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segunda-feira, 15 de janeiro de 2024

Acaso dos Encontros


A vida, como uma xícara de café fumegante numa manhã é muito bem-vinda, é cheia de surpresas que nos esperam a cada esquina. E, veja bem, é nos momentos em que menos esperamos que o universo nos presenteia com seus caprichos mais encantadores. Falo aqui da dança sutil e muitas vezes imperceptível do "ao acaso dos encontros" que tornam nossos dias mais vibrantes e imprevisíveis. É claro que não suportamos o acaso, o imponderável, o imprevisível, mas muitas vezes nos surpreendemos positivamente o que nos causa imensa alegria, sem pensarmos bem vivemos muitos momentos de “acasos de encontros”, a lembrança de alguém e em seguida a sincronicidade nos pregando peças.

Quantas vezes já nos pegamos divagando sobre aquela pessoa que esbarramos na fila do mercado ou sobre a conversa rápida com um estranho no ponto de ônibus? Pois é, esses são os pequenos tesouros escondidos no labirinto do cotidiano. E, para tornar essa jornada ainda mais intrigante, mergulhamos no pensamento de um sábio contemporâneo, lembro imediatamente de Alan Watts, que via nesses encontros inesperados algo mais do que meras coincidências.

Então, porque não invadirmos o território do imprevisível? Onde cada esquina é uma página em branco esperando ser preenchida por encontros que podem mudar o curso da nossa história, é lá que a magia do desconhecido nos convida a dançar com o ritmo único e surpreendente da vida, é lá que o acaso dos encontros nos aguarda, só precisa estar com o coração aberto para dedicar pelo menos alguns minutos para ouvir o outro.

Ah, os encontros inesperados, esses momentos mágicos que parecem acontecer por puro capricho do destino. No emaranhado do cotidiano, muitas vezes, somos presenteados com experiências que não planejamos, mas que acabam por transformar a trajetória das nossas vidas. Quem diria que o acaso seria um condutor tão poderoso?

Em um dia qualquer, cruzamos com pessoas que nem imaginávamos encontrar. Seja no café da esquina ou na fila do supermercado, há algo de mágico nesses encontros. É como se o universo estivesse tecendo uma dança invisível, entrelaçando nossos caminhos de maneira sutil e sublime. Para entender melhor essa dança, recorremos às palavras de um sábio espiritualista contemporâneo, o pensador Alan Watts. Ele, em suas reflexões, enxergava esses momentos como parte de um intricado padrão cósmico. Watts acreditava que, ao nos entregarmos ao fluxo da vida, permitindo-nos ser conduzidos pelo acaso, estamos, na verdade, alinhando-nos com forças maiores que transcenderiam nossa compreensão.

A beleza desses encontros reside no seu caráter imprevisível. Não há roteiro, apenas uma sucessão de momentos que nos surpreendem. Pode ser aquele amigo que encontramos por acaso depois de anos, ou a conversa com um estranho que revela uma perspectiva nova e inspiradora. É como se o acaso fosse um mestre sábio, nos ensinando lições que não constavam em nenhum plano. Ao nos rendermos ao imprevisível, descobrimos um tesouro de oportunidades que não teríamos encontrado se estivéssemos rigidamente ancorados em nossas rotinas.

No olhar do pensador espiritualista, cada encontro é uma manifestação da energia cósmica que permeia o universo. Há uma crença na sincronicidade, onde eventos externos refletem nosso estado interno e vice-versa. Cada pessoa que cruza nosso caminho pode ser vista como um mensageiro, trazendo consigo lições que nossa alma precisa aprender. Aceitar o "ao acaso dos encontros" é, para esses pensadores, uma forma de conexão com algo maior do que nós mesmos. É como se cada coincidência fosse um toque divino, nos guiando na dança da existência.

Era um desses dias ensolarados em que o céu se abria como uma tela azul sobre a feira da praça pública. O burburinho animado, misturado aos aromas tentadores de comidas locais, criava uma atmosfera acolhedora e familiar. Enquanto explorava as barracas coloridas, pude vislumbrar um rosto familiar entre a multidão. Era meu amigo, aquele que há anos havia desaparecido, emergindo como um fantasma do passado.

