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sábado, 21 de setembro de 2024

Deixar Pra Lá

Sabe quando a gente se depara com algo que incomoda, uma situação que exige uma resposta, mas, em vez de confrontá-la, a gente simplesmente pensa: "deixa pra lá"? Pode ser uma discussão que não vale o desgaste, um mal-entendido que parece menor do que o esforço de esclarecer, ou até uma oportunidade que simplesmente passa. A sensação de alívio vem quase imediatamente, como se empurrar para o canto da mente resolvesse o problema. Mas será que resolve mesmo?

Deixar pra lá parece uma estratégia comum no nosso dia a dia, quase um mecanismo de defesa. Quantas vezes a gente vê alguém se irritando no trânsito, leva um corte no trabalho, ou até em casa, com pequenas frustrações, e decide que o melhor é deixar pra lá? Afinal, insistir parece só gerar mais estresse. Aparentemente, a paz momentânea ganha do conflito.

O Peso Invisível

O problema é que, ao longo do tempo, essas situações deixadas de lado começam a pesar. É como tentar limpar a casa jogando poeira debaixo do tapete. Você não vê a sujeira, mas ela está ali, crescendo. Psicologicamente, isso pode se manifestar como ansiedade, irritabilidade, e até um cansaço existencial. As questões não resolvidas ficam rodando no subconsciente, e às vezes até voltam à tona quando menos esperamos, numa simples conversa ou num momento de introspecção.

Nietzsche, o filósofo alemão, tem uma frase interessante para essa ideia: “O que não enfrentamos em nós mesmos acabará se tornando nosso destino.” Ele toca justamente no ponto de que ignorar ou deixar pra lá não nos livra da questão, apenas adia o confronto. E, muitas vezes, a espera só aumenta o tamanho do desafio.

Sabedoria ou Covardia?

Há uma linha tênue entre a sabedoria de saber quando deixar algo passar e a covardia de evitar o confronto. A filosofia estoica, por exemplo, nos ensina a distinguir o que está sob nosso controle do que não está. Em situações onde realmente não podemos mudar nada, talvez o melhor seja deixar pra lá, praticando o desapego. Epicteto, um dos grandes estoicos, dizia: “Não é o que acontece com você, mas como você reage a isso que importa.”

Mas e quando algo é, de fato, controlável? Quando temos a oportunidade de resolver um mal-entendido ou de enfrentar uma situação desconfortável e optamos por deixar pra lá, será que estamos exercitando a sabedoria estoica ou estamos apenas evitando o desconforto?

Talvez a resposta esteja na intenção por trás da escolha. Se deixar pra lá vem de uma decisão consciente, ponderada, onde pesamos os benefícios e as consequências, então é uma ação intencional e até nobre. Mas se vem de medo ou preguiça, pode ser uma forma de escapar da responsabilidade.

O Confronto Consigo Mesmo

Deixar pra lá é, muitas vezes, deixar para depois. Mas esse "depois" pode nos encontrar num momento mais vulnerável, quando as pequenas coisas que acumulamos finalmente transbordam. Talvez a questão não seja tanto sobre confrontar o outro ou uma situação específica, mas enfrentar o desconforto que sentimos internamente ao lidar com o que nos incomoda. Nesse ponto, deixar pra lá pode ser mais um adiamento de um confronto com nós mesmos.

Freud, pai da psicanálise, talvez diria que deixar pra lá é reprimir algo. E o que é reprimido, mais cedo ou mais tarde, retorna de maneira distorcida. Aquilo que escolhemos evitar não desaparece, apenas se transforma em outro tipo de sofrimento.

Um Equilíbrio Necessário

No fim, deixar pra lá pode ser tanto uma virtude quanto um vício, dependendo do contexto e da nossa postura diante disso. A vida exige um certo jogo de cintura, um equilíbrio entre o que merece nossa atenção e o que pode ser deixado para trás. Aprender a fazer essa distinção é parte do nosso crescimento pessoal. Afinal, nem tudo precisa ser resolvido, mas também nem tudo pode ser ignorado.

Quando deixamos pra lá de forma consciente e com sabedoria, talvez encontremos uma leveza que realmente nos liberta. Caso contrário, podemos acabar carregando um fardo invisível, que só aumenta com o tempo. E você? Será que tudo que você "deixou pra lá" realmente ficou no passado, ou, no fundo, ainda te acompanha?