“A minha paixão por Viberana tem sido intimidada. Talvez por mim mesmo, pois quando vibra o meu desejo, eu me protejo. Fico na minha pele, no limite do que me é seguro... Minha pele me conduz, me garante. Separa-me de Viberana e do mundo.
Tenho medo do vazio que fica quando perco minha determinação. Tenho medo de perder meu corpo. Tenho sido passageiro do meu corpo, numa viagem sem destino...Tenho medo da saudade que vou ter de mim mesmo se eu for me desmanchar.
Vocês saber o que é ter saudades de nós mesmos quando nos desmanchamos? Sabem?”
Resumo:
É um livro interessante, curto, tem vinte capítulos, escrito numa linguagem que prende o leitor, é inteligente por fazer o leitor refletir a respeito da coisificação da existência, onde as pessoas passaram a ser coisas ou objetos, principalmente quando sente que virou mobília e principalmente quando perde o poder de se movimentar pela vida.
Nas terras de Creonte só os designados podem escrever, então as autoridades escolheram alguém para uma importante missão: a de registrar as transformações da sociedade, os costumes, os desejos, as crenças e reuni-las em um livro.
Mesmo surpreso com a proposta, Memoriete – o homem incumbido dessa tarefa – traça um paralelo crítico, por meio do acesso a arquivos ocultos, e analisa as diversas áreas da sociedade.
No entanto, sua motivação para finalizar a obra é a promessa feita pelas autoridades de ele poder possuir sua maior paixão, Viberana – em Creonte, é raro tomar posse de uma mulher, ainda mais sendo de dimensões sociais diferentes. Além disso, a paixão não é algo recomendado pelas autoridades.
Viberana foi notificada pela prefeitura a conceder um beijo em Memoriete, um estranho, o beijo em troca de pagamento em dinheiro, no entanto ela não se sente à vontade para tal feito, para ela é estranho e frio o pedido tão formal da prefeitura, pensa que não há erotismo reciproco, mesmo assim ela se sente curiosa em saber quem é esse ser, quase demente de amor, ela não se sente responsável por aquilo que cativa, tal afirmação tem coerência por ela não saber que seu pretendente já a havia encontrado e trocaram breves palavras num dia no passado recente, aparentemente para ele o breve encontro foi mais significativo.
Em tom de realismo mágico, esta parábola ficcional, baseada em experiências na área de Psiquiatria, muito se assemelha aos nossos costumes. E, assim como muitos com seus delírios, os habitantes de Creonte vivem uma estranha cultura: a de malograr suas existências.
Fonte:
Massaro, Geraldo. Nas terras de Creonte: uma parábola sobre o enlouquecimento – Barueri, SP: Novo Século Editora. 2019.