É bem cedo, manhã de domingo do mês de outubro em plena primavera com seu clima agradável e céu de brigadeiro, é hora do chimarrão e da leitura matinal, aproveitando o sossego e o silêncio do começo do dia na companhia do meu gato.
O chimarrão
Rio Grande do Sul é quase
sinônimo de chimarrão,
aqui se bebe chimarrão até quando está calor, qual gaúcho não gosta de um chimarrão no verão na beira do mar e a qualquer hora? penso que seja difícil encontrar um gaúcho que não goste de sorver um bom chima! Em geral a gauchada gosta e curte a tradição, é uma minoria que não gosta de chimarrão.
Mate ou chimarrão? Apesar das
duas bebidas serem preparadas com erva-mate, elas são consumidas de
maneira distinta. A temperatura é uma das primeiras diferenças: o Tereré (típica do Paraguai) é uma
fusão de erva-mate com água fria (temperatura ambiente). Já o Chimarrão é uma infusão da
erva com água quente. Muitos usam um ou outro termo para se referir ao chimarrão, no entanto, dado a proximidade do Rio Grande do Sul com os países que tomam mate e/ou chimarrão é bom saber a diferença, pois se lhe oferecerem pergunte antes. Se for gaúcho a oferecer é quase certo que lhe darão com "água quente". Além de chamarmos de mate ou chimarrão, chamamos de o "amargo", e ainda carinhosamente de "chima".
A bebida que herdamos dos
guaranis e caingangues também já foi proibida no sul do Brasil, no século XVI. Nessa época, ela era
considerada a “erva do diabo” pelos padres jesuítas. Como o chimarrão
acabou sendo substituído por doses extras de bebidas alcoólicas, os jesuítas
mudaram de opinião e liberaram novamente o consumo de erva-mate a partir do século
XVII. A fama é tanta que hoje tem até cerveja feita de erva-mate por estas
bandas e o copo tem formato de cuia, é gostar de erva-mate, é gostar de cerveja.
Motivos para se gostar de tomar mate/chimarrão não faltam, o mate/chimarrão esquenta, é diurético, estimulante, tem antioxidantes (tem compostos antioxidantes que ajudam a combater o envelhecimento celular), é nutritivo (contem complexo vitamina B, além de cálcio, magnésio, sódio, ferro e flúor), bom para o coração (acelerando o ritmo cardíaco, diminuindo assim, a tensão arterial), é digestivo (acelera a digestão na assimilação), e elimina a fadiga estimulando a atividade física e mental. Vale lembrar que o mate/chimarrão não deve ser tomado em excesso e nem quente demais, senão o que bom vai durar pouco.
Chimarrão rima com reflexão, com tradição, as mãos que oferecem chimarrão oferecem amizade e hospitalidade, o momento do sorver o chimarrão solito lendo um bom livro na companhia de um amigo, neste caso o felino, prazeres que se completam em momentos de puro prazer e harmonia.
Os avios de mate são fundamentalmente a bomba e a cuia, ainda há a chaleira ou garrafa térmica.
Os tipos de erva-mate dentro da classificação popular no Rio Grande do Sul, nós gaúchos costumamos classificar a erva-mate da seguinte maneira:
a) Pura Folha ou Tipo Argentina (é feita só de pura folha).
b) Barbaquá ou Tipo Missioneira (maior aproveitamento da erveira com todo o ramo, isto é, folha e caule).
Parafraseando Glênio Fagundes, há um respeito místico nas rodas de mate, percebido até por pessoas alheias ao meio, transcendendo ao próprio ato de matear.
Introspectivo por excelência, induz o homem a uma busca interior, despertando autoanálise em relação ao meio. Companheiro calado nos mates solitos, se fez vaqueano deste silêncio, onde se amansam sentimentos para a grande compreensão da vida!
Uma vez que alguém seja convidado a participar duma roda de mate, deixa de ser um estranho, para tornar-se um amigo! Aceitando o convite, para se receber a cuia pega-se com a mão esquerda (receptiva) ao entregar a cuia deverá ser feito com a mão direita (ativa). No caso da mão direita estar ocupada, a pessoa deverá dizer:
- Desculpe a mão!
A que o o outro responde:
- É a mesma, a do coração.
Uma vez servido o mate deve ser tomado todo, até esgotá-lo, fazendo roncar a cuia, e só se agradece quando não se quer mais matear, quando se está satisfeito.
Em tempos antigos, a erva-mate, assim como o sal, servia de pagamento. Daí hoje dizermos o salário. Assim também, referindo-se a dinheiro, usou-se dizer erva. Ex.: Fulano é cheio da erva, isto é, de dinheiro.
Existem mandamentos do chimarrão, são regras que funcionam como verdadeiros mandamentos, são regras bem humoradas:
1. Não peças açúcar no mate, ele é amargo, é assim mesmo.
2. Não dizer que o mate esta quente demais.
3. Não deixar um mate pela metade, sover até roncar.
4. Não mexer na bomba.
5. Não digas que o mate dá câncer no esôfago, o que pode dar câncer é se estiver quente demais.
Dizem que o gaúcho gosta de cavalo e cachorro, aqui uma complementação, gaúcho também gosta livros e gatos.
