Tanto se fala em preservação do meio ambiente, tantos falam tantas coisas acerca do tema, com tanta propriedade, que até conseguem convencer uma grande parcela da população, cidadãos éticos, melhor dizendo: cidadãos “bioéticos”, agem a partir do principio de para cada um, de acordo com as regras de livre mercado, mercado dominado por poucos, agem em beneficio próprio, como únicos proprietários dos bens naturais, utilizando os meios com fins lucrativos.
Bioéticos, seriam cidadãos que refletem a relação do homem com o homem e com a natureza, porem os resultados dizem outra coisa.
A relação causa e consequência, contrariam “Hume”, quando a fala e discurso apontam numa direção, os atos em outra e as conseqüências que ocupam nossa realidade, confirmam que para cada ato injusto uma conseqüência justa.
A cada ato uma conseqüência, a repetição dos atos e conseqüências, fornecem fortes indicativos do que começa errado ou torto, não pode acabar bem.
O senso comum com sua vasta experiência já atesta, que é assim, isto de longa data, desde que o homem começou a andar sobre os membros inferiores.
Pergunto o que o futuro ao julgar o presente, que passado um dia será!, penalizará a quem ainda aqui estiver conjugando o verbo viver ou o verbo sobreviver?
O homem, com suas teorias normativas, defende a idéia de que as escolhas são moralmente necessárias, proibidas ou permitidas, teoria moral que orienta nossas escolhas sobre o que deve ser feito.
Sendo livre, age movido por uma vontade livre, almejando, por sua vez, a perfeição moral. Então sendo livre, porque age contra o que mais almeja? Porque nada contra a correnteza? A felicidade que é o objetivo comum e universal, esta em outra extremidade, no entanto as atitudes o levam a outro extremo, por que?
Em 610 a.C, Anaximandro, filósofo pré-socrático, desempenhou seu papel nas atividades práticas de Mileto, dizem que foi o “primeiro homem a desenhar o mundo habitado num quadro”, para a época dele, a representação do mundo habitado num quadro foi fruto de um posicionamento especial com relação ao meio, onde ele assumiu uma posição de quem olha de fora, mas estando dentro.
Este filósofo, buscou na natureza explicações para os acontecimentos, isto é fora da mitologia, pensou que a natureza das coisas nenhum oposto isolado consegue obter ascendência permanente, pois tal domínio destruiria o equilíbrio do universo. Sendo assim, o processo do mundo é auto-regulador, mantendo seu ritmo graças a oscilações alternadas na direção de um extremo a outro.
As coisas outorgam a devida retribuição umas as outras por sua injustiça de acordo com o esquema feito pelo tempo. Há uma justiça inerente a justiça das coisas que refaz o equilíbrio após o decurso de um certo período de tempo.
Como afirma Prof. Luís Antônio Vieira, Para explicar o nascimento e o desaparecimento das coisas, o filósofo grego transferiu para o mundo natural a idéia de direito que se aplicava antes apenas à vida social. Para Anaximandro, os elementos da natureza pagam pelas injustiças que são cometidas no mundo. E foi assim que teve origem a idéia filosófica de cosmos palavra que designava anteriormente apenas a justa ordem da comunidade e do Estado. A crença na idéia de lei e de direito como fundamento da existência levou o pensamento grego a projetar, no próprio universo, a imagem do cosmos sócio-político. A ordem cósmica foi pensada, assim, a partir da ordem política. Não só na vida humana, mas também na natureza, devia prevalecer a isonomia, ou seja, o princípio da igualdade de todos perante a lei.
Dois mil e quinhentos anos mais tarde, as idéias de Anaximandro cobrem-se de sentido ante as evidências da crise ecológica contemporânea. O tipo de ordem estabelecido na sociedade está hoje, sem dúvida, gerando desordem na natureza. A desorganização das leis da natureza parece estar refletindo as injustiças da vida social. A crise ambiental coloca, portanto em questão o próprio modo de organização da sociedade e as leis que regem sua reprodução, isto é, sua continuidade.
Ha uma atividade constante dentro do meio ambiente e um equilíbrio que possibilitam a continuidade da vida, neste momento a continuidade depende de organização racional da utilização do meio ambiente de forma sustentável, ou a palavra continuidade deixará de ter sentido, pelo menos para o homem, ser que tem consciência de seus atos. Será que tem consciência?
