O livro “O Guia do Mochileiro das Galáxias” escrito pelo britânico Douglas Adams é considerado um dos maiores clássicos da literatura de ficção científica, vem encantando gerações de leitores ao redor do mundo com seu humor (uma veia cômica proposital) e insights geniais, em pouco tempo se tornou mundialmente conhecido, ganhando adaptações para a televisão e até mesmo para o cinema. Inicialmente esta série de ficção-cientifica-cômica foi concebida em 1978 como uma rádio-novela, dado ao sucesso, lhe foi solicitado que escrevesse um livro sendo então compilado em 1979, a série foi exibida em live action em 1981, e em 2005 ganhou um filme.
Adams é também descrito como um
ativista ambiental, um assumido ateísta
radical e amante dos automóveis
possantes, câmeras, computadores Macintosh
e outros 'apetrechos tecnológicos'. O biólogo
Richard Dawkins dedicou-lhe seu
livro The God
Delusion e nele descreve como Adams compreendeu a teoria da evolução e, tornou-se
um ateísta. Adams era um entusiasta de novas tecnologias, tendo escrito sobre email
e usenet antes de tornarem-se amplamente
conhecidos. Até o fim de sua vida, Adams foi um requisitado professor de
tópicos que incluíam ambiente e tecnologia. (Wikipédia)
Até a morte do autor foi irônica, ele era uma pessoa sedentária e não fazia qualquer exercício, estava todo ferrado, e disseram para ele que deveria cuidar mais da saúde e fazer exercícios, ele resolveu procurar uma academia, e ao fazer esteira ironicamente morreu de ataque cardíaco, morreu jovem com 59 anos.
O Guia do Mochileiro da Galáxias narra as aventuras de Arthur Dent com seu estranho amigo Ford Prefect que, por motivos de: os Vogons (são naturais do planeta Vogsfera, tidos como um equívoco evolucionário, extremamente burocráticos, insensíveis, brutais, vagamente humanoides e conhecidos por escreverem a pior e aterrorizante poesia) explodem a Terra para dar espaço à construção de uma passagem espacial, Arthur e Prefect se veem forçados a fugir do planeta Terra.
Vamos falar de Prefect, ele era o vizinho e agora o inseparável companheiro de Arthur, na verdade um alienígena, colaborador e escritor para uma das maiores revistas espaciais do universo voltada para caroneiros interespaciais, “O Guia do Mochileiro das Galáxias”. A revista tem bilhões de tiragens, e é uma tela com milhões de dicas e verbetes, com uma frase escrita em letras garrafais em cores berrantes DON’T PANIC (Não entre em Pânico) – que serve de conselho para todas as situações que o mochileiro pode vir a passar. O Guia do Mochileiro das Galáxias, tem todos os detalhes de vários planetas e coisas, e ali se encontra um verbete sobre a Terra.
Prefect ao observar os humanos reparou que era hábito destes afirmar e repetir continuamente o óbvio mais óbvio do tipo: Está um belo dia; ou Como você é alto; ou Ah, meu Deus, você caiu num poço de 10 metros de profundidades, você está bem?, De início Prefect desenvolveu uma teoria, uma teoria que vou chamar de teoria de Prefect: ele faz uma crítica a nossa “humanidade” que diz: “Se os seres humanos não ficarem constantemente exercitando seus lábios – pensou ele -, seus cérebros começam a funcionar.” Vemos muito disso hoje em dia, diante da liquidez das notícias cada vez mais rasas e a necessidade extrema da exposição e o não aprofundamento dos assuntos, deixando assim de se questionar sobre o real significado daquilo que se está propagando, sem falar em fake news e na desinformação que polui a atmosfera mental. Obviamente lembrei do que Bauman já havia teorizado a respeito, a liquidez e sua volatilidade seriam características que vieram desorganizar todas as esferas da vida social como o amor, a cultura, o trabalho, etc. tal qual a conhecíamos até o momento.
Outro bom motivo para ler é que na estória tem um robô chamado Marvin, ele é um depressivo muito querido, a depressão do robô é um ponto de contato com o sofrimento de muita gente e nos leva a refletir sobre a velha questão: Depressão ou crise existencial? Ele entediado e deprimido não se conforma em ter uma enorme inteligência e sente seu potencial desperdiçado em tarefas que não exige muita inteligência. Nós de vez em quando entramos no “modo Marvin”, pois sabemos da nossa capacidade e temos de nos submeter a realizar trabalhos que muitas vezes não gostamos e que exigem o mínimo de nossa capacidade mental.
São muitos os insights que nos são apresentados, dentre tantos ele coloca outra questão na mesa, a tal da inteligência emocional artificial, como e que emoções serão essas que as maquinas irão expressar? O ser biológico que somos com grande capacidade de imaginação, inventores da inteligência artificial, poderá o produto de nossa imaginação e criatividade nos superar em todos os aspectos?
