência comum
diária, somos nós mesmos seres humanos, enganamos a nós mesmos, ao
projetarmos o mundo de nossa experiência própria, atribuímos a ele uma
realidade independente e, portanto alienamos nossa liberdade, é tão profundo nosso engano que chega a tornando-nos escravos dos outros e de um sistema econômico e político.
Hoje, ainda rimos da ingenuidade e arrogância das antigas visões que colocavam nosso planeta azul como centro do universo, mudar esta visão fez rolarem cabeças, no passado formulavam seu entendimento utilizando apenas aquilo que ainda hoje percebemos com os olhos, como por exemplo a ilusão de que é o sol que circunda a terra e a terra o centro do universo.
Nosso egocentrismo é tão grande que ainda não abandonamos a afirmação do sol que nasce e se põe, esta afirmação equivocada é repetida diariamente por todos e dá a entender que permanecemos acreditando no geocentrismo, a teoria do geocentrismo foi abandonada desde o século XVI através da sistematização de Copérnico revolucionando a visão do cosmo quebrando o paradigma quando apresentou a teoria do heliocentrismo que se contrapunha ao geocentrismo.
E lógico, a quebra de um paradigma leva tempo para ocorrer, há dificuldade em enxergar um novo padrão, é necessário visão e coragem, porém é inevitável quando uma nova ideia ganha forma, para desligar um velho padrão deve-se usar um pensamento disruptivo e des-estruturante para romper com velhas ideias, principalmente se tratando de um tema milenar, alimentado e fomentado repetidamente tomado, contrariar as forças ditas donas da verdade e da suposta realidade consideradas como um sacrilégio, é por si só a rebeldia punível com a perda da vida.
Estamos rodeados de ilusões de óptica e a televisão é um exemplo. Ela é um conjunto de imagens estáticas que parecem ter movimento quando são apresentadas de forma rápida. É o cérebro humano que faz a montagem de todas essas imagens e as observa de forma mais lenta em relação a como ela é mostrada.
Outro exemplo que temos acerca de nossa percepção equivocada é quando observamos as rodas de um automóvel em movimento que parecem estar girando em sentido contrário.
A ciência já achou que as ilusões de movimento eram fisiológicas, efeitos que aconteciam só na retina, no entanto novas pesquisas que monitoraram a atividade neural demonstraram que há influência cognitiva e cerebral.
O cérebro é a parte física e a mente, a abstrata. Enquanto o cérebro cuida do perfeito funcionamento do corpo, dos sinais elétricos e da resposta emocional quando pensamos em algo que nos gera emoção, a mente é a responsável por gerar o pensamento que motivou o cérebro a iniciar seu trabalho.
Uma máxima da Ciência é que nada no Universo é tão complexo quanto o cérebro humano – a não ser o próprio Universo! Nosso cérebro com 100 bilhões de neurônios formando infindáveis conexões entre si, o cérebro é capaz de processar uma quantidade gigantesca de informações que chegam, todos os segundos, aos nossos órgãos sensoriais. https://www.brainn.org.br/brainn-um-centro-de-pesquisas-sobre-o-cerebro/
A ciência através de muitos estudos já nos apresentou provas suficientes para aceitarmos o “mundo” que realmente vemos é uma ilusão, não é real. O mundo que realmente vejo centra-se em mim, em meu “eu” físico, logo um mínimo de reflexão nos diz que o mundo em si não pode ser simplesmente assim como vejo.
Os sentidos como os conhecemos há muito são considerados como a interface orgânica para formarmos conhecimento do mundo, e como sabemos por experiência própria, qualquer forma de percepção sensorial pode estar sujeita e ilusões ocasionais.
Os sentidos podem ser utilizados numa outra forma como ferramentas, podem ser ferramentas utilizados noutras formas de se conceber a experiência ou vivência mística, sobretudo, para além das grandes tradições religiosas universais, nada tem com experiências de cultos de misticismos, superstições e cerimônias extravagantes, a mística aqui tratada se refere é uma mística não vinculada a nenhuma religião em especial.
A experiência mística é transcendental, ocorre na mente que é uma parte incorpórea, e é nesse campo de atuação que se manifestam os processos de percepção. A mente é esse veículo que sente e filtra o mundo a partir dos sentidos – mas eles enganam quem ainda permanece dormindo, permanece na ilusão, permanece dependendo apenas de condições externas, quando a verdade e o real acontecem em nossa mente.
