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quarta-feira, 27 de maio de 2015

FALANDO DA SOCIOLOGIA BRASILEIRA



Florestan Fernandes foi instaurador da sociologia brasileira e pesquisador da sociologia no Brasil e América Latina, com coragem trouxe a baila o mito da democracia racial no Brasil, autor de mais 50 obras publicadas e diversos artigos, autor de um novo estilo de pensamento, crítico e realista.

 

 "Afirmo que iniciei a minha aprendizagem sociológica aos seis anos, quando precisei ganhar a vida como se fosse um adulto e penetrei, pelas vias da experiência concreta, no conhecimento do que é a convivência humana e a sociedade" por Florestan
Falar de Florestan é prazeroso e imprescindível quando se trata de olhar o Brasil criticamente para além do senso comum. Com fibra enfrentou adversidades desde a infância, a começar pela afirmação de sua identidade quando foi alvo de preconceito, como era de família pobre, foi vitima da patroa de sua mãe (empregada doméstica) que o chamava de Vicente, por considerar que Florestan não era nome de pobre. Obrigou-se a trabalhar desde os 6 anos de idade, impedindo-o de concluir o curso primário no tempo certo, mesmo assim com persistência conseguiu aos 18 anos ingressar na Faculdade  de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo, em 1947 formando-se em ciências sociais e Doutorou-se em 1951, com 31 anos de idade, entre seus alunos mais renomados encontramos nosso ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e Octavio Ianni autor de “O Príncipe Eletrônico”, Florestan Fernandes morreu em São Paulo no dia 10 de agosto de 1995 de problemas em uma diálise devido à falha humana.
Florestan é inspiração por seu exemplo de superação, das dificuldades tirou aprendizado percebendo que o ensino público necessitava de apoio, assim ele situa sua atuação na Campanha de Defesa da Escola Pública, em prol do ensino público, laico e gratuito.
Extremamente critico, defendia a idéia de uma sociologia que não fosse norteada por esquemas teóricos, voltou-se para questão do racismo, lançando sérias duvidas sobre o mito da democracia racial e, deu alento a estudo da democracia de forma mais ampla, sendo um tema constante entre seus objetivos, denunciando de forma arrojada que não temos uma sociedade plenamente democrática devido a não haver na época em que pesquisava uma organização autônoma das classes populares. Através de sua critica e pensamento original estabeleceu-se no Brasil a Sociologia com seu rigor metodológico e a pesquisa empírica, introduzindo no Brasil os três clássicos da sociologia, Karl Marx, Max Weber e Émile Durkheim.
Com base no pensamento de Florestan, podemos discutir com propriedade os problemas gerados pela importação de pedagogias estrangeiras, alienígenas a escola e a história brasileira, hoje sabemos que não da certo importar filosofias estranhas aos problemas brasileiros, outra coisa é saber o que se passa fora do pais, tal como seus problemas e soluções que eles encontraram, é importante ter conhecimento, mas a importação pura e simples das soluções estrangeiras já se viu no passado que é um desastre, é necessário refletir e analisar o que ocorre fora do pais, ao contrário a pura importação poderá gerar outros problemas além daqueles que existiram e ainda existem.
Florestan discutiu a ordem do processo da educação, sua visão do ensino é inversa aos regimes autoritários, como afirma Florestan que floresça de baixo para cima (da sala de aula para a escola e desta para a sociedade e para terríveis “autoridades do ensino”), e de dentro para fora (da sala de aula e da escola para a comunidade e para a sociedade civil como um todo).
Construir a consciência do direito de escolha,  como opção e não apenas possibilidade, direito que não pode ser vendido ou alienado, consciência de que a continuidade da dominação não permitirá que hajam mudanças, na sala de aula encontra-se a revolução para uma verdadeira democracia, as atitudes contrarias a compra de votos que se faz rotina nas eleições, pelos donos do poder, perpetuam o regime colonialista de mando moldando a democracia conforme os interesses das elites dos senhores dos escravos.
O mito é uma forma de embuste que esconde a realidade, um retardador as reformas sociais, a realidade brasileira é a fotografia das desigualdades extremas, o mito é “um meio de evasão dos estratos dominantes de uma classe social diante de obrigações e responsabilidades intransferíveis e inarredáveis”, havia e ainda há um complexo de privilégios, padrões de comportamento e”valores” de uma ordem social arcaica, em proveito dos estratos dominantes da “raça branca” ou dos “donos do poder econômico”, faces que vislumbramos em atitudes como por exemplo a separação do elevador para o morador do elevador da empregada domestica, a separação da empregada durante as refeições, a separação do patrão e empregado quando estão no refeitório fazendo refeições, a separação explicita entre o pobre e o rico. Tais atitudes não passam de cinismo e hipocrisia, oriundos de comportamento ainda enraizados na forma egoísta de ver o outro como escravo, neste mundo em que vivemos o negro ainda é o que mais sofre, a eles são reservados os trabalhos mais simples e mal remunerados, embora tenham ganho maiores condições materiais e intelectuais, a nossa sociedade ainda é muito cruel, e ainda há um,a ideologia racial mascarada de igualdade racial, estas são questões imprescindíveis para discussão em sala de aula.
Pensar como Florestan é pensar sob o ponto de vista dos excluídos, ele sofreu na carne a crueldade que sofreu ainda quando criança, os algozes sequer tiveram compaixão da criança que estava diante deles, no entanto com sua forte personalidade conseguiu formar-se tornando-se professor, em sua didática aproveitava todo minuto disponível para ler, como trabalhava para sobreviver não lhe sobrava tempo para ler nem lazer, que sirva de incentivo aqueles alunos que também passam por dificuldades semelhantes, que sirva de inspiração e reconhecimento aqueles estudantes mais abonados que não tem este tipo de preocupação, que aproveitem o tempo da melhor maneira, sem perder tempo com atividades em detrimento ao estudo, por simples indolência ou preguiça.Fazer exercício para descobrir quem são na atualidade os senhores e os escravos, quem são os donos do poder, que tipo de poder exerce tamanha influencia no retardamento da revolução social que irá dissolver as desigualdades sociais.
Outra questão é se os intelectuais poderiam contribuir para solução dos problemas sociais? Eis uma questão muito trabalhada por Florestan, ele extraiu os intelectuais de seu status de isolamento vivendo só para si mesmos. Florestan apontou para os intelectuais a responsabilidade de utilizar sua inteligência para o bem comum, muitos intelectuais foram positivos e participaram da campanha em defesa da escola publica, combateram o controle da educação em manter a população culturalmente alienada e afastada das decisões publicas. Foram apontados por Florestan o sucateamento da escola, com péssimas condições de trabalho e estudo, fazia parte das tentativas de sufocar a democratização da sociedade por meio da restrição ao acesso a cultura e a pesquisa.
Discutir a questão do socialismo é outra fonte para discussão em sala de aula, abordar os pontos de vista que Florestan defendia, apontava que a Revolução Burguesa se apresenta, como uma revolução que revela com toda a intensidade de contradições do desenvolvimento capitalista.
Ainda hoje a escola discute pontos que Florestan também se preocupou em criticar, a prática em sala de aula, com ênfase em três pontos: a concepção do professor como mero transmissor do saber, que, para ele, fragilizava o profissional da educação; a ideia de que o aluno é apenas receptor do conhecimento, quando o aprendizado deveria ser construído conjuntamente na escola; e o ensino discriminatório, que trata o aluno pobre como cidadão de segunda classe, escola particular para a classe pobre, nem pensar!.. "Para Florestan Fernandes, a educação transformadora se faz com uma escola capaz de se desfazer, por si mesma, do autoritarismo, da hierarquização e das práticas de servidão",