Marvin consegue aprofundar a questão do depressivo, no caso dele, ele afirma que foi “construído contra seus próprios desejos”, e ele sempre expressa da seguinte forma: “Eu nunca pedi para ser feito: ninguém me consultou ou considerou meus sentimentos sobre isso”, esta frase nos remete novamente ao existencialismo tão estudado e debatido pela Filosofia, esta questão aparece principalmente nos nossos momentos de angustia, o questionamento sobre o real motivo da nossa existência: como, e porque existimos e qual o real propósito de tudo isso, qual é o sentido de nossas vidas. Mas como já disse o Pensador Profundo no livro: “Quando vocês souberem qual é exatamente a pergunta, vocês saberão o que significa a resposta”, e assim que a Filosofia aparece e revela sua grande importância na vida de todos nós.
A interpretação do conteúdo de um livro nos faz perceber que ler um livro é mais do que decifrar o código de leitura, ler é apoderar-se, entender e tirar da leitura o sentido que o autor pretendeu, é fazer parte da grande mágica da imaginação, e mais ainda, a partir de nossa própria interpretação crítica ver um sentido todo pessoal. E, este livro, maluco ou não, nos tira fora da mesmice, pois a cada vez que é lido novamente reparamos em detalhes que antes não foram percebidos, dando a impressão da estória ter sido repaginada, tal como quando passado o calor do momento e olhamos no retrovisor percebemos e entendemos coisas que antes não havíamos visto e, que talvez tivéssemos entendido de forma diferente. Assim como a vida foi nos dada, mas não nos foi dada feita, depende bastante de nossa leveza da forma que a encaramos cada momento vivido, para dar um sentido conforme o fenômeno que é o viver.
A trilogia é composta por 5 livros, não entre em pânico, sim, são 5 livros até nisto o autor Adam Douglas foi diferente, pensou em escrever 3 e escreveu 5! Olhem eles logo abaixo:
Use a imaginação, coloque-se na posição do personagem Arthur Dent e, imagine que você ao acordar em uma bela manhã, senta-se a mesa para tomar o café e, percebe um alvoroço no seu quintal, você percebe que está prestes a ter sua casa demolida por empreiteiros para a construção de uma via expressa. Do nada, Ford Prefect seu amigo (um ator desempregado que na verdade era um alienígena ilhado na Terra) aparece dizendo que vocês precisam dar no pé o mais rápido possível e, que ele não tem como te explicar agora, mas diz que a Terra será destruída e, pede para que você confie nele, a dupla escapa da destruição da Terra pegando carona numa nave alienígena. É tudo muito louco, Arthur Dent, de repente se depara com uma simples decisão: sobreviver ou não a destruição da Terra. Arthur não possuí a melhor vida, pois sempre está reclamando da mesma, mas quando se depara com a possibilidade da não existência, ele se arrisca numa aventura intergaláctica. Vá dizer que você nunca se deparou com situações bizarras? (claro que não com esta intensidade!)
Não pense que Arthur concorda imediatamente em sair correndo, na verdade ele se vê arrastado, apesar de seus protestos histéricos, vemos Arthur Dent em estado de negação causado por seu apego na zona de conforto, ele reage automaticamente preferindo se prender as coisas triviais como por exemplo sua obsessão em ficar tomando uma xícara de chá, pois é algo que lhe remete ao passado onde tudo era “normal”, com este pensamento e atitude ele pode assim manter o mínimo de sanidade que resta, porém esse conformismo o impede de compreender e solucionar problemas mais complexos durante sua jornada, diminuindo a sua capacidade de crescimento como pessoa. Neste viés, a Filosofia nos ajuda a entender porque pensamos e agimos assim, através do estudo sobre “existencialismo”, partilha em suas doutrinas a existência concreta o núcleo de sua reflexão começa com o sujeito humano, não meramente o sujeito pensante, mas as suas ações, sentimentos e a vivência de um ser, tem como ideia a “liberdade do homem bem como sua eterna aflição diante a falta de algo que o guiaria para sua caminhada como ser humano, deixando-o a mercê de suas próprias atitudes e decisões”.
Neste momento em que a humanidade está obrigada a viver confinada, se assim não proceder, sob pena de se contaminar com a Covid 19 e podendo até perder a própria vida, está chocada com a perda de liberdade do ir e vir, muitos em negação ainda presos em sua zona de conforto permitem que ele (aqui me refiro ao Arthur) – assim como nós – na maioria das vezes, optamos pelo ” caminho mais fácil”, porém de alto risco, sempre tendo o hábito de reclamar do outro caminho que seria o mais seguro, “se puder não saia, proteja-se e proteja os outros, no caso de Arthur a decisão é sair imediatamente de casa e do planeta. Somos livres e obrigados a refletir constantemente sobre nossas vidas e decidir por nós mesmos o que queremos fazer dela, inclusive teimar contrariando os conselhos dos cientistas (infectologistas) e ir na contramão da possibilidade de existir.
Então finalmente, Arthur parte para uma grande aventura à bordo da nave Coração de Ouro pilotada por Zaphod Beeblebrox e Trillian – uma garota que é uma antiga paixão de Arthur e, é óbvio que teria de haver na estória um clima de paixão ligado ao cotidiano humano das pessoas.