Ainda Vieira: Somos então levados a nos perguntar: como a antiga intuição do filósofo grego se materializa nos dias de hoje? Como se relacionam os fatos sociais e os fenômenos de natureza? Que relação existiria entre o efeito estufa e a desigualdade social, entre a destruição da camada de ozônio e os direitos humanos, entre o meio ambiente e a democracia? Seguindo a pista de Anaximandro, tentaremos investigar na presente crise ambiental os elementos que refletem processos de destruição de direitos e de produção de desigualdades. Assim fazendo, estaremos também identificando nas lutas ambientais os caminhos que levam, ao mesmo tempo, ao restabelecimento do equilíbrio na natureza e à construção da democracia na sociedade.
Anaximandro, com sua inteligência especulativa, pode ser visto como o criador da física teórica, sendo este filósofo observador da natureza, entendeu que a cada movimento há uma reação contraria, como forma de equilíbrio e auto-regulação, aplicados a vida social, associando-se a idéia como articulação das lutas democráticas.
O movimento social contra a degradação do meio ambiente vem se articulando crescentemente com as lutas democráticas pela implantação de um novo modelo de cidadania. A defesa dos direitos ambientais das populações unifica lutas sociais com distintos objetivos específicos: o acesso a bens coletivos como a água e o ar, em níveis e qualidade compatíveis com condições adequadas de existência; o acesso a recursos naturais de uso comum necessário à existência de grupos sócio-culturais específicos como seringueiros, apanhadores de castanha e comunidade indígenas; a garantia de uso público do patrimônio natural constituído por áreas verdes, cursos d.água e nascentes, freqüentemente degradados pelo uso privado incompatível com os interesses coletivos da sociedade.
Essas lutas têm por objetivo geral introduzir princípios democráticos nas relações sociais mediadas pela natureza: a igualdade no usufruto dos recursos naturais e na distribuição dos custos ambientais do desenvolvimento; a liberdade de acesso aos recursos naturais, respeitados os limites físicos e biológicos da capacidade de suporte da natureza; a solidariedade entre as populações que compartilham o meio ambiente comum; o respeito à diversidade da natureza e os diferentes tipos de relação que as populações com ela estabeleçam; a participação da sociedade no controle das relações entre os homens e a natureza.
A solução possível, dentro da organização social, é conciliar progresso e Natureza, viver com conforto, mas preservar o meio ambiente, não há outra opção para a continuidade da vida, pois é preciso que se faça imediatamente uma parceria psicológica entre – O homem e o meio. Levamos muito tempo para concluir que é a partir do entendimento, é a partir da iniciativa e boa vontade, mas para isto primeiro precisamos levar a sério a questão ambiental, e que nesta luta todos perdem. O homem é parte da natureza, ele não é melhor, mas pode tornar-se o pior.
Ainda Vieira, tais lutas exprimem a busca de democratização do controle sobre os recursos naturais. Pois, como o meio ambiente é o suporte natural da vida e do trabalho das populações, a luta contra a degradação ambiental tem por objetivo a preservação dos direitos dos cidadãos à vida e ao trabalho. Como as relações das populações com o meio ambiente constituem formas culturais específicas de existência dos grupos sociais, a degradação do meio ambiente é, via de regra, um processo de destruição de modos de vida e do direito à diversidade cultural de relacionamento das comunidades com a natureza. A crise ambiental exprime, assim, um duplo processo de expropriação das condições materiais e culturais de existência e de trabalho das populações. A superação desta crise passa, portanto, pela restauração e consolidação dos direitos ambientais das populações atingidas por agressões ao meio ambiente.
A destruição da natureza e sua exploração desenfreada e injusta, é tão prejudicial, que as culturas terminam por ser modificadas, destituídas, destruídas e tendem a desaparecer, juntamente com o pretenso personagem principal, o homem como assim se vê, e assim em sua pretensão explora a natureza, sob alegação de que tem direito de explorar se for para o bem da humanidade.
Fontes:
LUCE, J.V. Curso de Filosofia Grega. Jorge Zahar Editor. 1992. Rio de Janeiro/RJ
http://www.defendebrasil.org.br/mat_colaboradores.php?Codigo=412