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terça-feira, 6 de outubro de 2020

O pensamento filosófico na administração e gestão de negócios

 

Falsos profetas - falsos filósofos

Existem na mídia e redes sociais supostos autodenominados “pensadores”, palestrando e até apresentando-se como “filósofos” sugerindo fórmulas e soluções mágicas na administração e gestão de negócios, é importante ficarmos atentos para não cairmos na lábia dos ditos “experts” os quais sempre tem a mão frases de efeito e perfeitos slogans promocionais, e claro um livrinho de “autoajuda”. Não faltam profetas para todos os gostos.

Eles geralmente surgem com formulas magicas, e nós sabemos que não existe formula mágica, o melhor sempre foi e será, o velho e bom trabalho duro, e isto não é mágica.

Para evitar o sucesso do assédio de ditos experts é necessário sair do senso comum e partir para uma educação libertadora e critica.

A educação resgata o ser humano do “senso comum”, o senso comum é um tipo de conhecimento adquirido por meio da observação, vivência e experiências do mundo, passado de geração em geração, quem já ouviu a frase: “sempre se fez assim”!?

O senso comum por ser uma forma de conhecimento desorganizado, inexato e ancorado em tradições sociais, não tende a buscar uma verdade que seja comprovada cientificamente, e geralmente pessoas que dependem exclusivamente do senso comum acabam como presas fáceis dos supostos autodenominados pensadores com formulas magicas, e seu negócio se transforma em “pandorga sem rabo”. Pandorga sem rabo não voa, mesmo que o vento sopre a favor!

Caso você venha a pensar seja necessária ajuda externa para dar aquela virada na vida, comece melhorando seu desempenho, e procure quem de fato poderá ajudar, tal como Sebrae ou alguma empresa especializada em soft ou hard skills devidamente registradas e com conceito de avaliação reconhecidos.

Quando procuramos o Sebrae ou uma soft ou hard skills, é porque estamos procurando ajuda na formalidade legal de um negócio e também com interesse em desenvolver competências e adquirir uma nova habilidade, o sucesso do empreendimento começa em nossa mente na vontade de mudar para melhor, começa por nossa motivação indo fomentar nossas competências sociais, emocionais e mentais ligadas à personalidade de cada um de nós.

Nosso sucesso depende de competências como colaboração, flexibilidade, capacidade de trabalhar sob pressão, comunicação eficaz, orientação para resultados e liderança de equipe e etc, a mudança e a melhoria iniciam dentro de cada um.

Educação é o ponto de partida

A educação é o melhor ponto de partida, desde tenra idade somos ensinados a valorizar a educação, no entanto muitos não reconhecem o valor deixando de aprender o que deveriam no tempo certo, muito tempo depois correm atrás do prejuízo e outros se acham velhos demais para retomar, mesmo assim temos observado muitos idosos retomando os estudos, o que é animador, nunca é tarde para aprendermos, afinal aprendemos até nosso último suspiro.

Há conhecimentos que estão além da tradicional classe escolar, o atual programa de ensino dividido em disciplinas, os assuntos fragmentados demais, os conteúdos procedimentais são realizados apenas para cumprimento curricular, desconexos e por isso o aprendizado não é efetivo, porque não é significativo, nem efetivo, nem ativo, nem construtivista, tudo isto não contribui para dar alguma direção vocacional, e não consegue mostrar um caminho para a vida profissional, a solução é buscar o ensino profissionalizante, trata-se do conhecimento técnico voltado para o mundo do trabalho, real e prático.

O panorama nos obriga a buscar alternativas de educação que complementem, que efetivem a educação que deveríamos ter recebido desde sempre, afinal a integração das disciplinas deveria ser interdisciplinar e transdisciplinar, de maneira que dessem sentido ao conteúdo ensinado nas escolas.

Reconhecemos que começar pela educação não traz só a parte técnica, a educação é o diferencial ela também ajuda a desenvolver as “soft skills” de forma natural, quem busca na educação a solução é porque sabe qual é o caminho para “fazer a diferença” na vida pessoal e na vida profissional.

E a Filosofia o que tem a nos dizer

As melhores ideias de bons negócios tem em sua base a educação, uma boa educação nos leva inevitavelmente aos conhecimentos filosóficos, a filosofia, mãe da ciência, possui em seu seio um universo vasto de conhecimentos construídos com rigor e com métodos sistemáticos, nos ensinando como podemos enfrentar as dificuldades do cotidiano, tais como: ter um objetivo e para alcança-lo utilizar de ferramentas ou caminhos que levem a verdade, validade argumentativa (argumentação, avaliação), distinção conceitual, critica radical, paradigma e com a importância da problematização, ou seja, do questionamento e da dúvida.

A filosofia leva em conta condições básicas para que pessoas se tornem pensadores, obtenham autonomia, ao saber fazer, a desenvolver, crescer mentalmente, levando em conta o potencial de cada uma que se expressara concretamente, em realizações ou desempenhos, envolvendo a apresentação de respostas corretas para problemas e conhecimento que o habilitarão para luta diária, é no cotidiano que são enfrentadas as verdadeiras batalhas.

Para aqueles que se dedicarem na procura de respostas através da educação, encontrarão respostas no trabalho de filósofos os quais já se dedicaram a responder aos problemas vividos na realidade do ser humano. Estes pensadores “filósofos” levaram ao pé da letra o que seja rigor e metodologia sistemática para desenvolver o pensamento científico.

Afinal o que é filosofia?


A palavra filosofia vem do grego "filos" (amor ou amigo) e "sofia" (conhecimento, sabedoria, verdade), e é geralmente traduzida como "amigo da sabedoria" ou "amor ao conhecimento". A Filosofia não nasceu na Grécia: na Grécia nasceu a filosofia grega. Vem de Pitágoras a designação de filósofo: quando chamado de sábio, retrucava dizendo que era apenas amigo do saber (philosophós). Também Platão, no Fedro (278 d), recusou a alcunha de sábio: por ser muito sublime, preferia a de philosophós. O nome filósofo nasceu na Grécia, mas não o pensamento racional! O pensamento racional não se restringe a uma fronteira no tempo, a um território ou povo ou cultura, tampouco a um indivíduo. “O pensamento racional foi uma qualidade que se manifestou no interior de um movimento multiforme, o Sapiencial, dentro do qual em algum momento germinou estimulado pela curiosidade de indivíduos delimitados por territórios e culturas.” (Questões Fundamentais da Filosofia Grega”, São Paulo: Loyola, 2006, p.45).

