Sabe aquelas conversas que a gente tem sobre o que as coisas realmente são? Como, por exemplo, quando você olha para uma cadeira e se pergunta: "O que faz dela uma cadeira de verdade?" Ou quando você descreve alguém como "simpático" e fica pensando se isso é só uma impressão momentânea ou se faz parte de quem a pessoa é de fato. Essas questões, que parecem simples à primeira vista, na verdade nos levam a um campo filosófico fascinante, onde a ontologia e a predicação entram em cena. Vamos dar uma olhada em como esses conceitos aparecem no nosso dia a dia, mesmo sem a gente perceber.
A
ontologia, que trata do ser e da natureza da existência, e a predicação, que
diz respeito a como atribuímos propriedades ou características a objetos, são
dois conceitos filosóficos que se entrelaçam em nossa compreensão do mundo.
Vamos analisar essa intersecção e como ela se manifesta em nossas interações
cotidianas.
Imagine
que você está em uma cafeteria, observando os detalhes à sua volta. Quando você
olha para uma xícara de café sobre a mesa, sua mente não apenas a reconhece
como uma "xícara", mas também pode atribuir a ela predicados como
"branca", "quente" ou "cerâmica". A ontologia
está na base dessa percepção: o que é essa xícara em sua essência? É apenas um
objeto físico? Ou sua existência vai além, talvez englobando o uso que você faz
dela ou até mesmo as memórias associadas a esse simples ato de tomar café?
A
predicação, por outro lado, é o processo pelo qual você atribui essas
características à xícara. Quando dizemos "a xícara é branca", estamos
atribuindo à xícara a propriedade de "brancura". Mas essa atribuição
não é simples. Filósofos como Aristóteles se perguntaram se as propriedades
existem independentemente dos objetos ou se são inseparáveis deles. Ou seja, a
"brancura" da xícara existe por si só ou só faz sentido em relação à
xícara?
No
cotidiano, muitas vezes não nos damos conta da complexidade desse processo.
Quando você diz que uma pessoa é "gentil", você está fazendo uma
predicação, atribuindo a qualidade da gentileza a essa pessoa. Mas será que a
gentileza é uma propriedade intrínseca dessa pessoa, ou é uma característica
que emerge das interações dela com os outros? Essa pergunta, que pode parecer
abstrata, tem implicações práticas, pois influencia como percebemos e julgamos
as ações das pessoas ao nosso redor.
A
ontologia e a predicação se entrelaçam em nossa maneira de entender o mundo. Ao
atribuir características a objetos ou pessoas, estamos não apenas descrevendo o
que vemos ou sentimos, mas também assumindo uma posição sobre a natureza do que
esses objetos ou pessoas realmente são. E essa posição molda nossas interações
e decisões cotidianas.
No
fundo, ao considerar a ontologia e a predicação, estamos refletindo sobre como
construímos a realidade à nossa volta, como definimos o ser e como damos
sentido às coisas através das palavras que escolhemos. Esse processo é
constante e está presente em cada pequena observação ou julgamento que fazemos
ao longo do dia.
Essa
reflexão pode parecer distante da prática, mas é exatamente o contrário. Ela
está na base de cada "bom dia" que dizemos, de cada escolha que
fazemos e de como entendemos o mundo em que vivemos. Afinal, tudo começa com o
ser e como o percebemos.
Sugestão
de Leitura:
Marcondes, Danilo. Textos Básicos de Linguagem: de Platão a Foucault. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2009.
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