O livro a Voz do silencio foi escrito por Helena Blavatsky (1831 – 1891), filósofa russa, fundadora da Sociedade Teosófica, ela passou algum tempo dentro de um mosteiro isolado no Tibet e no sec. XIX era dificílimo chegar ao Tibet, sua determinação e ajuda de seu Mestre (Irmão mais velho ou adepto) e protetor lhe permitiu viver inúmeras experiências místicas pelo mundo, no Tibet teve contato aprendendo lá nos livros sagrados tibetanos, ela aprendeu, memorizou e transcreveu trinta e nove pequenos tratados ou versos de cerca de noventa, para os demais versos a autora tinha em mãos enorme quantidade de papeis e apontamentos que nunca foram colocados em ordem, foram colecionados ao longo de vinte anos, os documentos originais que deram origem eram documentos internos e não poderiam sair do mosteiro de forma alguma, sequer poderiam ser copiados, eram os preceitos de ouro, algo de grande sabedoria que não existia em outro lugar fora do Tibet. A autora não se sentiu motivada a organizar os papeis e apontamentos para levar ao conhecimento do ocidente por este ser conforme sua interpretação um mundo demasiado egoísta e apegado a objetos sensórios para estar de alguma maneira preparado para receber devidamente a ética tão exaltada.
A autora sofreu calunias, injurias e foi chamada de mentirosa por muitos anos, pois ninguém acreditava que aquilo que ela falava, ela foi alvo de preconceitos causados pela ignorância e do materialismo que afasta as pessoas a sua transcendência, ela enfrentou uma perseguição e foi injustiçada por muito tempo, fundadora do movimento teosófico, uma filosofa de primeira linha. Como escreveu no Prefácio do livro “A DOUTRINA SECRETA”: "Está acostumada às injúrias, e em contato diário com a calúnia; e encara a maledicência com um sorriso de silencioso desdém."
Sua vida foi cheia de tribulações, desde seu nascimento foi vivida por acontecimentos singulares, jovem não aceitava passivamente os dogmas estabelecidos pela sociedade, ciente de sua potencialidade sabia que tinha vindo ao mundo para uma missão, sentiu-se sugestionada pela espiritualidade, pois estava fortemente impregnada de uma inata capacidade psíquica, de tal modo que constituía sua característica predominante. Ela se dizia (e o demonstrava) dotada da faculdade de comunicar-se com os habitantes de outras esferas ou mundos invisíveis e sutis, entende-se que para aquela época as dificuldades de comunicar descobertas místicas e esotéricas eram verdadeiros tabus, mais difícil ainda por se tratar de uma mulher à frente de seu tempo e disposta a realizar uma revolução cultural e religiosa.
Os preceitos originais estão gravados sobre lâminas oblongas delgadas; as cópias, muitas vezes, sobre discos. Estes discos ou chapas são geralmente conservados nos altares dos templos ligados aos centros onde estão estabelecidas as chamadas escolas "contemplativas" ou Mahayana (Yogacharya). Estão escritos de diversas maneiras, às vezes no idioma tibetano, mas principalmente em idéografos. A língua sacerdotal (senzar), além de por um alfabeto seu, pode ser traduzida em várias maneiras de escrita em caracteres cifrados, que têm mais de ideogramas do que de sílabas. Um outro método (lug, em tibetano) é o de empregar os números e as cores, cada um dos quais corresponde a uma letra do alfabeto tibetano (trinta letras simples e setenta e quatro compostas), formando assim um alfabeto criptográfico completo. Quando se empregam os idéografos há uma maneira certa de ler o texto, pois, neste caso, os símbolos e os sinais usados na astrologia, isto é, os doze animais zodíacos e as sete cores primárias, cada uma tripla em seu matiz (claro, primário e escuro), representam as trinta e três letras do alfabeto simples, formando palavras e orações. Porque, neste método, os doze animais, cinco vezes repetidos e juntos aos cinco elementos e às sete cores, compõem um alfabeto completo de setenta letras sagradas e doze signos. Um signo posto no princípio de um parágrafo indica se o leitor tem de soletrar segundo o modo índio (em que cada palavra é apenas uma adaptação, sânscrita), ou segundo o princípio chinês de ler os ideógrafos. O método mais fácil é, porém, aquele que não deixa o leitor empregar qualquer língua especial, ou o que quiser, visto que os sinais e os símbolos eram, como os números ou algarismos arábicos, propriedade comum e internacional entre os místicos iniciados e os seus seguidores. A mesma peculiaridade é característica de uma das maneiras chinesas de escrever, que pode ser lida com igual facilidade por qualquer pessoa conhecedora dos caracteres: por exemplo, um japonês pode lê-la na sua língua tão prontamente como um chinês na sua.
