O Brasil está localizado no hemisfério sul, aqui
a primavera começa às 10h31 da manhã desta terça-feira, 22 de setembro do ano
de 2020. É quando acontece o Equinócio da Primavera aqui no Hemisfério Sul e de
Outono no Hemisfério Norte. Dia e noite têm a mesma duração.
Estamos em outro grande ponto de virada na dança
cósmica da Lua, Sol e Terra. Mudamos de marcha quando mudamos a estação. É o ponto no ano do equilíbrio absoluto
entre a noite e o dia. O feminino e o masculino. O Yin e o Yang.
Mas o que marca, astronomicamente, o início da
primavera?
A data de início da primavera possui relação com
um fenômeno chamado equinócio, que nada mais é do que o período do ano
em que os dois hemisférios são igualmente iluminados pelos raios solares, de
forma que os dias e as noites possuem, basicamente, a mesma duração.
O dia 22 de setembro na natureza é o dia do equilíbrio!
Então, que sejamos tomados
pelos bons ventos da primavera! Tomados pelos ventos do equilíbrio! Tomados por
ventos da virtude ética! Tomados pela coragem, o autodomínio, a generosidade e a veracidade.
A sabedoria elementar
reconhece que a virtude está no meio, num ponto de equilíbrio entre dois
excessos incomunicáveis entre si. O ser humano vive na luta incessante entre o
bem e o mal, saúde e doença. Não há neutralidade, pois, a força de
repulsão e atração de todas as coisas é proporcional à diferença entre os seus extremos, a polarização exerce forças que movimentam o que as
coisas são, assim como na primavera muitas sementes carregam a potência de uma
arvore, a semente carrega a possibilidade de mudança na potência contida nela
mesma.
Para Aristóteles todas
as coisas são formas e matéria, podendo mudar de forma e permanecer na mesma
matéria. Desta forma, o movimento constitui-se em ato e potência, isto
é, aquilo que as coisas são, e a potência é a possibilidade que elas
podem vir a ser.
O homem está destinado ao meio,
mas não pode perder de vista os dois extremos.
Diante deles, tudo é ínfimo, desnecessário, passageiro, assim como a primavera
que enche a natureza de cores e vida, o inverno por sua natureza lança o
desafio entre a vida e a morte. A base da virtude de todas as virtudes,
é o “estado de luta”, a mudança de estação é o começo de um
novo estado de luta, encontrar o ponto de equilíbrio é uma questão de vida ou
morte.
Nietzsche dizia que a Vontade de Potência é a
principal força motriz, que existe em cada Ser e elemento da Natureza. Segundo
Nietzsche, nos seres humanos essa força quando empregada confere realização,
ambição e esforço para a conquista dos desejos e expansão.
Nietzsche argumenta que o homem não pode e não
quer apenas conservar-se ou adaptar-se para sobreviver, só um homem doente
desejaria isso; ele quer expandir-se, dominar, criar valores, dar sentidos
próprios. Isto significa ser ativo no mundo, criar suas próprias condições de
potência. É um efetivar-se no encontro com outras forças.
A Ética
a Nicômaco, de Aristóteles
(cerca de 325 a.C.), as questões
centrais dizem respeito ao caráter.
Aristóteles começa por
perguntar: “Em que consiste o
bem para o homem? ”. E a sua resposta é: “Uma atividade da alma em conformidade com a virtude”.
Aristóteles
afirmou que a virtude é um
traço de caráter manifestado no agir habitual. O “habitual” é importante. A virtude da
honestidade, por exemplo, não é possuída
por alguém que diz a verdade apenas ocasionalmente ou quando isso lhe é vantajoso. A pessoa honesta é naturalmente veraz; as suas ações
“brotam de um caráter firme e
inabalável”.
Isto é um começo, mas não basta. Não distingue as
virtudes dos vícios, pois os
vícios são também traços de caráter manifestados nas ações habituais.
A ética de Aristóteles, identificou
que devemos cultivar a virtude através da razão e do hábito; e que a virtude é a nossa escolha
deliberada e autônoma do
meio-termo entre dois vícios estremos. Viu que os vícios são ações morais marcadas pela falta ou
pelo excesso. Também estudou
que toda ação moral humana visa um bem, e que o maior
bem a ser desejado e alcançado é a felicidade. Assim, para agirmos corretamente, devemos cultivar a
virtude.
