Pesquisar este blog

quinta-feira, 2 de julho de 2015

Sociologia Brasileira com Florestan Fernandes



Florestan Fernandes foi instaurador e pesquisador da sociologia brasileira, com coragem trouxe a baila o mito da democracia racial no Brasil, autor de mais 50 obras publicadas e artigos, autor de um novo estilo de pensamento.

 
"Afirmo que iniciei a minha aprendizagem sociológica aos seis anos, quando precisei ganhar a vida como se fosse um adulto e penetrei, pelas vias da experiência concreta, no conhecimento do que é a convivência humana e a sociedade" Florestan Fernandes.
Trabalhar as idéias de Florestan em sala de aula, torna-se prazeroso e imprescindível, a exemplar dedicação e fibra enfrentou adversidades desde a infância, a começar pela afirmação de sua identidade, foi alvo de preconceito, como era de família pobre, foi vitima da patroa de sua mãe que o chamava de Vicente, por considerar que Florestan não era nome de pobre, teve de trabalhar desde os 6 anos de idade, impedindo-o de cursar o curso primário no tempo certo, mesmo assim com força e persistência aos 18 anos ingressou na Faculdade  de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo em 1947, formando-se em ciências sociais e Doutorou-se em 1951, com 31 anos de idade, entre seus alunos mais renomados encontramos nosso ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e Octavio Ianni autor de “O Príncipe Eletrônico”, Florestan Fernandes morreu em São Paulo no dia 10 de agosto de 1995.

Falar no exemplo da vida de Florestan é inspiração a todos alunos que desejam e anseiam vencer na vida, ficou claro que as dificuldades nos tornam mais fortes e experientes, falar da vida de Florestan por si só é aula sobre um vencedor.
Extremamente critico, defendia a idéia de uma sociologia que não fosse norteada por esquemas teóricos, voltou-se para questão do racismo, lançando sérias duvidas sobre o mito da democracia racial e deu alento a estudo da democracia de forma mais ampla, sendo um tema constante entre seus objetivos, denunciando de forma arrojada que não temos uma sociedade plenamente democrática devido a não haver na época organização autônoma das classes populares. Através de sua critica e pensamento original estabeleceu-se no Brasil a Sociologia com seu o rigor metodológico e a pesquisa empírica, introduzindo no Brasil os três clássicos da sociologia, Karl Marx, Max Weber e Émile Durkheim.
Com base no pensamento de Florestan, em sala de aula poderão ser discutidos os problemas gerados pela importação de pedagogias estrangeiras, alienígenas a escola e a história brasileira, hoje sabemos que não da certo importar filosofias estranhas aos problemas brasileiros, outra coisa é saber o que se passa fora do pais, tal como seus problemas e soluções que eles encontraram, é importante ter conhecimento, mas a importação pura e simples das soluções estrangeiras já se viu no passado que é um desastre, é necessário refletir e analisar o que ocorre fora do pais, ao contrário poderá gerar outros problemas alem daqueles que já existem.
A provocação e participação dos alunos na discussão possibilitara o entendimento e servirá de alerta para os ardis e abismos que são criados, na filosofia de educação democrática, como afirma Florestan que floresça de baixo para cima (da sala de aula para a escola e desta para a sociedade e para as terríveis “autoridades do ensino”), e de dentro para fora (da sala de aula e da escola para a comunidade e para a sociedade civil como um todo).
Construir através do dialogo em sala de aula a consciência do direito de escolha, direito que não pode ser vendido ou alienado, consciência de que a continuidade da dominação não permitirá que hajam mudanças, na sala de aula encontra-se a revolução para uma verdadeira democracia, as atitudes contrarias a compra de votos que se faz rotina nas eleições, pelos donos do poder, perpetuam o regime colonialista de mando moldando a democracia conforme os interesses das elites dos senhores dos escravos.
