Ensaiando a Consciência como Caminho
Há
uma pedagogia silenciosa que não se aprende em livros, mas se revela nos
momentos em que a mente, cansada de ruídos, faz silêncio para escutar o que
importa. Chamemos isso de pedagogia da lucidez: um processo de formação
não apenas do intelecto, mas da consciência. Não ensina a saber mais, mas a ver
melhor.
Lucidez,
aqui, não é só clareza mental, mas transparência de alma. É quando os véus caem
e o mundo aparece como é — sem os filtros da vaidade, do medo ou da pressa. Um
momento de lucidez pode valer mais que anos de estudo, se nos leva a enxergar
aquilo que estava diante de nós o tempo todo: a verdade simples, cotidiana,
escondida no gesto, no olhar, no silêncio.
Para
Simone Weil, “a atenção pura é oração”. Atentar, no sentido radical, é
se oferecer por inteiro ao real. A pedagogia da lucidez se constrói nesse gesto
de atenção desarmada, que não quer controlar, mas compreender. O
professor, aqui, não é o que fala alto, mas o que guia com o exemplo da
presença.
Sri
Ram,
em O Ideal Teosófico, dizia que o verdadeiro conhecimento só acontece
quando o ego se aquieta. Enquanto o eu busca brilhar, o saber se esconde. A
lucidez, portanto, é filha da humildade: ela nasce quando paramos de querer ter
razão para, enfim, tocar o que é real.
Mas
como ensinar isso? A pedagogia da lucidez não se impõe, não tem currículo fixo.
Ela se vive. Está no modo como atravessamos o cotidiano, no cuidado com as
palavras, no respeito pelo tempo do outro. Talvez esteja, como pensava Paulo
Freire, em "ensinar com o corpo e com o ser", e não só com
palavras.
Lucidez
não é iluminação final, mas clareza possível. E como toda pedagogia, precisa
ser cultivada com paciência. A cada instante em que preferimos a escuta ao
julgamento, o gesto à explicação, estamos praticando essa nova forma de educar:
não para formar especialistas, mas para despertar consciências.
É
uma pedagogia revolucionária, porque transforma o mundo a partir do ser. Não
nos prepara apenas para o trabalho, mas para a vida. Afinal, como disse
o filósofo Jiddu Krishnamurti, “não é sinal de saúde estar bem adaptado
a uma sociedade profundamente doente”. A lucidez, nesse contexto, é o primeiro
passo para a liberdade.
Ensinar
a ver — eis o desafio.
E
talvez, para isso, seja preciso antes desver: desfazer os enganos,
dissolver ilusões e reaprender a estar no mundo como quem acaba de chegar. Essa
é a pedagogia da lucidez: simples, exigente e infinitamente humana.
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