O TEMPO NÃO METEOROLÓGICO
Tempo (meteorológico) são condições atmosféricas de um determinado lugar em um dado momento. Clima: é a sucessão habitual dos tipos de tempo num determinado lugar da superfície terrestre.
Mas não é deste tempo que quero falar.
Depois de assistir ao filme O Feitiço do Tempo, no Philocine de ontem (10/09/2011), exibido por iniciativa dos alunos do Curso de Filosofia do IPA, fiquei em minha mente ruminando outra questão, entendo que seja uma das mais importantes na mensagem do filme, é a questão do tempo, que diga-se é questão fundamental para nossa existência.
Perguntinha fácil para o senso comum e difícil para quem gosta de pensar com profundidade:
O que é o Tempo?
Quando nos propomos a falar sobre o tema, de imediato o senso comum se mostra perplexo diante de tal pergunta, e passa a responder: ora, o tempo é o tempo, que é passado, presente e futuro, com esta resposta aqueles que pensam com mais profundidade entende que esta visão é externa e desprovida de conceito, apenas um amontoado de palavras que apenas sugerem alguma coisa, alimentada apenas pelos sentidos, como em geral é o limite do senso comum.
Por definição, o passado é o que não é mais, o futuro, o que ainda não é, e o presente é o que é. Mas o instante presente, quando percebido, já passou. Como compreender a relação entre passado, presente e futuro? O que é o tempo?
Esta pergunta já foi motivo de muita reflexão desde tempos remotos, temos pensadores brilhantes que pensaram a respeito e nos legaram ampla bibliografia, que ora então trago para este registro uma pequena parcela de alguns pensamentos para em seguida refletirmos:
PLATÃO (427-347 a.C.):
Platão argumenta que o tempo (chrónos) “é a imagem móvel da eternidade (aión) movida segundo o número” (Timeu, 37d). Partindo do dualismo entre mundo inteligível e mundo sensível, Platão concebe o tempo como uma aparência mutável e perecível de uma essência imutável e imperecível - eternidade. Enquanto que o tempo (chrónos) é a esfera tangível móbil, a eternidade (aión) é a esfera intangível imóbil. Sendo uma ordem mensurável em movimento, o tempo está em permanente alteridade. O seu domínio é caracterizado pelo devir contínuo dos fenômenos em ininterrupta mudança.
Posto que o tempo (chrónos) é uma imagem, ele não passa de uma imitação (mímesis) da eternidade (aión). Ou seja, o tempo é uma cópia imperfeita de um modelo perfeito – eternidade. Isso significa que o tempo é uma mera sombra da eternidade. Considerando que somente a região imaterial das formas puras existe em si e por si, podemos dizer que o tempo platônico é uma ilusão. Ele é real apenas na medida em que participa do ser da eternidade.
ARISTÓTELES (384-322 a.C.):
Segundo Aristóteles, o tempo é “o número de um movimento segundo o antes e o depois” (Física 219 b1-2). Embora o tempo não seja o movimento, ele afirma que o tempo “é o movimento enquanto possui um número” (Física 219 b3). Como número, o tempo é o número numerado e não o número numerante. Enquanto que o número numerante é o número abstrato, o número numerado é o número concreto. Enquanto que o número numerante é aquele que conta, o número numerado é aquele que é contado. Enquanto que o número numerante designa apenas a quantidade (dez); o número numerado designa a quantidade e a natureza dos entes numerados (dez cavalos). Assim, o tempo é o número numerado porque é o número (quantidade) do movimento (natureza).
Tendo em vista que o tempo é o movimento numerado segundo o anterior-posterior, Aristóteles afirma que o tempo é o número do movimento considerado absolutamente e não especificamente. Neste caso, o tempo é o número do movimento absoluto. Ou seja, o tempo enquanto movimento numerado compreende todos os diversos movimentos que ocorrem segundo categorias determinadas: substância (geração e corrupção), quantidade (crescimento), qualidade (alteração) e lugar (movimento local).
