Discriminação racial é um tema incômodo. A maioria das pessoas prefere acreditar que ele está superado ou que, pelo menos, se restringe a casos isolados. Mas basta um olhar atento às notícias, às redes sociais ou ao próprio cotidiano para perceber que essa sombra persiste. Não se trata apenas de insultos abertos ou de violência direta, mas de mecanismos sutis, como oportunidades desiguais, estereótipos e estruturas que perpetuam um desequilíbrio histórico. A filosofia, ao longo do tempo, não ignorou essa questão. De Platão a Frantz Fanon, o problema da desigualdade e da exclusão foi um dos grandes desafios da reflexão humana.
A
discriminação racial pode ser entendida como um fenômeno estruturado e, em
muitos casos, institucionalizado. Não se trata apenas de preconceito
individual, mas de um sistema que privilegia determinados grupos raciais em
detrimento de outros. Fanon, em "Pele Negra, Máscaras Brancas",
argumenta que o racismo cria uma identidade imposta ao sujeito negro, levando à
internalização de um sentimento de inferioridade. A sociedade não apenas define
quem tem acesso a certos espaços e oportunidades, mas também impõe um olhar
sobre os corpos, determinando expectativas e limitações baseadas na cor da
pele.
Nesse
sentido, podemos pensar o racismo como um círculo vicioso de reconhecimento e
negação. O filósofo alemão Axel Honneth sugere que o reconhecimento é
fundamental para a formação da identidade. Quando um grupo é sistematicamente
negado em seu valor e dignidade, ocorre uma forma de "invisibilidade
social". Isso não significa apenas exclusão econômica, mas um apagamento
simbólico, onde histórias, vozes e contribuições são minimizadas ou ignoradas.
Por
outro lado, a superação da discriminação racial não pode ser apenas um
projeto moral ou de boa vontade. É necessário um processo de revisão histórica
e transformação estrutural. Paulo Freire, com sua pedagogia do oprimido,
argumentava que a educação crítica é essencial para romper com as estruturas
que perpetuam a desigualdade. Somente ao compreender os mecanismos históricos
da opressão é que se pode combatê-los de forma efetiva.
O
combate ao racismo também passa por uma mudança na forma como a sociedade lida
com a diversidade. A ideia de que "não vejo cor" é, na verdade, uma
forma de negar a existência do problema. É preciso ver a cor, reconhecer as
diferenças e compreender as consequências históricas dessas diferenças. A luta
não deve ser apenas daqueles que sofrem a discriminação, mas de toda a
sociedade que se pretende justa.
A
filosofia, portanto, nos ajuda a enxergar que a discriminação racial não é
apenas um problema moral ou legal, mas um desafio estrutural e histórico.
Compreendê-lo é o primeiro passo para enfrentá-lo. Afinal, como dizia Angela
Davis, "não basta não ser racista, é preciso ser antirracista".