Canção de O Rappa
Se meus joelhos não doessem mais
Diante de um bom motivo
Que me traga fé, que me traga fé
Se por alguns segundos eu observar
E só observar
A isca e o anzol, a isca e o anzol
A isca e o anzol, a isca e o anzol
Ainda assim estarei pronto pra comemorar
Se eu me tornar menos faminto
E curioso, curioso
O mar escuro, trará o medo lado a lado
Com os corais mais coloridos
Valeu a pena, ê ê
Valeu a pena, ê ê
Sou pescador de ilusões
Sou pescador de ilusões
Valeu a pena, ê ê
Valeu a pena, ê ê
Sou pescador de ilusões
Sou pescador de ilusões
Se eu ousar catar
Na superfície de qualquer manhã
As palavras de um livro sem final
Sem final, sem final, sem final, final
Valeu a pena, ê ê
Valeu a pena, ê ê
Sou pescador de ilusões
Sou pescador de ilusões
Valeu a pena, ê ê
Valeu a pena, ê ê
Sou pescador de ilusões
Sou pescador de ilusões
Se eu ousar catar
Na superfície de qualquer manhã
As palavras de um livro sem final
Sem final, sem final, sem final, final
Valeu a pena, ê ê
Valeu a pena, ê ê
Sou pescador de ilusões
Valeu a pena, ê ê
Valeu a pena, ê ê
Sou pescador de ilusões
Sou pescador de ilusões
Valeu a pena
Valeu a pena
Sou pescador de ilusões
Valeu a pena
Valeu a pena
Sou pescador de ilusões
Sou pescador de ilusões
Valeu a pena
Fonte: LyricFind
Compositores: Alexandre Menezes / Lauro Jose De
Farias / Marcelo Falcão Custodio / Marcelo Fontes Do Nascimento Santana /
Marcelo Lobato
Há
algo na melodia de uma música que nos conduz suavemente para um universo de
ilusões. Assim como um pescador lança sua rede no mar, guiado pelo som das
ondas, somos também levados por acordes e versos que nos fazem sonhar. Na
música "Pescador de Ilusões", dos Rappa, essa metáfora ganha corpo,
revelando o desejo incessante de encontrar algo que preencha o vazio, que dê
sentido à travessia. Mas, assim como na vida, nem sempre a rede traz aquilo que
esperamos. Entre o balanço da melodia e a realidade que nos escapa, seguimos,
afinal, pescadores de ilusões.
Assim
como na canção "Pescador de Ilusões", em que a busca por um ideal
parece ser guiada por uma esperança quase inalcançável, muitos hoje lançam suas
redes no vasto oceano das mídias sociais, buscando algo mais: likes,
seguidores, influência. No entanto, nem sempre essa pesca é feita de forma
honesta. Muitas vezes, aqueles que parecem guiar seus seguidores estão, na
verdade, pescando ilusões para alimentar suas próprias narrativas, construindo
realidades distorcidas que só existem no filtro da tela. São mestres em
manipular, criando falsas histórias que prometem um ideal inalcançável ou uma
solução mágica para os problemas da vida. Nessa maré digital, fica difícil
separar o real do ilusório, e muitos acabam enredados por essas falsas
promessas, navegando sem perceber que estão sendo guiados por uma correnteza
enganosa.
Nas
redes sociais, a metáfora da isca e do anzol se encaixa perfeitamente no jogo
de manipulação que muitos praticam. A isca, brilhante e atraente, pode ser
aquela postagem cheia de frases motivacionais ou a promessa de um estilo de
vida perfeito, cuidadosamente projetada para captar a atenção. O anzol, no
entanto, está escondido, esperando que o seguidor, seduzido pela ilusão, morda.
Assim como o pescador que lança a isca no mar, certos influenciadores lançam
suas narrativas para atrair seguidores, enganchando-os em falsas realidades
que, uma vez fisgadas, podem ser difíceis de escapar. O ciclo de desinformação
e manipulação se perpetua, e quem morde a isca muitas vezes não percebe o anzol
cravado nas profundezas de suas expectativas e esperanças.
"Pescar
ilusões é um trabalho tão necessário quanto a pesca do alimento. A alma tem
fome, e ela não se sacia apenas com o pão que se come." Essas palavras
poderiam ser de qualquer sonhador que, na busca por algo maior, se lança nas
águas da imaginação e do desejo. Mas o que significa, afinal, ser um pescador
de ilusões?
No
cotidiano, somos todos, em algum momento, esses pescadores. Entramos em nossos
barcos – que podem ser nossos projetos, nossas esperanças, nossos
relacionamentos – e lançamos nossas redes, acreditando que pegaremos algo de
valor. Pode ser o emprego ideal, o relacionamento perfeito, a casa dos sonhos.
A ilusão se mistura com a expectativa e, muitas vezes, ao puxarmos a rede,
encontramos nada além de água, vazia, refletindo apenas o céu distante.
O
filósofo brasileiro Rubem Alves tinha uma visão muito particular sobre as
ilusões. Para ele, as ilusões não são meras mentiras, mas sim projeções de
desejos profundos. Ele dizia que as ilusões são como os brinquedos da infância:
eles não são reais no sentido estrito da palavra, mas desempenham um papel
essencial na formação do ser. É através das ilusões que sonhamos e, ao
sonharmos, damos novos significados à nossa realidade.
Alves
também acreditava que, para ser feliz, é preciso saber lidar com o vazio das
redes vazias. Afinal, quantas vezes buscamos algo que, ao final, se revela
ilusório? E quantas dessas vezes somos capazes de ver, naquilo que não
conseguimos alcançar, um ensinamento, um caminho para algo maior? O pescador de
ilusões precisa ser também um artesão da frustração, transformando o não em
outra oportunidade de lançar a rede.
No
dia a dia, isso se manifesta quando, por exemplo, idealizamos um relacionamento
e descobrimos que a outra pessoa não corresponde às expectativas. A ilusão era
nossa companheira, alimentada pelas histórias que criamos em nossas cabeças.
Quando a realidade surge, às vezes dura e implacável, há quem jogue tudo fora,
desesperado. Mas o verdadeiro pescador de ilusões percebe que aquele vazio tem
valor. Rubem Alves diria que é o vazio que nos ensina a ajustar nossas redes, a
refinar nossos desejos.
A
verdade é que, sem ilusões, talvez não tivéssemos coragem de viver. Elas nos
impulsionam a sair do lugar, a buscar, a arriscar. Elas são o vento que enche
as velas de nossas embarcações. Mas, como o vento, elas são voláteis e, muitas
vezes, nos conduzem para mares que não esperávamos. O desafio é aprender a
navegar, não tanto em busca do peixe, mas pelo simples ato de pescar.
Ao
fim do dia, o pescador de ilusões volta à praia, às vezes com as mãos vazias,
mas o coração cheio de histórias. E quem sabe, é nessa jornada que ele
encontra, de fato, o que sempre procurou: não o objeto de seus desejos, mas a
si mesmo, entre as ondas e o horizonte.
Link
Música “Pescador de Ilusões” do Rappa:
https://www.youtube.com/watch?v=9GhWFIgaqL0