A filosofia grega nasceu na Grécia Antiga no século 6 a.C., como um meio de buscar conhecimentos diferentes daqueles apresentados pela mitologia, num tempo onde a o mito religioso explicava desde os fenômenos da natureza até os fatos do cotidiano. "O mundo era interpretado pela mitologia, por isso existiam deuses para tudo. A resposta para as coisas eram sempre 'porque é assim que os deuses querem'. No entanto, no momento em que o mito não dava mais conta de explicar e responder tantas dúvidas e questões como a ação da natureza. Os primeiros filósofos foram em busca da verdade e respostas de modo racional.

Antes do aparecimento da ciência fragmentada em especialidades como a temos hoje, a filosofia era a única forma de conhecimento no mundo durante muitos séculos. Os filósofos tratavam o conhecimento de forma geral e explicavam um pouco sobre tudo.

"Aristóteles, por exemplo, era filósofo, médico, biólogo, matemático e astrônomo";

Descartes o “Pai da Filosofia Moderna”, era filósofo, matemático e físico”;

 “Maquiavel era historiador e filósofo político”;

 “Hobbes era matemático, teórico político e filósofo”;

 “Marx era filósofo, sociólogo, historiador, economista e jornalista”;

 “Husserl era matemático e filósofo”.

 Fragmentação da filosofia: muito conhecimento do micro e pouco do macro

Foi no século XVII a partir de Galileu Galilei, que a filosofia começou a se fragmentar. "Galileu percebeu que, especializando-se em uma parte do conhecimento, aproximava-se mais da verdade, e que a ideia de estudar um pouco de tudo fazia com que nos afastássemos dela, porque não se tinha a essência nem a profundidade de nada". Assim, o conhecimento passou a ser fragmentado, e as pessoas se tornaram especialistas em partes dele. "No mundo contemporâneo, esse pensamento ainda é muito presente, a ponto de alguém dizer que tal coisa ser provada cientificamente significa que é verdade".

A medida que o conhecimento avança a fragmentação tende a crescer, a tecnologia vem ampliando as condições de aumento em todas as áreas do conhecimento, já se fala em universos paralelos, de teoria de múltiplos mundos, multiverso, mecânica quântica. Nossa razão caminha no sentido de desvendar os segredos à medida que progride em seu conhecimento na ordem que existe no universo.

A filosofia é considerada a mãe das ciências, ela pode dedicar-se a tentar conhecer absolutamente tudo o que é de formação humana ou racional, desde a moral, a ética e a política, até a lógica, os fundamentos das ciências, os fundamentos da matemática, as técnicas, as artes etc. A filosofia é capaz de incentivar que o indivíduo, como pensador que é, buscar sempre novas respostas e resultados para os questionamentos.

Foram os filósofos que inventaram e praticaram primeiramente o método científico, assim como a lógica e o encadeamento silogístico do raciocínio filosófico, até hoje, fazem parte também do que identificamos: ciência.

A linha de fronteira entre ciência e filosofia parece não existir no que se refere aos objetivos e instrumentação, elas parecem ser idênticas na busca pela verdade. Assim como é notória a interdependência entre ciência e tecnologia.

Até por isso afirmamos que a Filosofia é mãe das Ciências e das Tecnologias pois ambas têm na Filosofia a mesma origem e formação. Além disso, a Filosofia está sempre avaliando e validando tanto a Ciência quanto a Tecnologia.

Seja através da Epistemologia, da Ética, da Filosofia da Ciência (ou pela mais recente Filosofia da Tecnologia) as preocupações com as questões sobre as origens e os determinantes dos avanços tecnológicos tem interessado cada vez mais aos filósofos.

A Filosofia na fundamentação conceitual

A filosofia é uma espécie de conhecimento geral e fundamental sobre a racionalidade. Ela tenta entender, questionar e fundamentar as mais diversas áreas do saber, tanto de maneira ampla e geral quanto de maneira mais específica, debruçando-se, às vezes, ao fornecer fundamentos para uma determinada ciência.

As regras, os fundamentos e os conceitos racionalmente organizados de uma determinada ciência encontram-se no âmbito da “filosofia” daquela ciência. Por isso temos a filosofia da matemática, do direito, da educação, da história, da ciência, da administração, entre tantas outras “filosofias”.

Apesar de parecer que a filosofia entra apenas como uma palavra comum deslocada de seu sentido original para designar os fundamentos encontrados por aquela ciência, há o trabalho de filósofos (não necessariamente com graduação em filosofia) que se dedicam a buscar as mais profundas raízes teóricas que amparam a constituição dessas ciências.

Além do que foi apresentado, a filosofia busca compreender processos gerais do conhecimento e do raciocínio, formulando uma espécie de teoria do conhecimento (também conhecida como epistemologia). A epistemologia busca compreender os traços que demonstram os modos como o conhecimento ocorre na formação da mente humana.

De Platão aos filósofos contemporâneos, várias teorias epistemológicas foram formuladas. Podemos destacar as teorias modernas, que se centraram em tentar entender se o conhecimento ocorre na mente de maneira empírica (por meio da experiência prática) ou de maneira completamente cognitiva e racional. O primeiro grupo ficou conhecido como empirista, enquanto o segundo foi chamado de racionalista.

Atualmente já encontramos no âmbito corporativo companhias que adotam essa preocupação em seus projetos de capacitação. Basta notarmos como profissionais com notório reconhecimento em disciplinas como Filosofia, Sociologia, Psicologia, Ética estão cada vez mais presentes no ambiente corporativo.

A Filosofia na administração e gestão dos negócios

A Administração recebeu enorme influência da Filosofia. Durante os séculos que vão da Antiguidade até o início da Idade Moderna, a Filosofia voltou-se para uma variedade de preocupações que nada tinham a ver com problemas administrativos.

Muitos princípios da Administração, como o da divisão do trabalho, da ordem e do controle surgiram por meio dos pensamentos filosóficos da época.

O conhecimento filosófico se torna imprescindível para conhecermos as coisas que nos rodeiam. Os executivos de uma empresa assumem posturas filosóficas, os religiosos, os políticos, os ecologistas, os sindicalistas e assim por diante, quer os próprios agentes tenham consciência disso ou não. Em suma, a filosofia está presente na existência humana e sua utilização permite ao ser humano pensar com clareza, refletir mais profundamente sobre suas ações e suas consequências.

Eis alguns filósofos e suas contribuições:

Sócrates

Maiêutica: método socrático que consiste na multiplicação de perguntas, induzindo o interlocutor na descoberta de suas próprias verdades e na conceituação geral de um objeto.

