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quinta-feira, 9 de novembro de 2023

Contrapondo Rousseau e Hobbes: Natureza Humana e Política na Filosofia



Após uma leitura atenta das notícias recentes, é difícil não perceber que as questões fundamentais da filosofia política estão constantemente presentes em nosso mundo contemporâneo. As manchetes diárias destacam debates sobre o papel do governo, as dinâmicas de poder, a justiça social e a natureza humana. Nesse contexto, a comparação entre Jean-Jacques Rousseau e Thomas Hobbes na filosofia política se torna especialmente relevante.

Os desafios do século XXI, desde crises globais de saúde, desigualdade crescente e questões ambientais urgentes até dilemas éticos no uso da tecnologia, nos forçam a refletir sobre como a política e a filosofia se entrelaçam. Rousseau e Hobbes, com suas visões contrastantes sobre a natureza humana e o papel do governo, oferecem pontos de partida essenciais para entender esses problemas contemporâneos. Rousseau e Hobbes continuam a lançar luz sobre os desafios políticos e sociais de nosso tempo.

A filosofia política é um campo fascinante que nos convida a explorar questões profundas sobre como as sociedades são organizadas, como o poder é distribuído e como os seres humanos se relacionam com o governo. Dois dos filósofos mais influentes nesse campo, Jean-Jacques Rousseau e Thomas Hobbes, oferecem perspectivas radicalmente diferentes sobre essas questões fundamentais, vejo que ao pensar sobre o quanto cada um é radical  sua maneira, podemos extrair um aprendizado extremamente rico.

Rousseau, com sua crença na bondade inerente do ser humano e na importância da participação democrática, e Hobbes, com sua visão sombria da natureza humana e sua defesa de um governo forte e autoritário, representam extremos opostos no espectro da filosofia política. Comparar e contrastar as ideias desses pensadores nos ajuda a entender não apenas suas visões individuais, mas também as complexidades da política e da natureza humana em geral. Então, vamos analisar as principais diferenças entre essas duas perspectivas, examinando como suas ideias moldaram o pensamento político ao longo dos séculos e ainda influenciam nossos debates contemporâneos.

Antes de entrar no contraponto entre Jean-Jacques Rousseau e Thomas Hobbes, é importante reconhecermos o valor desse exercício de comparação. Esses dois pensadores representam visões diametralmente opostas sobre a natureza humana e a política, o que torna a análise de suas ideias especialmente rica e relevante.

Rousseau e Hobbes oferecem perspectivas profundamente contrastantes sobre como as sociedades devem ser organizadas e como os indivíduos se relacionam com o governo. Enquanto Rousseau acreditava na bondade inerente do ser humano e na necessidade de uma participação democrática, Hobbes via a natureza humana como intrinsecamente egoísta e apoiava um governo forte e autoritário. Essa divergência fundamental nas visões deles tem implicações duradouras para a teoria política e ainda ressoa nas discussões políticas e sociais contemporâneas. Examinar as ideias desses filósofos nos ajuda a entender melhor as complexidades da política e da natureza humana, bem como a avaliar as abordagens que moldam nossos sistemas políticos e sociais.

Jean-Jacques Rousseau e Thomas Hobbes são dois filósofos políticos fundamentais que viveram em diferentes épocas e tinham visões contrastantes sobre a natureza humana e a organização da sociedade. Rousseau, que viveu no século XVIII, acreditava em um estado de natureza inicial que era, em sua visão, relativamente pacífico e harmonioso. Ele defendia que a sociedade corrompia a natureza humana, e seu conceito de contrato social propunha que as pessoas se unissem em uma comunidade governada pela "vontade geral" para garantir a liberdade e a igualdade.

Hobbes, por outro lado, viveu no século XVII e tinha uma visão muito mais sombria da natureza humana. Para ele, o estado de natureza era um estado de guerra constante, onde a vida era "solitária, pobre, sórdida, bestial e curta". Hobbes acreditava que a única maneira de evitar o caos era a criação de um contrato social que resultasse em um soberano absoluto, mantendo a ordem pela força.

Por exemplo, Rousseau, que acreditava na bondade inerente do ser humano, pode ser associado a movimentos contemporâneos que enfatizam a importância da justiça social e da participação democrática. O movimento Black Lives Matter (Vidas Negras Importam), que luta contra a injustiça racial, e as crescentes demandas por igualdade de gênero são exemplos de como a busca por justiça e igualdade reflete a influência das ideias de Rousseau.

Hobbes, por outro lado, que via a natureza humana como egoísta e competitiva, pode ser relacionado a questões de segurança nacional e autoritarismo. A abordagem autoritária de líderes em alguns países, como a Rússia e a China, que visam manter a estabilidade e a ordem, muitas vezes às custas das liberdades individuais, ecoa as ideias de Hobbes sobre a necessidade de um governo forte para evitar o caos.

A principal diferença entre Rousseau e Hobbes está em suas visões sobre a natureza humana e como isso influencia suas teorias do contrato social.

Rousseau via o ser humano como essencialmente bom, argumentando que na natureza, as pessoas eram virtuosas e que a sociedade as corrompia. Seu contrato social propunha que as pessoas renunciassem a parte de sua liberdade em favor da comunidade, mas apenas sob a condição de que a "vontade geral" fosse a soberana, agindo em benefício de todos. Isso garantiria a liberdade e a igualdade.

Hobbes, por outro lado, acreditava que a natureza humana era egoísta e competitiva por natureza. Para ele, no estado de natureza, as pessoas viveriam em um estado de guerra perpétua, onde todos estariam em constante conflito pela sobrevivência. Seu contrato social visava a criação de um soberano absoluto para impor a ordem e evitar o caos, onde as pessoas renunciavam a todos os seus direitos individuais em troca de proteção e segurança.

