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terça-feira, 27 de junho de 2023

Resumo e Analise da obra “Prometeu Acorrentado”, tragédia grega escrita por Ésquilo

 



Ler um clássico é uma experiência valiosa, a leitura nos oferece a oportunidade de nos envolvermos com obras literárias de grande importância cultural, histórica e estética, permite a exploração de temas universais e o diálogo com mentes brilhantes do passado, cada vez que abrimos um livro lhes damos voz e passamos a ler seus pensamentos, suas ideias transcendem seu próprio tempo, eternizando-se.

Recomendo a leitura de clássicos, porque é uma maneira de ampliar nossos horizontes, enriquecer a compreensão do mundo e apreciar a riqueza da literatura ao longo dos tempos, razões é que não faltam, e a leitura de “Prometeu Acorrentado” tem razões e motivos que superam as expectativas da literatura, a obra é envolvente, relida e reinterpretada ao longo dos séculos.

"Prometeu Acorrentado" é uma das peças mais antigas e importantes da literatura ocidental, foi escrita no século V a.C., durante o período clássico da Grécia Antiga. Ao lê-la, temos a oportunidade de nos conectarmos com uma parte fundamental da história da literatura e da cultura ocidental.

A peça aborda temas universais que continuam relevantes até os dias de hoje. Questões como liberdade, rebelião, busca do conhecimento, responsabilidade individual e a relação entre os seres humanos e os deuses são exploradas de maneira profunda e impactante. A leitura de "Prometeu Acorrentado" permitirá que se reflita sobre essas questões fundamentais da existência humana.

Ésquilo é considerado um dos pais do teatro grego e suas peças influenciaram profundamente a forma como o teatro e a tragédia são concebidos. Além disso, a obra de Ésquilo possui uma dimensão filosófica significativa, abordando temas éticos, metafísicos e existenciais. Ao ler "Prometeu Acorrentado", entramos em contato com uma peça teatral que deixou um legado duradouro na história da filosofia e do teatro.

A tragédia grega em geral, e "Prometeu Acorrentado" em particular, oferece uma visão profunda e complexa da natureza humana. A peça examina o sofrimento, a luta pela liberdade, o poder, a justiça e a responsabilidade individual. A leitura dessa obra pode proporcionar uma maior compreensão da condição humana e estimular reflexões sobre nossa própria existência e nossas relações com o mundo e com os outros.

"Prometeu Acorrentado" é uma peça de grande valor estético e literário. A linguagem poética de Ésquilo, a dramaturgia complexa e os diálogos impactantes tornam a leitura uma experiência enriquecedora do ponto de vista literário.

A peça é a primeira de uma trilogia conhecida como "Prometeu", embora as outras duas tragédias, "Prometeu Desacorrentado" e "Prometeu Portador do Fogo", tenham sido perdidas ao longo do tempo.

A história de "Prometeu Acorrentado" gira em torno do mito de Prometeu, um titã que rouba o fogo dos deuses e o presenteia aos humanos, concedendo-lhes conhecimento e civilização. Por esse ato de desafiar a autoridade dos deuses e ajudar a humanidade, Prometeu é punido por Zeus, o rei dos deuses.

Na peça, Prometeu é acorrentado a uma rocha em uma região remota da terra, sofrendo torturas e tormentos constantes. Ele é visitado por Oceano, um deus ancestral, e por Ío, uma donzela que foi transformada em uma vaca por Zeus. Prometeu profetiza eventos futuros para Ío, incluindo o nascimento de Héracles (Hércules), o herói que eventualmente libertará Prometeu de sua prisão.

Como castigo, Zeus o condenou: ele seria acorrentado no alto do monte Cáucaso, onde, todos os dias, um corvo dilaceraria um pedaço do seu fígado. O castigo seria eterno, uma vez que o fígado é o órgão com maior poder de regeneração do corpo humano, assim todo pedaço que o corvo arrancasse estaria recuperado no dia seguinte.

Esta peça aborda temas como a rebelião contra a tirania, a busca do conhecimento e a relação entre deuses e mortais. A peça reflete a visão trágica dos antigos gregos sobre o destino humano e a luta entre os indivíduos e as forças divinas. Ésquilo utiliza a figura de Prometeu como um símbolo de resistência e heroísmo, que mesmo enfrentando a ira dos deuses, permanece fiel a seus princípios e à humanidade.