Platão

Seu forte posicionamento no tocante ao ensino e disseminação da ÉTICA, enquanto pilar de uma sociedade, que deve se fazer maior no que diz respeito ao conhecimento técnico e científico, é, sem sombra de dúvidas, o pilar do pensamento filosófico de PLATÃO. E isso é (ou deverá ser, ou deveria ser) o pilar de sustentação do pensamento administrativo, em todos os níveis (privados, públicos, pessoais) de agora em diante. Somente com uma forte concepção de ÉTICA, e também a sua prática, o administrador poderá galgar patamares de excelência em sua carreira.

Aristóteles:

As categorias do sistema aristotélico servem de fundamento ao conhecimento das coisas. Elas são os princípios básicos que tornam o conhecimento possível, partindo de uma perspectiva que concebe o mundo como as categorias neste sistema servem de fundamento ao conhecimento das coisas. 1. Observação fiel da natureza (buscando na realidade um apoio sólido às suas mais elevadas especulações metafísicas); 2. Rigor no método (a) começa a definir lhe o objeto; b) passa a enumerar-lhes as soluções históricas; c) propõe depois as dúvidas; d) indica, em seguida, a própria solução; e) refuta, por último, as sentenças contrárias.); 3. Unidade do conjunto (Sua vasta obra filosófica constitui um verdadeiro sistema, uma verdadeira síntese. Todas as partes se compõem, se correspondem, se confirmam).

Foi o criador da Lógica. No seu livro política, estuda a organização do Estado e distingue três formas de Administração pública: Monarquia, Aristocracia e democracia.

Logica Aristotélica: Os três princípios da Lógica Aristotélica são o da Identidade, da Não Contradição e do Terceiro Excluído. ... O Princípio da Não Contradição estabelece que nada pode ser e não ser ao mesmo tempo e no mesmo sentido, de modo que temos ou verdadeiro ou falso para uma determinada proposição.

Descartes

Método Cartesiano: consiste em quatro regras: evidência, análise, ordem e enumeração. Estes preceitos são baseados no conhecimento matemático, isto é, um conhecimento dominado pela razão e não pelos sentidos.

Celebrizado pela sua obra “O Discurso do Método”, em que descreve os principais preceitos do seu método filosófico, hoje denominado “método cartesiano” cujos princípios são:

- Princípio da Dúvida Sistemática ou da Evidência – não é verdadeiro até que se saiba com evidência, ou seja, como realmente verdadeiro.

- Princípio da Análise ou da Decomposição - dividir e decompor cada parte de um problema para analisar as suas partes separadamente.

- Princípio da Síntese ou da Composição – processo racional que consiste no ordenamento dos pensamentos, dos mais fáceis e simples para os mais difíceis e complexos.

- Princípio da Enumeração ou da Verificação – em tudo fazer recontagens, verificações e revisões de modo a tornar-se seguro de não ter havido qualquer omissão durante o processo de raciocínio (checklist).

Occam

Navalha de Occam: A navalha de Occam (também conhecida como a “lei da parcimônia”) é um princípio lógico onde a melhor solução é aquela que apresenta a menor quantidade de premissas possíveis. Uma navalha filosófica é uma ferramenta usada para eliminar opções improváveis em determinada situação.

Os burocratas, os governos e administrações comprometidas com a corrupção odeiam, e abominam a lógica da "Navalha de Occam".

Maquiavel

Uma mudança sempre deixa lançada a base para o surgimento de outra:

Sem má vontade, o melhor a fazer é deixar de ser resistente quanto as mudanças e encarar a realidade, se atualizar e receber as novidades olhando o lado positivo, como novas oportunidades para aprender;

A um príncipe é necessário ter o povo como amigo, pois, de outro modo, não terá possibilidades na adversidade:

Sem tapinha nas costas, não é legal, de nada vale tapinha nas costas dizendo que o funcionário é muito importante, se a primeira decisão diante de uma crise é corte de pessoal, as que usaram o diálogo para negociar internamente e buscaram redução de custos em processos onerosos, há muito tempo não vê crise financeira, pois tem um grupo comprometido com o objetivo comum.

Francis Bacon

Filósofo e estadista inglês, considerado um dos pioneiros do pensamento cientifico moderno, fundador da Lógica Moderna, baseada no método experimental e indutivo (do especifico para o geral). Em seu pensamento que se encontra a preocupação com a separação experimental do que é essencial em relação ao que é acidental Antecipou-se ao princípio conhecido em Administração como “princípio da prevalência do principal sobre o acessório”.

Hegel

Em uma de suas citações-chave, Hegel nos diz que “É possível mostrar que a noção de filosofia está implícita até mesmo em nosso pensamento cotidiano. Começamos com nossos desejos e percepções imediatos, mas estes logo nos instam para além de seu imediatismo, no sentido da apreensão de algo maior do que nós mesmos – um ser infinito e uma vontade infinita. ”

Hegel superou as explicações teológicas do Estado; colocou o homem e a razão na condição de sujeito e formulou e ofereceu a Dialética e seus princípios. Suas contribuições ao conhecimento transcenderam suas próprias formulações teóricas e subsidiaram as elaborações de Marx que, “embora não seja um hegeliano, seria impensável sem Hegel, principalmente no que diz respeito ao método dialético.

Hegel criou um sistema chamado dialética, que é um processo espiral sobre o conhecimento, partindo dá uma ideia base que é chamada de tese, contrariada por outra ideia, chamada de antítese e chegando a uma conclusão chamada de síntese, que passa a ser uma nova tese, por isso, espiral, algo que não tem fim, mas uma evolução de ideia.

A dialética se processa em três momentos:

  1. Primeiro seria a Tese, que corresponde uma ideia, um pensamento.
  2. Segundo seria a Antítese – um pensamento diferente da tese, uma ideia contrária.
  3. Terceiro seria a Síntese – uma conclusão da tese com a antítese, ou seja, após o debate de ideias chegaria a uma conclusão resumida, no entanto, essa síntese passa a ser uma nova tese para uma dialética.

Essa estrutura dialética, segundo Hegel, seria aplicada a todos os campos do real, desde a aquisição do conhecimento até os processos históricos políticos.

Husserl

Ele é conhecido por seu rigor metodológico e vem corroborar afirmando que: “... Qual o pensador para quem na sua vida de filósofo, a filosofia deixa de ser um enigma? ... Só os pensadores secundários que, na verdade, não se podem chamar filósofos, estão contentes com as suas definições”, Husserl reconhece a prioridade da razão prática sobre a razão teórica, ou seja, a ética como filosofia primeira. Só que isso deve ser conduzido a partir do solo originário do mundo-da-vida, onde possamos reconhecer o outro como diferente e interlocutor válido, e onde se determinam as vivências que atingirão o grau de idealidades teóricas universais.

