Já percebeu como a bobagem e a irrelevância tomam
espaço no nosso dia a dia? De repente, você está ali, com seu tempo e atenção
sugados por um vídeo que não leva a lugar nenhum, uma discussão de redes
sociais sobre um tema tão passageiro quanto a moda do momento, ou até mesmo
aquela conversa no ponto de ônibus sobre o clima, que todo mundo sabe como vai
terminar: "ah, tomara que não chova".
A irrelevância, por mais que a gente tente
evitá-la, parece uma sombra que nos persegue. No entanto, será que essa
"bobagem" é tão irrelevante assim? Ou, de alguma maneira, ela molda
nossas experiências, nos dá pequenos respiros da rotina, ou até ajuda a
construir algum sentido mais profundo, mesmo que não percebamos de imediato?
O filósofo francês Gilles Deleuze traz uma reflexão
interessante sobre o que consideramos "bobagem" ou irrelevante. Ele
dizia que o pensamento criativo e o processo de aprendizado nascem, muitas
vezes, daquilo que é visto como periférico. Ou seja, aquilo que parece fora do
centro da nossa atenção, o que não parece importante de cara, pode ser a chave
para novas conexões de ideias. Ele defendia que o "devir", essa
constante transformação e movimento da vida, nos desafia a não ignorar a
aparente irrelevância. Para ele, é nesse espaço do "acaso" que as
verdadeiras revoluções mentais acontecem.
Então, quando você se pegar rindo de um meme ou
refletindo sobre uma piada sem graça, talvez esteja, na verdade, abrindo espaço
para a criatividade. A bobagem tem seu lugar, e muitas vezes é uma pausa
necessária para o cérebro processar algo maior. Como Deleuze nos lembra, o que
parece ser inútil pode ser o ponto de partida para novas realidades.