Diante da pandemia de covid 19, tivemos de mudar nossos hábitos, não podemos mais passar a cuia de mão em mão, não é mais possível compartilhar a mesma cuia e a mesma bomba, cada um deverá ter seus próprios ávios, acredito que este hábito deverá ser mantido mesmo após superarmos esta epidemia, logo os mandamentos deverão ser outros.
O momento atual de enfrentamento a pandemia, está nos mostrando que deveremos modificar um habito cultural que é o do compartilhamento do chimarrão, neste compartilhamento estão envolvidos sentimentos construídos e enraizados por décadas, atualmente este hábito cultural está encontrando um ambiente muito diferente daquele no qual surgiu, mas que está acabando por ser adaptado ao novo contexto e, por assim dizer, "entram no novo lugar". Uma das riquezas da dinâmica cultural gaúcha e brasileira é justamente a capacidade de digerir criativamente o que se apresenta, reelaborando e dando um cunho próprio que o transforma em algo diferente e novo, sem perder o sentimento de pertencimento as raízes culturais. Com o passar do tempo certamente iremos encontrar a melhor forma de adaptação e esta nova forma de adaptação será integrada aos nossos costumes e hábitos culturais.
O livro
Dizia Franz Kafka: “queremos livros que nos afetem como um desastre, pois um livro deve ser como um machado diante de um mar congelado em nós”.
Abrir um livro é começar um diálogo com seu autor, é conversar com alguém que pode já ter vivido entre nós a milhares de anos, estes hábitos de dialogar com os livros contribuem com nossa formação como seres humanos, portanto é importante começar cedo.Este hábito de ler adquiri desde muito cedo, já fui para escola praticamente alfabetizado, tinha a minha mãe como minha professora, ela me induziu a ler como se fosse um objeto de entretenimento, não apenas de estudo, eu enxergava o livro como fonte de lazer e prazer, a recompensa que recebíamos era a contação de estórias a tarde antes da sexta e antes de dormir a noite, pensando nisto descobri que ela estava à frente daquilo do que muitos pedagogos vieram a descobrir muito tempo depois, e vejam que minha mãe tinha apenas o ensino fundamental incompleto! Aqui fica um recado, o hábito de ler deve começar desde a tenra idade, o gosto e o prazer pela leitura devem ser enraizados, além de estimular a criatividade, a leitura amplia o vocabulário e o conhecimento, estimulando a imaginação. Faz os jovens enxergarem o mundo de maneira bem diferente e ampla, talvez por isto resolvi estudar filosofia e tantas outras especializações e mestrado. O fato é que o conhecimento ao longo do tempo se acumula a juros compostos.
Para 67% da população brasileira, não houve uma pessoa que incentivasse a leitura em sua trajetória, mas dos 33% que tiveram alguma influência, a mãe, ou representante do sexo feminino, foi a principal responsável (11%), seguida pelo professor (7%). Então, o caminho é mesmo o incentivo constante. Ainda bem que pertenço a este grupo dos 33% que tiveram influência da mãe, agradeço a minha amada mãe que provavelmente está estudando no nosso lar no mundo espiritual.
O Gato
A vida sempre nos apresenta surpresas, sempre fui cachorreiro, tive muitos amigos caninos ao longo de minha vida, lembro de cada um deles, todos foram muito importantes. Nunca tive um gato, até há pouco tempo, pois conheci meu primeiro amigo felino a menos de um ano. Conheci o Remo (este é nome do meu gato nominado pelo meu filho mais novo), no inverno de 2019, lembro que o jovem felino estava sobre o muro do pátio dos fundos observando a mim e minha mulher quando trabalhávamos no jardim. Ele estava lá parado, sentado por um bom tempo nos observando, minha mulher que sempre gostou de gatos e tinha maior familiaridade me chamou a atenção, foi então que resolvi chama-lo e ele atendeu prontamente, sem qualquer receio desceu do muro e já manifestou sua empatia, a partir daí ele foi ficando e nunca mais foi embora.
Já dei vários apelidos para ele, playboy, indivíduo, não faltam codinomes.
Ele é um gato Sem Raça
Definida, conhecido como vira-latas, são os mais populares entre nós
brasileiros. Eles podem ter os mais diferentes jeitos, cores e tipos de pelo.
Isso porque na maioria das vezes não é possível determinar as raças que deram
origem a esses felinos, eles são a prova viva de que o amor pelos bichanos
importa mais do que a raça deles, agora até frequentam pet shops, comem de ração balanceada, veterinário no mínimo uma vez ao ano, isto é muito mais que muita criança recebe.