Em 11 de maio de 2001 Douglas Adams faleceu ao ter um ataque cardíaco enquanto se exercitava numa academia. Como já dissemos ele ficou famoso por misturar ficção científica e humor em sua famosa “trilogia de cinco livros”. Seus fãs queriam homenageá-lo de maneira tão bem-humorada e satírica quanto são os livros do autor, e por isso foi combinado que no dia 25 daquele mês, duas semanas depois da morte de Adams, todos sairiam de casa com suas toalhas e não se separariam delas por um dia inteiro. A homenagem aconteceu naquele e em todos os outros anos. Além dos próprios leitores de Adams, programas de televisão e jornais também apoiaram a iniciativa e até mesmo universidades estenderam toalhas em suas janelas para lembrar o autor e o fazem atualmente.
Um dos grandes momentos do “Dia da Toalha” foi quando, em 2005, em Innsbruck, cidade austríaca que Adams usou como inspiração para sua história. Foram colocadas toalhas vermelhas em postes nas ruas com a frase “Não entre em pânico!”, uma das mais famosas citações do autor. A comemoração acontece todos os anos e, já são mais de dez anos de homenagens à vida e a obra de Douglas Adams.
Vamos ao item mais importante
para um mochileiro: a “toalha”, ela é objeto imprescindível na vida de um
mochileiro, ela pode ser utilizada em todas as situações que se possa
imaginar. Pode parecer engraçado e exagerado esse fascínio pela toalha, mas
isso mostra que não precisamos de tanto para sermos felizes ou simplesmente
permanecer em nossa jornada, por isso DON’T PANIC! A veia minimalista é sempre bem vinda, quanto menos é melhor!
Adams explica em sua obra que a toalha é um dos objetos mais úteis para um mochileiro interestelar, porque, entre outras funções, pode ser usada como agasalho quando se atravessa luas frias de Beta de Jagla, quando molhada vira uma arma de combate corpo a corpo, enrolada em torno da cabeça ela protege a pessoa de emanações tóxicas e pode até servir para enxugar o corpo - se estiver limpa o suficiente, é possível deitar-se sobre ela nas praias de Santagrino V; cobrir-se com a toalha é uma excelente opção para apreciar as estrelas no desértico Kakrafoon; funciona também como uma vela de uma mini-jangada necessária para a descida. Porém, segundo o autor, o mais importante é a segurança psicológica que a toalha dá ao mochileiro. Se a leva com ele, também conclui que tem tudo o que precisa, como escova de dentes, esponja, sabonete, lata de biscoitos, bússola, mapa, canivete suíço, barbante, capa de chuva e traje espacial. Para Adams, se o viajante é capaz de rodar por toda a Galáxia, acampar, pedir carona, lutar com os obstáculos, superar todos os infortúnios e ainda assim souber onde está sua toalha, ele é alguém que merece respeito.
Não poderia deixar de falar sobre o número 42, ele é uma referência importante do livro. No livro, ele fala sobre uma civilização que busca resposta para tudo, e para isso constrói um robô superinteligente que era capaz de responder qualquer dúvida. Ao questionarem o robô sobre qual o sentido da vida, o universo e tudo mais, ele deu um prazo de milhares de anos para realizar os cálculos e descobrir a resposta. Essa resposta, irônica como toda a obra de Adams, foi apenas: 42.
Esta é outra ideia interessante, o número 42 foi pensado como resposta para a questão da vida, do universo e tudo mais dada pelo Pensador Profundo. Ela vem como uma crítica referente a liquidez humana, onde se quer respostas para tudo, preferencialmente rapidas, porém devido à falta de conhecimento e instrução, não se sabe formular bem seus questionamentos e, quando se é dado a resposta, não se sabe o que fazer com ela, logo o que é mais importante é a pergunta e não a resposta. O fato de estarmos constantemente em busca da resposta e a resposta que surge parece ainda ser vazia é porque ainda temos uma longa caminhada e aprendizado das lições carmicas, e é evidente que a resposta não vai ser fácil de encontrar, você já achou a sua resposta?
Douglas Adams explicou certa vez de onde veio esse número:
“A resposta é muito simples. Foi uma brincadeira. Tinha que ser um número, um ordinário, pequeno e eu escolhi esse. Representações binárias, base 13, macacos tibetanos são totalmente sem sentido. Eu sentei à minha mesa, olhei para o jardim e pensei “42 vai funcionar” e escrevi. Fim da história.”
Então, se você já leu o “Guia do Mochileiro das Galáxias” ou pelo menos já ouviu falar sobre o livro, já deve saber que você nunca deve sair de casa sem ele – ou sem uma toalha. Afinal, ele é a obra mais útil para um viajante intergaláctico e pode salvá-lo em diversas situações. Se não leu, agora já sabe o que está perdendo!
Fontes:
Adams, Douglas. O Mochileiro Das Galáxias. Editora Brasiliense, 1986
https://geekness.com.br/entenda-historia-guia-mochileiro-da-galaxias/
https://pt.wikipedia.org/wiki/Douglas_Adams
https://garotasnerds.com/dia-da-toalha-a-filosofia-por-tras-do-guia-do-mochileiro-das-galaxias/