O reencontro aconteceu de maneira casual, quase como se o destino tivesse decidido que aquele era o momento certo para nossos caminhos se cruzarem novamente. Abraços efusivos se seguiram, acompanhados pelo sorriso cúmplice que só velhos amigos compartilham. Em meio às barracas de artesanato local, sentamos em um banco próximo, e ele começou a desenrolar a trama da sua vida durante esses anos de ausência.

Contou-me sobre a perda recente de sua irmã, e seus olhos transmitiam uma mistura de dor e aceitação. A praça fervilhante ao nosso redor parecia desacelerar enquanto ele compartilhava as reviravoltas que a vida havia lhe apresentado. O ambiente se tornou um refúgio temporário, um cenário íntimo em meio à agitação da feira.

O "ao acaso dos encontros" mostrou-se presente mais uma vez. Se não fosse pela escolha casual de frequentar aquela feira naquele dia específico, nosso reencontro poderia ter permanecido uma possibilidade não realizada. Na praça movimentada, entre risadas e conversas de transeuntes, experimentamos a beleza de como a vida nos surpreende nos lugares mais simples e nos momentos menos planejados. E assim, naquela feira animada, entre barracas de cores vibrantes e o burburinho da multidão, o reencontro de um amigo se tornou um capítulo significativo na história que ambos estávamos escrevendo, reafirmando a importância dos encontros casuais e imprevisíveis na trama da vida.

No final das contas, a jornada pelo "ao acaso dos encontros" é uma dança com o desconhecido. É abraçar a incerteza e encontrar a magia nas surpresas diárias. Cada pessoa que conhecemos, cada situação que vivemos, é uma peça única nesse quebra-cabeça chamado vida. E enquanto dançamos ao acaso dos encontros, talvez possamos lembrar das palavras sábias de Watts e de outros pensadores espiritualistas: que a vida é uma experiência a ser vivida, não apenas controlada. E assim, continuamos dançando, ao acaso dos encontros, na trilha espiritual da vida.

 

quinta-feira, 16 de novembro de 2023

Encontros Autênticos

Na selva barulhenta das interações modernas, onde nossas vidas muitas vezes se desenrolam em ritmo frenético e conexões superficiais, Martin Buber emerge como um guia sábio para nos lembrar da beleza transformadora dos verdadeiros encontros. Esqueça as fórmulas acadêmicas e os jargões filosóficos, pois vamos desvendar o pensamento de Buber em uma conversa informal sobre o coração da sua filosofia - o intrigante "Eu-Tu".

Martin Mordechai Buber (1878 – 1965) foi um filósofo existencialista, teólogo, escritor e pedagogo, austríaco naturalizado israelense, tendo nascido no seio de uma família judaica ortodoxa de tendência sionista. Buber era poliglota, em casa aprendeu ídiche e alemão; na escola judaica, estudou hebraico, francês e polonês/polaco. 

Já se perguntou por que algumas conversas tocam nossa alma enquanto outras são esquecidas no momento seguinte? Buber nos oferece uma lente única através da qual podemos explorar essa questão. Sua distinção entre os mundos do "Eu-Tu" e "Eu-Isso" não é apenas uma abstração filosófica, mas uma bússola para navegar nas águas tumultuadas de nossas relações cotidianas. Em seu tratado seminal, "Eu e Tu", Buber nos convida a transcender a frieza do "Eu-Isso", onde vemos as pessoas como objetos a serem usados ou compreendidos, e a abraçar a autenticidade dos encontros "Eu-Tu". Aqui, a mágica acontece. Este não é um convite para um diálogo tedioso sobre teoria; é uma chamada para ação no palco vibrante das nossas interações diárias. Então, vamos dar uma espiada no mundo encantador e muitas vezes esquecido do "Eu-Tu" de Buber. Porque, afinal, em um mundo inundado de notificações e likes, talvez a verdadeira essência da vida resida na simplicidade transformadora de um autêntico "Tu". Parte superior do formulário

Parte inferior do formulário

Na vasta paisagem da filosofia do século XX, Martin Buber emerge como uma voz distinta, desafiando-nos a repensar a essência de nossos relacionamentos. Longe dos jargões acadêmicos e da rigidez das teorias, Buber nos convida a uma conversa informal sobre o coração de sua filosofia: o conceito de "Eu-Tu". Buber, um pensador judaico-austríaco, acreditava que a verdadeira riqueza da vida reside nos encontros autênticos, nos momentos em que nos conectamos genuinamente com os outros. Então, afinal o que é esse "Eu-Tu"?