A pessoa que procura mudanças profundas precisa ler este livro, esta pequena obra em principio parece difícil o entendimento, o mundo manifestado é uma ilusão, o mundo material nos ilude a todo momento, desde que passamos os olhos sobre as coisas percebemos a mesmice superficial e a previsibilidade dos acontecimentos, quando descobrimos isto entendemos que precisamos mudar nosso foco, devemos nos voltar para nosso interior, precisamos encontrar em nossa vida interior o eu, o caminho esta no silencio do divino, os olhos carnais tornados cegos a toda a ilusão, assim preparamos nossos olhos para encarar a realidade, a harmonia interior para que a alma possa ver e enxergar as coisas como realmente são, pois nada aqui é real.
4. A mente é o grande Assassino do Real. Pg. 62
O não desejar é respeitar as coisas pelo que são e não pelo podem nos servir, aquele que sabe ver as coisas divinas por trás das coisas materiais é um grande passo, evitamos desperdícios e descartes, materialmente não as desejo mais, sabemos que por trás dos desejos estão a fontes de todo o sofrimento.
63. Mata o desejo; mas se
o matares, acautela-te bem, para que não
ressuscite depois de morto. (Fragmento I Pg.70)
Então, foram expostos os pensamentos iniciais deste inspirador caminho para sair da caverna da escuridão: Fragmento I Pg. 64 a 68
Três salas, ó cansado peregrino, conduzem ao fim dos trabalhos. Três salas, ó conquistador de Mara, te trarão através de três estados (14) até ao quarto (15), e daí até aos sete mundos (16), os mundos do descanso eterno.
Se queres saber os seus nomes, escuta-os e aprende-os.
O nome da primeira sala é Ignorância - Avidya. É a sala em que viste a luz, em que vives e hás de morrer (17).
O nome da segunda sala é a Sala da Aprendizagem (18). Nela a tua Alma encontrará as flores da vida, mas debaixo de cada flor uma serpente enrolada (19).
O nome da terceira sala é Sabedoria, para além da qual se estende o mar sem praias de Akshara, a fonte indestrutível da onisciência (20).
Se queres atravessar seguramente a primeira sala, que o teu espírito não tome os fogos da luxúria que ali ardem pela luz do sol da vida.
Se queres atravessar seguramente a segunda, não pares a aspirar o perfume das suas flores embriagantes. Se queres ver-te livre das peias cármicas, não procures o teu Guru nessas regiões mayávicas.
Os sábios não se demoram nas regiões de prazer dos sentidos.
Os sábios não dão ouvidos às vozes musicais da ilusão.
Procura aquele, que te dará o ser (21), na Sala da Sabedoria, a sala que está para além, onde todas as sombras são desconhecidas e onde a luz da verdade brilha como uma glória imorredoura.
(...)
Se, passando pela Sala da Sabedoria, queres chegar ao vale da felicidade, fecha, discípulo, os teus sentidos à grande e cruel heresia da separação, que te afasta dos outros. Que aquilo que em ti é de origem divina não se separe, engolfando-se no mar de Maya (24), do Pai Universal (a Alma), mas que o Poder de Fogo (25) se retire para a câmara interior, a câmara do coração (26), e o domicílio da Mãe do Mundo (27).
Então do coração esse poder subirá até à sexta região, à região média, ao lugar entre os teus olhos, quando se toma a respiração da Alma-Única, a voz que enche tudo, a voz do seu Mestre.
É só então que te podes tornar um “que anda nos céus” (28), que pisa os ventos por cima das ondas, cujo passo não toca nas águas.
Antes que ponhas o pé sobre o degrau
superior da escada, da escada dos sons
místicos, tens de ouvir de sete maneiras a voz do teu Deus interior (29).
A passagem através das salas depende da evolução de cada uma, é preciso passar por cada uma destas salas, sem ficar para em nenhuma delas, a primeira sala busca simplesmente a luta pela sobrevivência instintiva, a segunda é meramente mental e começamos a nos interessar pelo conhecimento é onde encontramos a vaidade, o orgulho, a medida que mais conhecemos pode-se tornar mais prisioneiros e a terceira sala a da sabedoria onde nos comprometemos com a humanidade, encontramos a compaixão, é quando começamos a pensar pelo sentido da unidade, ficou para trás a individualidade.