Karl Marx

Marx e Friedrich Engels, propuseram uma teoria da origem econômica do Estado. De acordo com Marx e Engels a dominação econômica do homem pelo homem é a geradora do poder político do Estado, que vem a ser uma ordem coativa imposta por uma classe social exploradora. No Manifesto Comunista, ainda segundo Chiavenato, Marx e Engels afirmam que a história da humanidade sempre foi a história da luta de classes, resumidamente, entre exploradores e explorados.

Marx falava sobre a luta de classes, baseada nas relações de produção entre os proprietários do meio de produção e os trabalhadores que aplicavam a força de trabalho. Um dos seus principais conceitos foi o de “mais-valia”.

Na produção social que os homens realizam, eles entram em determinadas relações indispensáveis e independentes de sua vontade; tais relações de produção correspondem a um estágio definido de desenvolvimento das suas forças materiais de produção. A totalidade dessas relações constitui a estrutura econômica da sociedade – fundamento real, sobre o qual se erguem as superestruturas política e jurídica, e ao qual correspondem determinadas formas de consciência social.

Rousseau

Desenvolveu a teoria do Contrato Social: O Estado surge de um acordo de vontades. Kal Marx (1818-1883) e seu parceiro Friedrich Engels (1820-1895) propõem uma teoria da origem econômica do Estado. O surgimento do poder político e do Estado nada mais é do que o fruto da dominação econômica do homem pelo homem. Com o surgimento da Filosofia Moderna, deixa a Administração de receber contribuições e influências, uma vez que o campo de estudo filosófico afasta-se enormemente dos problemas organizacionais.

Adam Smith

Filósofo e economista escocês, considerado como criador da Escola Clássica da Economia, em 1776 publica a sua obra “Uma investigação sobre a natureza e as causas da riqueza das nações”, mais conhecido como A Riqueza das Nações, já abordava o princípio da especialização dos operários e o princípio da divisão do trabalho em uma manufatura de agulhas para destacar a necessidade da racionalização da produção. Conforme Chiavenato (1983, p.30), para Adam Smith, a origem da riqueza das nações reside na divisão do trabalho e na especialização das tarefas, preconizando o estudo dos tempos e movimentos, pensamento que, mais tarde, Frederick Winslow Taylor e o casal Frank e Lilian Gilbreth viriam a desenvolver, fundamentando a Administração Científica.

John Stuart Mill

Filósofo e economista britânico publicou “Princípios de Economia Política” onde, segundo Chiavenato (1983, p.31) apresenta um conceito de controle objetivando evitar furtos nas empresas. Acrescenta duas qualidades importantes, a fidelidade e o zelo.

Thomas Hobbes

Filósofo e teórico político inglês, desenvolveu a teoria da origem contratualista do estado, segundo o qual o homem primitivo, vivendo em estado selvagem, passou lentamente à vida social, através de um pacto entre todos. O homem primitivo era um ser anti-social por definição, vivendo em guerra permanente com o próximo, atirando-se uns contra os outros pelo desejo de poder, riquezas e propriedades, “o homem é o lobo do próprio homem”. O Estado viria a ser, portanto, a inevitável resultante da questão, de forma absoluta, impondo a ordem e organizando a vida social, qual um Leviatã.

Peter Drucker

Drucker foi o primeiro pensador a sistematizar o estudo sobre administração. Justificadamente é conhecido como o pai da administração moderna e o mais influente pensador do mundo da gestão moderna.

Drucker foi quem primeiro abordou a importância das privatizações, o conceito de gestão por objetivos, a descentralização da empresa dentre muitas outras ideias que sempre se caracterizavam por extrema clareza e alinhamento com a realidade prática.

1.      Drucker apregoava a necessidade da adoção da autogestão em detrimento da clássica linha de montagem. Sua visão era que esse sistema não era o mais produtivo já que a linha se movia ao ritmo do operário mais lento em detrimento dos mais rápidos que se tornavam improdutivos e frustrados. Se nesse modelo o homem servia ao sistema, no modelo sugerido por Drucker, o sistema deveria servir ao homem.

2.      A síntese de toda sua obra reside, justamente, na articulação de duas visões associadas a esses dois contextos: as corporações são parte do sistema social e tem ocupado posição central na sociedade e as práticas de gestão resultam em organizações mais eficientes e eficazes.

3.      a finalidade da empresa não é ganhar dinheiro. Ganhar dinheiro é uma necessidade para a sobrevivência. A finalidade de uma empresa é criar um cliente e satisfazê-lo. Dentro da organização só existem custos. Seus resultados encontram-se fora da organização resultantes de clientes satisfeitos. É para isso que uma empresa é paga (essa abordagem está totalmente alinhada com a já comentada visão de Theodore Levitt a esse respeito). Drucker comentava que organizações bem-sucedidas não se preocupam em serem felizes; elas são obcecadas em fazer o cliente feliz (e assim cumprem o primeiro objetivo).

4.      Rompe com a visão tradicional, mecanicista cujas bases estavam fundamentadas na orientação em se extrair a maior valia para a companhia dos esforços de seus trabalhadores sem considerar seu bem estar e os efeitos dessa ação sobre a sociedade nas mais diversas esferas: ambientais, trabalhistas, sua influência no núcleo familiar e assim por diante.

5.      A administração não é uma ciência e sim uma prática. E como toda prática deve se nutrir de um amplo campo de ciências verdadeiras. Por isso a Administração deve beber de outras fontes como História, Filosofia, Psicologia, Economia e assim por diante.

6.      Atualmente evidencia-se essa relevância quando observamos que o êxito de entidades em diversas esferas depende da qualidade de sua gestão. Enquadram-se nessa categoria governos, hospitais, escolas, e entidades dos mais diversos perfis. Baseado nesse pensamento, Drucker contribuiu para alçar a disciplina à posição de destaque em todo contexto social indo além do ambiente empresarial. Investir no avanço da qualidade de gestão dos cidadãos de uma nação é, acima de tudo, um objetivo social.

7.      Foi o primeiro pensador a enxergar a importância da ação das chamadas “organizações não governamentais” na sociedade. Percebeu de forma pioneira que os desafios estavam crescendo de forma exponencial e seriam necessárias instituições que navegassem tanto pela esfera pública quanto privada para atender a objetivos específicos de muita relevância para a sociedade.

8.      A empresa existe para alguma finalidade além de si mesma, a administração surgiu para a consecução desses fins organizando os seres humanos para atuação conjunta criando uma organização social. Somente quando a administração consegue tornar os recursos humanos da organização produtivos é que se torna capaz de alcançar os objetivos e resultados externos desejados. Essa abordagem pioneira na época, mas ainda contemporânea nos dias atuais em determinados contextos, abriu uma nova perspectiva na visão sobre gestão considerando as pessoas como recursos estratégicos de qualquer organização.