Vamos então imaginar isso como um convite para transcender as limitações do "Eu-Isso", onde vemos o mundo e as pessoas como objetos a serem usados ou compreendidos. No reino do "Eu-Tu", somos convidados a encarar os outros não como coisas, mas como seres únicos e inefáveis, cada um com sua própria essência. Pode parecer filosoficamente poético demais, mas a verdade é que Buber nos convoca a escapar das interações superficiais e abraçar a autenticidade. Ele nos lembra de que "Toda vida real é encontro", uma máxima que ressoa em tempos de conexões digitais e relacionamentos virtuais.

E o que esses encontros significam? Buber argumenta que é através dessas experiências que nos tornamos "todo pessoa". Em um mundo onde somos frequentemente reduzidos a papéis e etiquetas, Buber nos encoraja a nos tornarmos plenamente humanos através da conexão significativa com os outros. A filosofia de Buber também se estende à esfera religiosa. Para ele, a religião não é apenas um conjunto de rituais e regras, mas uma experiência viva de diálogo entre o humano e o divino. Em vez de dogmas rígidos, ele propõe uma fé que brota do encontro pessoal com o transcendental.

Ele é conhecido por suas contribuições para a filosofia da religião e a filosofia do diálogo. Ele explorou temas como o relacionamento entre o eu e o outro, bem como a relação entre o humano e o divino. Aqui estão algumas declarações notáveis associadas a ele, resumindo:

Eu-Tu e Eu-Isso: Buber é talvez mais conhecido por sua distinção entre "Eu-Tu" (I-Thou) e "Eu-Isso" (I-It). Ele argumenta que o relacionamento "Eu-Tu" é um encontro direto, autêntico e significativo com outra pessoa ou entidade, enquanto o relacionamento "Eu-Isso" é uma abordagem objetiva, onde vemos o outro como um objeto a ser usado ou compreendido. Ele dividiu a relação em dois tipos, o primeiro representa o toma-lá-dá-cá entre iguais, enquanto o segundo é possessivo e manipulador, como entre pessoa e um objeto, sabemos que numa relação saudável precisamos principalmente de interações Eu-Tu, mas frequentemente cometemos o erro de tratar as outras pessoas como coisas, objetos, criando uma dinâmica Eu-Isso, é grosseiro, mas as vezes é assim.

"Toda vida real é encontro.": Buber enfatizava a importância dos encontros autênticos e significativos com os outros. Ele via esses encontros como centrais para uma vida verdadeiramente plena e rica.

"O homem se torna toda pessoa através de encontros.": Para Buber, a pessoa se desenvolve e se realiza por meio de relacionamentos e encontros genuínos com os outros. Essas interações são fundamentais para a formação da identidade e significado na vida.

Religião do Diálogo: Ele propôs uma abordagem religiosa baseada no diálogo entre o humano e o divino, em vez de uma abordagem baseada em regras e rituais. Ele destacou a importância de uma relação pessoal e viva com Deus.

"Tudo real é encontro.": Buber acreditava que a verdadeira realidade se manifesta nos encontros interpessoais, onde as pessoas se conectam e compartilham experiências genuínas. Estas são apenas algumas das ideias centrais de Martin Buber, e suas obras, como "Eu e Tu" (Ich und Du), são essenciais para uma compreensão mais profunda de sua filosofia.

Então, por que isso importa para nós que vivemos em um mundo acelerado, muitas vezes mais preocupados com nossos smartphones do que com as pessoas ao nosso redor? A resposta está na simplicidade transformadora de suas ideias. Buber nos desafia a desacelerar, a olhar além das máscaras que usamos e a realmente ver uns aos outros. Em um tempo onde as conexões superficiais se tornam a norma, suas palavras ecoam como um lembrete para buscarmos a profundidade, a autenticidade e o significado em nossas interações. Então, da próxima vez que você estiver imerso em uma conversa, lembre-se de Martin Buber e seu convite para o "Eu-Tu". Porque, afinal, é nos encontros autênticos que a magia da vida verdadeiramente acontece.

“Ficar liberto da crença de que não existe liberdade é, na verdade, ser livre.” Martin Buber

 

Fonte:

Buber, Martin, 1878 – 1965. Eu e tu / Martin Buber. Tradução do alemão, introdução e notas por Newton Aquiles Von Zuben. São Paulo: Centauro, 2001