O livro é um romance de ficção juvenil, escrito por J. D. Salinger, publicado pela primeira vez em 1951, narrado em primeira pessoa, tem tudo a ver com o amadurecimento de um jovem de 17 anos daquela época em que foi escrito quanto com um jovem da época atual, inicialmente escrito para o público adulto, no entanto o livro ficou muito conhecido, apreciado e popularizado entre os jovens, pois o conteúdo da história fala das desilusões, angustias, duvidas, alienação, e deslocamento com a realidade, também critica a superficialidade da sociedade em sua forma de viverem e educarem os filhos, sendo um dos romances mais revolucionários do século XX.
Sinopse:
É Natal, e Holden Caulfield conseguiu ser expulso de mais uma escola. Com uns trocados da venda de uma máquina de escrever e portando seu indefectível boné vermelho de caçador, o jovem traça um plano incerto: tomar um trem para Nova York e vagar por três dias pela grande cidade, adiando a volta à casa dos pais até que eles recebam a notícia da expulsão por alguém da escola. Seus dias e noites serão marcados por encontros confusos, e ocasionalmente comoventes, com estranhos, brigas com os tipos mais desprezíveis, encontros com ex-namoradas, visitas à sua irmã Phoebe -- a única criatura neste mundo que parece entendê-lo -- e por dúvidas que irão consumi-lo durante sua estadia, entre elas uma questão recorrente: afinal, para onde vão os patos do Central Park no inverno? Acima de todos esses fatos, preocupações e pensamentos, paira a inimitável voz de Holden, o adolescente raivoso e idealista que quer desbancar o mundo dos "fajutos", num turbilhão quase sem fim de ressentimento, humor, frases lapidares, insegurança, bravatas e rebelião juvenil.
Sobre o autor:
J. D. Salinger nasceu em 1919, em Nova York, nos Estados Unidos. É autor de O apanhador no campo de centeio (1951), Nove histórias (1953), Franny & Zooey (1961) e de Para cima com a viga, carpinteiros e Seymour - Uma introdução (1963). Sua última história foi publicada na revista New Yorker em 1965. Morreu em 2010 em Cornish, New Hampshire.
Holden Caulfield, nosso protagonista é um adolescente de 17 anos, mal-humorado e revoltado, não vê sentido em nada do que é obrigado a fazer e está sempre reclamando de tudo e de todos. Ele vem de uma família abastada de Nova York, estuda num internato para rapazes, volta mais cedo no inverno depois de levar bomba nas provas na maioria das matérias e ser expulso da escola ele faz suas malas e decide ficar o final de semana vagabundeando pela cidade, dar umas voltas pela cidade, gastar todo o dinheiro que ainda tinha, isto tudo antes de chegar a hora de ir para casa e ter que enfrentar os pais e levar aquele inevitável esporro, ele vai aos poucos refletindo sobre tudo e todos conforme sua visão de mundo, nesta sua breve fuga ao enfrentamento procura algumas pessoas importantes para ele, como um professor que ele admira, uma antiga namorada, e sua amada irmãzinha, tentando lhes explicar a confusão que passa em sua mente.
O título do livro vem de uma canção que em um dos versos fala sobre crianças correndo em um campo de centeio, nasceu de uma coincidência ao andar na rua e ouvir um guri cantarolando e numa conversa com sua irmã, Phoebe, ela pergunta o que ele gostaria de ser — já que ele não gosta de nada — e ele responde que gostaria de ser o apanhador no campo de centeio, aquele que apanha as crianças antes que elas corram em direção ao precipício.
O guri era o máximo. Tinha descido da calçada e vinha andando pela rua, juntinho ao meio-fio. Fazia de conta que estava andando bem em cima de uma linha reta, como todos os meninos fazem, e cantarolava o tempo todo. Cheguei perto para ver se escutava o quê que ele estava cantando. Era aquela música "Se alguém agarra alguém atravessando o campo de centeio". A vozinha dele até que era afinada. Estava cantando só por cantar, via-se logo. Os carros passavam por ele zunindo, os freios rangiam em volta, os pais não davam a mínima bola para ele, e o menino continuava a andar colado ao meio-fio, cantando - "Se alguém agarra alguém atravessando o campo de centeio". Isso me fez sentir melhor. Deixei de me sentir tão deprimido. Pg.202
- Você sabe o quê que eu quero ser? - perguntei a ela. - Sabe o que é que eu queria ser?
Se pudesse fazer a merda da escolha?
