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domingo, 18 de setembro de 2011

Laicismo


Ainda hoje li uma reportagem no Terra, realizada com o líder espiritual dos tibetanos, Dalai Lama, que defendeu a unidade entre os seres humanos, apesar das diferenças, e argumentou a favor do laicismo como forma de cultivar os valores morais, em conferência realizada em São Paulo, ele afirmou que "Laicismo não significa falta de respeito às religiões, mas respeito a todas as religiões, incluindo os não crentes", me pareceu bastante interessante sua afirmação, conciliadora, mas temos de ter cuidado com a interpretação. Como sempre uma coisa leva a outra, quando estamos dispostos a pensar, começamos a ruminar e nisto me surgiram duas palavrinhas: Laicidade e Laicismo, seriam a mesma coisa? Teriam o mesmo significado? Me parecem tão... “parecidas”.
Não são mesmo, entende-se por laicidade a distinção entre a esfera política e a religiosa.
Chama-se "Estado laico" aquele que não é confessional, isto é, que não adotou – como era comum em séculos passados – uma religião como religião oficial do Estado [como hoje acontece nos países islâmicos].
A laicidade do Estado fundamenta-se na distinção entre os planos secular e religioso. O princípio de laicidade comporta, portanto, em primeiro lugar, o respeito de todas as confissões religiosas por parte do Estado, o qual deve "assegurar o livre exercício das atividades cultuais, espirituais, culturais e caritativas das comunidades dos crentes. Numa sociedade pluralista, a laicidade é um lugar de comunicação entre as diferentes tradições espirituais e a nação".
A diferença entre a laicidade e o laicismo, é, que o laicismo é uma ideologia que cada vez mais pretende se impor como única admissível para o mundo ocidental. Como ideologia tem livre veiculação pela grande imprensa e pelas mídias em geral. Já a laicidade deve ser entendida como um atributo daquilo que não possui caráter ou vinculação religiosa, por exemplo, tem-se escolas laicas e escolas confessionais.
O cuidado que ainda há pouco falei quanto a interpretação da frase do líder tibetano, é no sentido de que a partir do laicismo, é, que se tratado como ideologia, pode levar gradualmente, de forma mais ou menos consciente, à restrição da liberdade religiosa até promover um desprezo ou ignorância de tudo o que seja religioso, relegando a fé à esfera do privado e opondo-se à sua expressão pública".
Sabemos que o ensino religioso esta previsto na Constituição, e o acesso a informações acerca das diversas religiões é necessário segundo os especialistas da pedagogia, concordo, é importante conhecer as diferentes religiões, para assim poder entender as crenças e com os óculos especiais poderem visualizar, mesmo superficialmente diferentes formas de ver o mundo de maneira globalizada e planificada.
Entendo, também que dentro dessa filosofia educacional, o ensino das religiões é um contato com a dimensão espiritual, de escolha individual, ou coletiva, que é essencial ao ser humano para o seu desenvolvimento integral, o ensino deve primar pelo respeito a liberdade de consciência por ser um quesito absoluto da ética, e o ensino das religiões é a resposta a um apelo da necessidade de se recuperar o aspecto espiritual na educação, a educação não é somente um amontoado de informações técnicas.
Penso também que, não podemos ter Educação sem Religião, o sonho da Educação Laica não passou de resposta aos grandes equívocos do passado, sendo o laicismo apenas um elemento histórico, inegavelmente necessário, mas que agora tem de ser substituído por um novo elemento.
Uma vez reconhecido o fato da necessidade do ensino das religiões corresponder a uma exigência natural da condição e consciência humana, pertencendo ao campo do Conhecimento, devemos reconduzir o ensino junto as escolas, mas desprovidas da roupagem dos  sectarismos, sua necessidade é inegável, pois sem atender aos reclamos do transcendente no homem não atingiremos os objetivos da paidéia grega: que é a educação completa do ser para o desenvolvimento integral e harmonioso de todas as suas possibilidades.
Pertencendo como deve, como uma área do conhecimento, o ensino das religiões também seguem no mesmo sentido em busca da resposta a pergunta: “qual a verdadeira felicidade humana” e sabemos que qualquer pessoa culta sabe que há distinção entre filosofia e teologia, e que os pais da Ética natural, racional, foram os filósofos gregos, principalmente Sócrates e o seu discípulo Platão; depois, dando um enorme passo à frente, Aristóteles ("Ética a Nicômaco", "Grande Ètica"), e os filósofos estoicos (Epicteto), etc., até se chegar a Cícero, com seu tratado moral de inspiração estoica, intitulado "De officiis" ("Dos deveres")", e a Sêneca com suas "Cartas a Lucílio", etc. Nenhum deles pretendia fazer teologia, mas respeitavam seus deuses. A indagação fundamental de todos eles não era "o que Deus quer ou manda", mas "qual é a verdadeira felicidade humana", e toda a ética racional foi – também entre muitos cristãos ou não, que sabem distinguir entre Ética racional e Moral cristã, muçulmana, africana, espírita – , um esforço da razão para achar as respostas certas a essa indagação básica sobre o verdadeiro bem e a verdadeira felicidade do homem e da sociedade. Esse esforço acumulou séculos de sabedoria e atingiu cumes altíssimos do pensamento humano, que hoje a maioria ignora. Infelizmente, prescindir dessas conquistas acarreta um empobrecimento lastimável da cultura, da vida social e, sobretudo, da dignidade humana, mas aqui já entrei noutra questão que é a importância do estudo da filosofia.
O laicismo não deve ser confundido com a constituição de um Estado ateu. Os princípios básicos do laicismo são a igualdade entre os cidadãos nos assuntos religiosos, a liberdade de consciência e defesa da procedência humana e democrática das leis do Estado. Como já disse anteriormente a doutrina laicista surge como fruto da indignação de diversos grupos social frente aos abusos realizados pela interferência de ideologias e preceitos religiosos na esfera política de diversas nações e no conhecimento difundidos pelas universidades no período pós-medieval, e, isto ficou registrado na história, é conhecimento advindo de experiências, vivemos hoje o nosso tempo com todo legado de experiências, mas vivemos num novo tempo.
Devemos lembrar que a religião é um fator que moldou nossa cultura, temos que tomar cuidado para não transformar ateísmo em uma religião, pois elas não são feitas de fé e sim de dogmas e política.
Penso nas aulas das religiões como aulas de Cultura Geral e com as religiões apresentadas como mitologia, penso que com isto, a população teria consciência de sua própria e fé da dos outros.
Neste mundo cada vez mais plural, a diversidade de credos do Brasil favorece um cenário assim e isso deve ser cultivado de alguma forma, nosso cenário atual é de extraordinária expansão de igrejas que proliferam vertiginosamente, devemos despertar o olhar critico como defesa aos embustes e falsos profetas.
Compartilho logo abaixo a reportagem que despertou meu interesse neste dia acerca de assunto tão fascinante que é o estado laico e sem duvida minha amada filosofia.

