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terça-feira, 22 de dezembro de 2020

Resenha Critica "As Teorias Selvagens" de Pola Oloixarac

 

As Teorias Selvagens de Pola Oloixarac

Sinopse

As teorias selvagens é uma mistura entre ironia e zombaria da vida intelectual na era dos blogs, da pornografia virtual, do videogame, das pílulas coloridas e da junk food. É uma compilação de histórias cheias de referências por todos os lados - um gato chamado Yorick, uma militante de esquerda que escreve cartas para Mao Tse-Tung, chamado por ela de Moo (na carta confessa que a ideia de amor livre de revolucionário, para ela, entra em choque com o desejo de um relacionamento baseado na fidelidade com o seu companheiro, o que leva a acusação de rendição a sentimentos burgueses), uma estudante de filosofia que persegue o professor pela universidade. É um compilado de histórias sempre esclarecidas por teorias que explicam tudo, ao menos aos olhos dos jovens contemporâneos, que viajam pelo mundo do ciberespaço.

O primeiro livro, Las teorías salvajes (no Brasil, As teorias selvagens) escrito por Pola Oloixarac, sua obra de estreia foi traduzida para o inglês, francês, holandês e finlandês, ela é escritora e tradutora argentina, nasceu em Buenos Aires em 13 de setembro de 1977. Pola estudou Filosofia na Universidade de Buenos Aires e escreve artigos sobre arte e tecnologia para diversos veiculos na Argentina, Espanha e Brasil.

Pola Oloixarac

O livro conseguiu dividir a crítica e amealhou uma legião de fãs, polêmico e atual, encontra seu alvo na modernidade e no sujeito universal, o romance transita entre o erudito e o pop, entre a filosofia, a filologia, o humor negro, a pornografia, a cultura geek e a etnografia urbana, é realmente bem complexo, por estas razões acaba conquistando e dividindo opiniões entre os que amam e odeiam com a mesma facilidade, alguns agradou a outros incomodou. Pola recebeu o título de musa geek, em razão de seu romance tratar de assuntos como blogs, videogames com seus jogos e o universo hacker. Ele traz assuntos diversos indo da antropologia à cultura pop, da pornografia à filosofia e humor negro, assemelha-se a uma patchwork que passeia do erudito ao cotidiano com rapidez, e nem sempre com a fluidez, as estórias (mais de uma) não tem contato entre si. Ao tratar de um ambiente intelectualizado, como o curso de Filosofia da Universidade de Buenos Aires, Pola pratica um exercício de galhofa e desmitificação da vida acadêmica em tempos de agrupamentos frágeis e identidades cambiantes através da complexidade dos personagens, dá estocadas críticas contra a doxa do humanismo progressista, torna-se até hermético por usar um linguajar um pouco mais complexo obrigando ao leitor não familiarizado a frear a leitura para interpretar o sentido e até pesquisar do que se trata para poder prosseguir, pois o patchwork contem pedaços de Rousseau, Wittgenstein, Bauman. Nietzsche e até Humbert-Humbert (lembram-se de Lolita de Vladimir Nabokov?)

É, entre outras coisas, uma trama diferenciada, com um tratado da guerra da sedução na era dos blogs, trata do sujeito universal contemporâneo, um romance ácido, demencial e extremamente divertido, a sua tese não é novidade, pois propõe que o discurso que nos anos 70 era sinônimo de resistência, mudança e revolução converteu-se atualmente no dogma oficial do pensamento, da cultura oficial com seus valores eternos e da pedagogia.

São três os personagens centrais, personagens que falam de teorias filosóficas como se encenassem uma comédia:

Kamtchowsky, ou K., e Pablo, cujo apelido é Pabst, são jovens inteligentes que não possuem beleza física (por isto eles se aproximam), são muito feios, são fanáticos por tecnologia, vivem da promoção de suas próprias orgias e recriam a guerrilha esquerdista argentina em um jogo de computador montado graças à habilidade de hackear o Google Earth, são entediados e cuja diversão principal pode ser denominada como a de destilar uma sagacidade mordaz a respeito do comportamento dos que os cercam, (os nerds têm gostos propositadamente adaptados ao século 21). Adoram filmar suas orgias e disponibilizar as imagens na rede. A obra é carregada de exageros, como por exemplo ao narrar que Kamtchowski foi estuprada por dois garotos com síndrome de down e virar assim uma pequena celebridade pornô cibernética.

