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sexta-feira, 22 de maio de 2020

Resenha Critica Artigos de Silvio Gallo sobre Saberes e Transversalidade


                      "Todos cogumelos são comestiveis, alguns apenas uma vez" Autor desconhecido


A presente resenha fará um paralelo entre as duas perspectivas de TRANSVERSALIDADE tendo por base os artigos produzidos por Silvio Gallo, o primeiro artigo SABERES, TRANSVERSALIDADE E PODERES foi apresentado por ele em 1996 no GT de Currículo da ANPEd e o segundo artigo TRANSVERSALIDADE E MEIO AMBIENTE também foi apresentado por ele em 2001 no Ciclo de Palestras Sobre Meio Ambiente Programa Conheça a Educação do Cibec/Inep- MEC/SEF/COEA, 2001. 

No primeiro artigo Gallo afirma que esteja sob a máscara que estiver, o poder se exerce implacável e totalitário sobre os indivíduos, quando permanecemos no panorama de uma escola cujo currículo é a expressão máxima da disciplinarização. Nas malhas dessa realidade, uma prática interdisciplinar não passa de uma perversidade, pois trata-se de mascarar ainda mais o mecanismo de poder posto a funcionar e constantemente azeitado pela disciplinarização.

Ele propõe o abandono do paradigma arborescente e a adoção de um paradigma rizomático. Rompendo com o panorama das ramificações, que coloca cada ciência, cada disciplina como um galho na árvore do saber, e adotando uma percepção rizomática que implica num aparentemente caótico entrecruzamento das linhas, podemos perceber as interrelações intrínsecas que compõem os híbridos, o que não nos leva a fugir com nojo de sua horrenda constituição, mas percebê-los como os elementos comuns de nossa realidade. No entanto, mesmo no contexto de um paradigma rizomático, a identificação entre saber e poder continua válida encontrando-se, entretanto, deslocada, pois numa perspectiva rizomática, assim já não é possível pensar a hierarquização; não é possível pensar no poder como um topos do qual emanam as forças.

Gallo ao observar o mecanismo da economia globalizada e o mercado de trabalho menciona as percepções de Lévy e Authier, onde estes apontam para uma imediata e necessária revisão das competências. Os saberes acessíveis através da escola e reconhecidos nos diplomas já nem sempre são os mais fundamentais nas mais diversas situações. Por outro lado, saberes não reconhecidos passam a desempenhar importantes papéis tanto para os indivíduos quanto para comunidades inteiras. O poder conferido a um indivíduo pela posse de um diploma acadêmico é, ao mesmo tempo, referendado e questionado. Referendado pela crescente qualificação que uma economia globalizada exige dos trabalhadores; questionado, pois as profissões tradicionais perdem seu espaço, já não conferindo aos indivíduos o status que anteriormente proporcionavam.

Diante de tais afirmações, será necessário redesenhar o mapa estratégico do poder no campo da(s) Ciência(s) e no campo da Educação, colocando as relações numa outra dimensão. A transversalidade do conhecimento implica em possibilidades de escolas e de currículos em muito diferentes daquelas que hoje conhecemos, novos espaços de construção e circulação de saberes onde a hierarquização já não será a estrutura básica, e onde situações até então insuspeitas poderão emergir.

No segundo artigo Gallo, re-apresenta um modelo pedagógico onde a interdisciplinaridade vai justamente ser pensada no âmbito da pedagogia como a possibilidade de uma nova organização do trabalho pedagógico que permita uma nova apreensão dos saberes, não mais marcada pela absoluta compartimentalização estanque das disciplinas, mas pela comunicação entre os compartimentos disciplinares. 

De forma breve ele apresenta uma das propostas dada sua atualidade, os Parâmetros Curriculares Nacionais preparados pelo MEC introduzem a ideia dos temas transversais. Esses temas são uma forma de se tentar viabilizar a interdisciplinaridade, introduzindo assuntos que devem ser tratados pelas diversas disciplinas, cada uma a sua maneira.  No entanto, Gallo se detém num ponto que julga fundamental: a adoção dos temas transversais, mesmo nessa perspectiva de colocá-los como eixo do currículo, significa um rompimento, de fato, com o currículo disciplinar? Ele afirma que não, pois como pode se ver pela análise dos documentos preparados pela Secretaria de Ensino Fundamental do MEC, o currículo continua sendo disciplinar, as áreas e os ciclos servindo apenas de preparação para uma posterior disciplinarização.

