A Gentileza Está Nos Olhos Ou Nas Ações? Imagine que você está em uma fila de supermercado. Uma senhora idosa está na sua frente, tentando alcançar um produto na prateleira. Uma jovem, sem pensar duas vezes, interrompe sua própria tarefa e ajuda a senhora, com um sorriso sincero. Nesse momento, você pensa: "Essa pessoa é gentil." Mas será que é tão simples assim?
Na correria do dia a dia, tendemos a julgar as
pessoas com base em suas ações visíveis. Se alguém cede seu lugar no ônibus,
segura a porta para quem vem atrás, ou ajuda um colega de trabalho sem esperar
algo em troca, logo o rotulamos como uma pessoa gentil. E por outro lado, se
alguém passa direto, alheio ao que acontece ao redor, talvez o consideremos
insensível ou indiferente. Mas será que é justo reduzir a gentileza a esses
gestos exteriores?
O Intrínseco Versus o Aparente
A gentileza, como outras qualidades, parece ser
algo que se revela nas interações. Afinal, como saber se alguém é gentil se não
observamos como age com os outros? No entanto, há quem diga que a verdadeira
gentileza é intrínseca, algo que não depende de circunstâncias externas para
existir.
Pense naquele amigo que você conhece há anos.
Talvez você tenha notado que ele sempre parece ter uma aura de calma e
serenidade, mesmo em momentos de tensão. Você sente, quase intuitivamente, que
ele é uma pessoa bondosa, sem precisar que ele demonstre isso o tempo todo. É
como se a gentileza fosse algo que se manifesta na maneira como ele ocupa o
espaço, no olhar, na postura, até mesmo no tom de voz.
Por outro lado, há pessoas que, embora façam atos
de gentileza, podem não transmitir essa essência. Talvez seus gestos sejam
mecânicos, feitos por obrigação ou para manter uma imagem. Isso nos leva a
questionar: a gentileza genuína é algo que transborda da pessoa, perceptível
mesmo sem grandes gestos, ou é necessário ver para crer?
O Olhar De Aristóteles
Aristóteles, um dos grandes filósofos da
antiguidade, acreditava que a virtude estava no hábito, no caráter moldado
pelas ações repetidas. Para ele, alguém se torna verdadeiramente virtuoso, ou
gentil, ao praticar atos de gentileza consistentemente. Dessa forma, não seria
tanto uma questão de essência invisível, mas de um comportamento cultivado ao
longo do tempo.
No entanto, Aristóteles também reconhecia que
certas disposições naturais poderiam facilitar a prática de virtudes. Uma
pessoa naturalmente inclinada a simpatizar com o sofrimento alheio teria mais
facilidade em ser gentil. Mas essa inclinação precisaria ser alimentada por
ações concretas para se transformar em uma verdadeira virtude.
Voltando à pergunta inicial, talvez a resposta não
seja tão clara. A gentileza pode sim ser observada nas relações que as pessoas
mantêm com os outros, mas também pode ser uma qualidade intrínseca, perceptível
em pequenos detalhes e na maneira como alguém se porta. No fim das contas,
talvez o que realmente importa não seja se conseguimos perceber a gentileza de
imediato, mas sim se estamos dispostos a praticá-la, tornando-a parte de quem
somos, não apenas do que fazemos. Afinal, como diria Aristóteles, a virtude se
encontra na prática constante, até que ela se torne parte inalienável de nossa
essência.
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