Trabalhar em sala de aula a representação do mito, uma forma de embuste construído para esconder a realidade, um retardador as reformas sociais, especificamente a realidade brasileira sofre com as desigualdades tão extremas, o mito é “um meio de evasão dos estratos dominantes de uma classe social diante de obrigações e responsabilidades intransferíveis e inarredáveis”, havia e ainda há um complexo de privilégios, padrões de comportamento e”valores” de uma ordem social arcaica, em proveito dos estratos dominantes da “raça branca” ou dos “donos do poder econômico”, faces que vislumbramos em atitudes como por exemplo a separação do elevador para o morador do elevador da empregada domestica, a separação da empregada durante as refeições, a separação explicita entre o pobre e o rico. Tais atitudes não passam de cinismo e hipocrisia, oriundos de comportamento ainda enraizados na forma egoísta de ver o outro como escravo, neste mundo em que vivemos o negro ainda é o que mais sofre, a eles são reservados os trabalhos mais simples e mal remunerados, embora tenham ganho maiores condições materiais e intelectuais, a nossa sociedade ainda é muito cruel, e ainda há um,a ideologia racial mascarada de igualdade racial, estas são questões imprescindíveis para discussão em sala de aula.
Pensar como Florestan é pensar sob o ponto de vista dos excluídos, ele sofreu na carne a crueldade que sofreu ainda quando criança, os algozes sequer tiveram compaixão da criança que estava diante deles, no entanto com sua forte personalidade conseguiu formar-se tornando-se professor, em sua didática aproveitava todo minuto disponível para ler, como trabalhava para sobreviver não lhe sobrava tempo para ler nem lazer, que sirva de incentivo aqueles alunos que também passam por dificuldades semelhantes, que sirva de inspiração e reconhecimento aqueles estudantes mais abonados que não tem este tipo de preocupação, que aproveitem o tempo da melhor maneira, sem perder tempo com atividades em detrimento ao estudo, por simples indolência ou preguiça.Fazer exercício para descobrir quem são na atualidade os senhores e os escravos, quem são os donos do poder, que tipo de poder exerce tamanha influencia no retardamento da revolução social que irá dissolver as desigualdades sociais.
Outra questão é se os intelectuais poderiam contribuir para solução dos problemas sociais? Eis uma questão muito trabalhada por Florestan, ele extraiu os intelectuais de seu status de isolamento vivendo só para si mesmos. Florestan apontou para os intelectuais a responsabilidade de utilizar sua inteligência para o bem comum, muitos intelectuais foram positivos e participaram da campanha em defesa da escola publica, combateram o controle da educação em manter a população culturalmente alienada e afastada das decisões publicas. Foram apontados por Florestan o sucateamento da escola, com péssimas condições de trabalho e estudo, fazia parte das tentativas de sufocar a democratização da sociedade por meio da restrição ao acesso a cultura e a pesquisa.
Discutir a questão do socialismo é outra fonte para discussão em sala de aula, abordar os pontos de vista que Florestan defendia, apontava que a Revolução Burguesa se apresenta, como uma revolução que revela com toda a intensidade de contradições do desenvolvimento capitalista.
Ainda hoje a escola discute pontos que Florestan também se preocupou em criticar, a prática em sala de aula, com ênfase em três pontos: a concepção do professor como mero transmissor do saber, que, para ele, fragilizava o profissional da educação; a idéia de que o aluno é apenas receptor do conhecimento, quando o aprendizado deveria ser construído conjuntamente na escola; e o ensino discriminatório, que trata o aluno pobre como cidadão de segunda classe, escola particular para a classe pobre, nem pensar!.. "Para Florestan Fernandes, a educação transformadora se faz com uma escola capaz de se desfazer, por si mesma, do autoritarismo, da hierarquização e das práticas de servidão",

