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segunda-feira, 19 de setembro de 2022

Resenha do livro “Cem Anos de Solidão” do escritor Gabriel García Marquez

 


Em Cem anos de solidão, um dos maiores clássicos da literatura, o prestigiado autor Colombiano Gabriel Garcia Marquez narra neste que é uma de suas maiores obras, a incrível e triste história dos Buendía - a estirpe de solitários para a qual não será dada “uma segunda oportunidade sobre a terra” e apresenta o maravilhoso universo da fictícia cidade de Macondo, onde se passa o romance. É lá que acompanhamos diversas gerações dessa família, assim como a ascensão e a queda do vilarejo. Para além dos artifícios técnicos e das influências literárias que transbordam do livro, ainda vemos em suas páginas o que por muitos é considerado uma autêntica enciclopédia do imaginário, num estilo que consagrou o colombiano como um dos maiores autores do século XX.

Em nenhum outro livro Gabriel García Márquez empenhou-se tanto para alcançar o tom com que sua avó materna lhe contava os episódios mais fantásticos sem alterar um só traço do rosto. Assim, ao mesmo tempo em que a incrível e triste história dos Buendía pode ser entendida como uma autêntica enciclopédia do imaginário, ela é narrada de modo a parecer que tudo faz parte da mais banal das realidades.

Gabo, apelido de Gabriel García Márquez, costumava dizer que todo grande escritor está sempre escrevendo o mesmo livro. “E qual seria o seu?”, perguntaram-lhe. “O livro da solidão”, foi a resposta. Apesar disso, ele não considerava Cem anos sua melhor obra (gostava demais de O outono do patriarca). O que importa? O certo é que nenhum outro romance resume tão completamente o formidável talento deste contador de histórias de solitários - que se espalham e se espalharão por muito mais de cem anos pelas Macondos de todo o mundo.

Cem anos de solidão é uma obra grandiosa e atemporal, sobre a qual é possível construir diversos paralelos com a nossa própria existência.

Esta obra foi publicada em 1967, é considerada uma das novelas mais importantes do século XX, tendo lhe sido concedido o Prêmio Nobel de Literatura em 1982, em sua perfeita estrutura circular, a novela tem um mundo próprio, recriando a mítica do mundo real da América Latina em seu estilo de “realismo mágico e fantástico”, devido ao encontro do real com motivos e elementos mágicos e fantásticos.

José Arcadio Buendía e Úrsula Iguarán são um casal de primos que se casam cheios de maus presságios e temores em função de seu parentesco muito próximo, e também do mito existente em sua região de que sua descendência poderia nascer com rabo de porco. Prudêncio Aguilar provoca José Arcadio Buendía, então este mata Prudêncio Aguilar, pelo fato de ter mencionando os boatos que circulavam na cidade, segundo os quais José Arcadio e Úrsula nunca haviam tido relações sexuais em um ano de casamento (devido ao medo do mito de Úrsula de que nascesse uma criança com rabo de porco).  Entretanto, Prudêncio Aguilar após sua morte segue aparecendo para José Arcadio como fantasma. Esse é o motivo leva José Arcadio Buendía e Úrsula a partirem. No meio do caminho, José Arcadio Buendía tem um sonho em que aparecem construções com paredes de espelhos e, perguntando seus nomes, respondem “Macondo”. Assim, ao despertar do sonho, ele decide parar a caravana, e abre uma clareira na mata e começa a povoar o local.

A cidade é fundada por diversas famílias lideradas por José Arcadio Buendía e Úrsula Iguarán, que por sua vez tiveram três filhos: José Arcadio, Aureliano e Amaranta (nomes que se repetirão nas próximas gerações, em princípio fica um pouco confusa a leitura que será necessário atenção a cada capitulo). José Arcadio Buendía, o fundador, é a pessoa que lidera e se informa com as novidades que os ciganos trazem à cidade (ele tem uma amizade especial com Melquíades, que morre em várias ocasiões e que será fundamental para o destino da família), terminando sua vida amarrado à árvore onde aparece o fantasma de seu antigo inimigo Prudêncio Aguillar, com quem conversa.

Úrsula é a matriarca da família, que vive durante mais de cem anos cuidando da família e do lar.

A cidade cresce pouco a pouco, com esse crescimento chegam habitantes do outro lado do pântano. Com eles vai se incrementando a atividade comercial e a construção em Macondo. Inexplicavelmente chega Rebeca, a quem os Buendía adotam como filha. Por desgraça, com ela também chega a epidemia de esquecimento, causada pela epidemia de insônia. A perda de memória obriga os habitantes a criarem um método para lembrar das coisas e José Arcadio Buendía começa a etiquetar todos os objetos para recordar seus nomes; entretanto, esse método começa a falhar quando as pessoas também se esquecem de ler. Um dia, Melquíades regressa da morte com uma bebida para restabelecer a memória que surte efeito imediatamente e, em agradecimento, é convidado a viver na casa. Nessa ocasião, Melquíades escreve uns pergaminhos que só poderiam ser decifrados cem anos depois.