O Dalai Lama, líder espiritual do Tibete, faz palestra aberta ao público no Anhembi
Foto: Ricardo Matsukawa/Terra


O líder espiritual dos tibetanos, Dalai Lama, defendeu neste sábado a unidade entre os seres humanos, apesar das diferenças, e argumentou a favor do laicismo como forma de cultivar os valores morais, em conferência realizada em São Paulo. "Laicismo não significa falta de respeito às religiões, mas respeito a todas as religiões, incluindo os não crentes", afirmou a milhares de pessoas de diversos locais do país que participaram da conferência no sambódromo do Anhembi.
Tenzin Gyatso, o XIV Dalai lama, afirmou que a experiência comum entre indivíduos, o bom senso e o progresso tecnológico permitem a promoção dos princípios humanos. "A ética laica é necessária para a humanidade", disse o líder espiritual, que foi recebido com um caloroso aplauso e defendeu valores através do ensino. "O único caminho é a educação, desde a creche até a universidade".
O Prêmio Nobel da Paz de 1989 criticou o uso da violência, que classificou como um "método não realista", por não ser efetivo na resolução de conflitos. Ele defendeu um processo de "desarmamento interno" da raiva e a avareza, entre outros aspectos, com o objetivo de alcançar o "desarmamento externo". Dalai Lama comparou a democracia da Índia, país que o acolheu após o fracasso da insurreição tibetana de 1959, com a falta de liberdades da China. "A democracia está bem estabelecida na Índia, há completa liberdade de imprensa ao contrário da China", disse.
De acordo com cálculos da Polícia Federal, cerca de 3 mil pessoas participaram da conferência, entre elas o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, que foi recebido com assobios de protesto pelos cidadãos. Com as atividades deste sábado, Dalai Lama pôs fim a sua quarta viagem ao Brasil, que fez parte de um roteiro de visitas a outros países da América Latina.
Este ano, Tenzin Gyatso entregou o poder político do governo tibetano no exílio a Lobsang Sangay, um jurista que estudou em Harvard e que assumiu o compromisso de continuar procurando uma maior autonomia do Tibete dentro da China.

Ótimo domingo e Ótima semana a todos!

Um comentário:

  1. Caro Adão,

    a postagem de hoje traz um assunto bastante debatido e controverso na sociedade atual. A Educação Religiosa tem muita importância na formação moral das pessoas, mas é necessário tomar-se cuidado com a ideologia religiosa de quem vai ministrá-la. A história contempla relatos desse ensino ter se transformado em doutrinação denominacional.

    Uma boa semana para ti, e um abraço. Foi muito bom ter te encontrado no último PhiloCine do IPA.

    Garin

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