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sábado, 19 de outubro de 2024

Plataformização do Trabalho

A cada clique, a cada deslizar de dedo no celular, o trabalho vai se redesenhando diante de nossos olhos sem que, muitas vezes, a gente se dê conta. Lembra de quando a ideia de "ir trabalhar" envolvia sair de casa, bater ponto ou passar horas no trânsito? Hoje, a cena é diferente: é possível "estar trabalhando" enquanto esperamos a comida chegar, respondemos uma mensagem ou fazemos um pedido de transporte. O trabalho não tem mais a cara de uma fábrica ou de um escritório fixo; ele se esconde nos aplicativos e nas plataformas digitais que usamos no dia a dia.

A plataformização do trabalho, termo que parece pesado, descreve essa mudança, onde a interação com plataformas digitais se torna uma das principais formas de mediação entre o trabalhador e o serviço oferecido. Basicamente, iFood, a Uber, a Rappi, e até o Airbnb são exemplos disso: empresas que funcionam como intermediárias, conectando trabalhadores (que muitas vezes nem se reconhecem como tais) a consumidores de serviços. Mas, ao contrário de um emprego formal, aqui não existe chefe visível nem contrato assinado em papel.

Por trás da comodidade de pedir um carro ou uma refeição pelo celular, a realidade é outra para quem executa a tarefa. A plataformização oferece uma liberdade que, em muitos casos, é mais ilusória do que real. A flexibilidade de horários, uma das promessas dessas plataformas, esconde jornadas incertas e instáveis, sem garantia de salário fixo ou direitos trabalhistas tradicionais. O motorista de aplicativo, por exemplo, pode escolher quando trabalhar, mas isso geralmente significa estar à mercê dos algoritmos e da demanda – que nem sempre respeitam seu cansaço ou suas contas no final do mês.

Além disso, a plataformização redefine o próprio conceito de "trabalho". Se antes o valor estava na produção de algo físico, hoje o que se vende é o tempo e a disposição. Como o filósofo sul-coreano Byung-Chul Han coloca, o trabalhador digital está em um regime de autoexploração, onde ele é, ao mesmo tempo, patrão e empregado de si mesmo. Essa nova dinâmica levanta questões éticas sobre o que é trabalho digno e sobre como as leis trabalhistas podem (ou devem) se adaptar.

Então, quando chamamos aquele carro por aplicativo ou pedimos comida por delivery, vale a pena refletir: estamos testemunhando a comodidade moderna ou apenas uma nova forma de precarização do trabalho? A plataformização abre uma série de debates sobre o futuro das relações de trabalho, sobre como protegemos os trabalhadores e como enxergamos o papel das plataformas no cotidiano. E se o futuro do trabalho estiver menos em nossas mãos e mais nas mãos dos algoritmos?