Embora apenas "Prometeu Acorrentado" tenha sobrevivido até os dias atuais, a peça é considerada uma obra-prima da tragédia grega e um dos primeiros exemplos do gênero. A história de Prometeu continuou a ser explorada e reimaginada ao longo da história, inspirando muitas obras literárias, artísticas e filosóficas que abordam os temas da rebelião, da liberdade e da busca do conhecimento humano.

A obra apresenta diversos elementos filosóficos que podem ser analisados. A peça aborda temas como a rebelião contra a tirania, a relação entre deuses e mortais, a busca do conhecimento e a condição humana. Com olhar filosófico podemos explorar algumas das principais questões filosóficas presentes na obra, tais como Rebelião e Liberdade, Conhecimento e civilização, Relação com deuses e mortais, Sofrimento humano e redenção, Ética e responsabilidade, a analise desta obra nos possibilita entender as intenções do autor, inclusive sua mensagem implícita criticando os acontecimentos da história em seu tempo:

Prometeu desafia a autoridade dos deuses ao roubar o fogo e presentear os humanos com o conhecimento. Sua rebelião é vista como uma busca pela liberdade e pela autonomia humana. Filosoficamente, essa questão levanta reflexões sobre a luta contra o poder opressivo e a defesa da liberdade individual.

Ao dar o fogo aos humanos, Prometeu possibilita o avanço da civilização, levando-os a conquistar novas habilidades e desenvolver a sociedade. Essa ação coloca em pauta a importância do conhecimento na evolução humana e a responsabilidade que vem com ele. A busca pelo conhecimento e seus benefícios para a humanidade são questões filosóficas relevantes.

A peça explora a dinâmica entre os deuses, representados por Zeus, e os mortais, simbolizados pelos seres humanos. Prometeu desafia a supremacia dos deuses e sofre consequências por isso. Essa relação suscita reflexões sobre a natureza do divino, a autoridade dos deuses sobre os mortais e o questionamento das hierarquias estabelecidas.

Prometeu é acorrentado e submetido a torturas como punição por sua rebelião. No entanto, ele se mantém firme em sua posição e, ao profetizar o futuro, traz esperança para os mortais. Essa temática remete à discussão sobre o sofrimento humano e a busca por redenção e sentido mesmo diante de circunstâncias adversas.

Prometeu assume a responsabilidade por suas ações, mesmo enfrentando a punição dos deuses. Essa atitude levanta questões éticas relacionadas à responsabilidade individual, à defesa de princípios morais e à coragem de enfrentar as consequências de seus atos.

"Prometeu Acorrentado" é uma obra filosófica que convida à reflexão sobre a condição humana, o poder, a liberdade, a justiça e o papel do indivíduo na sociedade. Ao abordar essas temáticas, a peça nos convida a refletir sobre questões fundamentais da existência humana e a buscar um entendimento mais profundo sobre o mundo e nossa relação com ele.

Tenho certeza que após termos lido uma obra como está não sairemos da mesma forma como iniciamos a leitura, os temas abordados pela obra e a maneira genial que Ésquilo abordou são ingredientes que marcarão nossa memória para sempre.

Fonte:

Ésquilo. Prometeu Acorrentado. Traduzido por J. B. Mello e Souza. Ed. Martin Claret. 2005. São Paulo - SP

segunda-feira, 26 de junho de 2023

Hipólito – A tragédia do dramaturgo Eurípedes – Ciúme e Vingança

 



Hipólito é uma das mais belas tragédias escritas pelo dramaturgo Eurípedes, é provavelmente sua melhor obra, ela aborda uma dimensão crítica em relação as tradições gregas para a época, através da arte era e ainda é possível abordar temas sensíveis e problemáticos, sendo a tragédia uma das formas utilizadas para abordar questões como o poder, a justiça, o conflito humano e as consequências das ações.

Embora a tragédia grega clássica tenha sido escrita há mais de dois milênios, seu impacto e influência ainda são evidentes na cultura contemporânea. Embora não haja uma produção direta de tragédias gregas no sentido clássico nos dias de hoje, elementos e temas da tragédia grega ainda são explorados em várias formas de arte e mídia, por estas razões é importante entendermos melhor do que se trata a tragédia grega.

A tragédia grega refere-se a um gênero de teatro desenvolvido na Grécia Antiga, especificamente em Atenas, durante os séculos V e IV a.C, ela teve um papel significativo na cultura e na sociedade grega, sendo uma forma de expressão artística e uma plataforma para a discussão de questões filosóficas, morais e políticas.

As tragédias gregas eram apresentadas durante festivais religiosos, como as Dionísias, em homenagem ao deus Dionísio, o deus do vinho, da fertilidade e do teatro. Elas eram escritas e encenadas por dramaturgos famosos, como Ésquilo, Sófocles e Eurípides.