terça-feira, 26 de maio de 2015

OBRIGAÇÃO OU DIREITO? CIDADANIA E IDENTIDADE




Existem questões que por obrigatoriedade, gostando ou não estamos obrigados a fazer e respeitar, não o fazendo há sanções previstas em lei, como pagamento de multa ou punição, como por exemplo: No Brasil votar é obrigatório desde 1934, decidido assim porque havia receio de haver votação diminuta e com isto tirasse a legitimidade do processo, desde lá embarcamos nessa, a multa para quem não votou é de R$3,50, tal valor é irrisório, a sanção que surte efeito é a impossibilidade de inscrever-se em concurso ou prova para cargo ou função pública, investir-se ou empossar-se neles; receber vencimentos, remuneração, salário ou proventos de função ou emprego público, autárquico ou paraestatal, bem como de fundações governamentais, empresas, institutos e sociedades de qualquer natureza, mantidas ou subvencionadas pelo governo ou que exerçam serviço público delegado, correspondentes ao segundo mês subsequente ao da eleição, entre outras sanções. Entendo que votar é antes de tudo um direito e ao fazer estou exercendo meu direito praticando um ato de liberdade por vontade própria no ponto de vista de cidadão engajado em escolher representante que tenha apresentado as melhores propostas de governo e um futuro melhor para todos.