Quando a guerra civil é deflagrada, a população toma parte ativa no conflito ao enviar um exército de resistência, dirigido pelo coronel Aureliano Buendía (segundo filho de José Arcadio Buendía), para lutar contra o regime conservador. Em Macondo, enquanto isso, Arcadio (neto do fundador e filho de Pilar Ternera e José Arcadio, o primeiro filho de José Arcadio Buendía) é designado por seu tio chefe civil e militar, e se transforma em um brutal ditador, sendo fuzilado quando o conservadorismo retoma o poder.

A guerra continua e o coronel Aureliano se salva de morrer em várias oportunidades, até que, cansado de lutar sem sentido, firma um acordo de paz que dura até o fim da novela.

Depois que o tratado é firmado, Aureliano se dispara um tiro no peito, mas sobrevive. Posteriormente, o coronel regressa à casa, se distancia da política e se dedica a fabricar peixinhos de ouro em sua oficina, ao terminar certa quantidade, voltava a fundir os peixinhos em ouro, começando do zero num ciclo interminável.

Aureliano Triste, um dos dezessete filhos do coronel Aureliano Buendía, instala uma fábrica de gelo em Macondo, deixa seu irmão Aureliano Centeno a frente do negócio e parte da cidade com a ideia de trazer o trem. Regressa em pouco tempo, cumprindo sua missão, que gera um grande desenvolvimento, já que com o trem, chegam também o telégrafo, o gramofone e o cinema. Então, a cidade se converte num centro de atividade na região, atraindo milhares de pessoas de diversos lugares. Alguns estrangeiros recém-chegados iniciam uma plantação de banana próximo a Macondo. A cidade prospera até o surgimento de uma greve na plantação bananeira; para acabar com ela, entra em ação o exército nacional e os trabalhadores que protestam são assassinados e lançados ao mar.

Depois do Massacre dos Trabalhadores da Banana, a cidade é assolada pelas chuvas que se prolongam por quatro anos, onze meses e dois dias. Úrsula diz que espera o fim das chuvas par finalmente morrer. Nasce Aureliano Babilonia, o último membro da linhagem Buendía (inicialmente chamado de Aureliano Buendía, até que mais a frente descobre pelos pergaminhos de Melquíades que seu sobrenome paterno é Babilonia). Quando param as chuvas, Úrsula morre e Macondo fica desolada.

A família se vê reduzida e em Macondo já não há lembranças dos Buendía; Aureliano se dedica a decifrar os pergaminhos de Melquíades, até que regressa de Bruxelas sua tia Amaranta Úrsula, com quem tem um romance. Amaranta Úrsula dele engravida e tem um filho que ao nascer descobre-se ter rabo de porco; ela morre de hemorragia após o parto. Aureliano Babilônia, desesperado, sai rumo à cidade batendo de porta em porta, mas Macondo agora é uma cidade abandonada e só encontra um homem que lhe oferece aguardente, e Aureliano adormece. Ao despertar, se lembra do filho recém-nascido e corre para vê-lo, mas quando chega, as formigas o estão comendo.

Aureliano lembra que isso estava previsto nos pergaminhos de Melquíades. Com ventos de furacão assolando Macondo e o lugar onde ele estava presente, termina de decifrar a história dos Buendía que estava ali escrita com antecipação, concluindo que, ao terminar sua leitura, finalizaria sua própria história e com ela, a história de Macondo, que seria arrasada pelo vento e apagada de qualquer memória humana…”porque as estirpes condenadas a cem anos de solidão não têm uma segunda oportunidade sobre a terra”.

 

“CHOVEU DURANTE QUATRO ANOS, onze meses e dois dias. Houve épocas de chuvisco em que todo mundo pôs a sua roupa de domingo e compôs uma cara de convalescente para festejar a estiagem, mas logo se acostumaram a interpretar as pausas como anúncios de recrudescimento. O céu desmoronou-se em tempestades de estrupício e o Norte mandava furacões que destelhavam as casas, derrubavam as paredes e arrancavam pela raíz os últimos talos das plantações”

 

O romance de Márquez explica a realidade não como ela é vivida por um único observador, mas como ela é vivida individualmente por aqueles com diferentes origens, nisto há múltiplas perspectivas que são especialmente adequadas à realidade ímpar da América Latina, aprisionadas no universo entre a modernidade e pré-industrialização; destruídos pela guerra civil e pelo imperialismo. O realismo mágico transmite uma realidade que incorpora a magia que o mito e a superstição religiosa infundem no mundo.