“Sê humilde, se queres adquirir a Sabedoria.”
“Sê mais humilde
ainda, quando houveres te assenhoreado da
Sabedoria.”
Que não seja nosso corpo a determinar o caminho de nossa vida, os prazeres passaram a ser os governantes da vida, não é possível viver com harmonia enquanto corpo e mente estejam no mesmo comando, não podemos a ter dois senhores a governar, a dor que sentimos não é ruim, a dor nos torna humanos, talvez seja ela a única esperança da sociedade se transformar para melhor, se não aprendemos quando a vida nos da a chance e fugimos sempre em busca de apenas prazer, quando surgirem as dificuldades não saberemos lidar, a vida é dual, prazer e dor, bem e mal, alegria e tristeza, vivemos numa sociedade do máximo prazer, fugimos a todo tipo de desconforto, falta atualmente um sentido verdadeiro da vida, a sociedade aparece nas redes sociais sempre ostentando o gozo constante quando sabemos o imenso vazio por trás dos sorrisos, vivendo iludidos e querendo iludir pelo eterno prazer, o vazio após o gozo é uma concessão aos vícios que não vão passar, pois aprisionados na ilusão buscam incessantemente o que não encontrarão nas relações horizontalizantes, não há profundidade nestas relações por serem superficiais, as relações precisam verticalizar, um sinal da fragilidade destas relações é a fugacidade e o vai e vem pelo like e na quantidade de seguidores que jamais terão qualquer tipo de retorno. As respostas estão no interior de cada um, os quase vivos ou mortos-vivos são as ovelhas seguindo a mesma procissão de adesão, coisas estas que estão fora de si, os eus que vagam pelo mundo exterior foge do eu interior quando este se manifesta, sequer querem pensar ser esta a grande oportunidade dada por Deus para cada um de nós chamado vida terrena, a vida é uma caminhada para a luz na vida eterna. Vislumbramos o elemento noético ou espiritual cada vez mais adormecido, a excessiva busca pelo prazer constante não permite nos virarmos em direção a luz, admiramos as sombras dos objetos e acreditamos ser a realidade verdadeira, caminhamos em direção ao metaverso onde não existem mais aflições ou dores que poderiam nos resgatar através de sua pedagogia de viver intensamente e com sabedoria.
“Os sábios não se afligem nem pelos vivos nem pelos mortos. Jamais deixei de existir, nem tu, nem estes condutores de homens; nenhum de nós deixará jamais de existir no futuro” (Bhagavad-Gitâ II, 11 e 12). Pg. 57
Crescer como seres humanos, é começar lutando contra os pensamentos impuros oriundos da mente que não é vigilante, o universo é mental, as raízes estão dentro de nossa mente, dominando a mente nos tornamos coerentes e dominamos as causas e suas consequências. Nos destacamos na natureza a partir do momento que a sabedoria da alma rege nossos movimentos, passamos de criação para criador da história, deixamos de ser exploradores para criadores de ações de libertação através de atos amorosos e voltados para a pluralidade na unicidade, saímos dos prazeres da singularidade, abandonamos o viver pelo prazer, saímos do servilismo do egoísmo e da sensação de inflação do ego, não é preciso esperar acontecimentos mirabolantes para dar o rumo certo, quem sabe começar lendo literaturas mais edificantes, pedagogicamente a vida está ai para nos ensinar e a natureza pronta para nos abrir as portas secretas as quais os não iniciados imaginam que poderiam existir.
E agora o teu Eu está perdido no EU;
tu mesmo em TI MESMO,
imerso n’AQUELE EU,
do qual primitivamente irradiaste. (Pg. 28)
A sabedoria expressa neste pequeno livro, nos faz perceber um novo sentido, para melhor cada vez que lemos novamente, a medida que vamos envelhecendo e amadurecendo vamos obtendo melhores condições de entendimento, este é um livro para ser estudado e dentro da possibilidade de cada um serve como manual para mudanças de pensamento, atitudes e comportamento, a cada passo dado no sentido de evoluir espiritualmente abrira outras portas para a espiritualidade, a vida se tornará mais leve e autentica, vivenciar as palavras escritas nele pela sabedoria dos monges budistas é uma oportunidade valiosíssima, vale meditar a respeito de tudo o que esta escrito no livro.
A autora faleceu em oito de maio de 1891, suas obras que são verdadeiras joias, serão eternas por trazerem para os seres humanos portais de crescimento, funcionam como um chamado para a bela arte de viver.
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