Dentre outra obrigação está o serviço militar para homens, é obrigatório e que é divulgado pelo Ministério da Defesa em seu portal é que o Serviço Militar Obrigatório surgiu no século XVI, quando o Brasil ainda era estruturado em capitanias hereditárias, penso que isto não mudará tão cedo, se perguntar para algum jovem se prestou o serviço militar, ele simplesmente diz que “consegui me livrar”, o mais estranho é que ao serem perguntados sobre o porque de temerem tanto a convocação, os jovens não sabem responder direito. Acredito que o serviço militar seja importante para transmitir ao jovem alguns valores que se perderam com o tempo, também acredito que seria melhor e mais produtivo se o serviço militar fosse voluntário, assim as pessoas que de fato querem e tem vocação poderiam permanecer, evitando o entra e sai, não havendo necessidade de obrigar aqueles que não tem interesse, nem de gastar dinheiro público no treinamento dos que não seguirão carreira.

Dentro das obrigações há o pagamento de impostos, o que deveria se transformar em benefícios para a população não é bem assim, não vemos retorno na mesma proporção em que é arrecadado, há corrupção e desvio de dinheiro publico, estes são elementos que nos frustram, como resistir? Talvez, desobediência civil, revolta através de movimentos populares nas ruas no combate a corrupção, reformas políticas, lutar contra esta praga que assolou o território brasileiro, a impressão que tenho é que já esta no DNA brasileiro, sei que não dá para generalizar.
 ... cidadania na sociedade brasileira contemporênea: conflitos e certezas
A obrigatoriedade de estudar é apenas para o ensino fundamental, com nove anos de estudo, neste caso estudar deveria ser prazer, no entanto para muitos é visto como problema e com desprazer, entendo que uma decisão tomada livremente é continuar os estudos após o ensino fundamental, porem ainda é discutível esta liberdade, o mercado de trabalho impõe exigências na formação educacional como no  mínimo o ensino medio concluído, se quer um emprego um pouco melhor há exigência de ensino superior ou técnico para determinadas funções, e assim por diante para melhorar mais um pouco o estudo é constante, como especializações e pesquisa. A liberdade neste caso é duvidosa, para melhorar o status de vida é necessário dedicação na formação profissional, assim para crescer profissionalmente só há uma opção é estudar e consequentemente trabalhar, gostem ou não, em meu caso eu gosto muito e estou nesta vida até hoje.

Brasileiro não gosta de planejar, pois infelizmente, planejar não é algo que estamos acostumados a fazer no Brasil. Um bom exemplo, foi o resultado da nossa seleção na última copa do mundo, nas obras inacabadas, que até hoje, um ano após a copa estamos executando as “tais obras para a copa”. Culturalmente o brasileiro desde pequeno é treinado a acostumar-se com a Média, ou seja, a gurizada não é incentivada a ser o melhor em nada no Brasil, mas quase obrigado a ser mediano em tudo. Tire uma nota 7 e tudo bem! Em alguns casos vale nota 6. O importante é “passar”, não necessariamente aprender. Com a competitividade somos obrigados a sermos mais aplicados, porem as turmas que estão se formando e ingressando no mercado de trabalho é um horror, sequer sabem regra de três, preguiça para matemática, português é péssimo, saem da escola aptos somente para o “internetês”que é uma linguagem alienígena, nossa cultura esta sendo dilapidada, se a história é transmitida pela língua, estou preocupado.

A identidade brasileira é decorrente de um longo processo de construção histórica, iniciando com a independência do Brasil e a primeira constituição brasileira para além de um processo cultural, era também um processo político, foi a partir do espírito de libertação que iniciou-se o processo de coesão social permitindo que o estado existisse e assim administrasse o território, este foi o um primeiro passo na construção da identidade, um fator muito importante neste processo foi de a língua portuguesa ser comum a todo o território, apesar de suas particularidades regionais. A língua seria então um elemento no conjunto de elementos culturais comuns que são constitutivos da cultura nacional. Nossa língua é um elo importante, é preciso resistir a tendência que há no descaso da fala (mal falada e pronunciada) e da escrita.

Nossa identidade e contada na literatura, na musica, na culinária, no samba, no carnaval, no futebol, nos diferentes gostos e modos regionais, na mistura de imigrantes, índios, negros e brancos, tudo isto encontram-se nas raízes da sociedade brasileira.