E a estudante dissimulada compara suas ações a uma pesquisa de campo antropológica a narradora Rosa Ostreech, uma bela estudante de filosofia, que nutre uma paixão obsessiva pelo professor García Roxler, ela tem a pretensão de conquistar o velho professor e de completar as pesquisas que este desenvolveu sobre a teoria das transmissões egóicas do antropólogo holandês Johan Van Vliet, que versa sobre o comportamento humano e como as transformações sociais ocorreram na tensão entre o ser humano e a fera, da passagem da espécie humana de perseguida à predadora (a maldade do homem ou sua aptidão para a violência é explicada pela necessidade de sobrevivência à bestialidade de uma época pré-civilizatória).

Tirando os exageros cruéis, o estilístico de Pola é altamente refinado e filosófico, referencial ao extremo, traz à tona um olhar sobre os costumes sociais, sexuais e virtuais de uma geração que, por falta de convicções políticas, enseja divertimentos e jogos narcisistas e perversos, no qual o “outro” é objeto de constantes e perspicazes afrontas intelectuais como desafios que terminam em frustração ou tédio e que não preenchem o vazio existencial (alimentado com boas doses de arrogância) que transforma angústia em indiferença ou vaidade. Para Kamtchowsky e Pabst, a guerra é contra certa assepsia intelectual e o modo como a beleza superficial é erguida como corolário do reconhecimento social (transitar de um lado para outro em busca de satisfação e, consequentemente, descartá-la e rumar para uma nova forma de prazer é um mecanismo da sociedade de consumo, no qual até a desilusão e o desajustamento são cooptados para a vida de “mercadoria”). Ao se unirem a Andy e Mara, dois sedutores jovens, K. e Pabst podem exercer a aproximação insidiosa pautada na desconfiança e liberdade possíveis das relações contemporâneas. Com a desconstrução do amor romântico, como afirma Bauman em “Amor líquido: a fragilidade dos laços humanos”, o amor perde o sentido e qualquer coisa serve para ser camuflada como se o fosse, mas sem a exigência de sê-lo realmente. Uma vez vivido pode ser descartado, já que nada mais será duradouro em um mundo liquefeito, considera o “cidadão de nossa líquida sociedade moderna” como Der Mannohne Verwandtschaften - que o homem não tem família, o homem sem vínculos, isto remete-me, ao aforisma 489 de Humano, demasiado humano, indo até profundamente demais:

“Pessoas que compreendem algo em toda a sua profundeza raramente lhe permanecem fiéis para sempre. Elas justamente levaram luz à profundeza: então há muita coisa ruim para ver” (NIETZSCHE, 2000, p. 266).

 

Críticas da Imprensa

“Pola é uma menina linda com uma mente perigosa. Rodolfo Viana, Revista Vip

A prosa de Pola Oloixarac é o grande acontecimento da nova narrativa argentina. Seu romance é inesquecível, filosófico, selvagem e muito sereno.” Ricardo Piglia, escritor e crítico literário argentino

“Oloixarac irrompeu no mundo literário elevando a voz e com a espada em riste, derramando à esquerda e à direita (sobretudo à esquerda) suas doses efusivas de estilo, precisão analítica e rancor lúdico.” Alan Pauls, escritor argentino

“Uma das melhores narradoras jovens em espanhol.” Revista Granta

“Uma comédia com Katharine Hepburn mas sem Cary Grant. A arqueóloga Oloixarac leva a cabo uma reconstrução dos códigos de socialização dos anos 70... 90... e assim sucessivamente, de vinte em vinte anos.” Mario Bellatin

“Um romance com vocação de obra total, um patchwork requintado da contemporaneidade escrito com uma prosa dotada de variadíssimos registos como há muito não se lia em língua castelhana.” Carolina León

“Monstruosamente inteligente e terrivelmente divertida. Mais que um primeiro romance, parece o livro que muitos de nós passámos a vida inteira a tentar escrever.” Javier Calvo

 

Três Perguntas Para Pola Oloixarac:

1.      A crítica Beatriz Sarlo identificou As teorias selvagens como um trabalho de microetnografia cultural. O que seria isso para você?

Beatriz Sarlo disse coisas muito boas e interessantes do livro. Em geral, é moda os críticos maiores na Argentina falaram em "etnografia". O que antes era apenas "romance realista" agora é uma variante da etnografia, como se houvesse registro "científico" do presente (e também porque o romance realista em espanhol não poderia descrever somente as inovações no século 20). Além de mostrar as coisas, estes romances tentariam dar uma luz sobre o porquê das coisas. No caso do meu livro, se trata de uma comédia sobre o mundo da cultura: como funciona, quais são seus valores, como pensam os julgadores, como se medem as superioridades.