A tese de Gallo vai ao encontro da proposta da transversalidade exposta nos PCNs conseguiria, desde que aplicada em condições ideais e atingindo os objetivos a que se propõe, tornar concreto, na escola, o ideal da interdisciplinaridade. Mas uma proposta de transversalidade assumida apenas como ação pedagógica é por demais singela. Parece-me que ela pode e deve! ser vista como muito mais que isso. Dessa maneira, podemos afirmar que os Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental se não constituem uma alternativa ao currículo disciplinar, são um importante passo para a sua superação.

Os campos de saberes são tomados como absolutamente abertos; com horizontes, mas sem fronteiras, permitindo trânsitos inusitados e insuspeitados, no entanto, Gallo afirma que pensar uma educação e um currículo não disciplinares, articulados em torno de um paradigma transversal e rizomático do conhecimento soa hoje como uma utopia. Nossa escola é de tal maneira disciplinar que nos parece impossível pensar um currículo tão caótico, anárquico e singular. Mas, acredita que o ser humano já realizou tantas conquistas aparentemente impossíveis, então, por que não vencer este desafio?

Desta forma, concordo com Gallo quando ele enfatiza que “o acesso transversal significaria o fim da compartimentalização, reconhecendo a multiplicidade das áreas do conhecimento, pois trata-se de possibilitar todo e qualquer trânsito por entre elas”, esse rompimento com a compartimentalização se faz necessária, para a obtenção do entendimento de mundo, a cosmovisão da realidade.

A filosofia desde sempre tem uma postura ativa perante a vida, é aquela que estimula os seres humanos a buscarem respostas, além de reflexiva tem por princípio o pensamento socrático da ação pedagógica ativa, onde o importante é provocar situações instigantes e que despertem o interesse e a aprendizagem através do autoconhecimento, dos jogos de linguagem, estimulando o debate e a reflexão de temas sociais relevantes de forma interdisciplinar e transversal, as quais são características natas.


Os temas transversais correspondem a questões relevantes, importantes, urgentes e presentes sob várias formas na vida cotidiana.  A ideia é promover o desenvolvimento do aluno como cidadão, logo deve estar presente na rotina escolar de toas as instituições do pais. Com base nessa ideia, o MEC definiu alguns temas que abordam valores referentes à cidadania: Ética, Saúde, Meio Ambiente, Orientação Sexual (Corpo: Matriz da sexualidade, relações de gênero, prevenções das doenças sexualmente transmissíveis), Trabalho e Consumo e Pluralidade Cultural tais temas podem ser abordados.

Se possível, e é interessante ressaltar que os trabalhos com os temas transversais não devam ficar reservados somente nas salas de aula, dentre quatro paredes, devem sair para o mundo, devem e precisam ser realizados por meio de uma parceria entre a família e a escola, podendo ser trabalhados em forma de tarefas voltadas para pesquisas, observações e registros dos hábitos familiares. Essa união é importante porque diversos conceitos e valores propostos pelos temas transversais começam a ser repassados para as crianças e seus respectivos familiares, a ideia é ir além da classe escolar, procurando eco no seio familiar e promovendo mudanças ativas, positivas e estruturantes, afinal a família é a base de uma sociedade saudável.

A frase "Todos Cogumelos são comestíveis, alguns apenas uma vez" de autor desconhecido, está carregada de efeito, em nosso cotidiano enfrentamos "n" situações onde temos de escolher cogumelos que não nos façam mal, ou seja, temos de fazer as melhores escolhas, algumas escolhas se equivocadas acarretarão graves consequenciais. Neste momento o conhecimento e a educação são muito importantes, e por que não dizer que a filosofia nos empresta ferramentas que nos auxiliam nesta tarefa? A capacidade da filosofia em trabalhar temas interdisciplinares e transversais é gigantesca, a maioria das pessoas não tem noção de que o caminho ou método empregado no dia a dia é o filosófico.

Atualmente a escola que tenha em seu currículo a matéria de filosofia, tem razoável vantagem sobre aquelas que não tem, sabemos que a filosofia não tem uma “fórmula mágica” para resolver os problemas da vida de ninguém, mas pode ser um instrumento interessante para entender melhor situações de nosso cotidiano, possibilitando que façamos escolhas melhores, mais conscientes. A filosofia procura também trabalhar com os Temas transversais, sua intenção é ser um agente facilitador, fomentador e integrante das ações de modo contextualizado, através da transposição didática, da interdisciplinaridade e transversalidade, buscando não fragmentar em blocos rígidos os conhecimentos, para que a Educação realmente constitua o meio de transformação social.