O londrino John Stuart Mill (1806-1873) defendeu
uma ética utilitarista,
principalmente através do seu livro Utilitarismo. É
viável falar em uma ética utilitarista, pois há várias éticas utilitaristas produzidas, conforme as
especificidades defendidas por alguns outros filósofos. Porém,
em toda ética utilitarista a
utilidade é o critério que deve orientar
a escolha da ação moral.
Na ética de Mill, especificamente, defende-se
que toda ação moral deve visar
à utilidade em vista da realização da felicidade. A felicidade, por sua vez, é o maior bem que podemos almejar e está ligada fundamentalmente à ausência de dor e presença
de prazer, mas não apenas isso, pois, para sermos felizes, também necessitamos cultivar a virtude
e aprimorar o caráter.
A felicidade está ligada a nossos desejos? Por
que desejamos algo? Certamente porque aquilo parece ser muito bom para nós, e a
sua falta nos faz sofrer terrivelmente. E, não sem razão, o filósofo Spinoza (1632-1677) nascido em
Amsterdam, um dos grandes nomes do racionalismo do século XVII, ao lado de Descartes e Leibnitz, na sua obra “ÉTICA”, nos diz que “Não é porque uma coisa
é boa que a desejamos, mas, porque a desejamos ela parece ser boa”. O desejo,
para ele, é a verdadeira essência do homem.
Para Kant desejo é tudo o que emerge do pensamento à ação
sem que se possa controlar. Vontade
é a ação regida pela razão, independentemente da corrente dos desejos; é
o uso da razão para deliberar escolhas. A vontade percebe que, apesar do
desejo, é possível viver na contramão dos instintos.
Por que são os bens desejados? Procurados? Um bem
é procurado porque é útil. Por utilidade entende-se "a capacidade que tem
um bem de satisfazer uma necessidade humana".
A doutrina utilitarista encontra-se condicionada
por duas proposições antitéticas ou contraditórias entre si, proposições
normativas e positivas. Vejamos:
Proposições
Positivas
A economia positiva trata a realidade como ela é,
uma posição positiva pode ser refutada ou aceita. Uma proposição positiva, diz
que os homens devem ser considerados como indivíduos egoístas, calculadores e
racionais, e que tudo deve ser pensado e elaborado a partir do seu ponto de
vista.
A economia descritiva e a teoria econômica
situam-se, preponderantemente, no campo da economia positiva.
Proposições
Normativas
A economia normativa considera mudanças nessa
mesma realidade, propondo como ela deve ser, já uma posição normativa depende
de juízos de valor, pessoais e subjetivos.
A política econômica é, preponderantemente, normativa.
E uma proposição normativa, que afirma que os interesses dos indivíduos, a
começar pelo meu próprio, devem ser subordinados e mesmo sacrificados à
felicidade geral ou do “maior número”.
Conforme Orlando Braga (Blog bordoada), todo o
utilitarismo mistura, em proporções infinitamente variáveis e dependente apenas
da discricionariedade política das elites da sociedade, uma axiomática do
interesse e uma axiomática sacrificialista, que é simultaneamente um
encantamento pelo egoísmo e uma apologia do altruísmo, e uma tentativa de
reconciliar um ponto de vista ferozmente individualista e uma vertente
globalizada e holista.
Exemplos:• Quais serão as taxas de juros do
próximo ano? (Positiva)• Deve-se aprovar a lei de redução de juros?
(normativa)• Qual é o valor do aumento de preços dos carros importados, se a
cota de importação aumentar? (positiva)• Deve-se impor uma cota sobre a
importação de carros? (normativa).
Se alguém descobre como assentar o Ovo de Colombo
em uma mesa, toda a gente fica a saber como se assenta o ovo. Mas antes de se
saber, ninguém sabia. E quem se esforçou para ter a ideia do assentamento do
Ovo foi o Colombo. Portanto, o Colombo merece ser recompensado pela sua ideia. Mas
essa recompensa tem os limites do razoável ou da Razão.
Uma das versões para “Ovo de Colombo” é uma
expressão que teve sua origem, na Espanha, depois da descoberta da América,
Colombo é homenageado em um banquete. Alguns presentes menosprezaram o feito e
afirmaram que qualquer navegador poderia realizá-lo.
