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quinta-feira, 29 de dezembro de 2022

O bambu e a lua


Um jovem de 12 anos foi visitar o tempo com seu pai. Tudo era novidade. Enquanto seu pai conversava com o abade, ele se esgueirou para a sala de Buda. Lá estava um monge recitando em voz alta:

 

“A sombra do bambu

Varre os degraus da entrada

Sem perturbar a poeira.

 

A lua penetra o fundo do lago

Sem deixar qualquer marca na água.”

 

O jovem se alegrou. Tudo agora fazia sentido. A sombra não perturba, a lua não deixa marcas. “Essa é uma maneira de viver que eu gostaria de seguir.”

Quando o pai o encontrou, ele estava sentado em meditação, absorvido a observar a sombra do bambu varrendo o chão e a lua penetrando o fundo do lago.

No ano seguinte, seu pai faleceu e Mugaku Sogen (1226-1286) entrou para a vida monástica e se tornou um grande professor.

 

Tornar-se invisível. Fazer o bem sem o mencionar. Ter profundidade sem alardear. Ser capaz de reconhecer suas faltas e rapidamente cuidar para as reparar – esse é o caminho dos seres superiores.

Um poema simples e profundo inspirou o jovem Sogen a uma existência digna e suave. Maneira de homenagear a memória de seu pai.

Devemos ter cuidado para não envergonhar nossos ancestrais com nosso comportamento, palavras e pensamentos.

 

Fonte:

Coen, Monja. 108 Contos e parábolas orientais. Ed. São Paulo: Planeta 2015

sábado, 26 de fevereiro de 2022

Portal do Dragão

No oceano há um local chamado Portal do Dragão, onde imensas ondas surgem incessantemente. Sem falta, todos os peixes que por aí passam se tornam dragões, misteriosamente. Suas escamas não mudam e seus corpos parecem os mesmos, mas se tornam dragões. As imensas ondas não são diferentes das de outros locais e a água também é água salgada comum.

O caminho do Zen é assim. Quem entrar num local de prática — embora este não seja especial — se tornará um ser iluminado.

 

 

Apenas um verdadeiro dragão reconhece outro dragão. Pode parecer uma pessoa comum, sem nada de especial, mas, se atravessou o portal sem portas do Zen, se seguiu os ensinamentos e continua praticando incessantemente, algo fundamental mudou.

Surpreendi-me recentemente ao abrir um livro que encontrei casualmente no aeroporto. Estava embrulhado em papel transparente e o comprei porque era fino e não seria pesado para carregar durante a viagem.

Era realmente um livro leve e profundo, que iniciava contando a história de Buda como exemplo de que só será possível a sobrevivência humana no planeta Terra se houver a mudança de consciência que o Zen propõe. Concordo plenamente. Espero que o maior número de pessoas possa atravessar o Portal do Dragão, meditar e penetrar o samádi dos samádis, despertar e, assim, sair do ser ou não ser para penetrar o Interser.

Que todos os seres se tornem iluminados.

 

Fonte: Coen, Monja 1947- 108 contos e parábolas orientais / Monja Coen. - 1. ed. - São Paulo : Planeta, 2015.