As vivencias de cada personagem deste belo romance nos possibilita pensar que entrecruzando história e mito, como uma criação e síntese do mundo, uma metáfora da condição humana revelada através dos membros da família Buendía, a solidão que pesa sobre tais membros transparece sua impotência as forças da natureza onde ninguém escapa ao seu destino inexorável, as forças existentes em seu interior são proporcionais ao papel que cada um desempenha na sua própria vida e na vida dos demais, o entrelaçamento dos destinos e seus respectivos papeis já estão escritos e se não fosse a história teriam desaparecido como pó assim como foram feitos.

Fontes:

Garcia Márquez, Gabriel, 1928- Cem anos de solidão. Tradução de Eliane Zagury, Ilustrações de Carybé. 67ª Ed. Rio de Janeiro: Record, 2008.

 

https://minhasatividades.com/cem-anos-de-solidao

segunda-feira, 22 de agosto de 2022

Retornar, o eterno retorno

Foto Porto Velho na Rua Riachuelo em Rio Grande/RS

 

Retornar faz parte de nossa vida, retornamos diariamente para nossa casa após um dia de trabalho, no dia seguinte a repetição, retornamos para início de mais um dia de trabalho, e assim é a vida de todos nós. Retornamos a nossa cidade natal para rememorar muito do que já foi vivido por lá e revivido a cada vez que lembramos de nossas passagens, relembramos de muita coisa arquivada em nossa memória emocional, a medida que o tempo vai passando a memória vai ficando mais fraca, lacunas vão aparecendo e vamos preenchendo os espaços com pensamentos novos.

 

Neste final de semana assim foi, retornei a passeio e a visitar meus parentes que vivem na cidade de Rio Grande, é pouco tempo para visitar todos, andar pela cidade é um de meus hábitos preferidos, andar por lugares onde deixei pegadas que ainda estão por lá somente em meu arquivo da memória emocional com suas lacunas ora preenchidas com novo olhar.

 

Percebe-se que no que se vê, pouca coisa mudou, assim é nosso olhar que utilizam as lentes para olhar com mais atenção os lugares que nos dizem alguma coisa a mais, tem coisas que é melhor não mudar, como os sorrisos e os acolhimentos que são imensos mesmo decorridas décadas, espero retornar e reencontrar aquelas pessoas que apreciam nossa companhia.

 

Temos nossos lugares preferidos, temos nossas pessoas preferidas, são como pontos de partida e serão sempre pontos de partida, retornar para fazer alguma coisa diferente, porém sem deixar desintegrar a memória afetiva que nos faz ir e vir até onde nossa mente e nossas pernas permitam.

 

A medida que vamos envelhecendo vamos dando importância a coisas que quando éramos jovens ainda não tínhamos condições psicológicas de enxergar, quando jovens éramos como automóveis velozes que andam muito rápido e perdem de vista muitas paisagens e oportunidades de conhecer pessoas, não que isto queira dizer haver dificuldade de relacionamento dos jovens, ao contrário, penso que o jovem tem muita facilidade de iniciar novos relacionamentos. Agora mais velhos parece que a vida passa muito rápido, então procuramos focar nas paisagens e nas pessoas com maior atenção, por isto mesmo penso que somos seres em constante aprendizado, correr quando podemos e andar quando ainda podemos andar, voltar ao início é retornar as origens, é um eterno retorno com coloridos e sons diferentes.

 

Nietzsche já nos falava a respeito do retorno, especificamente em suas palavras sobre o eterno retorno”, que seria como uma ferramenta para enfrentar o niilismo, ou seja, a negação da vida, considera que se espalha como uma sombra pelo corpo da humanidade, toma de assalto o homem e o leva à decadência. Podemos aprender bastante com suas reflexões, há pessoas que não aceitam o retorno as dores e sofrimentos, também penso que ninguém quer retornar a viver coisas desgradaveis, no entanto estão lá ainda povoando as lembranças, porem como filósofo disse, o eterno retorno é capaz de liberar as forças e diferenciar. Este é o papel do pensamento seletivo, acelerar a decadência nos permite ver quais forças devem se salvar e quais devem ser aniquiladas de nossos bancos de memória afetivos, aniquiladas as ilusões e utopias romantizadas pelo passar do tempo. 