BIBLIOGRAFIA

Fernandes, Florestan. Leitura & Legados. São Paulo. Global Editora: 2010.
Florestan Fernandes e o negro: uma interpretação política. Disponível em:
< HTTP://grabois.org.br/beta/imprimirev.php?id_sessao=50&id_publicacao=151&id_indi...>

FREITAG, Barbara. Florestan Fernandes: revisitado. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0103-40142005000300016&script=sci_arttext

sábado, 27 de junho de 2015

OS ELEMENTOS HISTÓRICOS E INTELECTUAIS QUE CARACTERIZAM O DESENVOLVIMENTO DA SOCIOLOGIA ESTADUNIDENSE


Veblen3a.jpg 
Thorstein Veblen (1857 - 1929)
Economista e Sociólogo Estadunidense



A sociologia norte-americana, desenvolveu-se de modo diferente que na França e na Alemanha, o pensamento social desenvolveu-se concomitantemente. O pensamento social estadunidense ocorreu em momento histórico propicio a partir da idéia de vários pensadores como Mertom, Parsons, Willian Thomas, Veblen, Mills, Willian Graham Sumner, Lester Frank Ward, Franklin Henry Giddings, Charles Horton Cooley, Edward Allworth Ross, Albion Woodbury Small, Robert Park entre outros, com suas correntes caracterizadas pelo empirismo positivista, tratava-se de um movimento reformista conservador preocupado com os problemas dos “desajustes e desigualdades sociais”, postura antimarxista, e da adoção de uma ética positivista que separava os julgamentos de fato e os julgamentos de valor, o pensamento da sociologia estadunidense se firmou como uma ciência prática conservadora, voltada para a ação e para as reformas sociais e como uma ciência sistemática voltada para a explicação da realidade social global através de categorias gerais.
A titulo de informação o primeiro estadunidense a organizar um material sociológico foi Robert Hamilton Bishop (1777-1855) ao dar, de 1834 a 1836, um curso na Universidade de Miami chamado “A Filosofia das Relações Sociais”.
O primeiro fundador foi William Graham Sumner (1840-1910) que foi influenciado pelas idéias de Herbert Spencer e que desenvolveu importante trabalho na Universidade de Yale, combinando o evolucionismo de Darwin, o “laissez-faire” e o pessimismo malthusiano com o ardor puritano, já que foi educado originalmente para o sacerdócio.
Os sociólogos americanos Mertom e Parsons foram os responsáveis pelo desenvolvimento do funcionalismo moderno e pela contribuição que deram ao pensamento sociológico contemporâneo.
Parsons (1902-1979) foi um dos mais destacados representantes da teoria denominada Estrutural-Funcionalismo, em consequência da sua reformulação do conceito de sistema social, que se tornou o centro das interpretações fundamentalista, sendo considerado um dos maiores sociólogos dos Estados Unidos, criando um sistema teórico chamado de “Funcionalismo Estrutural”, construiu suas idéias num mundo social marcado pelo empirismo, pela dispersão e pela superficialidade.
Willian Thomas, sua idéia foi acerca do impacto da urbanização sobre os homens, análise da mudança das formas tradicionais de controle social.
Decidi discorrer mais sobre Veblen e Mills, por seu magistral e original pensamentos, que ainda hoje exercem grande influencia na interpretação econômica e social, sem perder de vista os elementos históricos e intelectuais que caracterizam o desenvolvimento da Sociologia americana.
Veblen é considerado o fundador da escola institucionalista de economia, e um dos maiores críticos da economia liberal. A economia institucionalista (em razão da grande ênfase que o autor de A Teoria da Classe Ociosa coloca sobre o que ele chamou de instituições) nasceu na virada do século XIX para o século XX, com a idéia de oferecer uma teoria alternativa às escolas de economia que a precederam, nomeadamente as baseadas nas doutrinas clássicas. O que pode ser destacado como âmago da abordagem institucionalista de Veblen é a proposição de uma abordagem evolucionária da economia, fruto da influência direta do trabalho de Charles Darwin, propondo um sistema de ciência econômica que teria por mote uma análise não-teleológica, o que ele considerava o principal problema da ciência econômica como praticada no seu tempo. Para tal ele buscou conceitos tanto na biologia evolutiva de Darwin, como na psicologia dos instintos de William James, esta última uma teoria muito em voga no final do século XIX.
Na economia vebleniana, instituições são hábitos, rotinas de conduta bastante arraigadas num determinado momento histórico. Assim, por exemplo, a existência de uma classe de indivíduos que se abstêm do trabalho produtivo, a "classe ociosa", é uma instituição. Outros exemplos de instituições são a propriedade absenteísta, ou seja, o hábito, bastante presente na economia capitalista, de o dono do negócio não ser exatamente quem cuida pessoalmente dele; a financeirização da riqueza, isto é, a representação do equipamento produtivo da sociedade através de "papéis"; e a emulação, que talvez seja o mais importante no livro A Teoria da Classe Ociosa, que diz respeito ao hábito dos indivíduos de se compararem uns com os outros invejosamente, ou melhor, o desejo das pessoas de serem reconhecidas como melhores que os outros indivíduos, há necessidade do reconhecimento e aceitação pelo outro, assim o ter representa poder, respeito e reconhecimento.
