Um Cuidado que Aprisiona
Outro
dia, vi uma cena curiosa em um restaurante. Um garoto de uns doze anos tentava
cortar sua própria carne, enquanto sua mãe, impaciente, pegava a faca e fazia o
serviço por ele. "Deixa que eu faço, senão você se machuca!", dizia
ela, sem notar o olhar frustrado do filho. A cena pode parecer trivial, mas
revela um fenômeno muito presente na sociedade contemporânea: a infantilização
dos filhos.
Infantilizar
os filhos não significa apenas tratá-los com carinho e atenção, mas sim
priva-los de autonomia, impedindo que desenvolvam habilidades essenciais para a
vida adulta. O filósofo Jean Piaget já destacava que o desenvolvimento
cognitivo das crianças depende da exploração e da tentativa e erro. Ao
interferir constantemente, os pais criam um ciclo no qual os filhos são
mantidos em um estágio de dependência, sem a oportunidade de experimentar a
responsabilidade e as consequências de suas ações.
O
desejo de proteger os filhos é compreensível. No entanto, ao impedir que eles
enfrentem desafios compatíveis com sua idade, corre-se o risco de criar adultos
inseguros e incapazes de tomar decisões. O pensador sul-coreano Byung-Chul Han
sugere que vivemos em uma sociedade onde o excesso de cuidado leva a uma forma
de fragilidade psíquica. Os indivíduos tornam-se cada vez mais sensíveis à
frustração e menos preparados para a dureza da vida.
A
infantilização também se reflete na educação e no mercado de trabalho. Jovens
que cresceram sem tomar decisões ou lidar com pequenos fracassos têm
dificuldades em assumir responsabilidades e encarar a vida adulta. É o paradoxo
de uma geração que, ao mesmo tempo em que é altamente qualificada, apresenta
altos índices de ansiedade e depressão.
Portanto,
ser um bom pai ou mãe não é apenas proteger, mas também permitir que os filhos
experimentem a independência de maneira gradual. Pequenos gestos, como deixar
que uma criança amarre os próprios sapatos ou um adolescente resolva seus
problemas escolares sem intervenção imediata, podem fazer toda a diferença.
Afinal, amadurecer é um processo que exige enfrentamento e aprendizado, e os
pais, ao invés de serem muletas permanentes, deveriam ser guias que ensinam o
caminho, mas permitem que os filhos andem com próprias pernas.