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terça-feira, 27 de agosto de 2024

Intrínseco Versus Aparente

A Gentileza Está Nos Olhos Ou Nas Ações? Imagine que você está em uma fila de supermercado. Uma senhora idosa está na sua frente, tentando alcançar um produto na prateleira. Uma jovem, sem pensar duas vezes, interrompe sua própria tarefa e ajuda a senhora, com um sorriso sincero. Nesse momento, você pensa: "Essa pessoa é gentil." Mas será que é tão simples assim?

Na correria do dia a dia, tendemos a julgar as pessoas com base em suas ações visíveis. Se alguém cede seu lugar no ônibus, segura a porta para quem vem atrás, ou ajuda um colega de trabalho sem esperar algo em troca, logo o rotulamos como uma pessoa gentil. E por outro lado, se alguém passa direto, alheio ao que acontece ao redor, talvez o consideremos insensível ou indiferente. Mas será que é justo reduzir a gentileza a esses gestos exteriores?

O Intrínseco Versus o Aparente

A gentileza, como outras qualidades, parece ser algo que se revela nas interações. Afinal, como saber se alguém é gentil se não observamos como age com os outros? No entanto, há quem diga que a verdadeira gentileza é intrínseca, algo que não depende de circunstâncias externas para existir.

Pense naquele amigo que você conhece há anos. Talvez você tenha notado que ele sempre parece ter uma aura de calma e serenidade, mesmo em momentos de tensão. Você sente, quase intuitivamente, que ele é uma pessoa bondosa, sem precisar que ele demonstre isso o tempo todo. É como se a gentileza fosse algo que se manifesta na maneira como ele ocupa o espaço, no olhar, na postura, até mesmo no tom de voz.

Por outro lado, há pessoas que, embora façam atos de gentileza, podem não transmitir essa essência. Talvez seus gestos sejam mecânicos, feitos por obrigação ou para manter uma imagem. Isso nos leva a questionar: a gentileza genuína é algo que transborda da pessoa, perceptível mesmo sem grandes gestos, ou é necessário ver para crer?

O Olhar De Aristóteles

Aristóteles, um dos grandes filósofos da antiguidade, acreditava que a virtude estava no hábito, no caráter moldado pelas ações repetidas. Para ele, alguém se torna verdadeiramente virtuoso, ou gentil, ao praticar atos de gentileza consistentemente. Dessa forma, não seria tanto uma questão de essência invisível, mas de um comportamento cultivado ao longo do tempo.

No entanto, Aristóteles também reconhecia que certas disposições naturais poderiam facilitar a prática de virtudes. Uma pessoa naturalmente inclinada a simpatizar com o sofrimento alheio teria mais facilidade em ser gentil. Mas essa inclinação precisaria ser alimentada por ações concretas para se transformar em uma verdadeira virtude.

Voltando à pergunta inicial, talvez a resposta não seja tão clara. A gentileza pode sim ser observada nas relações que as pessoas mantêm com os outros, mas também pode ser uma qualidade intrínseca, perceptível em pequenos detalhes e na maneira como alguém se porta. No fim das contas, talvez o que realmente importa não seja se conseguimos perceber a gentileza de imediato, mas sim se estamos dispostos a praticá-la, tornando-a parte de quem somos, não apenas do que fazemos. Afinal, como diria Aristóteles, a virtude se encontra na prática constante, até que ela se torne parte inalienável de nossa essência.


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