Michael De Certeau (1925-1986) foi um filósofo, teórico cultural e historiador francês conhecido por suas contribuições nos campos da teoria social, estudos culturais e teoria literária. Sua obra mais famosa é "A invenção do cotidiano: artes de fazer" (1980), onde ele examina as práticas cotidianas das pessoas comuns e as formas pelas quais elas produzem significado em suas vidas.
Inteligência brilhante e não conformista, alimentou milhares de curiosidades, com sólida formação em Filosofia, Letras Clássicas, História e Teologia. Pesquisador da história dos textos místicos desde a Renascença até a era clássica, interessa-se não só pelos métodos da Antropologia e da Linguística, como também pela Psicanálise.
De Certeau acreditava que a vida cotidiana era composta por táticas individuais, uma vez que as pessoas comuns operam dentro das estruturas sociais e culturais estabelecidas. Ele argumentava que, apesar da aparente dominação exercida pelas instituições e sistemas, os indivíduos têm a capacidade de usar "táticas" para negociar, resistir e subverter essas estruturas em suas vidas diárias.
Em sua análise, De Certeau distingue entre duas formas de práticas: estratégias e táticas. As estratégias são as ações planejadas e sistemáticas realizadas pelas instituições e poderes dominantes para impor sua vontade e obter controle sobre o espaço social. Por outro lado, as táticas são as ações criativas e adaptativas dos indivíduos que operam dentro dessas estruturas. As táticas são improvisadas, baseadas em recursos disponíveis e podem incluir comportamentos como apropriação, desvio, reinterpretação e uso criativo do espaço e dos objetos.
Para De Certeau, as práticas cotidianas eram uma forma de resistência e liberdade em meio às estruturas opressivas. Ele explorou essas ideias em diferentes contextos, incluindo a vida urbana, a produção cultural, a leitura e a escrita. De Certeau enfatizava a importância das práticas individuais para a criação de significado e a capacidade dos indivíduos de se apropriarem das estruturas dominantes e transformá-las de maneiras sutis, mas significativas.
Além de "A invenção do cotidiano: artes de fazer", outras obras importantes de De Certeau incluem "A escrita da história" (1975), onde ele examina os desafios e as limitações da escrita histórica, e "A cultura no plural" (1993), uma coletânea de seus ensaios sobre cultura, consumo e práticas cotidianas.
O pensamento de Michael de Certeau teve uma influência significativa nos estudos culturais, na teoria literária e em disciplinas relacionadas, oferecendo uma perspectiva crítica sobre o poder, a resistência e as práticas individuais na sociedade contemporânea. Sua abordagem enfatiza a importância das ações e experiências cotidianas, bem como a capacidade das pessoas comuns de redefinir e reinventar o mundo ao seu redor.
O livro “A Invenção do cotidiano; artes de fazer”
O livro mais importante de Michael de Certeau é geralmente considerado "A invenção do cotidiano: artes de fazer" (em inglês, "The Practice of Everyday Life"), publicado originalmente em 1980. Nesta obra, De Certeau examina as práticas cotidianas das pessoas comuns e suas táticas de resistência e subversão dentro das estruturas sociais e culturais.
"A invenção do cotidiano" é dividido em duas partes principais. A primeira parte, intitulada "Fazer", discute as práticas cotidianas e como os indivíduos, por meio de suas ações, são capazes de criar significado e negociar sua existência dentro de sistemas maiores. Ele explora a relação entre poder e resistência, examinando como as pessoas comuns utilizam táticas para se apropriar do espaço, redefinir as normas sociais e estabelecer uma identidade própria.
A segunda parte, intitulada "O saber do cotidiano", analisa a leitura e a escrita como práticas culturais. De Certeau discute como as pessoas interpretam e reescrevem textos culturais, tanto literários quanto não literários, para atender às suas necessidades e desejos individuais. Ele argumenta que a leitura e a escrita são atividades criativas e ativas, e que os leitores desempenham um papel ativo na produção de significado.
"A invenção do cotidiano" tem sido amplamente influente em diversas áreas acadêmicas, como estudos culturais, sociologia, antropologia e teoria literária. A obra de De Certeau oferece uma perspectiva crítica sobre o poder e a resistência nas práticas cotidianas, destacando a importância das ações individuais e a capacidade das pessoas comuns de redefinir e reinventar o mundo ao seu redor.
Com a critica também aprendemos
Embora "A invenção do cotidiano: artes de fazer" seja amplamente elogiado e considerado uma obra influente, também há algumas críticas e discussões em torno dela. Alguns críticos argumentam que De Certeau pode ter generalizado demais suas análises, ao tratar as práticas cotidianas como universalmente subversivas e como formas de resistência. Eles argumentam que nem todas as práticas cotidianas são necessariamente políticas ou desafiantes das estruturas dominantes. Essa crítica sugere que a abordagem de De Certeau pode simplificar demais a complexidade das práticas cotidianas e sua relação com o poder.
Outra crítica levantada é que De Certeau pode ter subestimado a importância das relações de poder em suas análises. Alguns argumentam que as táticas individuais descritas por De Certeau são limitadas em sua capacidade de desafiar efetivamente as estruturas de poder e que a obra não dá uma atenção suficiente à dimensão do poder nas práticas cotidianas.
Alguns críticos apontam que "A invenção do cotidiano" não lida adequadamente com as questões de gênero e classe social. Eles argumentam que as análises de De Certeau são frequentemente voltadas para as experiências masculinas de práticas cotidianas, deixando de lado as formas específicas em que mulheres e pessoas de diferentes classes sociais experienciam e negociam o cotidiano.
Outra crítica é que a obra de De Certeau pode enfatizar demais a agência individual, sem dar a devida atenção ao contexto social e estrutural em que as práticas cotidianas ocorrem. Alguns argumentam que a ênfase nas táticas individuais pode obscurecer as limitações e constrangimentos estruturais enfrentados pelas pessoas comuns.
Essas críticas não diminuem necessariamente o valor e a importância da obra de De Certeau, mas destacam áreas de debate e discussão em relação às suas análises. É importante considerar essas críticas como parte do diálogo acadêmico e continuar explorando e questionando as ideias apresentadas na obra, afinal até Platão foi criticado, o contraponto é uma outra forma de ver, portanto pode ser uma oportunidade de avançarmos ampliando o conhecimento.
Fonte:
Certeau, Michael De. A invenção do cotidiano: artes de fazer. Traduzido por Ephraim Ferreira Alves. Editora Vozes; 22º edição (1 janeiro 2014)
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