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sexta-feira, 21 de maio de 2021

Crônicas Maravilhosas de Rubem Braga

Rubem Braga - Cronista Moderno

Gosto muito de crônicas, elas geralmente são curtas, dão o recado com toque de humor, tematizando acontecimentos do cotidiano, em primeira pessoa, o narrador conversa com seus leitores num tom confessional, conduzindo o dialogo numa linguagem leve, Rubem Braga, cronista moderno, consegue nos encantar com suas crônicas leves e inteligentes, mostrava seu estilo irônico, lírico e extremamente bem-humorado. Sabia também ser ácido e escrevia textos duros defendendo os seus pontos de vista, fazia crítica social, denunciava injustiças, a falta de liberdade da imprensa e combatia governos autoritários, o que lhe causou alguns problemas.

RUBEM BRAGA, nasceu em Cachoeiro de Itapemirim, Espírito Santo, a 12 de janeiro de 1913. Graduou-se em Direito, mas dedicou-se ao jornalismo, escrevendo crônicas, comentários políticos e reportagens para diversos jornais e revistas de são Paulo, Recife, Belo Horizonte, Porto Alegre e Rio de Janeiro, onde residia.

Na Segunda Guerra Mundial, acompanhou a Força Expedicionária Brasileira na campanha de 1944-1945, como correspondente do Diário Carioca. Em 1946 fez a cobertura da primeira eleição de Perón, na Argentina. Também trabalhou para esse jornal em 1956, fazendo a reportagem sobre a segunda eleição de Eisenhower, nos Estados Unidos. Visitou inúmeros países das Américas, Europa, Africa e Índia.

Rubem Braga faleceu no Rio de Janeiro, no dia 19 de dezembro de 1990.

Em sua obra, como veremos na crônica Cafezinho, o autor procura identificar algo singular no termo “coisa de carioca”, um hábito ou comportamento comum, como ir “tomar um cafezinho”. Ele procura seguir um tempo cronológico determinado, usando da oralidade na escrita e o coloquialismo na fala de seus personagens tornando a leitura fácil de acompanhar o diálogo entre ele e o personagem.

A crônica que segue, Cafezinho, de Rubem Braga, compõe o seu livro O conde e o passarinho & Morro do isolamento. Rio de Janeiro: Record, 1982, p. 157-158.

 

CAFEZINHO

 

Leio a reclamação de um repórter irritado que precisava falar com um delegado e lhe disseram que o homem havia ido tomar um cafezinho. Ele esperou longamente, e chegou à conclusão de que o funcionário passou o dia inteiro tomando café.

Tinha razão o rapaz de ficar zangado. Mas com um pouco de imaginação e bom humor podemos pensar que uma das delícias do gênio carioca é exatamente esta frase:

– Ele foi tomar café.

A vida é triste e complicada. Diariamente é preciso falar com um número excessivo de pessoas. O remédio é ir tomar um “cafezinho”. Para quem espera nervosamente, esse “cafezinho” é qualquer coisa infinita e torturante. Depois de esperar duas ou três horas dá vontade de dizer:

– Bem cavaleiro, eu me retiro. Naturalmente o Sr. Bonifácio morreu afogado no cafezinho.

Ah, sim, mergulhemos de corpo e alma no cafezinho. Sim, deixemos em todos os lugares este recado simples e vago:

– Ele saiu para tomar um café e disse que volta já.

Quando a Bem-amada vier com seus olhos tristes e perguntar:

– Ele está? – alguém dará o nosso recado sem endereço. Quando vier o amigo e quando vier o credor, e quando vier o parente, e quando vier a tristeza, e quando a morte vier, o recado será o mesmo:

– Ele disse que ia tomar um cafezinho…

Podemos, ainda, deixar o chapéu. Devemos até comprar um chapéu especialmente para deixá-lo. Assim dirão:

– Ele foi tomar um café. Com certeza volta logo. O chapéu dele está aí…

Ah! fujamos assim, sem drama, sem tristeza, fujamos assim. A vida é complicada demais. Gastamos muito pensamento, muito sentimento, muita palavra. O melhor é não estar.

Quando vier a grande hora de nosso destino nós teremos saído há uns cinco minutos para tomar um café. Vamos, vamos tomar um cafezinho.

Rio, 1939.

Acredito que a maioria dos brasileiros sejam “cafezistas”, é coisa de quem gosta e aprecia um cafezinho, vê nele um habito de minutos relaxantes, começa desde o aroma inebriante do cafezinho novo, passado na hora, durante os breves minutos que tomo são de puro relaxamento, sozinho ou acompanhado, um cafezinho entre um afazer e outro é coisa muito prazerosa, ele promove uma sensação de alegria, não é coisa só de carioca, mas de brasileiros do norte ao sul deste imenso pais que é o Brasil. 

Para muitos o cafezinho vai do relaxamento ao estimulo de uma nova etapa do dia.

Existe até um ditado antigo que diz: ” Se você quer ficar rico(a), tem que tomar o café sentado(o)”, o ditado carrega uma simbologia muito real, coisa inventada por quem gosta de café e quer dar um toque no ritual de introspecção para daí tomar as melhores decisões.

Não foi à toa que Rubem Braga escreveu a crônica o Cafezinho, percebe-se que ele também gostava de desfrutar do bom cafezinho e tudo de bom que ele carrega, só quem toma um cafezinho sabe do que ele e eu estamos falando.

Dicas de obras de Rubem Braga

 

·         O Morro do Isolamento (1944)

·         Um Pé de Milho (1948)

·         O Homem Rouco (1949)

·         A Borboleta Amarela (1956)

·         A Traição das Elegantes (1957)

·         Ai de Ti Copacabana (1960)

·         Recado de Primavera (1984)

·         Crônicas do Espírito Santo (1984)

·         O Verão e as Mulheres (1986)

·         As Boas Coisas da Vida (1988)

Algumas frases de Rubem Braga

“Há um grande vento frio cavalgando as ondas, mas o céu está limpo e o sol muito claro. Duas aves dançam sobre as espumas assanhadas. As cigarras não cantam mais. Talvez tenha acabado o verão.”

“Sou um homem quieto, o que eu gosto é ficar num banco sentado, entre moitas, calado, anoitecendo devagar, meio triste, lembrando umas coisas, umas coisas que nem valiam a pena lembrar.”

“Desejo a todos, no Ano Novo, muitas virtudes e boas ações e alguns pecados agradáveis, excitantes, discretos e principalmente, bem sucedidos.”

“Acordo cedo e vejo o mar se espreguiçando; o sol acabou de nascer. Vou para a praia; é bom chegar a esta hora em que a areia que o mar lavou ainda está limpinha, sem marca de nenhum pé. A manhã está nítida no ar leve; dou um mergulho e essa água salgada me faz bem, limpa de todas as coisas da noite.”

 

 

 

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