- O quê? Para de dizer nome feio.
- Você conhece aquela cantiga: "Se alguém agarra alguém atravessando o campo de centeio"? Eu queria...
- A cantiga é "Se alguém encontra alguém atravessando o campo de centeio"! – ela disse. - É dum poema do Robert Burns.
- Eu sei que é dum poema do Robert Burns.
Mas ela tinha razão. É mesmo "Se alguém encontra alguém atravessando o campo de centeio". Mas eu não sabia direito.
- Pensei que era "Se alguém agarra alguém" - falei. - Seja lá como for, fico imaginando uma porção de garotinhos brincando de alguma coisa num baita campo de centeio e tudo. Milhares de garotinhos, e ninguém por perto - quer dizer, ninguém grande - a não ser eu. E eu fico na beirada de um precipício maluco. Sabe o quê que eu tenho de fazer? Tenho que agarrar todo mundo que vai cair no abismo. Quer dizer, se um deles começar a correr sem olhar onde está indo, eu tenho que aparecer de algum canto e agarrar o garoto. Só isso que eu ia fazer o dia todo. Ia ser só o apanhador no campo de centeio e tudo. Sei que é maluquice, mas é a única coisa que eu queria fazer. Sei que é maluquice. Pg. 293
Inicialmente, a história quando lida por adultos pode parecer ser tudo o que lutam para os jovens não pensarem ou agirem, no entanto quando estes mesmos leitores adultos quando jovens, dificilmente algumas vezes não tenham questionado e até ficado revoltados pelas imposições que na época lhes pareciam não ter sentido, como por exemplo passar uma boa parte da vida enfiado atrás de uma mesa numa sala de aula, principalmente quando a escola não faz sentido, diante de um crescente acumulo de aprendizado e sendo a vida curta demais para isto, nesta repetição de estudos que toma boa parte do cotidiano de longos quase 20 anos de vida, ainda mais quando sabem que tudo está disponível para consulta aberta no google.
Uma coisa é ler o livro quando adulto e outra é ler o livro com 17 anos, lógico que cada um terá sua maneira de ver a história, as pessoas costumam romantizar o passado pensando no presente um tanto sombrio e sem brilho, os adultos precisam escarafunchar em suas memórias e lembrarem de seus sentimentos quando eram adolescentes, certamente se enxergarão pensando coisas muito parecidas, lembrarão da rotina e responsabilidades na adolescência pareciam ser fardos pesados e desestimulantes, principalmente se olhar para o futuro e no cotidiano de repetições, tudo contido numa rotina cansativa podem ser estressantes e inibidores de imaginação e criatividade, bastante confundido com o que chamamos de amadurecimento do emburrecimento, se pensarmos bem aqueles jovens que conseguem superar esse processo de formatação são as chamadas ovelhas negras, elas provavelmente no futuro apresentarão formas diferentes de pensar fora da gaiola e se tornarão empreendedores corajosos fazendo toda a diferença neste mundo padronizado, cheio de convenções, repleto de muita artificialidade, estamos tão acostumados que nos parece natural, sejam as roupas, as vitrines, os cortes de cabelo, tudo fazendo parte da produção no visual, estes são apenas alguns detalhes de artificialidades que os jovens relutavam em aceitar, embora que atualmente com sua imaginação sendo domesticada e treinada através dos influenciadores digitais estão aos poucos também achando isto tudo...normal.