Colombo desafiou-os a colocar um ovo em pé. Como
ninguém conseguiu, Colombo bateu o ovo sobre a mesa, amassando uma das
extremidades, o que possibilitou o ovo ficar em pé, e acrescentou:
"Qualquer um poderá fazê-lo, mas, antes é necessário que alguém tenha a
ideia.
Após refletirmos a respeito de ponto de equilíbrio,
potência, vontade, desejos, utilidade, podemos falar mais um pouco acerca do
estado de lutas na realidade primaveril em que a raça humana encontra-se, ainda
confinada na espera da prometida vacina libertadora.
Os laboratórios espalhados pelo mundo estão empenhados
em pesquisas a respeito da COVID19, e na produção de vacinas, trata-se da
vontade, desejo e felicidade geral, os laboratórios estão participando de uma
corrida onde cada qual quer colocar em pé o “Ovo de Colombo” em primeiro lugar,
aspirando bilhões de dólares, euros, etc.
Nos vimos diante de uma visão que nos remete aos
utilitaristas, os adeptos aos utilitarismos inevitavelmente estão divididos, entre
a proposição positiva, por um lado, e a proposição normativa,
por outro lado. E tratando-se do capitalismo neoliberal, é sempre e
invariavelmente a proposição positiva que vence: a vida humana, segundo os
utilitaristas (por exemplo, Peter Singer) tem um preço qualquer.
Considerando o melhor seja aderir ao princípio da política normativa com
regramentos voltados a maior felicidade e o bem geral, além deste deverá
levar-se em conta outro princípio, o princípio de dano defendido por Mill diz que "o único propósito pelo qual o poder pode ser exercido
com razão sobre qualquer membro de uma comunidade civilizada, contra sua
vontade, é evitar danos a outros", espera-se que o poder na
mão do estado seja firme e responsável, que equilibre a balança onde num lado
pende os interesses de grupos econômicos que muitas vezes conflitam com o
interesse e o bem de milhões de vidas.
Encontrar o “ponto de equilíbrio” entre lucro das
empresas farmacêuticas e o bem e felicidade geral é o que está em jogo.
O ponto de equilíbrio me parece estar presente em
ideias de Peter Drucker (19/11/1909 á 11/11/2005), como por exemplo:
1.
A finalidade da empresa não é ganhar dinheiro. Ganhar
dinheiro é uma necessidade para a sobrevivência. A finalidade de uma empresa é
criar um cliente e satisfazê-lo. Dentro da organização só existem custos. Seus
resultados encontram-se fora da organização resultantes de clientes
satisfeitos. É para isso que uma empresa é paga (essa abordagem está totalmente
alinhada com a já comentada visão de Theodore Levitt a esse respeito). Drucker
comentava que organizações bem-sucedidas não se preocupam em serem felizes;
elas são obcecadas em fazer o cliente feliz (e assim cumprem o primeiro
objetivo).
2.
Rompe com a visão tradicional, mecanicista cujas bases
estavam fundamentadas na orientação em se extrair a maior valia para a
companhia dos esforços de seus trabalhadores sem considerar seu bem-estar e os
efeitos dessa ação sobre a sociedade nas mais diversas esferas: ambientais,
trabalhistas, sua influência no núcleo familiar e assim por diante.
3.
A primeira responsabilidade social de uma empresa é
gerar excedente adequado, seu lucro. Sem um excedente adequado, ela estará
roubando da comunidade e privando a sociedade e a economia do capital
necessário para gerar empregos para o futuro. O lucro é a consequência e
justifica a existência da companhia. Não é um fim em si mesmo, porém sem ele
nenhuma organização sobrevive.
Saint-Exupêry escreveu que “Apesar da vida
humana não ter preço, agimos sempre como se certas coisas
superassem o valor da vida humana”, que está estação afete nosso
comportamento capitalista neoliberal, pois uma vida não tem preço, uma vida tem
valor imensurável, uma vida é aquilo que tem valor do que não tem preço.
Que a primavera nos traga bons ventos, que
possamos caminhar entre o verde e as coloridas flores não nos sentindo
intrusos, nem apenas consumidores, mas sim, como partes importantes dentro
deste mesmo universo.
Fontes: