Sinopse
Arrastamo-nos por trás da mídia digital, que, aquém da decisão consciente, transforma decisivamente nosso comportamento, nossa percepção, nossa sensação, nosso pensamento, nossa vida em conjunto. Um enxame digital! Embriagamo-nos hoje em dia da mídia digital, sem que possamos avaliar inteiramente as consequências dessa embriaguez. Essa cegueira e a estupidez simultânea a ela constituem a crise atual.
O livro “No Enxame: perspectivas do digital”, de Byung-Chul Han, apresenta a visão ensaística do filósofo sobre as interações entre sujeitos, mediadas pelos ambientes digitais. Respeito e poder, identidade, predomínio da imagem, excesso de informação e apagamentos ontológicos são alguns dos aspectos tratados. Assim, é possível delinear convergências tanto com as propostas de mediação, quanto de midiatização na Comunicação, que envolvem também o consumo. Dentre essas destacam-se a psicopolítica, a interação humano e não humano, assim como as competências do pesquisador.
O autor Byung-Chul Han é um filósofo e ensaísta sul-coreano, professor da Universidade de Artes de Berlim. Ele estudou Filosofia na Universidade de Friburgo e Literatura Alemã e Teologia na Universidade de Munique. Em 1994, doutorou-se em Friburgo com uma tese sobre Martin Heidegger
No livro vem à baila questões como: O que é a verdade?; O que é a pós-verdade?; As Formações opinião e Comportamento Social.
O impacto do mundo digital no dia a dia de nossa vida na internet são imensos, são mais de 3 bilhões de usuários ativos nas redes sociais, isto é muita gente mesmo, e este número tende a crescer cada vez mais, com a dinâmica de melhorias constantes dessas plataformas e o surgimento de novas haverá um transito gigantesco de comunicações e expressões, logo o tema do livro “O Enxame” é muitíssimo atual expondo algumas verdades e pós-verdades supostamente consideradas verdades pela simples possibilidade de podermos duvidar de tudo, permitimos as versões e opiniões de cada um contaminarem o enxame e também sairmos contaminados, ninguém mais está livre de carregar algum tipo de contaminação, está cada vez mais difícil analisar tanta informação disponível, uma das consequências é o cansaço digital, a tudo e o tempo todo temos de checar, checar e checar de novo, isto é, se a fonte for desconhecida esta é a rotina, o lema é desconfie!
O autor nos alerta para o fato de vivermos na era da pós-verdade, inexiste a verdade, porque as pessoas duvidam de tudo, confundem ruídos de informação e desinformação, coincidências com evidencia, sentimos a presença do pensamento de Nietsche, foi ele que inicialmente afirmou que quando o sujeito vive e propaga só a pós-verdade credita só em versões do fato do que o fato em si, isto coincide com as ideias de Byung.
O privado se tornou público a partir do momento que compartilhamos nossa vida privada na internet, vivemos numa sociedade do espetáculo e do escândalo, onde todos se expõem, todos se dão ao direito de criticar, comentar, influir, estamos todos dentro da mesma casa, deixamos de ser pessoas e passamos a ser imagens, estabelecemos rótulos e somos rotulados, não há mais anonimato, é possível acessar todos os dados das pessoas descortinando suas vidas.
No panóptico digital não é possível nenhuma confiança – ela não chega nem mesmo a ser necessária. A confiança é um ato de fé [Glaubenakt], que se torna obsoleto em vista das informações facilmente disponíveis. A sociedade da informação descredita toda crença. A confiança torna possível relações com outros sem conhecimentos precisos sobre eles. A possibilidade de uma aquisição rápida e fácil de conhecimento é prejudicial à confiança. A crise de confiança atual é, vista desse modo, também medialmente condicionada. A conexão digital facilita a aquisição de informação de tal modo que a confiança, como práxis social, perde cada vez mais em significado. Ela dá lugar ao controle. Assim, a sociedade da transparência tem uma proximidade estrutural à sociedade de vigilância. Onde se pode adquirir muito rápido e facilmente informações, o sistema social muda da confiança para o controle e para a transparência. Ele segue a lógica da eficiência. Pg.69
As notícias fake se tornaram uma doença que desestabiliza a casa de qualquer um, vivemos numa época de afetos e desafetos, todos são comentaristas, poucos são aqueles que tem conteúdo de profundidade, a superficialidade do comentário curto rico de memes abreviam o diálogo construtivo, horas e horas são dedicadas a auto exposição e a olhar a vida dos outros, muitos vivem obsessivamente tornando-se verdadeiros indivíduos afetados pelo voyeurismo frequentemente se transformando em per-seguição.
Este olhar constante sem mediação e limites na vida do outro passa a interferir na vida do observador, estimulando o consumo de alguma coisa que esteja sendo consumida pelo outro. Vivemos muitas vezes num estado de indignação digital, pouco desta indignação tem uma materialização na vida da sociedade, é mais ódio passageiro, mas de muitos momentos de ódios e invejas passageiras, se há alguma materialização está no consumo passageiro, vivemos no mundo da adição de seguidores, amigos ocasionais, há mais em quantidade em números e pouco em profundidade de conteúdo, as visões são superficiais, se o “amigo” não comentou positivamente o que o produtor inseriu deixa de ser “amigo”, é fácil, é só excluir o comentário e o “amigo”.
Também as redes sociais se mostram como espaços de exposição do privado. A mídia digital como tal privatiza a comunicação, ao deslocar a produção de informação do público para o privado. Roland Barthes define a esfera privada como “aquela esfera de espaço, de tempo onde eu não sou uma imagem, um objeto”. Visto desse modo, não teríamos mais hoje qualquer esfera privada, pois não há, agora, nenhuma esfera em que eu não seria uma imagem, em que não haveria nenhuma câmera. O Google Glass transforma os olhos humanos, eles mesmos, em uma câmera. Os olhos mesmos fazem imagens. Assim, nenhuma esfera privada é mais possível. A imperiosa coação icônico-pornográfica a desfaz inteiramente.
O respeito é o alicerce da esfera pública. Onde ele desaparece, ela desmorona. A decadência da esfera pública e a crescente ausência de respeito se condicionam reciprocamente. A esfera pública pressupõe, entre outras coisas, um não olhar para a vida privada. A tomada de distância é constitutiva para o espaço público. Hoje, em contrapartida, domina uma falta total de distância, na qual a intimidade é exposta publicamente e o privado se torna público. Pg.8
Tenho algumas ressalvas quanto a toda negatividade expressada por Byung, sabemos que nem tudo são flores, porem a internet permitiu haver integração entre as pessoas através das redes sociais, elas são facilitadoras de conexões sociais entre pessoas, são gigantes influenciadores de marketing em grupos ou organizações que compartilham dos mesmos valores ou interesses, interagindo entre si. São também formas de comunicação e expressão entre os grupos de amigos que temos, sejam eles da faculdade, do trabalho ou mesmo sua família. Cada um desses grupos é uma rede social que nós temos, e através deles podemos fazer parte de suas vidas quase como uma visitinha na porta da sua casa, é lógico que não há a troca do aperto de mão, do abraço, do beijo, mas pode haver a troca de palavras de afeto e carinho muito importantes em nossas vidas.
Fonte:
Han, Byung-Chul. No enxame : perspectivas do digital / Byung-Chul Han ; tradução de Lucas Machado. – Petrópolis, RJ : Vozes, 2018.