Florestan Fernandes foi instaurador
da sociologia brasileira e pesquisador da sociologia no Brasil e América Latina,
com coragem trouxe a baila o mito da democracia racial no Brasil, autor de mais
50 obras publicadas e diversos artigos, autor de um novo estilo de pensamento,
crítico e realista.
"Afirmo que iniciei
a minha aprendizagem sociológica aos seis anos, quando precisei ganhar a vida
como se fosse um adulto e penetrei, pelas vias da experiência concreta, no
conhecimento do que é a convivência humana e a sociedade" por Florestan
Falar de Florestan é prazeroso e
imprescindível quando se trata de olhar o Brasil criticamente para além do
senso comum. Com fibra enfrentou adversidades desde a infância, a começar pela
afirmação de sua identidade quando foi alvo de preconceito, como era de família
pobre, foi vitima da patroa de sua mãe (empregada doméstica) que o chamava de
Vicente, por considerar que Florestan não era nome de pobre. Obrigou-se a
trabalhar desde os 6 anos de idade, impedindo-o de concluir o curso primário no
tempo certo, mesmo assim com persistência conseguiu aos 18 anos ingressar na
Faculdade de Filosofia, Ciências e
Letras da Universidade de São Paulo, em 1947 formando-se em ciências sociais e
Doutorou-se em 1951, com 31 anos de idade, entre seus alunos mais renomados encontramos
nosso ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e Octavio Ianni autor de “O
Príncipe Eletrônico”, Florestan Fernandes morreu em São Paulo no dia 10 de
agosto de 1995 de problemas em uma diálise devido à falha
humana.
Florestan é inspiração por seu
exemplo de superação, das dificuldades tirou aprendizado percebendo que o
ensino público necessitava de apoio, assim ele situa sua atuação
na Campanha de Defesa da Escola Pública, em prol do ensino público, laico e
gratuito.
Extremamente critico, defendia a
idéia de uma sociologia que não fosse norteada por esquemas teóricos, voltou-se
para questão do racismo, lançando sérias duvidas sobre o mito da democracia
racial e, deu alento a estudo da democracia de forma mais ampla, sendo um tema
constante entre seus objetivos, denunciando de forma arrojada que não temos uma
sociedade plenamente democrática devido a não haver na época em que pesquisava
uma organização autônoma das classes populares. Através de sua critica e
pensamento original estabeleceu-se no Brasil a Sociologia com seu rigor
metodológico e a pesquisa empírica, introduzindo no Brasil os três clássicos da
sociologia, Karl Marx, Max Weber e Émile Durkheim.
Com base no pensamento de
Florestan, podemos discutir com propriedade os problemas gerados pela
importação de pedagogias estrangeiras, alienígenas a escola e a história
brasileira, hoje sabemos que não da certo importar filosofias estranhas aos
problemas brasileiros, outra coisa é saber o que se passa fora do pais, tal
como seus problemas e soluções que eles encontraram, é importante ter
conhecimento, mas a importação pura e simples das soluções estrangeiras já se
viu no passado que é um desastre, é necessário refletir e analisar o que ocorre
fora do pais, ao contrário a pura importação poderá gerar outros problemas além
daqueles que existiram e ainda existem.
Florestan discutiu a ordem do
processo da educação, sua visão do ensino é inversa aos regimes autoritários,
como afirma Florestan que floresça de baixo para cima (da sala
de aula para a escola e desta para a sociedade e para terríveis “autoridades do
ensino”), e de dentro para fora (da sala de aula e da escola para a
comunidade e para a sociedade civil como um todo).
Construir a consciência do
direito de escolha, como opção e não
apenas possibilidade, direito que não pode ser vendido ou alienado, consciência
de que a continuidade da dominação não permitirá que hajam mudanças, na sala de
aula encontra-se a revolução para uma verdadeira democracia, as atitudes
contrarias a compra de votos que se faz rotina nas eleições, pelos donos do
poder, perpetuam o regime colonialista de mando moldando a democracia conforme
os interesses das elites dos senhores dos escravos.