Partindo do pressuposto que o tempo é o anterior-posterior numerado de um movimento, Aristóteles afirma que o anterior-posterior é a causa do número que é o tempo. Ou seja, o anterior-posterior é o principio do tempo – o fundamento que possibilita que um movimento seja atribuído ao número. Para Aristóteles, o anterior-posterior é expresso no âmbito temporal através de dois agoras – um agora anterior e um agora posterior. Na dimensão temporal, o anterior-posterior só podem ser concebidos segundo a distância em relação ao agora. No passado, o anterior é o mais distante do agora e o posterior é o mais próximo. No futuro, o anterior é o mais próximo do agora e o posterior é o mais distante.
Por conseguinte, Aristóteles demonstra que o agora é a referência temporal que vincula o anterior e o posterior. Ele funciona como intermédio cronológico entre os extremos opostos – anterior e posterior. Situado entre o anterior e o posterior, o agora é o intervalo de tempo que delimita o anterior-posterior. Sendo o limite que conecta incessantemente o anterior e o posterior, o agora permite a determinação dos dois agoras (anterior e posterior) em uma série numérica. Ou seja, a ordenação numérica do anterior-posterior no movimento depende da mediação do agora definido por Aristóteles como “o anterior-posterior enquanto numerável” (Física 219 b25).
SANTO AGOSTINHO DE HIPONA (354-430):
Inicialmente admitimos que a questão do “tempo” parece, ser extremamente simples e conhecida de todos, o próprio filósofo Agostinho de Hipona reconhece isso quando afirma: (vide livro XI O Homem e o Tempo)
Que assunto mais familiar e mais batido nas nossas conversas do que o tempo? Quando dele falamos compreendemos o que dizemos. Compreendemos também o que nos dizem quando dele nos falam.
Apenas como recurso didático e para comprovação das palavras de Agostinho, citaremos um texto canônico muito conhecido que versa sobre o tempo:
Tudo tem seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu: há tempo de nascer e tempo de morrer, tempo de plantar e tempo de arrancar o que se plantou, tempo de matar e tempo de curar, tempo de derribar e tempo de edificar, tempo de chorar e tempo de rir, tempo de prantear e tempo de saltar de alegria, tempo de espalhar pedras e tempo de juntar pedras, tempo de abraçar e tempo de afastar-se de abraçar, tempo de buscar e tempo de perder, tempo de guardar e tempo de deitar fora, tempo de rasgar e tempo de coser, tempo de estar calado e tempo de falar, tempo de amar e tempo de aborrecer, tempo de guerra e tempo de paz.
Agostinho, respondeu de maneira clara e objetiva, mas quando a pergunta é feita: O que é o Tempo? Ele responde:
Se não me perguntarem, eu sei o que é. Se tiver de explicar para alguém, não sei. O problema é que o passado não está mais aqui, o futuro ainda não chegou e o presente voa tão rápido que parece não ter extensão alguma. Aliás, se o presente só surge para virar passado, não daria pra dizer que o tempo é uma caminhada rumo à não-existência? Santo Agostinho, foi Bispo no século 5. Famoso por ter adaptado o pensamento da grécia antiga ao cristianismo, em especial o pensamento de Platão.
JOHN WHEELER (1911-2008) :
É o jeito que a natureza deu para não deixar que tudo acontecesse de uma vez só. Um dos maiores físicos do século 20. Também é conhecido por cunhar o nome popular para o fenômeno espacial das estrelas colapsadas gravitacionalmente, a expressão buraco negro.
ALBERT EINSTEIN (1879-1955):
Uma ilusão. A distinção entre passado, presente e futuro não passa de uma firme e persistente ilusão.
BRIAN GREENE (1963):
Não há fluxo. Os eventos, independentemente de quando ocorram, simplesmente existem. Todos existem. Eles ocupam para sempre o seu ponto particular no espaço-tempo. Se você estava se divertindo a valer no réveillon, você ainda está lá, pois esta é uma das localizações imutáveis do espaço-tempo. Brian Greene, Físico americano da universidade de Colúmbia e autor best seller de divulgação científica.
POVO MAIA (1000 a.C. a 1697 d.C.): - TEMPO DO NÃO TEMPO
SEGUNDO O CALENDÁRIO MAIA (criado aproximadamente no período pré-clássico 1000 a.C – 317 d.C.), O TEMPO DO NÃO TEMPO VAI DO ANO DE 1992 AO ANO DE 2012.
O que significa o tempo do não tempo?