9.      A primeira responsabilidade social de uma empresa é gerar excedente adequado, seu lucro. Sem um excedente adequado, ela estará roubando da comunidade e privando a sociedade e a economia do capital necessário para gerar empregos para o futuro. O lucro é a consequência e justifica a existência da companhia. Não é um fim em si mesmo, porém sem ele nenhuma organização sobrevive.

10.  Um empreendimento tem que ter objetivos simples, claros e unificadores que devem ser comunicados com exatidão como comentamos no artigo “Gestão por propósitos”.

11.  Há incríveis 50 anos atrás, ele cunhou o termo “trabalhador do conhecimento”. Essa visão evidenciava as mudanças que estavam ocorrendo e iriam se acelerar no perfil do trabalho e do trabalhador. A ascensão do conhecimento redimensionou as relações capital x trabalho e é a base para a sociedade contemporânea.

Poderemos verificar no pensamento de Peter Drucker a crescente preocupação com as novas formas de atuação do administrador enquanto indivíduo e da administração enquanto prática para que tal indivíduo alcance e desenvolva a felicidade, zelo, controle do trabalho, utilidade do valor, a ordem, a organização, e outros aspectos já evidenciados pelos filósofos clássicos diante de um mundo tão complexo como o que vivenciamos hoje, chamado de mundo globalizado.

Particularmente penso que em relação aos cursos de filosofia, para bem ministrar os conteúdos filosóficos à prática administrativa seja necessário que os professores estejam familiarizados com essas duas áreas do conhecimento, e também que utilizem material didático compatíveis com o ensino da Filosofia voltado para um futuro administrador ou gestor de empresas...aqui me refiro ao mundo acadêmico!

A filosofia da administração, objetiva integrar o conhecimento filosófico e a prática administrativa, todavia, raramente o professor possui formação nessas duas áreas do conhecimento, pensando nisto resolvi fazer um curso de MBA em Gestão de Negócios, de maneira a unir os dois pontos de contato necessários e assim poder agregar maior conhecimento na minha vida profissional

No que tange ao lado humano, o ponto mais importante numa administração, resolvi buscar mais duas formações, além de minha formação inicial em filosofia para melhor entender o universo humano. Então busquei formação em MBA em Coaching e Neuropsicopedagogia, estas formações acadêmicas acrescentaram muito conhecimento na área das humanas e imediatamente influenciaram minha maneira de ver e administrar.

Existe um ditado no mundo corporativo que diz: “as empresas contratam as pessoas por suas competências técnicas e as demitem pelas comportamentais”, a inteligência da filosofia e das demais formações dentro de uma empresa ajudam a resolver muitos conflitos e assim conseguem preservar o bom ambiente profissional e a baixa rotatividade de pessoal.

Os caminhos das pessoas se cruzam quando trabalham numa mesma empresa, são direcionados para um objetivo comum, e atingir o objetivo é uma questão de vida ou morte da empresa e do emprego, um depende do outro, logo os profissionais interdisciplinares e transdisciplinares são os que mais se destacam dentro da instituição, o futuro destes profissionais é mais luminoso.

Interdisciplinaridade e transdisciplinaridade na empresa

Sozinho não conseguimos muita coisa, porém havendo colaboração e entendimento os problemas do cotidiano conseguem ser resolvidos de maneira mais fácil, a troca e reciprocidade estabelecida entres as diferentes áreas e disciplinas caracteriza evidentemente, a interdisciplinaridade quando dentro de um mesmo projeto ou processo as diferentes áreas representadas por seus profissionais competentemente trocarem entre saberes. Conforme Japiassu, a interdisciplinaridade se caracteriza pela intensidade das trocas entre os especialistas e pelo grau de integração real das disciplinas no interior de um mesmo projeto de pesquisa.

O enfrentamento dos problemas e questões que preocupam a instituição são tratados através de processo fundamentalmente interdisciplinar, respeitando a filosofia da empresa e os planos de trabalho sempre que surjam eventos que exijam algum feedback. A capacidade de criar soluções com a soma de diversos conhecimentos e disciplinas, eleva a performance individual, e para o grupo.

A transdisciplinaridade se refere à capacidade de assimilar e disseminar conhecimento entre múltiplas disciplinas. Numa instituição, além de ter profundo conhecimento a respeito da área de atuação, é importante conhecer bem os outros setores com que irão atuar, sempre com coordenação assegurada a uma finalidade comum e horizontalização das relações de poder.

O entendimento do que o outro faz e como essas atividades se conectam ao seu próprio trabalho produz ótimos resultados, e geralmente o bom relacionamento entre os profissionais de diferentes setores das organizações é determinante para o sucesso. Quando não há o conhecimento sobre o que os outros setores fazem, é possível que sejam feitas exigências que não são razoáveis e a partir daí surjam problemas.

Dito isto, me lembrou um pouco do pensamento do filosofo francês Gabriel Marcel (1889/1973) autor da ideia e Filosofia Concreta: Partindo de sua própria existência, acentua ter vivido problemas filosóficos que o oprimiram e afirma: “a filosofia concreta nasce somente de uma tensão criadora, continuamente renovada, entre o eu e as profundezas do ser, da mais estrita e rigorosa reflexão, fundada na experiência vivida até o limite de sua intensidade”. Gabriel procura dar à existência aquela prioridade metafísica que lhe havia tirado o idealismo.

Em geral as pessoas sem saberem utilizam diariamente a filosofia, portanto, o mais importante é ensinar e ver que aprenderam, e o fato é que a filosofia é a própria concepção da realidade e consiste na maneira como as pessoas enxergam as coisas e a vida. Muitas vezes, ela está tão presente no cotidiano e na maneira de pensar de cada um, que as pessoas não se dão conta dela, quase como se fosse inerente ao indivíduo. No meu caso, me fez ver que a educação realiza muitas transformações, a filosofia é a grande responsável por me instigar a buscar mais conhecimento, e concluo com um pensamento de Sócrates: “Sábio é aquele que conhece os limites da própria ignorância”.

