Neste belo domingo de setembro, com o sol brilhando, um céu azul maravilhoso, nos dirigimos a Eldorado do Sul, com destino a casa do meu sogro. Ele tem 82 anos de idade, viúvo, mora sozinho, cuida das coisas da casa, das plantações que são sua ocupação, e vive apenas na companhia de seus dois cães, que parecem mais parentes que os próprios parentes de pouca visita. Sabemos que nesta idade o corpo já começa a falhar e dar sinais de que precisa de mais alguém por perto, mesmo assim ele é firme em seu propósito, defende sua individualidade e sua autonomia, de fato lá há mais espaço para seus afazeres que lhe ocupam e tomam o tempo, é lá que se sente produtivo, a cabeça funciona, faz suas contas de cabeça, sabe de cor quando deve plantar mandioca, couve, milho, feijão, sabe o tempo e a lua para poda, toda esta sabedoria que não se importa em compartilhar, faz gosto quando alguém se interessa por estes assuntos. Conversa bastante quando estamos por lá, fazemos uma visita a cada quinze dias e nos falamos por telefone durante a semana para saber como as coisas estão, quando estamos juntos lhe pergunto como esta de saúde e se não se incomoda de morar sozinho, se a dona solidão não lhe perturba e aquela melancolia não esta lhe exigindo muito, a resposta é de pronto, claro que a solidão as vezes fala alto, mas enquanto puder viver como vive, produzindo e sabedor de que o trabalho lhe é companheiro a solidão se torna aceitável. Como gosta de trabalhar na terra, par o agricultor a terra sempre responde aos bons tratos e as mãos que se dedicam a ela, para quem é produtivo nada mais prazeroso do que colher os frutos de sua dedicação. Dá para entender sua escolha, demonstra maturidade e lucidez, sabedoria que não encontramos nos livros, basta olharmos e enxergarmos o exemplo, pelo exemplo que aprendemos. Esta sempre muito bem informado, ouve radio e não assiste televisão, tem televisão com parabólica mas não demonstra interesse em ficar parado na frente de uma tela, sempre que conversamos sabe tudo de futebol, de política então dá um nó. Isto demonstra estar atento as coisas do mundo externo, tem opinião própria e seus conceitos e valores consolidados, ainda hoje falamos de algumas tradições e mitos que estão se perdendo com saída de cena dos mais velhos, como a semana santa, a sexta-feira santa, Páscoa, sete de setembro com o desfile das escolas, o ensaio e aprendizado do Hino Nacional, coisa que sabíamos na ponta da língua, enfim falamos de outras datas que modificavam o cotidiano das famílias, atualmente existe muita preocupação no adquirir, estamos perdendo a felicidade pela simplicidade, as coisas parecem ter um sabor muito passageiro sem tradição.
O que vejo por ai e ouço de tantas bocas, é maior expectativa de vida para nossos idosos, de fato, concordo, mas só acontecera se nossos idosos estiverem ocupados, com suas cabeças funcionando, produzindo, não falo só de trabalho, falo de outras coisas que podem ocupar e dar objetivo, sem o compromisso do trabalho alienante. A pouco li pela segunda vez o livro de Cícero, “Saber Envelhecer”, ali encontramos diálogos travados com bastante lucidez, recomendo mesmo para os jovens, dali podemos extrair idéias que vão de encontro a impressão que os jovens tem sobre os idosos, encontrar prazer na convivência que independente da idade a própria convivência por si só tem como diz Cícero, todas as idades tem suas próprias virtudes, e é na convivência que aprendemos a lidar com as diferenças.
Deixo algumas palavras do sábio Cícero, acerca da vontade dos homens em querer viver muito tempo: “Quando esse fim chega, o passado desapareceu. Dele vos resta apenas o que vos puderam trazer a prática das virtudes e as ações bem conduzidas. Quanto ás horas, elas se evadem, assim como os dias, os meses, os anos. O tempo perdido jamais retorna e ninguém conhece o futuro. Contentemo-nos com o tempo que nos é dado a viver, seja qual for!”.

Caro Adão,
ResponderExcluira convivência com meu pai tinha muito daquilo que tu relatas a respeito do teu sogro. Sempre que o visitava, ele me levava para um tour pela lavoura na qual apontava para as plantas, ou em sementeiras ou em frutos novos, dependendo da época. A sabedoria estava sempre ligada aos ciclos da natureza e da convivência com o solo nascia suas mais fortes emoções.
Um bom feriado!
Garin