Significa um período de mudanças profundas nos sistemas socias, economicos, financeiros e relacionamentos, existentes no planeta terra em toda a sua ordem e, a partir do setimo ano após 1999 no ano de 2006 as sete profecias maias, que marcam as mudanças dos tempos estariam em curso, apesar de que algumas delas já estavam sendo iniciadas em alguns níveis desde o ano de 1992, e apenas ficariam mais claras a partir do ano de 2006.
RAINER SOUZA (graduado em História – Equipe Brasil Escola), escreveu o seguinte:
TEMPO CRONOLÓGICO E TEMPO HISTÓRICO. O tempo é uma questão fundamental para a nossa existência. Inicialmente, os primeiros homens a habitarem a terra determinaram a contagem desse item por meio da constante observação dos fenômenos naturais. Dessa forma, as primeiras referências de contagem do tempo estipulavam que o dia e a noite, as fases da lua, a posição de outros astros, a variação das marés ou o crescimento das colheitas pudessem metrificar “o quanto de tempo” se passou. Na verdade, os critérios para essa operação são diversos.
Não sendo apenas baseada em uma percepção da realidade material, a forma com a qual o homem conta o tempo também pode ser visivelmente influenciada pela maneira com que a vida é compreendida. Em algumas civilizações, a ideia de que houve um início em que o mundo e o tempo se conceberam juntamente vem seguida pela terrível expectativa de que, algum dia, esses dois itens alcancem seu fim. Já outros povos entendem que o início e o fim dos tempos se repetem através de uma compreensão cíclica da existência.
Apesar de ser um referencial de suma importância para que o homem se situe, a contagem do tempo não é o principal foco de interesse da História. Em outras palavras, isso quer dizer que os historiadores não têm interesse pelo tempo cronológico, contado nos calendários, pois sua passagem não determina as mudanças e acontecimentos (os tais fatos históricos) que tanto chamam a atenção desse tipo de estudioso. Dessa maneira, se esse não é o tipo de tempo trabalhado pela História, que tempo tal ciência utiliza?
O tempo empregado pelos historiadores é o chamado “tempo histórico”, que possui uma importante diferença do tempo cronológico. Enquanto os calendários trabalham com constantes e medidas exatas e proporcionais de tempo, a organização feita pela ciência histórica leva em consideração os eventos de curta e longa duração. Dessa forma, o historiador se utiliza das formas de se organizar a sociedade para dizer que um determinado tempo se diferencia do outro.
Seguindo essa lógica de pensamento, o tempo histórico pode considerar que a Idade Média dure praticamente um milênio, enquanto a Idade Moderna se estenda por apenas quatro séculos. O referencial empregado pelo historiador trabalha com as modificações que as sociedades promovem na sua organização, no desenvolvimento das relações políticas, no comportamento das práticas econômicas e em outras ações e gestos que marcam a história de um povo.
Além disso, o historiador pode ainda admitir que a passagem de certo período histórico para outro ainda seja marcado por permanências que apontam certos hábitos do passado, no presente de uma sociedade. Com isso, podemos ver que a História não admite uma compreensão rígida do tempo, onde a Idade Moderna, por exemplo, seja radicalmente diferente da Idade Média. Nessa ciência, as mudanças nunca conseguem varrer definitivamente as marcas oferecidas pelo passado.
Mesmo parecendo que tempo histórico e tempo cronológico sejam cercados por várias diferenças, o historiador utiliza a cronologia do tempo para organizar as narrativas que constrói. Ao mesmo tempo, se o tempo cronológico pode ser organizado por referenciais variados, o tempo histórico também pode variar de acordo com a sociedade e os critérios que sejam relevantes para o estudioso do passado. Sendo assim, ambos têm grande importância para que o homem organize sua existência.
Mesmo parecendo que tempo histórico e tempo cronológico sejam cercados por várias diferenças, o historiador utiliza a cronologia do tempo para organizar as narrativas que constrói. Ao mesmo tempo, se o tempo cronológico pode ser organizado por referenciais variados, o tempo histórico também pode variar de acordo com a sociedade e os critérios que sejam relevantes para o estudioso do passado. Sendo assim, ambos têm grande importância para que o homem organize sua existência.