Nossa mente é uma porta de libertação da caverna do irreal, é uma porta que Platão teria usado para acessar um nível superior de realidade, a porta liberta os prisioneiros que frequentemente e erroneamente supõem que a realidade em que vivemos é superior e mais verdadeira de todas, em parte não deixa de ser verdade, mas uma verdade limitada ao mundo dos cinco sentidos, pobres limitações de um nível superior de realidade.
Para se falar com propriedade sobre outros mundos, mundo real, mais real e ilusório, seria necessário ter alguma experiência metafísica que permita conhecer algo sobre o assunto, caso contrário, nosso conhecimento não passaria de ideias de terceiros supostamente sem fundamento, tal como o mundo das ideias de Platão no qual ele afirma existir um mundo ideal e que o mundo em que vivemos seriam apenas cópias imperfeitas.
Posso falar de minhas experiências e afirmar a existência de outros mundos em outros planos dimensionais, eles coexistem em suas particulares realidades, um parecendo menos ou mais real do que o outro. Um plano mais elevado em que se é permitido acessar nos dá impressão de haver um real mais real, onde o ente se sente mais iluminado em sua auto consciência, mais aberto para o entendimento da necessidade de aprimorar sua humanidade, as várias acessões ao mundo em plano superior vão aos poucos dando ciência da oportunidade de nossa existência que se tem na vida material.
Os contatos metafísicos proporcionam uma transformação metafísica do ente que está abrigado neste invólucro material, neste casulo projetado para experiências e novas vivencias na busca de evolução e iluminação.
As experiências metafísicas de cada um possuem suas particularidades, relatar suas vivencias poderá parecer sem sentido para a maioria das pessoas, em sua maioria evitarão falar sobre elas para não parecerem tolos, o assunto para a maioria materialista não terá olhos para enxergar aquilo que lhes parecerá indizível e incomunicável.
A comunicação entre pessoas que tem alguma experiência mística ocorre tal como metáforas com seus códigos pertinentes, comunicando um segundo sentido de uma expressão sem que todos que estão ouvindo entendam que a emissão carrega em si um duplo sentido, o qual só terá sentido para aqueles iniciados familiarizados com os termos. Assim quando compartilhamos com outra pessoa um segundo significado para um termo, apenas essa pessoa saberá o que estamos dizendo de fato, enquanto outras pessoas entenderão apenas o sentido literal da expressão perdendo o que está por trás das aparências em razão de estarem contaminados pela mera existência física escravizados em suas ilusões de percepção egocêntrica.
Não é preciso ser genial nem uma pessoa com formação acadêmica para ingressar no mundo místico, entendo que a maioria das pessoas já tenham pensado no que significa a palavra desapego, como por exemplo do conteúdo místico que encontra-se na palavra “desapego”, para os iniciados remete a “entrega”, trata-se de um deslocamento que ocorre no interior da mente, num continuum, como se para um ocorrer depende do outro, num processo de ultrapassagem, iniciando pelo desapego exigindo a disposição para um esforço em abrir mão de suas conexões do cotidiano que colocam nossa mente em constante estado de agitação, numa tagarelice até insuportável.
O “eu” precisa se distanciar da mente e transcender sem que com isto paralise a mente, apenas deixar a inteligência da mente se conectar naquilo que realmente importa. Alguns pensam em paralisar os pensamentos, isto seria ir contra milhões de anos de evolução pelo qual o homem passou até chegar ao que somos hoje, então não seria natural.
O caminho está na
pratica e exercícios de meditação, eles nos encaminham para realização de um esforço
sem esforço, isto é, não se trata de um esforço positivo, ativo, nem mesmo
ativo-passivo, no sentido comum da palavra. Aqui as palavras são consenso entre
os praticantes, não são minhas, é consenso: Esse esforço da prática diz que ela
deve ser dotada de vigor, diligência, persistência, tenacidade e nunca algo
“que é feito impondo a si mesmo [...] ou a outrem; [... ouseja,] a prática
nunca deve ser tentada por imposição”. Se ela for uma intervenção voluntariosa
ou mesmo uma coerção metódica, produzirá no praticante um efeito contrário ao
da concentração, seria dispersão de energia levando ao cansaço e fadiga, sem falar na desmotivação da prática.
