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terça-feira, 17 de setembro de 2024

Pescador de Ilusões

Canção de O Rappa

 

Se meus joelhos não doessem mais
Diante de um bom motivo
Que me traga fé, que me traga fé

Se por alguns segundos eu observar
E só observar
A isca e o anzol, a isca e o anzol
A isca e o anzol, a isca e o anzol
Ainda assim estarei pronto pra comemorar
Se eu me tornar menos faminto
E curioso, curioso
O mar escuro, trará o medo lado a lado
Com os corais mais coloridos

Valeu a pena, ê ê
Valeu a pena, ê ê
Sou pescador de ilusões
Sou pescador de ilusões

Valeu a pena, ê ê
Valeu a pena, ê ê
Sou pescador de ilusões
Sou pescador de ilusões

Se eu ousar catar
Na superfície de qualquer manhã
As palavras de um livro sem final
Sem final, sem final, sem final, final

Valeu a pena, ê ê
Valeu a pena, ê ê
Sou pescador de ilusões
Sou pescador de ilusões

Valeu a pena, ê ê
Valeu a pena, ê ê
Sou pescador de ilusões
Sou pescador de ilusões

Se eu ousar catar
Na superfície de qualquer manhã
As palavras de um livro sem final
Sem final, sem final, sem final, final

Valeu a pena, ê ê
Valeu a pena, ê ê
Sou pescador de ilusões

Valeu a pena, ê ê
Valeu a pena, ê ê
Sou pescador de ilusões
Sou pescador de ilusões

Valeu a pena
Valeu a pena
Sou pescador de ilusões

Valeu a pena
Valeu a pena
Sou pescador de ilusões
Sou pescador de ilusões

Valeu a pena

Fonte: LyricFind

Compositores: Alexandre Menezes / Lauro Jose De Farias / Marcelo Falcão Custodio / Marcelo Fontes Do Nascimento Santana / Marcelo Lobato

Há algo na melodia de uma música que nos conduz suavemente para um universo de ilusões. Assim como um pescador lança sua rede no mar, guiado pelo som das ondas, somos também levados por acordes e versos que nos fazem sonhar. Na música "Pescador de Ilusões", dos Rappa, essa metáfora ganha corpo, revelando o desejo incessante de encontrar algo que preencha o vazio, que dê sentido à travessia. Mas, assim como na vida, nem sempre a rede traz aquilo que esperamos. Entre o balanço da melodia e a realidade que nos escapa, seguimos, afinal, pescadores de ilusões.

Assim como na canção "Pescador de Ilusões", em que a busca por um ideal parece ser guiada por uma esperança quase inalcançável, muitos hoje lançam suas redes no vasto oceano das mídias sociais, buscando algo mais: likes, seguidores, influência. No entanto, nem sempre essa pesca é feita de forma honesta. Muitas vezes, aqueles que parecem guiar seus seguidores estão, na verdade, pescando ilusões para alimentar suas próprias narrativas, construindo realidades distorcidas que só existem no filtro da tela. São mestres em manipular, criando falsas histórias que prometem um ideal inalcançável ou uma solução mágica para os problemas da vida. Nessa maré digital, fica difícil separar o real do ilusório, e muitos acabam enredados por essas falsas promessas, navegando sem perceber que estão sendo guiados por uma correnteza enganosa.

Nas redes sociais, a metáfora da isca e do anzol se encaixa perfeitamente no jogo de manipulação que muitos praticam. A isca, brilhante e atraente, pode ser aquela postagem cheia de frases motivacionais ou a promessa de um estilo de vida perfeito, cuidadosamente projetada para captar a atenção. O anzol, no entanto, está escondido, esperando que o seguidor, seduzido pela ilusão, morda. Assim como o pescador que lança a isca no mar, certos influenciadores lançam suas narrativas para atrair seguidores, enganchando-os em falsas realidades que, uma vez fisgadas, podem ser difíceis de escapar. O ciclo de desinformação e manipulação se perpetua, e quem morde a isca muitas vezes não percebe o anzol cravado nas profundezas de suas expectativas e esperanças.

"Pescar ilusões é um trabalho tão necessário quanto a pesca do alimento. A alma tem fome, e ela não se sacia apenas com o pão que se come." Essas palavras poderiam ser de qualquer sonhador que, na busca por algo maior, se lança nas águas da imaginação e do desejo. Mas o que significa, afinal, ser um pescador de ilusões?

No cotidiano, somos todos, em algum momento, esses pescadores. Entramos em nossos barcos – que podem ser nossos projetos, nossas esperanças, nossos relacionamentos – e lançamos nossas redes, acreditando que pegaremos algo de valor. Pode ser o emprego ideal, o relacionamento perfeito, a casa dos sonhos. A ilusão se mistura com a expectativa e, muitas vezes, ao puxarmos a rede, encontramos nada além de água, vazia, refletindo apenas o céu distante.

O filósofo brasileiro Rubem Alves tinha uma visão muito particular sobre as ilusões. Para ele, as ilusões não são meras mentiras, mas sim projeções de desejos profundos. Ele dizia que as ilusões são como os brinquedos da infância: eles não são reais no sentido estrito da palavra, mas desempenham um papel essencial na formação do ser. É através das ilusões que sonhamos e, ao sonharmos, damos novos significados à nossa realidade.

Alves também acreditava que, para ser feliz, é preciso saber lidar com o vazio das redes vazias. Afinal, quantas vezes buscamos algo que, ao final, se revela ilusório? E quantas dessas vezes somos capazes de ver, naquilo que não conseguimos alcançar, um ensinamento, um caminho para algo maior? O pescador de ilusões precisa ser também um artesão da frustração, transformando o não em outra oportunidade de lançar a rede.

No dia a dia, isso se manifesta quando, por exemplo, idealizamos um relacionamento e descobrimos que a outra pessoa não corresponde às expectativas. A ilusão era nossa companheira, alimentada pelas histórias que criamos em nossas cabeças. Quando a realidade surge, às vezes dura e implacável, há quem jogue tudo fora, desesperado. Mas o verdadeiro pescador de ilusões percebe que aquele vazio tem valor. Rubem Alves diria que é o vazio que nos ensina a ajustar nossas redes, a refinar nossos desejos.

A verdade é que, sem ilusões, talvez não tivéssemos coragem de viver. Elas nos impulsionam a sair do lugar, a buscar, a arriscar. Elas são o vento que enche as velas de nossas embarcações. Mas, como o vento, elas são voláteis e, muitas vezes, nos conduzem para mares que não esperávamos. O desafio é aprender a navegar, não tanto em busca do peixe, mas pelo simples ato de pescar.

Ao fim do dia, o pescador de ilusões volta à praia, às vezes com as mãos vazias, mas o coração cheio de histórias. E quem sabe, é nessa jornada que ele encontra, de fato, o que sempre procurou: não o objeto de seus desejos, mas a si mesmo, entre as ondas e o horizonte.

Link Música “Pescador de Ilusões” do Rappa:

https://www.youtube.com/watch?v=9GhWFIgaqL0