Existem correntes de pensadores que falam acerca do tema tempo, uma corrente tradicionalmente a dos realistas defendem a existência do tempo separadamente da mente humana. Outra corrente os anti-realistas, principalmente os idealistas negam, duvidam ou problematizam tal existência separada.
KANT (1724–1804):
Um filósofo idealista, nega a realidade do tempo. Para ele, o tempo é uma noção a priori que não designa nada alem de determinada característica do nosso modo humano de receber informações através dos sentidos.
McTAGGART (1866–1925): Talvez o mais famoso argumento contra a realidade do tempo seja a dele. Diz que podemos distinguir duas "séries" ou características do tempo, a série-A e a série-B, que chamaremos de características-A e características-B. As noções de passado, presente e futuro são as características-A, e as noções de antes e depois, ou anterior e posterior, são as características-B.
Segundo McTaggart, as características-B são redutíveis às características-A, e as características-A nos levam ao regresso ao infinito. Tome como exemplo um evento presente, a leitura deste artigo da Wikipédia. Esse evento é presente, foi futuro e será passado. Ser presente é ser presente no presente, ter sido futuro no passado e vir a ser passado no futuro. Ser presente no presente é ser presente no presente no presente, ter sido futuro no passado no presente, vir a ser passado no futuro no presente etc. Resumindo, por levarem ao regresso ao infinito as características-A não podem ser atribuídas ao tempo. Como, após a redução das características-B às características-A, não há outras características do tempo, McTaggart conclui que o tempo não tem característica alguma por ser irreal. Em suma, ele diz que o tempo não existe, embora tenhamos a ilusão do tempo.
HENRI BERGSON (1859-1941):
Bergson considera que o tempo não é um vazio homogêneo no qual os acontecimentos se sucederiam semelhante à idéia do espaço vazio no qual os objetos estariam colocados simultaneamente. Ao dizer que o tempo é o tecido do real, Bergson estabelece que o tempo compreendido como sucessão, continuidade, mudança, memória e criação não pode ser separado dos acontecimentos, sejam eles psicológicos ou físicos. Nesse sentido, o tempo é único, ou seja, essa é a natureza da infinidade de fluxos ou durações temporais contemporâneas. Esse tempo ao qual Bergson atribui uma realidade objetiva é percebido subjetivamente. Dentre os seres existentes, alguns têm o privilégio de perceber conscientemente o tempo, de apreender-se enquanto sujeitos temporais, de perceber imediatamente a duração interior e a partir daí atribuir temporalidade aos acontecimentos externos, contar o tempo das coisas. Consideremos alguns desses aspectos envolvidos em nossa percepção do tempo.
Temos outros filósofos e pensadores das mais diversas áreas do conhecimento que trabalharam a questão do tempo que são Husserl, Merleau-Ponty e Wittgenstein, e muito outros, porem o caminho é longo, vamos ter de abreviar.
Ficou evidente como demonstrado acima que grandes pensadores, nas mais variadas áreas do conhecimento e em épocas diferentes se sentiram obrigados a abordar a questão, De todos autores farei uma breve manifestação acerca do pensamento de Santo Agostinho, lembro que Edmund Husserl afirmou que o pensamento de Agostinho de Hipona não ficou cristalizado em sua época.
Todas as épocas que o sucederam e quiseram abordar o problema do tempo, tiveram que ler a obra agostiniana, ainda que para discordar. O cerne de sua teoria do tempo tem sido ratificada contemporaneamente por Henri Bérgson, eficiente opositor do positivismo. Segundo ele, o positivismo não se manteve fiel à sua promessa de retratar a verdade, primordialmente, no que tange ao problema do tempo. O tempo especializado, cronológico, não é o tempo de nossas consciências, que é o tempo real, o tempo concreto. Esta denúncia é feita sob as bases da teoria agostiniana do tempo, evidentemente acrescida de novas descobertas. E com Bergson, concluo:
Toda consciência é memória-conservação, acumulação do passado no presente e antecipação do futuro.
Duração pura, duração vivida, duração real, duração qualidade, duração completa, todas são qualidades próprias dos estados psíquicos que se sucedem sem justaposição.
Sim, eu creio que nossa vida passada está aí conservada nos mínimos detalhes, e tudo o que nós percebemos, passamos, desejamos desde o primeiro despertar da nossa consciência, persiste infinitamente.
Uma ótima semana a todos!
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