O autor do Livro “A Morte de Ivan Ilitch” é o renomado escritor russo Liév Tolstói ou mais conhecido em português por Leon Tolstói (1828-1910), profundo pensador social e moral é considerado um dos mais importantes autores da narrativa realista. Realista porque consegue mostrar toda a fragilidade do ser humano, muitas vezes ele choca pela forma como expressa a brutal realidade, suas obras nos fazem analisar a importância de nossos valores e nos conscientiza que eventualmente estejamos vivendo e passando pelos mesmos dramas, por esta razão a leitura de suas obras se tornam importantes e mais interessantes, além de ser muito atual, elas quando tratam do tema da morte o tratam como um elemento catártico.
Nasceu em 1828, em uma família aristocrática, Tolstói é conhecido pelos romances Guerra e Paz (1869) e Anna Karenina (1877), muitas vezes citados como verdadeiros pináculos da ficção realista. Ele alcançou aclamação literária ainda jovem, primeiramente com sua trilogia semi-autobiográfica, Infância, Adolescência e Juventude (1852-1856) e por suas Crônicas de Sebastopol (1855), obra que teve como base suas experiências na Guerra da Crimeia. A ficção de Tolstói inclui dezenas de histórias curtas e várias novelas como A Morte de Ivan Ilitch (1886), Felicidade Conjugal (1859) e Hadji Murad (1912). Ele também escreveu algumas peças e diversos ensaios filosóficos.
Nas palavras de Tolstói: “Estou convencido de que Schopenhauer é o mais genial dos homens. (…) Ao lê-lo não posso compreender como o seu nome pôde permanecer desconhecido. A única explicação possível é a que ele mesmo repete tantas vezes, de que há quase só idiotas no mundo.”
No capítulo VI de A Confissão, Tolstói citou o último parágrafo do trabalho de Schopenhauer. Nele, Schopenhauer explica como o nada que resulta da completa "negação de si mesmo" é apenas um nada relativo, e, portanto, não deve ser temido. O romancista ficou impressionado com a descrição da renúncia ascética cristã, budista e hindu como o caminho da santidade. Depois de ler essas passagens, que são abundantes nos capítulos éticos de Schopenhauer, o nobre russo escolheu a pobreza e a negação formal da vontade:
“Já encontramos um caminho para o ascetismo, ou negação do querer propriamente dito, entendendo eu por tal expressão precisamente aquilo que o Evangelho chama renunciar a si mesmo e levar a própria cruz (Mateus XVI). Tal caminho se acentuou sempre mais e deu origem aos penitentes, aos anacoretas e ao estado monacal, que, puro e santo primeiro, e, portanto, fora de proporção com a natureza da maior parte dos homens, não podia conduzir senão à hipocrisia e à abominação, porque abusus optimi, pessimus (torna-se péssimo o abuso do ótimo). Desenvolvendo-se o cristianismo, vemos este embrião ascético germinar e atingir o florescimento nos escritos dos santos e dos místicos cristãos. Estes, além do mais puro amor, pregam a resignação absoluta, a pobreza voluntária, a verdadeira calma, a completa indiferença pelas coisas da terra, o dever de morrer para a vontade e de renascer em Deus, o olvido total da própria pessoa para a absorção na contemplação do Senhor.”
"Assim, Sidarta Gautama nasceu um príncipe, mas voluntariamente passou a viver como mendigo; e Francisco de Assis, o fundador das ordens mendicantes que, foi criado numa redoma, e poderia escolher dentre qualquer filha de qualquer nobre. No entanto, quando lhe fora perguntado 'Agora, Francisco, você não vai fazer sua escolha agora dessas beldades?' ele: 'Eu fiz uma escolha muito mais bonita!' 'Qual?' 'La povertà (a pobreza)': depois disso ele abandonou tudo e perambulou pela terra como um mendicante."