O processo nietzschiano ocorre eternamente e a golpes de martelo, serão muitas tentativas que nós seres humanos faremos, dentre estas tentativas Nietzsche orienta a começar por abandonar as muletas metafísicas, a chamada morte dos ídolos. O filósofo se opunha aos dogmas da sociedade, principalmente ao defender que a verdade era uma ilusão, a busca constante pela verdade não tem fim, nem sempre o que é legal é justo, nem sempre o que parece certo ou verdadeiro é certo e verdadeiro, no máximo uma aproximação que abastece a ilusão, retornar ao inicio e as origens na tentativa de entender o mundo passado e o porvir, retornar é bom e pedagógico.

sexta-feira, 5 de agosto de 2022

Músicas Blue internacional antigas

Blues o maravilhoso tom negro que se enraizou

 

Como o Blue impressionou e impressiona por suas mensagens de protesto, amor e muito sentimento as gerações que se seguiram desde o horror da escravidão, em nossos dias temos diante de nós a realidade na musicalidade o extravasar de sentimentos que se renovam e contam as histórias do tempo.

 

Neste artigo de Liane Carvalho Oleques podemos vislumbrar e resgatar um pouco da história deste ritmo musical maravilhoso.

 

Por Liane Carvalho Oleques

Mestre em Artes Visuais (UDESC, 2010)

Graduada em Licenciatura em Desenho e Plástica (UFSM, 2008)

Ouça este artigo:

Ainda em meados do século XVII enquanto milhares de pessoas na África eram arrancadas de suas propriedades e obrigadas a cruzarem o Atlântico e trabalharem como escravas nas Américas, a música se tornou um canto de fuga afim de faze-las “escapar” daquela realidade. A realidade desses grupos humilhados e oprimidos eram os vastos campos de algodão do Sul dos Estados Unidos e as constantes chibatadas. Por meio dos Spirituals (cantos de lamentos) eles extravasavam seus sentimentos em raros momentos de prazer. As letras geralmente passavam uma mensagem de protesto contra aquela situação, além de entoar a saudade e as raízes de sua terra natal. Enquanto um vocal lançava um verso, um coro de outras vozes o seguiam repetindo aquele verso. Não raro, esses cantos eram acompanhados por instrumentos musicais de precursão rudimentares fabricados pelos próprios escravos. Episódios como estes podem ser observados em cenas do filme “Doze anos de escravidão” lançado em 2014 pelo diretor Steve McQueen.



Foto: optimarc / Shutterstock.com

Esses cantos abriram caminho para um estilo musical denominado Blues que pode ser definido como um estilo baseado no uso de notas baixas que mantem uma estrutura musical repetitiva, em geral com letras expressivas. W.C.Handly, considerado o pai do Blues, ao esperar um trem na cidade de Tutwiler, Mississipi ouviu o dedilhar de um homem negro num velho violão. Inspirado por aquelas notas, W.C.Handly compôs a canção “Memphis Blues”, o primeiro Blues registrado da história, datado de 1912. Anos mais tarde W.C.Handly registrou outro Blues “St. Louis Blues” que os dias atuais se desdobra em várias releituras.

Com o passar dos anos este estilo musical foi ganhando força e adentrando na cultura da elite norte americana. Um dos primeiros artistas a fazer sucesso foi Charley Patton na década de 1920. Outros nomes surgiram nas décadas seguintes como Son House, Willie Brown, Leroy Carr, Bo Carter, Muddy Waters e B.B. King. Os instrumentos musicais também acompanharam essa caminhada. À medida que iam se modernizando, permitiam que os artistas explorassem esse gênero musical de diferentes formas criando novas possibilidades.

Bandas como The Beatles, Rolling Stone e Led Zeppelin surgem manifestando forte influência do Blues. Artistas como Elvis Presley, também, tem sua origem enraizada neste estilo.

No final do século XX, o Blues tem uma recaída na cena musical, mas com o auxílio do guitarrista americano Stevie Ray Vaughan, o Blues ressurge com suas forças renovadas. Stevie começou a regravar grandes clássicos combinando elementos e criando sua própria marca.

No Brasil o Blues, também, possui certa popularidade influenciando artistas como Raul Seixas, Barão Vermelho e Velhas Virgens.

Juntamente com o Jazz, o Blues é considerado o pai do Rock, do Hip-Hop, da música latina entre outras. Entre a vasta lista de canções e artistas é possível citar: “Crossroad Blues” de Robert Johnson; “Manish Boy” de Muddy Waters; “Spoonful” de Howlin Wolf; “Baby please don’t go” de John Lee Hooker; “Keep it to yourself” de Sonny Boy Williamson; “Pearline” de Son House; “They Thrill is gone” de B.B.King; entre outros grandes clássicos de peso que fazem sucesso até os dias atuais.

Texto originalmente publicado em https://www.infoescola.com/musica/blues/

Arquivado em: Música