Fontes:

https://super.abril.com.br/mundo-estranho/o-que-e-a-navalha-de-occam/

https://extra.globo.com/casos-de-policia/comissario-de-policia/a-navalha-de-occam-3348506.html

https://administradores.com.br/artigos/a-influencia-dos-filosofos-na-administracao

https://www.sandromagaldi.com.br/peter-drucker-o-mais-influente-pensador-da-administracao-moderna-trecho-do-livro-movidos-por-ideias/

https://novaescola.org.br/conteudo/1619/qual-o-atual-papel-da-filosofia

https://mundoeducacao.uol.com.br/filosofia/filosofia-ciencia.htm

https://www.stoodi.com.br/blog/filosofia/15-pensadores-que-ja-cairam-no-enem/

https://mdtraining.com.br/por-que-a-filosofia-e-mae-da-tecnologia/

 

HUSSERL, Edmund. Meditações cartesianas. São Paulo: Madras, 2001.

JAPIASSU, Hilton. Interdisciplinaridade e patologia do saber. Rio de Janeiro: Imago, 1976.

Spinelli, Miguel. Questões Fundamentais da Filosofia Grega.São Paulo. Edições Loyola, 2006

quinta-feira, 24 de setembro de 2020

Compilação do pensamento de Liang Shuming, Sun Yat-Sem e Chen Duxiu

 



Estátua em bronze de Confúcio, um dos maiores nomes da filosofia chinesa

Liang Shuming (1893-1988) é um dos principais pensadores e reformadores do século 20 na China, Liang nasceu em 18 de outubro de 1893, no final da dinastia Qing. É considerado um dos principais filósofos chineses, porem antes de falarmos de Liang Shuming, vamos entender um pouco da discussão se há uma filosofia chinesa.

Há muito se discute se haveria uma "filosofia" como um sistema codificado de preceitos, fora do que se entende como filosofia no Ocidente, isto é, os sistemas oriundos da filosofia grega, com estudos sobre epistemologia, ética, moral, e que teriam dado toda a base do pensamento ocidental, passando por Aristóteles, Platão, Sócrates, São Tomás de Aquino, Espinoza, Kant e Husserl entre muitos outros não menos importantes.

Os que preconizam a inexistência de uma filosofia de bases não gregas apontam, como principal justificativa, que todos os sistemas de pensamento de origem oriental (inclusive a filosofia chinesa) e africana, seriam, sempre, especulações acerca de conceitos teológicos, a não constituir uma filosofia dita com propriedade. Outros estudiosos, no entanto, consideram, este, um argumento falacioso e incorreto. Segundo estes estudiosos, as filosofias não europeias também estiveram fora da esfera exclusivamente teológica, abordando temas de ética, estética, entre outros, de modo que dizer que somente o Ocidente possui filosofia seria usar de um argumento não apenas logicamente falho, mas também eurocêntrico. Apesar disto, o termo filosofia em chinês só aparece em 1874 como uma importação cultural advinda do Japão.

Recentemente, estudos aprofundados dos Analectos de Confúcio e de Mêncio levaram à reabilitação da filosofia chinesa tradicional junto às autoridades chinesas. Atualmente, destaca-se o neoconfucionismo, que procura realizar uma síntese entre Oriente e Ocidente, inclusive com a incorporação da ciência e da democracia ocidentais à filosofia chinesa. Destacam-se os nomes de Fung Yu-lan, Ho Lin, Liang Sou-ming, Hsiung Shih-li, Ch'ien Mu, Tan Chün-i, Thomé H. Fang, Hsü Fu-kuan, Mou Tsung-san, Yu Ying-shi, Liu Shu-hsien e Tu Wei-ming.

Filosofia Chinesa Moderna

O termo "filosofia chinesa moderna" é usado aqui para denotar várias tendências filosóficas chinesas no curto período entre a implementação da "nova política" constitucional (1901) e a abolição do sistema de exame tradicional (1905) no final de Qing ( Ch 'ing) dinastia e a ascensão e queda da República da China na China continental (1911-1949). Como uma antiga entidade cultural, a China parecia estar congelada em uma cápsula do tempo por milhares de anos, até que repentinamente descongelou como resultado direto das invasões militares e da exploração pelo Ocidente e pelo Japão desde a Guerra do Ópio de 1839-42. Assim, pode-se argumentar que a China teve períodos “clássico” e “medieval” mais longos do que o Ocidente, enquanto seu período “moderno” começou relativamente recentemente.

A filosofia chinesa moderna está historicamente enraizada nas tradições do Budismo, Confucionismo , especialmente Neo-Confucionismo , e Xixue.(“Aprendizado Ocidental”, isto é, matemática, ciências naturais e Cristianismo) que surgiu durante o final da Dinastia Ming (ca. 1552-1634) e floresceu até o início do Período da República (1911-1923). Em particular, o Jingxue(School of Classical Studies), ou confucionismo clássico, desenvolvido no início da dinastia Qing, que criticava o pensamento neoconfucionista como impraticável e subjetivo e, em vez disso, defendia uma abordagem pragmática para resolver os dilemas da China como nação, exercendo uma influência poderosa no desenvolvimento de filosofia chinesa moderna.

Os filósofos chineses modernos geralmente responderam às críticas de sua herança por pensadores chineses e ocidentais, seja transformando a tradição chinesa (como nos esforços de Zhang Zhidong e Sun Yat-sen), defendendo-a (como no trabalho de budistas e confucionistas tradicionais), ou opondo-se a ela completamente (como no legado do Novo Movimento Cultural de Quatro de Maio, incluindo seus expoentes liberais e comunistas).

Muitos filósofos chineses modernos desenvolveram alguma forma de filosofia política que simultaneamente promoveu a confiança nacional chinesa enquanto problematizava as tradições culturais e intelectuais da China. Apesar disso, uma característica marcante da maioria da filosofia chinesa moderna é a recuperação do pensamento tradicional chinês como um recurso para abordar as preocupações do século XX.

Liang Shuming 梁漱溟


Um dos principais pensadores e reformadores do século 20 na China, Liang nasceu em 18 de outubro de 1893, no final da dinastia Qing. Sua família era de funcionários públicos, embora seu pai fosse um ativo promotor de iniciativas reformistas na esfera institucional e educacional. Foi graças à influência de ideias reformistas paternas que Liang teve, desde muito cedo, uma educação orientada para os novos saberes e paradigmas que haviam chegado da Europa, em vez da clássica educação letrada em que seus ancestrais foram educados.

Depois de um breve estudo dos fundamentos da escrita chinesa, ele ingressou em uma "nova" instituição educacional como estudante, estudando matérias como ciências, línguas estrangeiras e matemática. Sua educação básica e secundária esteve, portanto, longe do cânone letrado, e foi só na idade adulta que Liang abordou esses textos clássicos do chamado "confucionismo", em um processo de autoaprendizagem. Seus estudos de segundo grau deveriam tê-lo levado à faculdade; no entanto, Liang escolheu seguir o jornalismo e o ativismo revolucionário.