“Esse é um troço que me deixa maluco. Estou sempre dizendo: ‘Muito prazer em conhecê-lo’ para alguém que não tenho nenhum prazer em conhecer. Mas a gente tem que fazer essas coisas para seguir vivendo”. O apanhador no campo de centeio
No parágrafo acima percebemos que Holden Caulfield é um jovem que não quer fazer nada por obrigação, ele não quer fazer as coisas como todo mundo faz, na maioria das vezes por pura convenção, a civilização tem muito disto, coisas de civilizados, ele acaba fazendo porque ele também não quer se sentir sozinho e isto é deprimente para qualquer um, principalmente pelos jovens que precisam estar enturmados e aceitos pelos “iguais”, ele gostaria muito de morar em lugar que não tivesse tantas pessoas chatas, inconvenientes e pessoas tão civilizadas pela artificialidade das convenções sociais. Ele parece ser tão implicante que chega a ser hilário:
Trechos do livro:
Não sei direito o nome da música que ele estava tocando quando entrei, mas só sei que ele estava esculhambando mesmo o troço pra valer. Dando uma porção de floreios imbecis nos agudos e outras palhaçadas que me aporrinham pra chuchu. Mas valia a pena ver os idiotas quando ele acabou. Era de vomitar. Entraram em órbita, igualzinho aos imbecis que riem como umas hienas, no cinema, das coisas sem graça. Pg. 153
O táxi que tomei era velho pra chuchu e cheirava como se alguém tivesse acabado de vomitar ali mesmo. Sempre que tomo um táxi de madrugada, tem que estar fedendo a vômito. E o pior é que a rua estava um bocado silenciosa e deserta, embora fosse uma noite de sábado. Não se via quase ninguém. Aqui e ali tinha um homem e uma mulher atravessando a rua, abraçados pela cintura e tudo, ou um grupo de imbecis com as namoradas, todos rindo como
umas hienas de qualquer coisa que, aposto, não tinha a menor graça. Nova York é terrível quando alguém ri de noite na rua; pode-se ouvir a gargalhada a quilômetros de distância. É o tipo do troço que faz a gente se sentir só e deprimido. Continuava com vontade de ir para casa e fazer um pouco de hora com a Phoebe. Pg. 147
“De qualquer maneira, até que achei bom eles terem inventado a bomba atômica. Se houver outra guerra, vou me sentar bem em cima da droga da bomba. E vou me apresentar como voluntário para fazer isso, juro por Deus que vou”. Pg. 233
Num trecho do livro, na pag. 291, remete bastante a ética de Kant, ao dilema de não sabermos qual a verdadeira intenção das pessoas que estão por trás de seus atos, Kant afirma que as ações têm valor moral quando agimos motivados pelo dever. Quando fazemos o que é certo porque isso é certo. O que é uma ação correta ou incorreta é definida pelas fórmulas do imperativo categórico. Nosso protagonista a seu modo expõe um dilema que habita nosso imaginário sempre que observamos as ações dos outros, na verdade os únicos que podem saber de fato o que move as ações em principio seria exclusivamente a pessoa que está agindo:
- Não tenho nada contra os advogados, mas o negócio não me atrai. Até que é bacana quando um advogado está sempre salvando a vida dos sujeitos inocentes e coisas assim, mas um cara que é advogado não faz nada disso. Só faz ganhar um dinheirão, e jogar golfe, e jogar bridge, e comprar carros, e beber martinis, e fazer pinta de bacana. Mesmo se a gente salvasse as vidas dos sujeitos e tudo, como é que ia saber se estava fazendo o troço porque queria mesmo salvar a vida deles, ou porque queria era ser um advogado bom pra burro, pra todo mundo bater nas costas da gente e dar parabéns no tribunal quando acaba a porcaria do julgamento, os repórteres e tudo, como aparece na droga dos filmes? Como é que eu ia saber se não era na verdade um cretino? O problema é que não ia saber.
A narrativa de nosso protagonista tem sua origem em acontecimentos quase banais, ocorridos com o adolescente igualzinho a maioria sem nada de extraordinário, a sacada genial do autor há 70 anos atrás foi uma luz pioneira focada nos anseios e dilemas da juventude, sua narrativa acurada se transformou numa das melhores obras que mapeou as encruzilhadas que os jovens se deparam, através desta obra tenho certeza que os jovens começaram a ser vistos com outros olhos e passaram a ter direito a voz vistas de seus próprios mundos, alterando o comportamento de muitos jovens.
Este livro traz uma história que envolve os adolescentes, é quase um estudo feito no interior do mundo dos jovens sendo expostas, ideias, conceitos e tropeços de maneira natural, sem ser dramático, mas sendo dramático pela confusão dentro da mente de nosso protagonista, sendo até muitas vezes hilário na maneira que crítica algumas convenções.
De fato, a obra é indispensável para leitura de jovens e adultos, o dialogo dele com sua própria mente e as pessoas que ele julga serem importantes são sua demonstração de descortinar os anseios e dilemas da maioria dos jovens, a leitura proporciona uma reflexão que desde 1951 vem transformando a forma dos jovens se auto analisarem e dos adultos se verem refletidos com os mesmo anseios e dilemas no passado, provavelmente possa fazer com que alguns pais sejam menos dramáticos quando estiverem orientando seus filhos ou jovens vivenciando seus problemas do cotidiano.
Fonte:
Salinger. J. D. O apanhador no campo de centeio. Editora Do autor. 16.Edição