A visão de Rousseau sobre a natureza humana como inerentemente boa pode ser observada em movimentos contemporâneos de ativismo e participação cívica. Por exemplo, o movimento "Fridays for Future", liderado por Greta Thunberg, reflete a crença de que as pessoas, especialmente os jovens, têm a capacidade de agir em prol do bem-estar do planeta. Eles argumentam que a ação coletiva é necessária para combater as mudanças climáticas e garantir um futuro sustentável.

Hobbes, por outro lado, pode ser relacionado a questões de segurança e geopolítica. A guerra cibernética e o crescente interesse em tecnologias de vigilância estatal, como o Sistema de Crédito Social na China, exemplificam a visão de Hobbes sobre a necessidade de um governo forte para manter a ordem e a segurança, mesmo que isso signifique uma restrição das liberdades individuais.

Outra diferença significativa entre Rousseau e Hobbes está relacionada à forma de governo e justiça em suas teorias.

Rousseau defendia a democracia direta e a "vontade geral" como a base de um governo legítimo. Ele via o governo como um meio para garantir a liberdade e a igualdade, desde que estivesse em conformidade com a vontade geral do povo. A justiça, para Rousseau, residia na aplicação dessa vontade geral, que representava os interesses coletivos da sociedade.

Hobbes, ao contrário, defendia a monarquia absoluta como a forma mais eficaz de governo, onde o soberano tinha o poder absoluto para manter a ordem e a segurança. Para ele, a justiça era a manutenção do contrato social, ou seja, a obediência às leis impostas pelo soberano. A ordem e a segurança eram mais importantes do que a liberdade individual.

A discussão sobre o papel do governo e da justiça na política atual também reflete as ideias de Rousseau e Hobbes. Por exemplo, as lutas em torno dos sistemas de saúde pública em muitos países refletem a busca por justiça e igualdade, inspirada nas ideias de Rousseau. Os defensores de sistemas de saúde universal argumentam que o governo deve garantir cuidados de saúde acessíveis a todos como uma questão de justiça social.

Ao mesmo tempo, a questão da vigilância governamental e a proteção das liberdades individuais estão no centro dos debates políticos. As revelações de Edward Snowden sobre o programa de vigilância em massa da NSA nos Estados Unidos provocaram um debate sobre a extensão do poder do governo em nome da segurança. Isso levanta questões sobre o equilíbrio entre segurança e liberdade, alinhadas com as preocupações de Hobbes sobre a necessidade de um governo forte para evitar o caos.

Rousseau e Hobbes oferecem visões divergentes sobre a natureza humana, o contrato social e a organização política. Enquanto Rousseau acreditava na bondade inerente do ser humano e na necessidade de uma democracia direta, Hobbes considerava a natureza humana egoísta e violenta, defendendo a monarquia absoluta para manter a ordem. Essas diferenças fundamentais continuam a influenciar o pensamento político e a teoria social até os dias de hoje.

 

Nossos filósofos construíram belas obras que são referências e estudo obrigatório para quem se interessa pelo tema que mais do que nunca é tema super atual, cada qual enxergou sua época a sua maneira e desenvolvendo uma literatura encorpada e convincente, após entendermos cada um deles, somos levados a ficar com um pé em cada canoa. 

Jean-Jacques Rousseau: "Do Contrato Social" - Este é um dos trabalhos mais conhecidos de Rousseau, onde ele explora suas ideias sobre o contrato social e a "vontade geral". "Emílio, ou Da Educação" - Nesta obra, Rousseau discute sua filosofia educacional e como ela se relaciona com suas opiniões políticas. "Discurso Sobre a Origem e os Fundamentos da Desigualdade Entre os Homens" - Este discurso ajuda a estabelecer a visão de Rousseau sobre a natureza humana e a desigualdade.

Thomas Hobbes: "Leviatã" - Este é o trabalho mais conhecido de Hobbes, onde ele discute seu contrato social e a necessidade de um governo soberano para evitar o "estado de natureza". "Do Cidadão" - Hobbes explora mais a natureza do governo e da política em relação à sua filosofia do Leviatã. "Os Elementos da Lei Natural e Política" - Esta obra contém as primeiras formulações das ideias políticas de Hobbes.

Não me escapa a ideia de que todos estamos dentro do contrato social é, de fato, uma perspectiva relevante nos tempos modernos. O conceito do contrato social implica que os indivíduos, ao fazerem parte de uma sociedade, concordam tácita ou explicitamente em seguir as regras e normas estabelecidas pelo governo em troca de benefícios como proteção, ordem e outros serviços públicos.

Em sociedades contemporâneas, mesmo em democracias representativas, onde os cidadãos elegem representantes para tomar decisões em seu nome, ainda existe um entendimento subjacente de que todos fazem parte desse contrato social. O envolvimento nas instituições democráticas, a aceitação das leis e a participação cívica são vistos como expressões desse compromisso. No entanto, é importante notar que as interpretações do contrato social podem variar. Algumas correntes filosóficas e teorias políticas argumentam que o contrato social é mais uma construção teórica do que uma realidade prática, enquanto outras veem o contrato social como a base essencial para a legitimidade do governo.

Os debates sobre a extensão dos direitos individuais, a justiça social e a representação política continuam a moldar as discussões contemporâneas sobre o contrato social. A questão de quem está "fora" ou "dentro" do contrato social é complexa e sujeita a interpretações variadas, refletindo a diversidade de opiniões dentro das sociedades modernas, a discussão não cessará, pois não tem como apaziguar tantas opiniões discordantes, um meio termo significaria cederem, e o homem este ser “político” ainda não está preparado, ceder só se receber algo em troca, ai não é mais cessão, é troca.

Então, dito isto, espero que tenham se motivado a ler as obras.

 

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