Ele tem liberdade para ir e vir, percorre os telhados e sempre retorna, ele sabe que tem afeto e proteção, esta é a razão que nos mantém unidos, sejamos seres humanos ou animais, esta convivência com os animais contribuem para nossa humanização. Os comportamentos dos animais são influenciados justamente por esta relação de afeto e proteção, a convivência será positiva se assumirmos nossa responsabilidade nesta troca, nós sempre sairemos ganhando mais do que estamos doando.
Os gatos ao longo do tempo se
tornaram referência na cultura popular, desde seres maléficos a perspicazes
bichanos com uma inteligência acima da média. Mas, você sabia que o gato já foi
reverenciado e inclusive caracterizado como um ser divino? Alguns ainda vivem no mito e carregam superstições hilárias.
No Egito Antigo, esses pequenos
animais eram venerados como verdadeiros deuses, ganhando uma atenção deveras
especial. Basta ver os diversos desenhos nas pirâmides, escritos e estátuas em
adoração a Deusa Bastet, uma mulher com cabeça de gato que simbolizava a
fecundidade, o amor materno e proteção aos lares. Para aquela época o mito explicava os fenômenos naturais, frequentemente recorriam ao sobrenatural para explicar fenômenos que não compreendiam.
Pode parecer estranho olhando tão de longe e em uma sociedade ocidental com conceitos cristãos, mas assim como tudo na natureza, a adoração dos egípcios aos gatos não se deve à uma loucura ou devaneio aleatório, mas à sobrevivência. Exímios na agricultura, os egípcios tinham sérios problemas com roedores – animais que além de acabarem com as plantações, levavam diversas doenças contagiosas. Diferente dos cachorros, que perderam suas principais características primárias e foram domesticados, o gato nunca foi exatamente domado e, sendo assim, naquele fatídico Egito cheio de ratos, os felinos surgiram como salvadores. Toda a população ficou estupefata com a forma dos gatos e o jeito e a agilidade com que caçavam. Sendo a agricultura o meio principal que movia aquela sociedade, não demorou para os bichanos ganharem cada vez mais importância.
A reverência aos gatos cresceu enormemente ao longo do tempo e, assim, ter um desses animais em casa era sinal de proteção e sorte. Realmente, pode se dizer que ganharam tratamento de reis, ou melhor, deuses. A deusa Bastet surgiu como representante e era adorada fervorosamente. As mulheres pintavam os olhos com a intenção de reproduzirem o formato do olhar felino, templos foram criados e até mesmo leis estabelecidas. Matar um gato era o mesmo que pedir a morte – a reverência era tamanha, que uma pessoa podia morrer ou ser sentenciada a punições se machucasse um felino. Consequentemente, o animal se tornou de interesse geral, sendo levado para outros países. Porém, a exportação foi proibida e os gatos viraram artigo de luxo, acabando por serem contrabandeados a preços exorbitantes – o que só tornou a reverência ainda maior no Egito Antigo.
O meu felino veio como um presente, o presente nos
escolheu e nós escolhemos o presente, assim como ele veio ele está livre para partir, sua independência é nata em seus instintos, a escolha é dele e assim
deveriam ser a relações, quem aprisiona não tem laços afetivos, tem o egoísmo que se parece com correntes que aprisionam.
Eu
Quanto a mim, acredito
que nasci com óculos e com a cuia na mão, quando digo isto para alguém geralmente
dão risadas. Em princípio já disse que o chimarrão é um de meus prazeres, o outro é
a leitura, procuro ter a mão um livro para ler ou reler aqueles que despertaram
meu interesse. O livro e o gato são parceiros. O livro cada vez que o abro e leio, ele fala comigo. O gato é um parceiro silencioso e observador, sabe as manias do
seu amigo dono, ou seria o inverso? Os especialistas dizem que o gato se sente dono do ser humano que o cuida, tudo bem, no final nos
entendemos. Como dizia a Zibia Gadparetto: "Ninguém É de Ninguém".
As coisas em nossa vida que acontecem conforme nossas ações que irão mudar nosso destino e o destino dos outros, assim como ações dos outros mudaram a vida deles e as nossas, nesta relação nossos pais tiveram em nossas vidas a influência que nos forjou de alguma maneira, assim como nós influenciamos nossos filhos nas ações que irão escrever seus destinos. Estamos todos entrelaçados em nossas ações e destinos, cruzamos um no caminho do outro por algum motivo que não sabemos.
Temos tantos motivos para acreditar que nada é por acaso. A vida nos dá muitas respostas que achamos que pode ser total coincidência, mas na verdade, não é. Tudo o que acontece conosco tem um sentido e uma razão. Você vai entender quando estiver passando ou só quando passar por determinada situação. Quer saber qual é o motivo para tudo? Aguarde o tempo para tudo se revelar.
Fontes:
Fagundes, Glênio Cabral Portela. Cevando Mate. Porto Alegre, Habitasul, 1980.
https://escolaemmovimento.com.br/blog/como-despertar-o-interesse-dos-alunos-pela-leitura/
https://www.mensagenscomamor.com/tudo-tem-um-motivo
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