Acreditar no transcendente é para a maioria das pessoas apenas um ato de fé cega, a escolha de uma e outra religião são apenas as escolhas feitas pelo condicionamento social do caminho e a trilha onde passa o rebanho, alguns escapam do controle e encontram outros caminhos, poucos conseguem oferecer um contato com planos dimensionais mais elevados, pois ainda estão envoltos pelo véu da superficialidade e artificialidade num mundo movido pela mecânica do consumo e o vício na alegria fugaz. Perceber o erro nos dá uma noção de que se trata uma ilusão neste plano do real, nos dá uma ideia do irreal no real tentando preencher um vazio que se torna infinito.
A verdade é aquela vivenciada numa condição supramental, vivenciada através de algum tipo de experiência mística, é quando se passa a perceber o nosso dito mundo material real como ilusório, até então não percebido adequadamente devido a nossa pouca capacidade de enxergar objetivamente.
O que se pode dizer a partir das experiências supramentais é que os eventos estão todos inter-relacionados nos vários mundos e nos vários planos ou níveis de realidades, ou seja, não há uma realidade mais real, existem várias realidades cada uma relativa ao próprio plano, porem nada está separado, tudo está interligado.
Nem todas as pessoas buscarão a iluminação se isto lhes impuser fazerem escolhas que subtraiam o conforto e principalmente não o farão porque o medo do novo é o medo que assola todas as pessoas, então preferem viver no conforto da ignorância.
Vamos falar um pouco a respeito do medo, o medo é o maior inimigo ser humano. O medo está por trás do fracasso, da doença e das relações humanas desagradáveis, o medo pode ser positivo quando nos prepara para um enfrentamento, porem negativo quando nos tira a coragem de enfrentar os desafios da vida.
No budismo há a “metáfora da cobra que é uma corda”. Ela aparece frequentemente em ensinamentos sobre vacuidade, Caminho do Meio e Natureza de Buda.
Nessa analogia, numa sala escura sentimos medo ao ver o vulto de uma cobra. O Buda liga o interruptor da luz (tradicionalmente deve entrar como uma lamparina, ou algo assim), e reconhecemos que era apenas uma corda que na escuridão foi confundida com uma cobra. Assim, nos tranquilizamos.
O importante nessa metáfora é que, independente da luz, nunca houve cobra alguma. Liberamo-nos da ansiedade e do medo, mas nada mudou de fato. Desde o princípio não havia nada realmente perigoso ali. Teríamos medo se a luz fosse apagada novamente? Não.
No exemplo acima, a insatisfação (1) é o medo, a causa do medo é nosso engano (2) com relação a haver uma cobra, e a liberação (3) é o processo de acender a luz. Uma vez que o reconhecimento da natureza de corda daquela cobra, uma vez que abandonemos as expectativas perante os fenômenos compostos serem capazes de produzir satisfação, não precisamos de nenhuma luz para saber que as coisas são como são. Porém, por compaixão, o Buda segue manifestando os ensinamentos para acordar os seres de seus pesadelos infundados. https://blogs.opovo.com.br/artesanatodamente/2015/06/12/a-luz-da-consciencia-na-superacao-dos-medos/
Tem um miniconto muito famoso que nos fará pensar a respeito do mundo que vivemos:
“Quando acordou, o dinossauro ainda estava lá.”, neste mais famoso miniconto “O dinossauro”, escrito pelo guatemalteco Augusto Monterroso, ele utilizou da ambiguidade semântica escrevendo com apenas sete palavras, esta frase tão plurissignificativa que nos faz perceber que quando acordamos estamos presos numa gaiola do mundo, nos perguntamos: quem acordou e onde é lá?
Se pensarmos um pouco, nos damos conta que algo está errado em nossa forma de viver e no mundo sem sabermos o que é, este é o momento que devemos perceber que o que está errado, e está em nós, então é hora de mudar, iniciando por mudar as formas de ver este mundo, tomando boas atitudes e tentar buscar as conexões supramentais em nosso interior.
Por quê? Porque por mais que Platão e qualquer outro ser iluminado nos indique o caminho, quem deve fazer o trabalho de viver somos nós! Aproveite que o seu “eu” está no comando de sua mente, ensine seus pensamentos a fluírem de maneira positiva e tudo irá se refletir na sua autoestima, bom humor e leveza na vida.
Dicas de velhas formulas: Filtre seus pensamentos e retenha só o que lhe for útil e necessário positivamente, faça uma troca entre pensamentos ruins por “suas coisas favoritas”; exercite sua mente através de leituras que acrescentem conhecimento, saia da rotina dos noticiários; não esqueça do exercício físico, pode ser até aquela boa caminhada ritmada que fará seu sangue circular e manterá seu corpo em condições de abrigar uma mente saudável.