Com
base no capítulo “A Profissão de Sociológo: Preliminares epistemológicas” da 3ª
edição do livro de Bourdieu, Chamboredon e Passeron, foi realizada leitura não
na forma simples e corrida, mas foi realizada leitura reflexiva, na forma de um
passo de cada vez, num indo e vindo, dialogando com o texto, como em toda
discussão conceitual e interpretativa, me dando o direito de explorar invadindo
um novo espaço levando comigo toda uma carga de conhecimentos conquistados,
assimilada ao longo de minhas experiências e estudos das outras ciências,
olhando inicialmente com olhar de iniciante de quem entra na nova casa, mas não
casa tão nova denominada por sociologia.
A
leitura leva-nos a refletir acerca das práticas de vigilância focadas nas
operações conceptuais e metodológicas voltados a tentar sanar os entraves
epistemológicos que acabam criando dificuldades na construção cientifica.
Dentre
paradigmas da sociologia como em geral, há contrariedades e diferenças entre as
correntes na pluralidade e singularidades e, ainda mais se tratando da
Sociologia uma nova ciência abrindo espaço dentro do mundo cientifico,
enfrentados novos desafios pertinentes a sociologia contemporânea e como jovem
ciência enfrentando os desafios inerentes do que é novo a princípio é
rejeitado, principalmente quando há questionamento dos velhos paradigmas,
paradigmas que procuram explicar a realidade a seu tempo com o conhecimento
valido na sua época.
A
realidade estudada e explicada pela visão da sociologia, com seus respectivos
instrumentos reconfiguram o conhecimento sociológico a partir de instrumentos
que darão validade capazes de conferir credibilidade a jovem ciência, com
objetividade reduzindo e superando os obstáculos epistemológicos, isto é
construído a partir de reflexão e vigilância sobre as verdades universais e os
relativismos.
A
conquista do espaço no mundo das ciências e, seu relevo junto a sociedade
contemporânea ocorre e ocorreu gradualmente, a conquista deste espaço vai além
dela própria, pois é a conquista da própria consciência que se da sua
importância e, assim o reconhecimento se torna necessária, assim resultando num
maior reconhecimento.
Um ponto
muito importante levantado a partir da reflexão é que as pessoas falam palavras
muitas vezes sem o nexo devido, na fala esta carregada de intenção e imagens,
porem o sentido epistemológico é outro, a lógica da fala interpretada antes de
falada tenta extrair de expressões típicas e muitas vezes até banais, os
paradigmas construídos na linguagem comum, e a verdade não é coisa isolada, única
e individual, a comunicação se valida através daquilo que é entendido pelo
outro a partir daquilo que é dito.
Na linguagem comum
e em geral em suas ações as pessoas desconhecem que são motivadas
inconscientemente, quando a consciência surge os argumentos aparentemente
racionais tentam justificar de maneira lógica decisões tomadas por impulso
sem maneira lógica, como por exemplo um empresário pode contratar funcionários
levando em conta aspectos irracionais ou até numa relação pessoal podemos ter
afinidade ou antipatia gratuita por alguém, sem aparentemente ter qualquer
motivo, é o inconsciente funcionando.
Somos alvo
constante da mídia, os comerciais de TV manipulam a vontade a partir de objetos
de desejo universal ou dirigida a persuasão de um grupo especifico, no entanto
o verdadeiro objeto são aqueles desejantes ou não, que inconscientemente
despertarão interesse ou alimentará mais ainda a intenção de adquirir, e do
poder ter.
Sabemos que somos
seres desejantes e sabemos que somos manipulados, mesmo assim a sociedade age
inconscientemente, temos as pesquisas que são ferramentas da sociologia
analisam resultados como por exemplo: “Num
comercial de TV, a venda é realizada ou não nos três ou quatros segundos
iniciais, assim como num anuncio impresso, 75% das decisões acontecem na
leitura do cabeçalho. Numa demonstração promocional, a venda é feita ou não nos
três minutos iniciais”. Estes dados são resultados de estudos feito
por John Caples, “Tested advertising methods, Englewood Cliffs, NJ,
Prentice-HALL.Inc.,1974 “, citados no livro “O Mito do Empreendedor”,
(Editora Saraiva, 1986), de Michael E. Gerber. Estes são exemplos de decisões
que tomamos diariamente sem termos consciência disto.
Outro exemplo é nos
anos 70, a Pepsi lançou um ataque competitivo contra a Coca-Cola, na famosa
campanha dos testes cegos. Foram veiculados pela TV, comerciais em que varias
pessoas eram testadas, com vendas nos olhos, para escolherem o melhor
refrigerante entre os dois. Apesar de a Coca-Cola ser a preferida do público,
nos testes com venda nos olhos as pessoas preferiram, numa proporção de 3 a 2,
a Pepsi. Isto é o que se pode chamar de uma decisão inconsciente.
Outro exemplo muito
presente no dia a dia são as entrevistas de empregos que muitas vezes o
recrutador comete erros por se deixar influenciar excessivamente pela aparência
das pessoas e deixar de lado aspectos relevantes de sua competência
profissional. Ele defende que as entrevistas de empregos deveriam acontecer
inicialmente por telefone ou na leitura de currículos e só na reta final,
quando houver apenas dois ou três concorrentes aptos a assumir o cargo, é que
deveria haver a entrevista pessoal.
O sociólogo entende
que se estamos inclinados a cometer erros irracionalmente, a maneira de agirmos
desta forma não é apenas o resultado da determinação do acumulado das teorias
passadas, sabendo disto o sociólogo rompe com os paradigmas do discurso
epistemológico, que oferecem a todo tempo o risco de incorrer em modelos
prontos. Essa atitude é a forma científica de agir e implica na submissão dos
procedimentos metodológicos à uma razão epistemológica cética, questionadora e
vigilante.
É
questionando a pratica que rompemos com o saber imediato, aquele saber inconsciente
e banal, rompendo com as relações aparentes e independente das opiniões e intenções do sujeito que o objeto da
investigação, cujos pressupostos foram assimilados inconscientemente.
A tarefa da sociologia
é desvendar as modalidades de atuação das diferentes formas de dominação
escondidas nos diversos mundos sociais, trazendo á tona fatos que estão
escondidos sob o manto da ilusão e das aparências. É necessário, ainda,
voltar-se contra a teoria tradicional, posto que estas, pretensamente
universais, tiram da lógica do senso-comum seu projeto fundamental. Bourdieu propõe uma teoria do conhecimento
sociológico capaz de superar as armadilhas do objetivismo, determinismo
sociológico, do subjetivismo e voluntarismo individualista.
A sociologia é uma ciência que
acaba incomodando, pois rompe com a tradição, tira o véu do senso comum,
criticando muitas vezes de forma feroz, colocando problemas e trazendo à baila
recalques que são ocultados e escondidos propositadamente, as vezes o sociólogo
é acusado de querer destruir o sistema onde ele mesmo está inserido com suas
particularidades e interesses.
O texto é uma introdução aos
conceitos da sociologia, suas reflexões aproximam o leitor ao mundo critico,
elevando a capacidade de melhor enxergar o mundo e os fatos que estão
escondidos nas mais simples ações cotidianas, extraindo o sujeito da posição
que ocupa como apenas um mero reprodutor de informações.