As tragédias gregas eram caracterizadas por histórias dramáticas que geralmente envolviam conflitos entre personagens humanos e divindades. Elas exploravam temas universais como o destino, a natureza humana, a justiça, o orgulho excessivo (hybris) e a relação complexa entre os seres humanos e os deuses. As tragédias frequentemente abordavam eventos mitológicos, lendas heroicas ou episódios da história grega.

Os protagonistas das tragédias eram heróis ou figuras proeminentes que enfrentavam desafios e dilemas morais. Eles geralmente lutavam contra forças poderosas e inevitavelmente enfrentavam um destino trágico, com consequências desastrosas para si mesmos e para aqueles ao seu redor. A tragédia grega frequentemente explorava as emoções humanas intensas, como o sofrimento, a culpa e a compaixão.

Além da narrativa dramática, as tragédias gregas também incorporavam coros, que eram grupos de cantores e dançarinos que interagiam com os personagens e comentavam sobre a ação da peça. Os coros ofereciam reflexões sobre os eventos da história, expressavam os sentimentos coletivos da comunidade e forneciam um contexto moral e filosófico mais amplo.

As tragédias gregas tiveram uma influência duradoura na literatura e no teatro ocidentais. Elas exploraram questões humanas universais e foram um veículo para o exame crítico da condição humana. As obras dos grandes dramaturgos gregos ainda são estudadas e encenadas até os dias de hoje, demonstrando a relevância e a atemporalidade desse gênero teatral.

A tragédia grega produziu várias obras notáveis, escritas por dramaturgos famosos como por exemplo:

"Édipo Rei" (Sófocles): Esta é uma das tragédias gregas mais famosas. Ela conta a história de Édipo, que, inadvertidamente, mata seu pai e se casa com sua mãe, cumprindo uma profecia trágica. A peça explora temas como destino, livre arbítrio, identidade e conhecimento.

"Prometeu Acorrentado" (Ésquilo): Nesta tragédia, o titã Prometeu desafia os deuses ao roubar o fogo para entregá-lo aos seres humanos. Como punição, ele é acorrentado a uma rocha, onde sofre tormentos. A peça aborda temas como rebelião contra os deuses, a busca pelo conhecimento e a relação entre deuses e mortais.

"Medeia" (Eurípides): Essa tragédia retrata a história de Medeia, uma princesa estrangeira que se casa com Jasão, líder dos Argonautas. Quando Jasão a abandona para se casar com outra mulher, Medeia se vinga de maneira terrível. A peça aborda temas como amor, traição, vingança e o papel das mulheres na sociedade.

"As Bacantes" (Eurípides): Esta tragédia lida com o culto a Dionísio e segue a história de Penteu, rei de Tebas, que se opõe aos rituais dionisíacos e é punido pelas Bacantes, seguidoras do deus Dionísio. A peça explora a dualidade entre a razão e a emoção, os conflitos religiosos e a natureza humana.

"Agamêmnon" (Ésquilo): Esta é a primeira peça da trilogia "Orestíada". Ela conta a história do retorno de Agamêmnon, rei de Argos, da Guerra de Troia e de sua morte nas mãos de sua esposa, Clitemnestra. A peça aborda temas como o poder, a vingança e a justiça.

“Hipólito” (Eurípedes): Do ciclo Ático, é a mais bela das tragédias de Eurípedes. O tema é o ciúme e a vingança.

Esses são apenas alguns exemplos de tragédias gregas, cada uma com suas próprias histórias, personagens e temas significativos. Essas obras continuam sendo estudadas e encenadas ao redor do mundo devido à sua relevância e impacto duradouro, sem dúvida alguma é importante lermos alguma destas obras para entender um pouco da cultura grega.

Vamos a nossa obra escolhida: "Hipólito" é uma tragédia grega escrita por Eurípides, um dos principais dramaturgos da Grécia Antiga. A peça foi apresentada pela primeira vez em Atenas, por volta de 428 a.C. A história é baseada na lenda do herói mitológico Hipólito, filho de Teseu, rei de Atenas, e da rainha das amazonas, Hipólita.

A trama de "Hipólito" gira em torno de conflitos familiares, paixão, vingança e a influência dos deuses na vida dos mortais. A peça começa com a deusa Afrodite, que está furiosa com Hipólito, pois ele despreza o amor e dedica sua vida à caça e à adoração da deusa Ártemis. Em retaliação, Afrodite decide punir Hipólito fazendo com que sua madrasta, Fedra, se apaixone por ele.