O mito é uma forma de
embuste que esconde a realidade, um retardador as reformas sociais, a realidade
brasileira é a fotografia das desigualdades extremas, o mito é “um meio de
evasão dos estratos dominantes de uma classe social diante de obrigações e
responsabilidades intransferíveis e inarredáveis”, havia e ainda há um complexo
de privilégios, padrões de comportamento e”valores” de uma ordem social
arcaica, em proveito dos estratos dominantes da “raça branca” ou dos “donos do
poder econômico”, faces que vislumbramos em atitudes como por exemplo a
separação do elevador para o morador do elevador da empregada domestica, a
separação da empregada durante as refeições, a separação do patrão e empregado
quando estão no refeitório fazendo refeições, a separação explicita entre o
pobre e o rico. Tais atitudes não passam de cinismo e hipocrisia, oriundos de
comportamento ainda enraizados na forma egoísta de ver o outro como escravo,
neste mundo em que vivemos o negro ainda é o que mais sofre, a eles são
reservados os trabalhos mais simples e mal remunerados, embora tenham ganho
maiores condições materiais e intelectuais, a nossa sociedade ainda é muito
cruel, e ainda há um,a ideologia racial mascarada de igualdade racial, estas
são questões imprescindíveis para discussão em sala de aula.
Pensar como Florestan é
pensar sob o ponto de vista dos excluídos, ele sofreu na carne a crueldade que
sofreu ainda quando criança, os algozes sequer tiveram compaixão da criança que
estava diante deles, no entanto com sua forte personalidade conseguiu formar-se
tornando-se professor, em sua didática aproveitava todo minuto disponível para
ler, como trabalhava para sobreviver não lhe sobrava tempo para ler nem lazer,
que sirva de incentivo aqueles alunos que também passam por dificuldades
semelhantes, que sirva de inspiração e reconhecimento aqueles estudantes mais
abonados que não tem este tipo de preocupação, que aproveitem o tempo da melhor
maneira, sem perder tempo com atividades em detrimento ao estudo, por simples
indolência ou preguiça.Fazer exercício para descobrir quem são na atualidade os
senhores e os escravos, quem são os donos do poder, que tipo de poder exerce
tamanha influencia no retardamento da revolução social que irá dissolver as
desigualdades sociais.
Outra questão é se os
intelectuais poderiam contribuir para solução dos problemas sociais? Eis uma
questão muito trabalhada por Florestan, ele extraiu os intelectuais de seu
status de isolamento vivendo só para si mesmos. Florestan apontou para os
intelectuais a responsabilidade de utilizar sua inteligência para o bem comum,
muitos intelectuais foram positivos e participaram da campanha em defesa da
escola publica, combateram o controle da educação em manter a população
culturalmente alienada e afastada das decisões publicas. Foram apontados por
Florestan o sucateamento da escola, com péssimas condições de trabalho e
estudo, fazia parte das tentativas de sufocar a democratização da sociedade por
meio da restrição ao acesso a cultura e a pesquisa.
Discutir a questão do
socialismo é outra fonte para discussão em sala de aula, abordar os pontos de
vista que Florestan defendia, apontava que a Revolução Burguesa se apresenta,
como uma revolução que revela com toda a intensidade de contradições do
desenvolvimento capitalista.
Ainda hoje a escola discute
pontos que Florestan também se preocupou em criticar, a prática em sala de
aula, com ênfase em três pontos: a concepção do professor como mero transmissor
do saber, que, para ele, fragilizava o profissional da educação; a ideia de que
o aluno é apenas receptor do conhecimento, quando o aprendizado deveria ser
construído conjuntamente na escola; e o ensino discriminatório, que trata o
aluno pobre como cidadão de segunda classe, escola particular para a classe
pobre, nem pensar!.. "Para Florestan Fernandes, a educação transformadora
se faz com uma escola capaz de se desfazer, por si mesma, do autoritarismo, da
hierarquização e das práticas de servidão",