Veblen partiu das posições neoclássicas mais centrais e da atmosfera acadêmica e empresarial, na qual elas eram aceitas, para tecer suas argumentações na contramão de tudo isso, a economia somente encontraria um novo padrão científico com a compreensão das instituições sociais, daí a insistência nas alianças com a história, a sociologia, a antropologia e demais saberes que pudessem reforçar a interpretação institucional – a “fé nas vantagens da abordagem interdisciplinar”, diante de tal abordagem entendo que este de fato foi um dos maiores sociólogos estadunidense, há encadeamento entre as varias ciências, numa cumplicidade e complementaridade que procuram respostas e justificativas plausíveis e sistemáticas.
“A instituição de uma classe do ócio é encontrada em seu melhor desenvolvimento nos estágios mais elevados da cultura bárbara”. Tal conjectura estava baseada nas atividades econômicas exibidas pela sociedade estadunidense opulenta da época. Os ricos estavam convencidos que eram diferentes dos demais. As riquezas que ostentavam, não eram simplesmente um “acidente da existência, e sim um reflexo de sua superioridade biológica”. A classe a qual pertenciam estavam livres de atividades servis. “Enquanto outras formas de vida inferiores trabalhavam, eles viviam sem esforço, nada fazendo”. Nesse caso, o ócio era sua definição qualitativa, que deveria ser exposto como forma de poder e superioridade. Não apenas como um fator de diferenciação, senão que esta qualidade devia ser demonstrada através “da viva e infatigável capacidade de pagar”.
Veblen explicava este comportamento na análise dos setores mais privilegiados da sociedade: “Todo sentido de gastar dinheiro estava em impressionar os outros” – e acrescentava – “ Despertar a inveja dos vizinhos só aumenta a sensação de importância que se tinha”, assim para haver realização deveria haver reconhecimento pelo outro. A classe ociosa não gastava dinheiro de forma ostentatória em coisas úteis – isso era para os que precisavam de dinheiro, não para os que estavam acima dele. O estudo da relação íntima entre um modelo econômico e o comportamento social dos seus executores, possibilita enquadrar as manifestações ideológicas destes na manutenção e perpetuação do sistema.
Mills ("A imaginação sociológica"): Na década de 60, Mills, sociólogo da tradição crítica norte-americana, desenvolveu o conceito de "imaginação sociológica", que ajudou muitos de seus alunos na época a engajarem-se nos mais diversos movimentos sociais que emergiram naquele contexto agitado, além de questionarem as razões para uma Guerra com o Vietnã, por muito questionado e uma das vergonhas estadunidenses.  Mills (1969) descreve o pensamento sociológico como uma prática criativa, que define como “imaginação sociológica”. Essa prática criativa seria a tomada de consciência sobre a relação entre o indivíduo e a sociedade mais ampla. Trata-se da capacidade de conectar situações da realidade, como os interesses em disputa, percebendo que a sociedade não se apresenta de determinada forma por acaso.
Essa conscientização derivada do conhecimento sociológico permite que todos (não apenas os sociólogos por formação) compreendam as ligações existentes entre o ambiente social pessoal imediato e o mundo social impessoal que circunda e que colabora para moldar as pessoas. Resgatando elementos específicos elaborados pelos pensadores sociais mais clássicos, Mills (1969) aponta como um elemento-chave dessa “imaginação sociológica” a capacidade de poder visualizar a sociedade com um certo sentido de distanciamento, em vez de fazê-lo apenas da perspectiva das experiências pessoais e das pré-concepções culturais.
A “imaginação sociológica” é um ato que permite ir além das experiências e observações pessoais para compreender temas públicos de maior amplitude. O divórcio, por exemplo, é um fato pessoal inquestionavelmente difícil para o marido e para a esposa que se separam, bem como para os filhos. Entretanto, o uso da “imaginação sociológica” permite compreender o divórcio não apenas como problema pessoal individual, mas também como uma preocupação social.
Diante da retrospectiva elaborada, a partir dos estudos junto ao pensamento social construído por brilhantes pensadores franceses, alemães e estadunidenses, analisando o capitalismo na sua evolução até chegar ao status atual, á idéia que podemos ter é que ao observar as ações e movimentos coletivos cada vez mais intensos e até mesmo aos contínuos atos individuais, o resultado de tais movimentos são os impactos decisivos sobre o destino de toda a humanidade, o capitalismo que aparentemente seria o caminho e solução esta entrando em contradição nos seus conceitos básicos, entrando em choque com os blocos populares, esta ações e movimentos chocam-se com a ordem e a lógica da sociedade capitalista, ocorre que desde a demanda por terra, por emprego e condições de vida, até a luta das mulheres, as lutas ambientais, contra o preconceito de etnia ou regionalidade e outras, todos esses movimentos já se chocam com a ordem do capital e os interesses da burguesia monopolista.
Os resultados dos movimentos sociais estão cada vez mais intensos, já demonstraram que nossas escolhas é o que realmente importa, assim o que parecia estar estável agora é colocado em check, estamos diante de uma crise estrutural, o capitalismo deverá levar em conta que as pessoas podem e estão escolhendo caminhos que lhe são mais convenientes, os interesses capitalistas estão se modificando de maneira que para sobreviver é preciso ouvir e depois manipular os interesses, há muita informação no mercado, temos a filosofia e a sociologia a trabalhar na conscientização, assim quem estiver melhor informado e municiado tecnologicamente dominará a sociedade e os mercados, criando novas necessidades inclusive aparentes de consumo, muito semelhante as afirmações do pensamento Vebleniano e de Mills.