Fedra, incapaz de resistir ao amor proibido, confessa seus sentimentos a Hipólito, mas ele a rejeita veementemente. Desesperada, Fedra decide escrever uma carta falsa acusando Hipólito de tê-la seduzido. Teseu, pai de Hipólito e esposo de Fedra, lê a carta e acredita nas acusações, ficando furioso e amaldiçoando seu filho.

Quando Hipólito descobre a trama de Fedra, ele confronta sua madrasta e revela a verdade ao seu pai, mas já é tarde demais. Teseu acredita que seu filho é culpado e invoca uma maldição para que Hipólito seja morto. Em seguida, uma série de eventos trágicos se desenrola: Hipólito é arrastado por seus cavalos e acaba gravemente ferido.

No final da peça, o mensageiro revela a Teseu a verdade sobre a inocência de Hipólito e o engano de Fedra. Com o coração partido, Teseu parte em busca de seu filho, mas chega tarde demais para salvá-lo. Hipólito morre, e Teseu fica devastado com a tragédia que se abateu sobre sua família.

"Hipólito" aborda temas como a culpa, o destino, a relação entre deuses e mortais e a fragilidade das relações familiares. A peça é considerada uma das obras-primas de Eurípides e apresenta personagens complexos e emocionalmente conflituosos. Ela examina a natureza humana e as consequências devastadoras de ações motivadas pelo amor, pelo ódio e pela vingança.

Analisando a obra filosoficamente, "Hipólito" de Eurípides levanta questões e explorar temas que são relevantes para a condição humana e suas contradições. A peça aborda temas como o conflito entre desejo e razão, o poder dos deuses sobre a vida humana, o destino e o papel da culpa e da vingança.

Um tema central em "Hipólito" é o confronto entre as paixões humanas e a racionalidade. O personagem Hipólito representa a busca pela pureza e a renúncia aos prazeres mundanos em favor de uma vida dedicada à deusa Ártemis. Ele simboliza a razão, a disciplina e o autocontrole. Por outro lado, Fedra, sua madrasta, representa os impulsos passionais e o conflito interno entre o que é considerado moralmente correto e os desejos humanos.

A peça também aborda a interferência dos deuses na vida dos mortais. Afrodite, a deusa do amor, se sente ultrajada pelo desdém de Hipólito em relação ao amor e decide puni-lo através da paixão de Fedra por ele. Isso levanta questões sobre o livre arbítrio e a influência divina na vida humana, além de explorar as consequências imprevisíveis dessas intervenções.

O tema do destino também está presente em "Hipólito". Os personagens são impulsionados por forças além do seu controle, e suas ações parecem levar inevitavelmente a um desfecho trágico. Teseu, pai de Hipólito, invoca uma maldição que leva à morte de seu próprio filho, apesar de sua inocência. Isso levanta questões sobre o papel do destino na vida humana e se é possível escapar de um destino “predestinado”.

A peça também examina a natureza da culpa e da vingança. Hipólito é acusado falsamente por Fedra e é condenado pela maldição de seu próprio pai. Isso reflete a fragilidade das relações familiares e os danos causados pela falta de comunicação e compreensão. A peça levanta questões sobre a justiça, a responsabilidade e a dificuldade de perdoar ou ser perdoado, será que na vida real encontramos alguma semelhança?

No geral, "Hipólito" de Eurípides, do ponto de vista filosófico, nos convida a refletir sobre a dualidade humana, os conflitos internos entre razão e paixão, e as forças externas que moldam nossas vidas. Ele nos lembra da complexidade da existência humana e das implicações de nossas ações e escolhas em relação aos outros e ao mundo que nos rodeia.

Ler "Hipólito" de Eurípides oferece a oportunidade de mergulhar em uma obra clássica, explorar temas universais, se envolver com personagens complexos e apreciar a beleza da linguagem. É uma forma de enriquecer sua compreensão da literatura e do legado da Grécia Antiga.

Além do mais, ler uma obra como esta é um grande prazer, a leitura é também uma maneira de mantermos viva a tradição e permitirmos que o público contemporâneo aprecie e reflita sobre as questões levantadas pela tragédia grega, proporcionando uma base para a exploração de temas e emoções profundas onde qualquer um de nós poderá identificar uma ou outra emoção muito vivida, seu formato de diálogo é simples e agradável, enfim é um belo convite para observar os confrontos entre destino e livre arbítrio.

Fonte:

Eurípedes. Alceste, Electra, Hipólito. Tradução Pietro Nassetti. Ed. Martin Claret, 2004 São Paulo-SP