Na evolução intelectual de Liang Shuming, três estágios são geralmente diferenciados:

Uma fase inicial, a de seus primeiros estudos, que se caracterizou pela influência intelectual de seu pai, com ideias de utilitarismo que circulavam na China naqueles anos da Grã-Bretanha. Nesse sentido, concentrou-se em estudos de caráter prático e aplicável, movido pela vontade de contribuir para a "salvação" de seu país, uma China em estado de prostração perante as potências ocidentais. Nesses anos, Liang foi partidário de uma monarquia constitucional, tendência particularmente influente após a derrota na Guerra Sino-Japonesa de 1898. Mais tarde, porém, ele participou da Revolução Xinhai em 1911, que pôs fim ao sistema imperial.

Uma segunda fase chegaria por volta de 1913, quando, impulsionado por uma profunda crise pessoal, ele se concentrou no estudo e na prática das idéias budistas e buscou uma vida meditativa e aposentada.

O terceiro e mais importante período de sua evolução intelectual ocorreu por volta de 1920, quando Liang abandonou sua atitude meditativa e voltou a se interessar pela realidade, mudando seu interesse do budismo para as idéias dos letrados ou tradição ru (comumente chamado de "confucionismo"). A sua iniciação nesta tradição, abandonada durante os anos da educação básica, foi influenciada pela obra do pensador Wang Gen (1483-1541, dinastia Ming) e pelo seu conceito de ziran (naturalidade, espontaneidade). Já em 1917, ele ingressou na Universidade de Pequim como professor de filosofia.

O pensamento de Liang nesse estágio gira em torno dos problemas da "vida" (isto é, do ser humano como indivíduo) e da "sociedade". Neste último aspecto, o dos problemas sociais, Liang foi um ativista destacado. A partir de 1927, ele lançou o chamado Movimento de Reconstrução Rural e, durante os anos mais difíceis da invasão japonesa, liderou o liberalismo chinês e se opôs de forma proativa à invasão japonesa de seu país. Posteriormente, liderou a Liga Democrática, com a qual procurou evitar o confronto civil entre nacionalistas e comunistas, exercendo-se como força política intermediária.

Em sua reflexão sobre os dois problemas, Liang descartou as possibilidades dos recursos intelectuais ocidentais como solução para os problemas da sociedade e do indivíduo. Em 1921, ele publicou o que continua sendo sua obra mais conhecida, “As culturas do Oriente e do Ocidente e suas filosofias”, em que mostrou sua teoria das “três culturas” (China, Índia e Ocidente) com uma abordagem comparativa da qual concluiu o valor e a relevância (e em certo sentido a “superioridade”) da cultura letrada chinesa ou confucionista em face das diferentes questões mais ou menos radicais a que foi submetido desde o início do Movimento da Nova Cultura em 1919. Essa defesa da tradição letrada contribuiu de maneira marcante para relançar as novas formas de confucionismo que desapareceram em desenvolvimento na China até hoje.

Após a vitória comunista em 1949, Liang permaneceu na China. Ele foi criticado e atacado por seu pensamento, embora seu relacionamento com a liderança do PCCh fosse bastante cordial, apesar de suas diferenças e críticas ao marxismo.

Liang morreu em 1988. Alguns aspectos de sua obra foram divulgados nos Estados Unidos e na Europa pelo filósofo e sinologista Guy S. Alitto, que o apresentou como “o último confucionista”.

http://china-traducida.net/autores/liang-shuming/

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Liang Shuming, considerado o Último Confucionista, era budista. Ele reformulou o conceito ocidental de religião do ponto de vista do budismo e, ainda assim, defendeu o confucionismo como a religião ética que acabaria por levar à libertação budista.

 

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Liang Shuming e Neo-Confucionismo

O renascimento budista mencionado acima pode ser considerado o bairro mais isolado da filosofia chinesa moderna, na medida em que não deu atenção à prevalência da filosofia ocidental na China e se manteve firmemente no caminho tradicional. O confucionismo moderno, entretanto, seguiu um curso combinado, em parte seguindo o caminho tradicional e em parte transformando-se em resposta ao desafio da cultura ocidental. Entre os confucionistas tradicionais, o falecido reformador Qing e mentor de Liang Qichao, Kang Yuwei (1858-1927), pode ser considerado o último confucionista convencido de que a China poderia resolver seus problemas apenas com o aprendizado tradicional. Mesmo após a rejeição completa do confucionismo por Hu Shi e Chen Duxiu no início dos anos 1920, o confucionismo ainda manteve seus defensores. O mais notável entre eles foi Liang Shuming quem publicou Dongxiwenhua jichizhexue (As culturas oriental e ocidental e suas filosofias) em 1922. Neste livro, Liang tentou uma análise em macroescala das culturas oriental e ocidental e dividiu o desenvolvimento das culturas mundiais em três estágios diferentes: (1) o objetivo, (2) o moderado e (3) o divino , que correspondem a três tipos de atitude de vida - o externo, o interno e o retrógrado, respectivamente.

Segundo Liang, a cultura europeia moderna com seu espírito objetivo deveria ser atribuída à primeira fase. As pessoas que vivem nessa cultura buscam compreender e explorar a natureza a fim de satisfazer suas necessidades e desejos crescentes e, portanto, assumem uma atitude de vida exterior, uma atitude de agressão, esforço, progressão e competição.

Na opinião de Liang, a cultura chinesa pode ser atribuída ao segundo estágio,como os chineses sabiam muito bem que o desejo excessivo por bens materiais mina a verdadeira felicidade da humanidade. Sem passar pelo primeiro estágio, a cultura chinesa passou diretamente para o segundo estágio e, portanto, era de fato moralmente precoce, adotando uma atitude interior de moderação e buscando o equilíbrio da humanidade e da natureza, uma harmonização da razão e das emoções.

Finalmente, Liang viu a cultura indiana como representativa do último estágio, no qual a alta sabedoria ensina as pessoas a se absterem do desejo e do prazer e as faz assumir uma atitude de vida retrógrada em relação a este mundo sensual. “Em suma”, argumentou Liang, “é necessário rejeitar a cultura indiana como inútil, modificar a cultura ocidental tendo em vista a verdadeira felicidade e reafirmar o valor da cultura chinesa”.

Na visão otimista de Liang,“A cultura mundial acabará sendo a cultura chinesa renovada.” Assim, de uma perspectiva mais ou menos espiritualista, Liang forneceu uma avaliação diferente da cultura tradicional chinesa ao oferecer um quadro mais amplo do desenvolvimento total da civilização humana e seu destino, embora sem argumentos fundamentados.

