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sábado, 8 de fevereiro de 2025

Infantilizar os Filhos

Um Cuidado que Aprisiona

Outro dia, vi uma cena curiosa em um restaurante. Um garoto de uns doze anos tentava cortar sua própria carne, enquanto sua mãe, impaciente, pegava a faca e fazia o serviço por ele. "Deixa que eu faço, senão você se machuca!", dizia ela, sem notar o olhar frustrado do filho. A cena pode parecer trivial, mas revela um fenômeno muito presente na sociedade contemporânea: a infantilização dos filhos.

Infantilizar os filhos não significa apenas tratá-los com carinho e atenção, mas sim priva-los de autonomia, impedindo que desenvolvam habilidades essenciais para a vida adulta. O filósofo Jean Piaget já destacava que o desenvolvimento cognitivo das crianças depende da exploração e da tentativa e erro. Ao interferir constantemente, os pais criam um ciclo no qual os filhos são mantidos em um estágio de dependência, sem a oportunidade de experimentar a responsabilidade e as consequências de suas ações.

O desejo de proteger os filhos é compreensível. No entanto, ao impedir que eles enfrentem desafios compatíveis com sua idade, corre-se o risco de criar adultos inseguros e incapazes de tomar decisões. O pensador sul-coreano Byung-Chul Han sugere que vivemos em uma sociedade onde o excesso de cuidado leva a uma forma de fragilidade psíquica. Os indivíduos tornam-se cada vez mais sensíveis à frustração e menos preparados para a dureza da vida.

A infantilização também se reflete na educação e no mercado de trabalho. Jovens que cresceram sem tomar decisões ou lidar com pequenos fracassos têm dificuldades em assumir responsabilidades e encarar a vida adulta. É o paradoxo de uma geração que, ao mesmo tempo em que é altamente qualificada, apresenta altos índices de ansiedade e depressão.

Portanto, ser um bom pai ou mãe não é apenas proteger, mas também permitir que os filhos experimentem a independência de maneira gradual. Pequenos gestos, como deixar que uma criança amarre os próprios sapatos ou um adolescente resolva seus problemas escolares sem intervenção imediata, podem fazer toda a diferença. Afinal, amadurecer é um processo que exige enfrentamento e aprendizado, e os pais, ao invés de serem muletas permanentes, deveriam ser guias que ensinam o caminho, mas permitem que os filhos andem com próprias pernas.