Eis algumas obras de Tolstói:
- Infância (1852)
- Adolescência (1854)
- Juventude (1856)
- Felicidade Conjugal (1859)
- Os cossacos (1863)
- Guerra e Paz (1869)
- Anna Karenina (1877)
- A Morte de Ivan Ilitch (1886)
- A Sonata a Kreutzer (1889)
- O Diabo (1889)
- Ressurreição (1899)
- Falso Cupom (1904)
- Hadji Murat (1904)
É um livro curto, trata-se de uma pequena novela de 80 páginas, a história acompanha a trajetória de vida e que levou à morte de Ivan Ilitch. Ivan é um burocrata, um juiz que viveu uma vida bem dentro de um padrão esperado na sua época, seu lema era ter uma vida “leve, agradável, alegre e sempre decente e aprovada pela sociedade”: formou-se em direito, progrediu em cargos nos empregos que ocupou, casou-se não por amor, mas por achar que era o que a sociedade aprovaria e era isto o melhor a fazer, teve filhos e comprou uma casa. Enquanto decorava sua nova sala de estar, Ivan leva um escorregão e bate com as costas em uma quina, não levando a sério as consequências que o acidente lhe poderia ter causado. Achando que fora somente um acidente leve, continua com suas rotinas diárias normalmente, o acidente nos sugere que seja este o causador da doença inexplicável.
Diante da morte iminente, Ivan é confrontado e tem que encarar sua própria fragilidade, assim como ele, que achava que a morte era algo distante e intocável, agora a vê batendo a sua porta, a maioria das pessoas também pensam como ele. Um dos seus conflitos era ver seus familiares seguindo a vida de certa forma normal, aparentemente vividos e sem preocupar-se ou sensibilizar-se com seu drama, ele esperava que seus familiares fossem mais atenciosos com ele, ele encontra apoio apenas em Guerrássim, o humilde copeiro, que passa horas conversando com o enfermo e tratando-o como ele realmente é: uma pessoa, que cuida dele como a um doente terminal, um moribundo, que o trata como igual, sem escalas sociais, que limpa as suas fezes sem reclamar ou fazer ares de nojo, ele é o como um representante dos humildes trabalhadores, que na sua simplicidade são mais sábios e humanos. As vezes encontramos nos estranhos o apoio que mais precisamos nos momentos mais frágeis de nossas vidas!
As reflexões de Ilitch são reflexões que atingem a todos os seres humanos, ela é de cunho global, porque são dúvidas e sofrimentos naturais a qualquer um que esteja vivo, encaráramos nossa própria fragilidade quando estamos perto de nossa morte ou da morte de alguém próximo a nós, o enfrentamento é tão terrível que inventamos desculpas para fugir deste tipo de reflexões, pois estamos sempre muito ocupados com as coisas dos vivos: estudos, emprego, compra da casa, viagens, família e até a reforma na sala de estar.
“Eu não existirei, então o que existirá? Não existirá nada. Então onde estarei, quando eu não existir? Será a morte? Não, não quero.” Pg. 47
A morte dele chega justamente quando está no cume
de sua ascensão, isto é, está bem empregado, com bom salário, as boas funções,
a estima social e jurisdição adequadas para a sua posição na sociedade, tudo
acontece muito rápido, a doença lhe vai consumindo toda sua vitalidade, só ele
tem consciência da gravidade da doença, as pessoas a sua volta o tratam apenas
como um doente fazendo tratamento, e isso o irrita e deprime profundamente, a família
próxima fisicamente, mas distante afetivamente, sem falar nos diagnósticos dos
médicos e sua forma de tratar como apenas mais um caso, um corpo nada mais do
que isso, numa frieza, sem dialogo, apenas diagnósticos insatisfatórios.
O livro nos permite ter contato com a luta derradeira e seus movimentos dentro da consciência, é um diálogo com ele mesmo, ele deixa claro sua concepção de morte e ao mesmo tempo nos faz pensar a respeito de valores e convenções sociais, convenções sociais que atribuímos valores irreais e a partir disto escolhemos a nossa maneira equivocada de viver, nos faz um alerta para não deixarmos este tipo de revisão de vida somente para o final da caminhada quando já é tarde demais para fazer mudanças, antes de tudo nos faz pensar a respeito do que seja realmente importante buscar nesta vida, é um livro impressionante.