E se eu te dissesse que Dom Quixote, o cavaleiro andante louco por aventuras e honra, poderia muito bem ser um personagem contemporâneo? Sim, você ouviu direito. No meio do caos dos dias atuais, onde a linha entre a realidade e a fantasia muitas vezes se confunde, Don Quixote encontraria um terreno fértil para suas peripécias. Miguel de Cervantes, o escritor de Don Quixote, com certeza encontraria neste mundo tão diferente daquele em que viveu, razões para entender que sua obra tem muito a ver com o século XXI, afinal ainda vivemos momentos de heroísmo, loucura, idealismo, amor e amizade.
Imagine
só: lá está ele, nosso herói, pedalando numa bicicleta velha em vez de montar
em Rocinante, seu fiel corcel. Ele não veste armadura, mas talvez um colete
cheio de broches de super-heróis ou algum traje esquisito comprado numa loja de
fantasias. As estradas poeirentas da Espanha medieval dariam lugar às ruas
movimentadas de uma cidade grande, onde carros buzinam e pedestres apressados
olham para ele com desdém.
E
o que seria de Dom Quixote sem seu fiel escudeiro, Sancho Pança? Hoje em dia,
Sancho poderia ser aquele amigo de infância que segue Dom Quixote em suas
aventuras, meio cético, mas sempre pronto para ajudar e, é claro, para
compartilhar das peripécias loucas do companheiro.
Mas
vamos ao que interessa: as aventuras! Dom Quixote provavelmente se lançaria em
batalhas épicas contra moinhos de vento modernos, que ele confundiria com
monstros terríveis. E ao invés de duelar com cavaleiros, talvez se envolvesse
em debates acalorados nas redes sociais, lutando contra injustiças e defendendo
seus ideais com uma paixão que beira a loucura.
E
o amor? Ah, o amor! Dom Quixote, o romântico incorrigível, poderia se apaixonar
perdidamente por uma influenciadora digital ou por uma colega de trabalho
inalcançável, transformando sua paixão em uma busca obsessiva por perfeição e
idealização.
O
amor de Dom Quixote tem muitas semelhanças com o conceito de amor platônico,
proposto pelo filósofo grego Platão. Ambos os tipos de amor envolvem uma busca
por perfeição e idealização, muitas vezes desvinculada da realidade tangível.
No
caso de Dom Quixote, seu amor idealizado frequentemente recai sobre Dulcineia
del Toboso, uma dama da qual ele fala incessantemente, mas que provavelmente
nunca conheceu de verdade. Ele a idealiza como a perfeição feminina,
atribuindo-lhe características e virtudes que podem nem mesmo corresponder à
realidade. Essa idealização se encaixa perfeitamente no conceito de amor platônico,
onde a pessoa amada é colocada em um pedestal, muitas vezes sem que haja uma
conexão real ou mesmo um relacionamento físico.
Assim
como o amor platônico, o amor de Dom Quixote por Dulcineia é mais uma projeção
de seus próprios desejos e idealizações do que um relacionamento baseado na
realidade. Ele a vê como uma musa inspiradora, uma fonte de beleza e virtude
que o motiva em suas aventuras e o faz aspirar a um ideal inatingível.
Podemos
dizer que o amor de Dom Quixote compartilha muitos elementos com o amor
platônico, ambos refletindo uma busca pela perfeição e transcendência que
muitas vezes só pode ser encontrada na imaginação.
Mas o que torna Dom Quixote tão relevante nos dias de hoje não são apenas suas aventuras absurdas, mas sim a sua luta incansável contra as injustiças do mundo, por mais improváveis que pareçam. Em um mundo onde tantos se resignam à apatia, ele nos lembra da importância de sonhar e lutar por aquilo em que acreditamos, mesmo que isso signifique parecer louco aos olhos dos outros.
Então, quando você se deparar com alguém que parece estar vivendo em um mundo de fantasia, não julgue tão rápido. Quem sabe, talvez seja apenas um Dom Quixote moderno, lutando contra seus próprios moinhos de vento.