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Sun Yat-sen

Sun Yat-sen (1866-1925), o fundador nacionalista da República da China, liderou a derrubada do regime Qing em 1911 após uma longa série de campanhas revolucionárias. Inspirado pelo discurso de Gettysburg do presidente dos Estados Unidos Abraham Lincoln , em 1919, Sun articulou os “Três Princípios do Povo” ( Sanmin Zhuyi ) sobre os quais a nova República Democrática da China seria fundada: o Princípio do Nacionalismo ( minzu zhuyi) , o Princípio do Povo Soberania ( minquan zhuyi ) e o Princípio de Subsistência do Povo ( minsheng zhuyi ).

O primeiro princípio, o Princípio do Nacionalismo, que corresponde à ideia de Lincoln de “um governo do povo”, mantém a igualdade de todos os grupos étnicos na China e busca o mesmo status nacional para os chineses com todos os povos do mundo. Essa doutrina exorta todos os grupos étnicos (principalmente han, hui [muçulmanos chineses], manchus, mongóis e tibetanos) na China a se unirem como uma nação a fim de recuperar a autoconfiança nacional da China e revitalizar sua criatividade nacional. De acordo com Sun, seu nacionalismo promoveu oito tipos de virtudes nacionais: lealdade, fidelidade, benevolência, amor, honestidade, justiça, harmonia e paz, todos os quais têm sua origem na cultura tradicional chinesa, mas devem ser transformados para atender às necessidades urgentes da sociedade moderna.

O segundo princípio, o Princípio da Soberania do Povo, que corresponde à ideia de Lincoln de “um governo pelo povo”, afirma que o povo chinês deve lutar por sua soberania por meio de revoluções para estabelecer um governo democrático.

De acordo com Sun, Jean-Jacques Rousseauas ideias de que todos os homens nascem iguais e que a soberania das pessoas é dada pela natureza são apenas ideais ou hipóteses teóricas encontradas em textos políticos clássicos. Na história humana, insistiu Sun, nenhuma evidência pode ser encontrada para apoiar os pontos de vista de Rousseau, e foi somente por meio do derramamento de sangue que as pessoas adquiriram seu poder, soberania e igualdade. Assim, Sun pediu a todos os chineses que lutassem por seus direitos e lutassem por sua liberdade e igualdade, aderindo ao curso da revolução. Influenciado pelo meritocrático sistema de serviço civil confucionista da China tradicional, Sun pediu que a maioria dos cargos executivos do governo fosse designada por meio de exame, em vez de eleição. Isso é para separar o poder das pessoas da capacidade, de modo que as pessoas tenham o poder de governar enquanto os funcionários têm a capacidade de servir (quanneng qufen ).

O terceiro princípio, o Princípio da Vida do Povo, que corresponde à ideia de Lincoln de "um governo parao povo ”, afirma fornecer um meio-termo entre o capitalismo e o comunismo e evitar qualquer um dos extremos, substituindo a ideia de“ economia cooperativa ”pela de“ mercado livre ”. Com base no Princípio de Subsistência das Pessoas, Sun defendeu a adoção de duas políticas: (a) equalização da propriedade da terra por meio da tributação da propriedade e (b) restrição do capital privado e expansão do capital estadual. Conseqüentemente, o governo deve monopolizar a propriedade e o gerenciamento da eletricidade, bancos, transporte de massa e assim por diante, e deixar espaço livre para as pequenas e médias empresas para seu próprio desenvolvimento. Assim, o terceiro Princípio considera o sustento das pessoas em alimentos, roupas, moradia e transporte de importância primordial e exige que o governo assuma total responsabilidade por isso.

Acima de tudo, Sun proclamou que seus “Três Princípios do Povo” combinavam as partes mais seletas do pensamento chinês e ocidental com o Meio Áureo ( zhongyong ) como uma diretriz derivada da tradição chinesa. Por exemplo, o Princípio da Soberania Popular aceita a ideia ocidental de democracia, mas nega sua origem na " lei natural”; como Sun observou, “todos os homens nascem desiguais”, e aqueles que nascem com mais inteligência e capacidade devem servir aos menos favorecidos pelo nascimento com compaixão. Para os filósofos que exigem rigor científico e consistência lógica, a síntese de Sun pode não soar convincente e pode parecer amplamente baseada em observações pessoais e experiência sem justificativas teóricas. No entanto, de uma perspectiva histórica, os “Três Princípios” da Sun podem ser vistos como um grande esforço para introduzir ideias democráticas ocidentais na China. Nesse sentido, a tentativa de Sun de combinar a tradição chinesa com o pensamento moderno ocidental deve ser considerada um exemplo típico da tendência transformacional na filosofia chinesa moderna.

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Chen Duxiu

Embora Chen Duxiu (1880 – 1942) compartilhasse os sentimentos pró-democráticos, pró-científicos e anti-confucionistas de Hu, ele rejeitou o liberalismo individualista de Hu e ajudou a fundar o Partido Comunista Chinês em 1921. Chen, editor do jornal mais influente do Novo Movimento Cultural, New A juventude foi influenciada pelo pensamento democrático francês e pelo marxismo russo teoria.

Ele viu as tradições chinesas, principalmente o confucionismo, como incompatíveis com a ciência e a democracia, e pediu o fim do que considerava um emblema do obscurantismo e do dogmatismo. Profundamente impressionado com os pensadores franceses, ele enumerou suas realizações na democracia (como visto na obra de Lafayette e Seignobos), teoria da evolução (em Lamarck) e socialismo (em Babeuf, Saint-Simon e Fourier). Influenciado por seu predecessor Li Shizeng (1881-1973), o primeiro chinês a estudar na França e o transmissor das doutrinas anarquistas de Pyotr Kropotkin antes do Movimento de Quatro de Maio, Chen já foi um anarquista.

Ele então abraçou o materialismo dialético e propagou fortemente o marxismo como o único remédio para uma China débil. Em 1920, ele escreveu: “A república não pode dar felicidade ao povo…. A evolução vai do feudalismo ao republicanismo e do republicanismo ao comunismo. Eu disse que a república falhou e que o feudalismo renasceu, mas espero que logo as forças feudais sejam exterminadas novamente pela democracia e esta última pelo socialismo ... pois estou convencido de que a criação de um Estado proletário é o máximo revolução urgente na China. ” (Briere 1956: 24)

Essas declarações prefiguram o nascimento da República Popular da China, que substituiu a República da China como o regime na China continental após 1949 e fez do marxismo a única autoridade na filosofia chinesa moderna.

https://pt.wikipedia.org/wiki/Chen_Duxiu