2.      O livro é também uma crítica à intelectualidade portenha de esquerda? Por quê?

É uma crítica a certa intelectualidade argentina que nunca realizou uma revisão crítica das ações, da estratégia militar e do pensamento violento por trás das ações armadas da guerrilha dos anos 1970. Quando comecei a escrever o livro, essa ausência não me deixava dormir. Tinha que fazer algo e minha reação foi escrever esse romance. Depois, o que aconteceu foi justamente que essa ausência de autocrítica se converteu no núcleo triunfal do discurso oficial do governo, uma reciclagem de meias verdades sobre os anos 1970 que articulam o presente político da Argentina.

3.       É possível dizer que as novas gerações de autores argentinos se permitem rever a história com postura crítica, mesmo que se trate de rever o pensamento das esquerdas?

Pode ser, não sei. A América Latina tem uma relação complexa com suas esquerdas: em certos casos encarnam um populismo subnormal (Chávez), em outros um futuro que trabalha pelo crescimento e inclusão social e em outros um discurso que convive abertamente com políticas neoliberais apenas renovadas. Na Argentina, toda a política passa pelo discurso: sua criação, manipulação, reciclagem, e nesse sentido é natural que os escritores se vejam atraídos por algo que trabalha com suas mesmas técnicas!!

Fonte Escritora argentina Pola Oloixarac dispara contra a guerrilha esquerdista (correiobraziliense.com.br)

 

Trecho de As teorias selvagens, de Pola Oloixarac.

“ O que está ao redor sempre pode dar permissão para que você seja um estupido, mas nem todas as permissões são validas. Quero dizer, subscrever-se a uma ética menos facilitante para o ingresso da imbecilidade pode ser congelante, seu efeito pode ser percebido imobilizador, mas pelo menos conserva a dignidade da reflexão e da autoconsciência. Claro que me refiro á classe média, a uma juventude de classe média mais saudavelmente entregue a introspecção.

Kamtchowsky observou que a diferença talvez se apoiasse na distância entre sufixos e prefixos. Uma geração de sufixos, como exibe a morfologia de “consciência-em-si” ou “consciência-para-si”, centra sua atenção naquilo que resulta, que se solta a posteriori (a sintaxe não mente) da consciência; pelo contrário, uma geração seguinte que coloca a questão da consciência nos preconceitos inerentes de seu olhas opta pelo prefixo, pela característica previa e intrínseca da mesma capacidade de raciocínio (p.ex. autoconsciência). P.43 As Teorias Selvagens

Em resumo e no geral, Pola escreveu um livro difícil de penetrar, de certa forma hermético para aqueles leitores não familiarizados com teorias e ensaios filosóficos, tornando a leitura até difícil de entender, ela conseguiu chocar e ser polêmica, atual no sentido que incomoda e continua a incomodar tanto, e por vários motivos e razões as quais concordo com ela: pela fruição sem culpa com que reconecta a política e o saber com o mundo das paixões baixas tal como a inveja, rivalidade, discórdia, vingança. Ela tenta mostrar também o vazio e a futilidade da juventude que ela quis representar, no entanto eu não concordo com ela no que tange ao modo de ver a juventude, penso e vejo uma juventude vibrante e em sua maioria cheia de projetos de vida e também ativa politicamente, em sua diversidade vivendo cada um conforme as condições sociais pertinentes as classes sociais a que estão inseridos, culturais (etnias, identidades religiosas, valores), de gênero, bem como das regiões geográficas, entre outros aspectos a que todos nós um dia enfrentamos nossos desafios.

 Fontes:

OLOIXARAC, Pola. As Teorias Selvagens; tradução Marcelo Brandão. São Paulo: Saraiva, 2011. 240 p: 1ªed. 2ªtiragem

BAUMAN, Zygmunt. Amor líquido – sobre a fragilidade dos laços humanos. Rio de Janeiro: Zahar, 2004

Nietzsche, Friedrich. Humano, Demasiado Humano. Coleção O Essencial de Nietzsche; 9 Editora Companhia de Bolso, 2006

https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/diversao-e-arte/2011/04/26/interna_diversao_arte,249508/escritora-argentina-pola-oloixarac-dispara-contra-a-guerrilha-esquerdista.shtml

http://lounge.obviousmag.org/nostalgicas_primicias/2013/11/as-teorias-selvagens-de-pola-oloixarac.html

https://lerateaexaustao.wordpress.com/2014/12/11/as-teorias-selvagens-pola-oloixarac/

https://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq2805201129.htm

https://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq2805201129.htm